quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

SMS 33: Prenda no sapatinho

25 Dezembro 2003

Prometi, na semana anterior, falar dos eurodeputados que o Algarve tem mandado ou aceitado mandar para Bruxelas e Estrasburgo. Porque é Natal, evito o tema por esta semana – seria estragar a festa a alguns cidadãos impolutos e, muitissimo mais importante, os leitores merecem assunto adequado à quadra e não coisa triste. É claro que não se pode fugir às prendas no sapatinho. Que se pode pedir, então, para este Algarve? Deve-se pedir coisa de que, para já, precise e que lhe possa dar aquela suavidade perfumada de acreditar no futuro. E aqui está não tanto o embaraço da escolha mas a impossibilidade de se encontrar coisa perfumada. Procurei e não encontro. O Governo tem a cabeça no Norte, o coração da forma de uma carteira no Centro e o aparelho digestivo em Lisboa. Dos partidos, sobretudo os tais dois partidos com vocação de poder, só prendas envenenadas, ou pela vocação ou pelo poder que têm ou ambicionam ter. E aqui no Algarve cada um trata da sua vida pelo que o individualismo tem a classificação de cinco estrelas. Neste Natal de 2003 o Algarve tem que se conformar – o sapatinho fica vazio. E outra coisa não seria de esperar pois no mesmo dia em que se inaugurava um Estádio de 35 milhões, começou nas ruas um peditório para a finalização das obras da unidade de radioterapia que Faro engavetou num logradouro cercado de prédios e para onde, em décadas, se prometeu sucessivamente um jardim, um parque infantil, um silo para estacionamento... sei lá, só faltou prometer uma estufa de flores. O presidente de Portimão. Manuel da Luz, tem razão: o Algarve está hipotecado. O que que dizer que governos e partidos andaram nos últimos anos a brincar ao Pai Natal. «Haja no Céu uma Estrela, já não há quem tenha amor...», cantava-se nos natais antigos pelo Barrocal e pelas Serras. Podemos voltar a cantar isso. Eu canto.

Carlos Albino

SMS 32: Região do Algarve, líderes e listas

18 Dezembro 2003

Já se vai percebendo o frenesim. Aproximam-se as eleições europeias e já uns poucos sujeitos (poucos porque não podem ser muitos) fazem contas com alguma sorte na rifa, sendo a rifa o equivalente a um chorudo ordenado e uma emigração de luxo em Bruxelas e Estrasburgo. E ainda as eleições autárquicas estão na linha do horizonte e também outros tantos sujeitos, se estão na oposição dizem estar na linha de partida, e se estão no poder exibem o ar mais displicente deste mundo como se exercer o poder fosse um acto de caridade para os Algarvios daqui e dali ou então alguma mesmo uma generosidade equivalente a imolar a vida ou como se ser Presidente de Câmara fosse o mesmo que Cristo a lavar os pés dos pobres. As listas estão a ser forjadas. Nisto, os líderes dos principais partidos do Algarve – o PSD e o PS – esquecem ou fingem esquecer a questão-chave que é a da Região do Algarve, questão postergada mas chave. Nem uma palavra, nem um projecto, nem uma iniciativa. Mas compreende-se: os estados-maiores dos partidos, para cuja massa cinzenta que é noventa e sete e meio por cento do Caldeirão para cima, não têm interesse em ressuscitar a questão e para essa gente o Algarve só conta para banhos, para tantas aventuras sociais quantos os divórcios e para, nuns salmonetes grelhados na Ilha de Faro e enquanto palitam os dentes, desvanecerem-se em considerações com selectos apaniguados locais (algarvios, claro) dando instruções políticas para o futuro. E como o ideal da Região do Algarve foi substituído pelo culto da personalidade, começamos a ver o espectáculo. Na próxima semana trataremos desse triste espectáculo que tem sido Bruxelas e Estrasburgo e nalguma semana a seguir, se Deus me der vida, saúde e paciência, havemos de tratar dos cultos de personalidade que não é apenas triste mas sobretudo um sórdido e pornográfico espectáculo.

