quinta-feira, 3 de setembro de 2015

SMS 630. Uma carta recebida

3 setembro 2015

Caro Carlos Albino

O ano tem trezentos e cinquenta e seis dias, cinquenta e duas semanas. Semana após semana, leio as suas crónicas. Cinquenta e duas por ano. Leio-as porque as subscrevo numa percentagem de noventa e cinco por cento. Política, costumes, vivências, desesperos, esperanças. Ano após ano, o que se prevê acontece, quando acontece, então já toda a gente previu. Aposto que na próxima semana, você vai previr o que eu estou a prever. Mas, desta vez, peço-lhe que preveja sozinho, que eu sozinho prevejo também. Esqueça previsões, e faça como eu. Umas férias, e vá ao mar. Bem o merecemos.

Tome um calção, uma toalha e dirija-se para um areal amplo, como aquele que eu frequento. Agora que as praias começam a despovoar-se é altura de os locais falarem com as areias brancas. Em tempos você escreveu poesia? Pois fale com elas, as areias mais lindas do mundo. Fale com a água azul, a água quente do mês de Setembro. Fale com as aves que de madrugada pisaram a areia e lá deixaram as impressões digitais das patas em forma de mãos quase humanas. Milhares de pegadas de aves. E fale com as ondas mansas. Deixe-se ficar. Sem pensar em mais nada. Fale com os barcos que passam carregados de “marinheiros” por umas horas, coisa de ir ao final do Barlavento e voltar. Faça-lhes adeus, de forma pueril, que não faz mal. E mergulhe na água, e nade para longe, e venha para fora cuspindo água, para se deitar ao sol. Desfrute do sol do seu Sul. Você está no seu Sul.

Sim, todos sabemos que você pertence ao grupo daqueles que desfazem do novo conceito administrativo de um Sul, feito a régua e folha de Excel. Pertenço ao seu team. Essa nova concepção de Sul é uma extensão que em vez de unir duas regiões as põe em desconfiança e guerreia, porque se quer unificar o que por natureza e geologia, a Terra, nos deu distintas. Mas, durante esta semana, esqueça. Pense que está deitado numa praia virada a Sul, que fala com o coração da sua terra, sua e minha. Você porque nasceu nela, e eu porque a adoptei aos trinta anos. Durante uma semana, você pode fazer as pazes com a beleza do ar, da água, dos pássaros da nossa Terra ao Sul, e eu, seu leitor, também.

[Concordo e assino a rogo: Carlos Albino]
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Flagrante obediência: Tomei um calção, uma toalha e nadei para longe.

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