quinta-feira, 24 de setembro de 2015

SMS 633. Os dados da questão


24 setembro 2015

Escusa de se agredirem com facas de cana na algibeira tal como o homem nu de Albufeira e não vale a pena ameaçar com um disparo como antigamente na lota de Faro. Indo à melhor fonte que é o Boletim Estatístico do Banco de Portugal, os dados da evolução da dívida pública portuguesa, são os seguintes:

  1. Em março de 2015, Portugal possuía uma dívida de 226,276 mil milhões de euros, representando uma taxa de 130.3% do PIB;
  2. Em 2011, esse valor situava-se em 175 mil milhões de euros, em 2012 em 195 mil milhões de euros e em 2013 em cerca de 205 mil milhões de euros;
  3. Se contabilizarmos o montante de 2012 e o de 2015 (início), o valor situa-se em cerca de 30 mil milhões de euros de aumento;
  4. Estes 30.000 milhões de euros são relativos a três anos, reportados desde o início de 2012 até  início de 2015. Aquele valor será ultrapassado com a evolução deste ano;
  5. Mais: não é difícil e será irrecusável constatar uma evolução de crescimento da dívida nestes recentes meses de 2015, provavelmente derivado ao doping político que os corredores ingerem sempre antes das corridas eleitorais e ao impacto de todas as medidas lançadas pelo Governo, incluindo medidas de emprego-formação; 
  6. Por último, diga-se que o Novo Banco poderá ter impactos significativos também na dívida - segundo o Jornal de Negócios já foram despendidos cerca de 17 milhões de euros só em consultadorias financeiras e jurídicas. Este caso é em tudo semelhante ao do BPN - é uma nacionalização, mas através de um Fundo Público, podendo configurar mais um caso de polícia, e ter o desfecho de uma venda tal como no desfecho do BPN, em que houve também uma separação dos ativos "tóxicos", mas não em dois bancos.
Portanto, como se dizia e bem em Quarteira, escusa mais paleio de feira.

Carlos Albino
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Flagrante convicção: Quem se abstém de eleger um Governo perde a legitimidade para contestar o Governo eleito e só por oportunismo dirá que o apoia. O arco-íris tem todas as cores, incluindo a cor branca que é a sobreposição de todas as cores primárias (verde, azul e vermelho) e a coisa preta só por lapso é cor... 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

SMS 632. Como Toledo no século XVI

17 setembro 2015

Ocorreu-me, há dias, pensar na sorte de Toledo, antiga capital de Castela a par de Saragoça, capital de Aragão, resultando desta bicefalia a emergência de Valladolid como capital antes de Sevilha, até que Madrid capital ficou. Os de Toledo assistiram a esses saltos da corte espanhola e, conformados, aceitavam e diziam no século XVI que a sua cidade era “ um lugar com um passado ilustre, um próspero presente e um futuro incerto"...

Salvas as devidas proporções, o Algarve está nessas condições de um passado ilustre (embora tenha perdido 85 por cento da sua memória), um próspero presente (embora 65 por cento não esteja nas suas mãos, 20 por cento nas mãos de filipes e 15 por cento ao deus dará das disputas de hegemonias locais que se anulam).

O Algarve parece ter essa sorte traçada. Vê as cortes andarem de um lado para o outro, e conforma-se com o passado ilustre. Assiste ao despejo de números redondos e convence-se de que o presente é próspero. Mas do que fica do nomadismo das cortes e do despejo dos números, é rigorosamente um futuro incerto. Incerto para o Algarve como Algarve, do Algarve como cidade imensa que é mas que filipes, esquecidos, e gestores do acaso apenas vêem como somatório de aldeamentos, cada qual até se esgotar, valendo cada vez menos nas trocas sucessivas.

