quinta-feira, 26 de julho de 2007

SMS 220. E se escrivéçem milhor?

26 Julho 2007

A praga dos erros de português infesta estradas, ruas e praças. Alguns exemplos. Numa das principais rotundas de Loulé, lá está à vista de todos os pecadores, uma garrafal «Assembléia de Deus» com o acento agudo caído do céu. Não muito longe, há uma «Residêncial», por certo com acentos circunflexos nos travesseiros. E quem vai para lá, lê na tabuleta «Lagoa de Momprolé», mas quem vem para cá a letra tem menos uma perna - «Monprolé». E já se notou em bem acabado folheto municipal, um espectáculo marcado para as «24:15».

É claro que não se preconiza uma ASAE da gramática, nem se defende a aplicação de coimas para quem dá erros na tabuleta ou no letreiro, mas alguma medida tem que ser tomada. E como a medida tem que ser naturalmente pedagógica, aqui está um bom pretexto para os municípios se entenderem com as escolas, designadamente através de grupos de trabalho que integrem os núcleos de professores de português da terra. Não há que multar pastores de almas e muito menos os crentes por cometerem o pecado mortal do acento agudo na Assembléia. Mas muito gostaria que a intervenção activa e pedagógica dos núcleos locais de professores de português protocolada com os municípios, não ficasse marcada para as 24:15

Carlos Albino


Flagrante capitania: A propósito do mais recente episódio do achamento da nau Santa Mercedes, porque não se elabora um livro branco sobre o património arqueológico marítimo do Algarve?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

SMS 219. Algarve, Salão de Espectáculos

19 Julho 2007

Sejamos francos – Pela primeira vez, o Algarve vai ter acesso a um Programa de Verão à altura do que é de esperar para uma região com as suas características, à parte a infeliz e dispensável designação. Pela primeira vez os seus habitantes, não tanto por eles mesmos mas mais pelos residentes temporários e episódicos, vão poder ter acesso a momentos impensáveis. Ninguém poderá ficar indiferente. Na perspectiva de resposta a públicos com exigência, e criação de novos públicos que se soltem dos formatos decadentes dos talk-shows televisivos, felizmente que esta época estival vai proporcionar um reforço e uma inovação inéditos nesta zona do país. Não se pode ser reticente em relação ao conteúdo desta iniciativa.

Pena é, porém, que a iniciativa apareça embrulhada naquilo que surge como uma investida de carácter económico e comercial. Ninguém desconhece que as trocas em cultura produzem rendimento, que a contabilidade dos orçamentos de Estado em toda a parte do mundo civilizado contam com as receitas provenientes dessa área, e ninguém desconhece também, que em Portugal, a Cultura já é e pode vir a ser um factor económico. Não parece, porém, que deva ser alterado, a nível de conceito, o que a cultura é, por excelência – produção, saber, conhecimento e divertimento, de gente, para gente.

É por isso que choca a linguagem de “produtividade” a que anda associada este “investimento”, e as perguntas que se fazem são mais do que muitas. Entre elas, a mais importante é esta – Sob o olhar desta mega-contabilidade, os programas regionais de continuidade vão ou não vão ser acautelados? (A pergunta tem sujeito e destinatário). Ou pelo contrário, na base da grandiosa contabilidade cultural, o Algarve vai ser encarado como um salão de espectáculos que fecha e a abre porta à bilheteira, apenas à medida do show internacional?

É claro que com dinheiro, e à medida do dinheiro, é possível despejar cultura no Algarve. Mas é triste que isso aconteça perante as evidências e os muitos sintomas de desinvestimento na cultura do Algarve.

Carlos Albino

Flagrante mergulho: Mas ainda haverá património arqueológico subaquático no Algarve, depois de tanta pilhagem impune e pela calada, a dar livro de ficção? Porque não um livro branco sobre a matéria? Há medo?

quinta-feira, 12 de julho de 2007

SMS 218. Ex.ma Sr.ª D. ASAE…

12 Julho 2007

Prezada Senhora, oxalá que também sensata,

Naturalmente que de há muito se requeria uma autoridade nacional de segurança alimentar e de fiscalização económica, como V. Ex.ª tem vindo a demonstrar que pretende ser. E mais, de há muito se exigia que alguém como V. Ex.ª, minha senhora, prescindisse da saia larga que muitas autoridades usam e de que não abdicam, e siga a rigor os princípios da independência, precaução, credibilidade, transparência e confidencialidade, tal como consta no seu cartão de visitas.

