Se volto a Boliqueime, é porque isso é o prenúncio de muito que por
aí vai acontecer. Depois do encerramento da estação de comboios e de ser
retirada a direção autónoma à sua escola que era modelar, essa terra acaba de
ser alvo da decisão consumada dos CTT em fechar os correios. E fizeram-no sem
informação bastante aos cidadãos, e, ao que se sabe, na sequência apenas de
troca de ofícios com a autarquia local nos quais se deixou enrolar. Não há
muitos anos que o edifício dos correios foi inaugurado com ar modernaço –
dinheiro portanto sem planeamento e deitado à rua –, as pessoas viam naquilo,
enfim, a última das suas inexpugnáveis fortalezas locais, mas os sinais já
estavam a ser dados – os carteiros de giro passaram a vir de longe, cartas e
cartas algumas de responsabilidade trocadas nas caixas postais, o mensageiro
deixou de conhecer e de ser conhecido pelas pessoas, restava o balcão que foi
encerrado e que era um dos poucos centros de confiança pública, agora
transferido para uma loja, tomara ela vender os iogurtes com prazo de validade.
Suspeito que esta decisão dos CTT, a que não será alheia a senda da
privatização, não ficará por Boliqueime, irá ocorrer aí pelo Algarve afora.
Ainda está no ouvido o slogan propagandeado pelos CTT no propósito
de firmar prestígio e confiança. "Queremos
estar onde os portugueses estão", dizia esse slogan se é que ainda não
continua a dizer. Mas parece que, pelo contrário e pelos factos, os CTT não
querem estar onde haja portugueses, pretendem é que os portugueses tenham que
ir onde os CTT estão. Como nas mercearias privadas. E até se admitiria que
assim fosse, se aos CTT não competisse estatutariamente “assegurar o
estabelecimento, gestão e exploração das infra-estruturas e do serviço público
de correios”. Pelo menos por enquanto, os CTT têm nas mãos a rede pública de
correios e o leque de atividades subsidiárias designadamente financeiras, de
cobranças contratualizadas e de parcerias fiscais. E se detêm a rede pública e
o serviço postal público, para qualquer mexida na rede, por ser pública, os CTT
mesmo sendo uma sociedade anónima, têm que ouvir os legítimos representantes do
interesse público. E estes, caso sejam eventualmente ouvidos, não podem nem
devem guardar essa correspondência como se fosse confidencial, remetida por
deuses e destinada a deuses entretidos numa brincadeira de cartas pouco azuis
embora registadas com aviso de receção. Devem dar conhecimento aos que
representam, pelas regras da atempada responsabilidade e do bom senso.
Carlos Albino
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Flagrante presença: Por acaso, numa manifestação improvisada, em Boliqueime, contra o encerramento dos Correios, a presença apenas de um deputado algarvio – Paulo Sá (CDU). Foi nesta segunda-feira, o dia em que os deputados estão livres de S. Bento para, segundo o seu estatuto, os “encontros com o eleitorado”.