Carlos Albino

quinta-feira, 11 de dezembro de 2003

SMS 31: Aquele Quarto 13 da Pensão Estrela

11 Dezembro 2003

Nos dias que correm, ouvir dizer bem de um Algarvio é coisa que recebemos com alegria e com gosto. E se esse Algarvio ainda é ou foi um político, será caso de especial celebração porque estaremos então perante um fenómeno. Foi o que há pouco aconteceu na Argélia. Ao receber Jorge Sampaio que ali foi em visita de Estado, o presidente do parlamento argelino, Karin YounSs, como todos os chefes parlamentar em qualquer parte do mundo, foi buscar o melhor para o discurso alinhavado para receber o Presidente Português. Esse melhor foi Teixeira Gomes. Com orgulho, Karin YounSs afirmou ter nascido e crescido precisamente na terra – Dedjaia (outrora Bougie) - onde o nosso Algarvio se exilou nos últimos dez anos da sua vida e onde morreu em 1941. E porquê esse orgulho do argelino? Porque, testemunhou ele a Sampaio, ainda hoje muito gente de Dedjaia, sobretudo pescadores, se recorda de Teixeira Gomes como «um homem sábio que gostava de conversar com a gente simples e contemplar com eles as maravilhas do mar». E Teixeira Gomes ficou de tal forma no coração dessa gente que o Quarto N.º 13 que ocupou na Pensão Estrela ainda em laboração, está preservado como quarto-museu, à disposição de historiadores, biógrafos e visitantes. Ouvir dizer na Argélia que estimam ali um Algarvio porque ele era sábio e falava das maravilhas do mar com a gente simples, isso é um grande lenitivo para os dias que correm. Se Teixeira Gomes tivesse sido um analfabeto reciclado à força pelo papel da política e tivesse falado com os da gente simples apenas pela bazófia de lhes sacar futuros e potenciais votos, de certeza, o Quarto N.º 13 já teria ido à viola. Bem, celebro com alegria e gosto a veneração por Teixeira Gomes em Dedjaia mas ainda não desesperei de encontrar, para já em Estrasburgo ou em Bruxelas, quartos preservados onde tenham estado Algarvios sábios…
Carlos Albino

segunda-feira, 8 de dezembro de 2003

SMS 30: Droga, álcool e barulho

4 Dezembro 2003

Se, como o bispo do Algarve deve ter dito ao abençoar o estádio de São João da Venda, há três virtudes fundamentais – fé, esperança e caridade – há neste Sul do País três males opostos: droga, álcool e barulho. Quanto à droga, cujos traficantes e consumidores parecem preferir, agora, estradas e caminhos esconsos do interior para negócios da noite, soube que, na semana passada, um agricultor do Barrocal, já farto desse movimento junto da sua fazendinha, pegou na caçadeira e, com uns tiros para o ar, afugentou o extenso grupo que entre si trocava sacos de produto por gordos maços de notas... Quanto ao álcool, à revelia da lei, por aí continuam bares – eu tenho visto! - a vender o inimaginável a menores e maiores, mais os menores que os maiores, até às cinco e seis da madrugada que já é outro dia. E quanto ao barulho, mesmo os surdos ouvem – o que não é milagre. Pois que resultará desta salada social de drogados, alcoolizados e gente sem as mínimas noções cívicas? Resultam assaltos, roubos e, infelizmente, matanças seleccionadas aqui e ali, ou o receio justificado. Acresce a isto, uma emigração cuja componente clandestina é um barril de pólvora com rastilhos que, bem pensadas as coisas e conforme informações seguras, vão dar a todas as mafias. Perdemos, assim, a fé na segurança, os motivos de esperança são cada vez mais ténues e não há vontade de ser caridoso para uns quantos brutos que estragam a convivência algarvia. O que está a acontecer é pior que o incêndio de Monchique.