Pois, que V. Ex.ª, minha senhora, surja como provedora das comuns necessidades vitais do estômago e alma, zeladora da higiene e saúde pública, e avessa aos dois pesos e duas medidas ou a diferentes critérios conforme o lugar ou conforme o có-có-ri-qui có-ró-có-có que o galo da circunstância cante. Ou seja, que V.Ex.ª, minha senhora, como autoridade que é, não proceda conforme o poleiro que escrutina.

Acreditamos piamente que as vossas 479 operações e 958 brigadas que fiscalizaram 6246 operadores de Janeiro e Março, tenham contribuído para sanar este ambiente de galinheiro a que os nossos estômagos e as nossas almas já estavam habituados como condenação, embora duvidemos que as 14 suspensões de actividade, 312 processos-crime, 1447 processos de contra ordenação e 32 detenções em todo o País, por entre 2232 infracções detectadas, sejam suficientes para nos dar tranquilidade e confortável segurança.

Até agora, pequenos e modestos estabelecimentos, mas também médios, têm acatado pacificamente as vossas instruções e até algumas advertências ou avisos mais ou menos bem fundados, até porque V. Ex.ª, minha senhora, é ainda uma mulher jovem e não teve ainda tempo para adquirir os vícios e manhas da burocracia portuguesa que está por entre as mais velhas profissões do mundo.

Só que nisso, V. Ex.ª, minha senhora entra já no período de teste. Irá V. Ex.ª aplicar em todos os festarins de chão e frituras de cheiro nauseabundo, comes e bebes de insondável proveniência mas no adro, mostras e festivais gastronómicos que a pretexto de se enquadrarem em «festejos populares» são contra o povo quando ou sempre que não passam de imundície na churrasqueira, irá V. Ex.ª aplicar aí o rigor que exige e bem às unhas dos pequenos e modestos estabelecimentos?

Ou será que irá adiar para o ano, prejudicando seriamente a vossa invocada independência, precaução, credibilidade, transparência e já agora a vossa confidencialidade?

Vamos ver, e havemos de voltar ao assunto.

Beijo as suas mãos,

Atenciosamente

(Assinatura ilegível)


Flagrante surpresa: Sentia-me bem, nem sabia porquê. Mas foi preciso que Loulé atribuísse a título póstumo a Medalha de Ouro do Município ao arquitecto Manuel Laginha (1919.1985) para ficar a saber que a casa onde vivo em Lisboa, na frente Norte da Avenida Estados Unidos da América, afinal foi arquitectada por ele... E não é que surpreendentemente me sinto melhor?

segunda-feira, 9 de julho de 2007

quinta-feira, 5 de julho de 2007

SMS 217. Há coisas boas no mundo…

5 Julho 2007

Loulé está de parabéns pelo seu Festival do Mediterrâneo que fez encher de gente as velhas calçadas do centro histórico da cidade. Música que nos diz respeito, gastronomia limpa, animações de rua daquelas que transformam velhos em crianças, exposições bem pensadas e também a prova de que a arqueologia apenas desenterra verdades, tudo isso encheu quatro noites de Loulé que viu regressar ao torrão natal o poeta Casimiro de Brito ao lado da poeta síria Maram Al-Masri – seria bom que a organização fosse publicando Cadernos Anuais destes encontros, para que conste.

Quem tem acompanhado a evolução desta iniciativa, certamente percebeu que ela veio para ficar e para crescer – este ano o Festival do Mediterrâneo deu um inegável salto afirmando-se como um acontecimento de abertura ao mundo sem provincianismo. Com uma organização à evidência complexa, quem trabalhou para isto não deve pertencer ao sindicato do despacha, porque dá trabalho, exige empenho humilde e, sobretudo, capacidade de acolher ideias.

Gostei, e obrigado Loulé que mais uma vez me deste conta de que há coisas boas no mundo.

Carlos Albino

Flagrante confidência: Não é por acaso que aí está lançado o blogue ESTADO do ALGARVE, ainda em passos iniciais ( em http://www.estadodoalgarve.blogspot.com/) mas que é um bom título para o que der e vier. Adivinhem…