Neste cenário, do qual está ausente escrutínio sério, objetivo e rigoroso, mas entulhado de promessas, descrições de projetos ornados de linguagem técnica e sugestões políticas, de planos e siglas que apontam geralmente para um século de ouro, é evidente que cada vez mais há mais pobres, há mais precariedade, há mais alheamento da população, deixando porta aberta aos profissionais da caridade que assim cortejam o Estado onde o défice de Algarve é também cada vez mais notório, com os de Toledo igualmente cada vez mais conformados e com temor.

Tenho observado que todos são “algarvios” até ao momento em que tomam as rédeas do poder local exacerbado, e que o “bom político” é o que nesse localismo que não leva a lado nenhum consegue ainda assim pintar a manta. Claro que há exceções e até boas exceções. Mas a regra é a de Toledo: futuro incerto.

Substituiu-se a voz do Algarve pela voz da corte, e paradoxalmente nunca o centralismo foi tão forte, o que não é um mal em si, convenhamos, apenas é um mal quando se torna desdenhoso e implanta o pior do centralismo, imitando-o à escala.

Carlos Albino
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Flagrante acompanhamento: Para os chamados Incentivos do Estado aos Meios de Comunicação Social Regionais e Locais (prorrogado o  prazo das candidaturas sem que, publica e claramente, se indique até quando e para quando) foi nomeada uma “comissão de acompanhamento”. Para a indicação de representantes, não se discute os critérios da Associação Portuguesa de Imprensa, nem os da inclusão confessional da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã. Mas o que é estranho é que, pela Associação Portuguesa de Radiodifusão, para coisa do Algarve e para o Algarve, tenha sido designado um elemento da rádio Diana de Évora… Será que a Total FM, a Solar, a RUA, etc., alguma rádio algarvia, vai ser nomeada para o Alentejo?

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

SMS 631. Honoris causa

10 setembro 2015

É um dever, senão mesmo uma obrigação, dizer-se em voz alta que a Universidade do Algarve acaba de dar à Região com idêntico genitivo (do Algarve), um grande conforto, um enormíssimo estímulo e uma parcela de crença. Além disso, dá ao País um sinal – o sinal de que o Sul tem um pólo indelével, credível e esperançoso. Não é uma vitória sobre outros, é uma afirmação entre todos. E, no contexto do Algarve, intra muros, é uma mensagem – para autarquias com cultura regional, para empresas com raiz e não esses aglomerados adventícios, e para as entidades do Estado que por aqui dirigem ou delegam, infelizmente, por vezes, com presunçoso exaquatur de consulado.

E porquê? A Universidade do Algarve regista o maior aumento do número de candidatos 1.ª opção (+ 28% - de 724 em 2014 para 930 em 2015), indicador que acompanha o aumento do número de candidatos colocados, (aumento de 19% na 1ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, apresentando o crescimento mais elevado no conjunto das universidades portuguesas. Isto, quando alguns de fora da região ditavam à Universidade o agoiro da integração noutra instituição universitária, senão mesmo a dissolução, e quando alguns de dentro da região, lhe espetaram uma navalhada nas costas, por exemplo com o caso da negação das bolsas do programa “+ Superior”.

Escrever estas palavras, aqui, no Jornal do Algarve, é também, não digo um consolo, mas, além de um ato de coerência, é sentir-se que por vezes a memória ajuda à construção crítica do entendimento que se possa fazer sobre isso “de Algarve”. Foi aqui, neste jornal, que em 1968, o objetivo da Universidade foi lançado no exato sentido e alcance do termo. Contrariamente, alguns mas de peso, defendiam apenas um instituto politécnico, nunca uma Universidade. Este jornal insistiu, promoveu um inquérito ao ensino na região e a criação da universidade foi uma causa assumidamente sua, até que em 1979, já em plena democracia, o objetivo foi tardiamente conseguido, mas conseguido (mérito, reconheça-se, a José Vitorino e seus movimentos nas bancadas parlamentares).