Carlos Albino

quinta-feira, 27 de novembro de 2003

SMS 29: Música e Estádio, abençoadas penúrias

27 Novembro 2003

1. Para 13 de Dezembro, está marcado para a Sala dos Embaixadores no Palácio da Ajuda (Lisboa) um concerto da Orquestra do Algarve. Vou lá estar. Mas o caso até seria de festa para o bom e grande grupo de Algarvios que também «fazem» Lisboa, se mesmo antes dos compassos binários, ternários ou quaternários que Álvaro Cassuto irá martelar, a coisa já não tivesse dado fífia. E porquê? Segundo o programa, a Orquestra do Algarve vai apresentar em primeira audição absoluta «cantos natalícios portugueses». E, de facto, lá está um dos Açores, outro da Beira Baixa, segue-se um de Trás-os-Montes, outro mais do Alentejo, ainda outro do Douro e, a rematar, coisa do Ribatejo. E do Algarve? Nada, rigorosamente nada, ainda que o nosso querido Algarve tenha um dos mais ricos patrimónios musicais do País em matéria de cantos natalícios. Ou a ordem dos sustenidos de Álvaro Cassuto anda trocada ou a ordem dos bemóis de uma Orquestra que se intitula do Algarve e é paga pelo Algarve, está a necessitar de um valentes bequadros que anulem e rapidamente os meios-tons da inaceitável omissão. Maestro, corrija o andamento!

2. No Domingo, foi inaugurado o Estádio do Algarve. Com a bênção do bispo, oxalá fique abençoado, já que estes rituais jogam sempre no banco dos suplentes; com a placa, de certeza que o ego do ministro inaugurador ficou perpetuado; com o cocktail, enfim, estou em crer que muita gente comeu camarão de boca aberta, e com o fogo de artifício quase seguramente, à queda das canas, surgiram mais uns buracos na única estradinha do Estádio para Loulé. E a inauguração resumiu-se a isto com José Vitorino a justificar a penúria por «as cidades algarvias não estarem a disputar protagonismos com ninguém». Não entendo. Então para que é um Estádio do Algarve? É para que, logo à partida, seja um Elefante Branco a comer camarão? Custaria assim tanto formar uma Selecção do Algarve e chamar a Selecção de Marrocos, por exemplo, a da Andaluzia que fosse ou mesmo uma equipa de honra do Cachopo?

Penúria, penúria e penúria. Tanto nas partituras como nas abençoadas quatro linhas.

Carlos Albino

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

SMS 28: O Presidente Jorge Sampaio deveria fazer isto mesmo

20 Novembro 2003

Sei, de forma muito particular, como o Presidente Jorge Sampaio se preocupa com os direitos, os problemas e os anseios dos cidadãos, sobretudo daqueles de que, sofrendo pela calada, ninguém fala. Em função desse apurado talhe humanista de espírito e de sensibilidade profunda, Jorge Sampaio tem percorrido o País e programado as suas Presidências Abertas. Mas no que diz respeito ao Algarve, descontados pequenos circuitos de circunstância política, ainda não vi o Presidente da República assentar arraiais na vasta Serra de Monchique e Silves a Loulé/São Brás e Alcoutim, zona secularmente abandonada onde, à evidência, estão as zonas mais pobres de Portugal (Alcoutim é mesmo isso – o Concelho mais pobre do País!) e no abandonado Barrocal onde desgovernos, anti-planeamentos e voragem de lucros fáceis avançam como truculentos conquistadores deixando atrás uma insustentável ruptura cultural e uma mancha de populações desorientadas que protagonizam o alastramento da pobreza envergonhada a par da extrema insegurança, da doença e do isolamento. Ora o Presidente Jorge Sampaio deveria fazer uma Presidência Aberta aí e só aí, ouvindo todos, podendo e devendo ver tudo em directo e não em diferido por via das esclarecidos donos de jardins, arquitectos de campos de golfe, engenheiros de hotéis e técnicos de esplanadas da estreita faixa da beira-mar – frágil Paraíso mas, enfim, Paraíso. Estou em crer que o Presidente Jorge Sampaio aceitará este desafio de «auscultar» a paupérrima Serra e o indefeso Barrocal Algarvio que nenhum Governo – nenhum – levou a sério. Que venha por Bem.

Carlos Albino

sábado, 15 de novembro de 2003

SMS 27: O maior desprezo pelo Algarve

13 Novembro 2003

Como sempre, o poder central português agora casado com o poder central espanhol, desta vez a a propósito dos comboios de alta velocidade, destina para o Algarve o maior desprezo. Foi assim com as estradas, continua e continuará a ser assim com os portos, foi sempre exactamente isso com os caminho de ferro. Pura e simplesmente desprezo. Estive na Figueira, ouvi atentamente Barroso e Aznar, confrontei as versões portuguesa e espanhola das conclusões desse arranjo político em que o transmontano de Lisboa foi de carrinho, digam-me o que disserem. Não vou falar muito do carrinho mas apenas do que interessa ao Algarve. Para já, alta velocidade apenas vai existir para Lisboa e Porto. Haverá para Lisboa porque os espanhóis querem impor uma nova centralidade estratégica em Badajoz absorvendo o Alentejo português até ao mais pequeno ossinho, sendo o resto conversa. Haverá também alta velocidade para o Porto, porque idêntica estratégia espanhola está delineada para Vigo. Mas bem lá no fundo do túnel pretendem, querem e impõem os espanhóis que todos os caminhos vão dar a Madrid. E assim será, basta ver o mapa. E para o Algarve? Bem para o Algarve, em matéria de comboios, lá ficou prometida na Figueira, uma «conexão» entre Faro e Huelva à qual, olhando para o tal mapa, prefiro chamar um ramal da Andaluzia para o aeroporto do Sapal. Porque não Lagos? E é um ramal apenas para velocidade elevada e não para alta velocidade, nada mais. Além disso, os termos do chamado acordo não são claros: a «conexão» Faro-Huelva será planificada «em função dos resultados dos estudos a desenvolver», de forma que essa ligação possa estar concluída antes de 2018. Imaginem - 2018! - e «em função dos resultados dos estudos»… Ah! Já me esquecia – promete o poder central de Lisboa uma nova ligação entre Faro e Évora (primeira e única paragem do TGV em Portugal antes de Lisboa) com óbvia travessia da Serra Algarvia. Como se viu com a auto-estrada, os ecologistas já devem estar de plantão certamente e, tal como no passado, preparados para acordos debaixo da mesa em Almodovar. Não se chama a isto desprezo pelo Sul do País, mas simplesmente desprezo pelo Algarve. E então aquela data de 2018, data das comemorações do primeiro centenário do fim da I Guerra Mundial, faz-me rir deste desprezo.

Carlos Albino

SMS 26: O Orçamento

06 Novembro 2003

Ninguém duvida: o Algarve que gera receitas apreciáveis para o Estado até por aqueles circuitos em que os Municípios não pregam prego nem estopa, é um dos principais lesados pelo Orçamento desse mesmo Estado. Quer isto dizer que as Câmaras Municipais do Algarve vão continuar com obras fundamentais pura e simplesmente adiadas, e se, na generalidade, elas já não tinham grande tendência ou mesmo criatividade para a elaboração e apresentação de Projectos (P grande!), com esta filosofia orçamental do Estado é que vão encolher os ombros sem que deixem de ser quintais de poder. E a existência de quintais é o pior que pode acontecer para a coesão do Algarve e para a ideia de Região do Algarve que está ferida de morte. Nem o quintalão de Faro que a partir das 19 horas fica às moscas em nove meses por cada ano, a salva. Capital de quê?

Carlos Albino

segunda-feira, 3 de novembro de 2003

SMS 25: Bodas de Prata!