Este passado, que já não move moinhos, só interessa para mais estas palavras: o mesmo argumentário de outrora por apenas um instituto politécnico em desfavor da universidade, foi do mesmo tipo de argumentário dos que hoje tentam anavalhar a universidade com os cálculos oportunistas da sua integração ou dissolução.  Só que, se outrora se poderia desculpar os da não-universidade, ou pela ingenuidade, ou pelo temor dos tentáculos da ditadura, hoje, o caso é outro – é perversão por impedimento de escrutínio, é incompetência própria dos que só vêem ao perto e não ao longe, e é rendição a objetivos não confessados mas seguramente contrários aos interesses gerais da região e ao seu bem-comum. Estes, se a Universidade do Algarve, hoje, em vez de crescimento tivesse registado afundamento, se em vez de mais procura tivesse havido repulsão, se em vez de ter ascendido ao primeiro lugar por entre as universidade portugueses tivesse ficado abaixo do instituto dos pepinos jurídicos do Freixoso de Cima, estes tais, já estariam aí, na praça, cheios de gáudio.

Mas não, a Universidade do Algarve, a nossa universidade é felizmente como se mostra e prova, honoris causa. Oxalá assim continue e que o Reitor António Branco e suas equipas (reitoral, conselho geral, etc…) prossigam na linha certa – a da excelência, da credibilidade, da probidade e da sabedoria (não tenhamos medo desta palavra, que só por esta palavra é se cativam alunos como eu…)

Carlos Albino
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Flagrante decisão coordenadora: A Fundação António Aleixo vai destinar uma quota de bolsas a estudantes do Concelho de Loulé com destino à Universidade do Algarve. Faz o que uma Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve devia ter feito.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

SMS 630. Uma carta recebida

3 setembro 2015

Caro Carlos Albino

O ano tem trezentos e cinquenta e seis dias, cinquenta e duas semanas. Semana após semana, leio as suas crónicas. Cinquenta e duas por ano. Leio-as porque as subscrevo numa percentagem de noventa e cinco por cento. Política, costumes, vivências, desesperos, esperanças. Ano após ano, o que se prevê acontece, quando acontece, então já toda a gente previu. Aposto que na próxima semana, você vai previr o que eu estou a prever. Mas, desta vez, peço-lhe que preveja sozinho, que eu sozinho prevejo também. Esqueça previsões, e faça como eu. Umas férias, e vá ao mar. Bem o merecemos.

Tome um calção, uma toalha e dirija-se para um areal amplo, como aquele que eu frequento. Agora que as praias começam a despovoar-se é altura de os locais falarem com as areias brancas. Em tempos você escreveu poesia? Pois fale com elas, as areias mais lindas do mundo. Fale com a água azul, a água quente do mês de Setembro. Fale com as aves que de madrugada pisaram a areia e lá deixaram as impressões digitais das patas em forma de mãos quase humanas. Milhares de pegadas de aves. E fale com as ondas mansas. Deixe-se ficar. Sem pensar em mais nada. Fale com os barcos que passam carregados de “marinheiros” por umas horas, coisa de ir ao final do Barlavento e voltar. Faça-lhes adeus, de forma pueril, que não faz mal. E mergulhe na água, e nade para longe, e venha para fora cuspindo água, para se deitar ao sol. Desfrute do sol do seu Sul. Você está no seu Sul.

Sim, todos sabemos que você pertence ao grupo daqueles que desfazem do novo conceito administrativo de um Sul, feito a régua e folha de Excel. Pertenço ao seu team. Essa nova concepção de Sul é uma extensão que em vez de unir duas regiões as põe em desconfiança e guerreia, porque se quer unificar o que por natureza e geologia, a Terra, nos deu distintas. Mas, durante esta semana, esqueça. Pense que está deitado numa praia virada a Sul, que fala com o coração da sua terra, sua e minha. Você porque nasceu nela, e eu porque a adoptei aos trinta anos. Durante uma semana, você pode fazer as pazes com a beleza do ar, da água, dos pássaros da nossa Terra ao Sul, e eu, seu leitor, também.

[Concordo e assino a rogo: Carlos Albino]
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Flagrante obediência: Tomei um calção, uma toalha e nadei para longe.