30 Outubro 2003

Número 25 das SMS, eis as Bodas de Prata uma vez que, sabemos, para muitos leitores esperar uma semana é um ano. Chegou então a hora de balanço. Aqui vai:

  • A prevenção do crime, no Algarve, continua a bradar aos céus e a fundação fantasma continua fantasma mas há mais fundações fantasmas...

  • Não houve multa que se visse por erro de português em Albufeira, e dos quatro modelos de autarca, um deles (Francisco Leal, de Olhão) por pouco ia borrando a opa por essa história do Tribunal Administrativo.

  • Fica-se a saber: é difícil encontrar um advogado no Algarve que não se dedique à imoliária. As Portas do Céu, a tertúlia de Loulé, continua e bonita. Mas a justiça desta terra... recordam-se da saia de 7.032 Quilómetros?

  • Líderes algarvios? Onde, se nem os presidentes de câmatas de entendem, como diz Macário?

  • Via do Infante, continua «sem história». Agora, um busto de D. Henrique na berma, como se tivesse morrido atropelado, ali no descampado...

  • Balcanização do Algarve: sim, é isso e não é outra coisa, com se a aspiração a concelhos tivesse que ser um «grito de guerra».

  • Poetas, continuamos a ter Cinco Liras, felizmente.

  • Paulo Neves? Quem o acusou que atire a primeira pedra. Não o conhecia pessoalmente mas continuo testemunha disponível. Uma verdadeira infâmia.

  • Helder Martins continua a não apresentar o curriculum completo. Por dever de resposta ou o PSD não tivesse feito, e bem, a campanha eleitoral que fez.

  • O problema do Algarve parece eterno: a falta de estrutura mental.

  • Deputados do PS: muita parra e pouca uva e quanto a blogues - todos diferentes, alguns têm água no bico. O Poeta que descobri é que continua à espera de subsídios...

  • Nuno Júdice, atenção! Seruca Emídio prometeu colocar o poema junto do mar de Quarteira!

  • Região do Algarve. Ninguém, ninguém reagiu.

  • Adriano Pimpão, apoiado com validade e o padre de São Brás deve ter perguntado a Cristo se tem medo dos anti-fundamentalistas.

  • José Plácido dos Santos é mesmo catita naquele casamento do monte que é a CCDR que é bem o exemplo da lassidão do Algarve e dos Algarvios, para fechar.

    Novo balanço, lá para a SMS 50, Bodas de Ouro.

    Carlos Albino
  • sexta-feira, 24 de outubro de 2003

    SMS 24: Lassidão - é a palavra

    23 Outubro 2003

    Seria de esperar que o acordo de pescas – e mais do que o acordo de pescas, a clamorosa falta de fiscalização das nossas águas – provocasse o debate sereno mas forte, o enunciado de interesses e uma posição inequívoca dos Algarvios para quem o Mar é tudo no presente e se calhar no futuro. De facto, houve alguma reclamação dos homens da Vila de Santa Luzia (Tavira), porque José Apolinário, nestas coisas das pescas, é um bom rebocador. E pouco mais houve, como em tudo: é assim na agricultura, é assim no turismo, é assim nos serviços. Dir-se-á que é apatia, ou seja – indiferença, marasmo, insensibilidade. Não me parece. A palavra é a lassidão. O Algarve está mergulhado numa profunda lassidão, ou seja – tédio, frouxidão, cansaço. Assim não vamos a lado nenhum, embora Portimão lute por ser capital disto, Tavira daquilo, Lagos doutra coisa que nem se sabe o que é, Loulé do que lhe vai restando de Faro e Olhão, Albufeira do que lhe vai iludindo… Capitais em demasia para tamanha lassidão.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 16 de outubro de 2003

    SMS 23: CCDR, catitamente... um casamento do monte

    16 Outubro 2003

    A entrevista que o advogado e presidente do CDS/Algarve, José Plácido dos Santos deu a Pedro do Carmo (Algarve Região) é a todos os títulos notável. Sabe-se que, por mero preço de uma coligação que nada tem a ver com a realidade política e até com a entidade do Algarve, foi «distribuída» a José Plácido dos Santos uma das vice-presidências da CCDR, tal como nos casamentos do monte, e, com toda a desfacatez, o homem não vê incompatibilidade nenhuma seja com o que for. Confrontado com os exemplos de Carlos Martins que abandonou a liderança do PSD/Algarve quando assumiu o cargo de Secretário de Estado da Saúde ou de Miguel Freitas que abandonou a CCR quando se candidatou à liderança do PS/Algarve, José Plácido dá uma resposta catita: «O problema não está nos cargos, está na isenção com que são desempenhados». Isenção, vejam. E confrontado com a sua ligado à interesses imobiliários, José Plácido, também catitamente, exara: «É difícil arranjar um advogado no Algarve que não tenha clientes que não tenham interesses imobiliários». Isenção, claramente, sendo a CCDR o que é para o que é. Por isso e por aí, também não haverá incompatibilidade, segundo o evangelho de Plácido. Na verdade, este José Plácido é uma típica figura de uma CCDR que (re)nasce mal: partidarizada e de costas voltadas para a ética política. Voltaremos ao assunto.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 9 de outubro de 2003

    SMS 22 - Até estranhei a ausência do padre de São Brás

    9 Outubro 2003

    «Aqui repousam os restos mortais de um homem que, durante a sua vida, fez o possível para ser honesto e que, se, por diversas vezes, ele faltou aos seus deveres, foi motivado pelas injustiças dos homens» - foi a frase que João Rosa Beatriz, fundador do Concelho de São Brás de Alportel, pediu que lhe colocassem na campa. João Rosa Beatriz foi «anti-clerical» porque no seu tempo ser anti-clerical era o mesmo que, hoje, ser anti-fundamentalista, sendo o fundamentalismo uma doença que não ataca apenas muçulmanos, cujos contaminados por esse mesmo mal, continuam a entregar todo o poder aos clérigos. Não vamos fazer história porque, para além do País estar cheio de historiadores (90 por cento dos portugueses são historiadores), o que Maria João Raminhos Duarte disse com grande inteligência, em São Brás, a propósito de um Algarvio generoso que imolou toda a vida e sem tréguas pelo ideal do combate à injustiça, acabou por ser uma verdadeira «oração ecuménica». Por isso, estranhei que o padre de São Brás estivesse ausente. É verdade que a Igreja por aí tem andado a pedir desculpa pelos seus fundamentalismos do passado (um extenso comboio, sobretudo quando a Inquisição era um verdadeiro regime de talibãs…) mas ficar-lhe-ia bem que reconhecesse, ainda que discretamente, que alguns anti-fundamentalismos também do passado contra ela, tiveram justificação e legitimidade. Pelo que se lhe conhece, Cristo, se fosse vivo, estaria presente na evocação de João Rosa Beatriz. E se calhar esteve, estando o padre ausente. Não há desculpa, a não ser que o padre também seja historiador.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 2 de outubro de 2003

    SMS 21 - Adriano Pimpão. Apoiado!

    2 Outubro 2003

    A Universidade do Algarve está a avançar com firmeza por aqueles dois carris paralelos em que o Saber surge como o motor potente da sociedade, mesmo nas curvas mais apertadas impostas pelo traçado da ignorância natural. A internacionalização e a abertura à sociedade, estão a ser à evidência os dois grandes suportes desse magnífico rodado que se converteu já na instituição mais respeitada do e no Algarve e, por certo, num dos fortes motivos de esperança no futuro. É certo que a internacionalização só pela internacionalização é coisa oca, e que a abertura apenas pela abertura acaba por ser show off. Mas quando a internacionalização e a abertura fazem deslizar o chassis da investigação e do desenvolvimento, então temos comboio para andar. É o que está a acontecer com a Universidade do Algarve cujo êxito de afirmação da dignidade ao projecto se chama Adriano Pimpão a quem irrecusavelmente digo: Apoiado! Lamentavelmente os operadores económicos de maior peso no Algarve mas cuja sede financeira está fora da «região» nem um único protocolo celebraram com a Universidade do Algarve, precisamente porque actuam no Algarve tal como os corsários, ainda há menos de cem anos, faziam incursões em Lagos e tal como a pirataria moura devassava as póvoas do litoral. Também lamentavelmente ainda hoje há responsáveis da própria Universidade para os quais o Algarve termina no aeroporto ou começa nas bermas da A2, pelo que em todo o caso conhecem o Patacão e pouco mais. São os primos dos piratas. Mas Adriano Pimpão não deixou cair os braços e, em segundo mandato, está a converter a Universidade na moderna fortaleza de que o Algarve tanto carece. Em função dos longos diálogos que mantive com Gomes Guerreiro no tempo em que a Universidade patinava pela tibieza do poder central e pela indecorosa falta de coragem e sentido de liderança dos políticos «regionais», pois se o primeiro Reitor fosse hoje vivo, também diria, pela certa: Apoiado! E como eu gosto de repetir esta palavra – Apoiado! – no Jornal do Algarve onde a proposta da Universidade foi apresentada e defendida pela primeira vez, nos remotos anos 70, contra os minimalistas que se contentavam com um institutozinho politecnicozito (que nem isso ganharam) e que, pertencendo quer à então situação ou quer à então oposição, fizeram o Algarve perder vinte anos. Foi muito tempo perdido mas olhemos para a avenida larga do futuro. Apoiado!

    Carlos Albino

    quinta-feira, 25 de setembro de 2003

    SMS 20 - Sem regionalismos, a Região do Algarve

    25 Setembro 2003

    Sentimos todos que o debate, a dinâmica e até algum entusiasmo sólido que chegou a existir à volta da criação da Região Administrativa do Algarve, tudo isso caiu. E caiu porquê? Porque os entusiastas de várias orientações que monopolizaram entre si o debate, a dinâmica e até algum entusiasmo, todos eles ou a maior parte deles, afinal, apenas estariam à espera da Lei e dos decretos-lei... Como os resultados do referendo nacional inviabilizaram a decisão de Estado, a ideia da Região caiu – politicamente, faça-se a precisão. É verdade que alguns responsáveis partidários (não só dirigentes e eleitos, mas também gente sem poder mas que quer dar nas vistas) volta e meia falam dessa coisa da Região, mas vê-se-lhes a desmotivação pela evidente falta de perspectiva da lei e do decreto. Mas também é verdade que os argumentos não ultrapassam, em substância, o nível corriqueiro do «regionalismo» que, desculpem a paráfrase mas dá jeito, é a doença infantil do provincianismo tal como muito do «folclore popular» é apenas e só cultura contra o Povo. Pensamos, todavia, que se algum dia se conseguir no Algarve, recolocar o debate, a dinâmica e algum entusiasmo num nível superior da Política, ou seja das Ideias, então poderá começar-se a sentir Região, independentemente da lei e dos decretos. E não vejo outro caminho que não seja, para já, a formação de um Fórum amplo e abrangente, integrando representantes de partidos, instituições independentes mas credíveis (como Universidade e institutos superiores), personalidades de referência dos mais diversos quadrantes, organizações empresariais e sindicais, enfim o Algarve tanto quanto possível em peso. Não vamos perder de vista a questão. Há batalhas que vale a pena travar, mas sem a doença infantil do provincianismo que é uma «lei» que o Algarve não merece.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 18 de setembro de 2003

    SMS 19 - O que Deus e um Poeta criam em Quarteira

    18 de Setembro 2003

    E ali estávamos, às duas da madrugada, num terraço de quinto andar, com o enorme círculo de Mar a fazer razia à frente dos olhos. A fronteira desse Mar com a Terra era o longo corrupio de gente cujo vai-vém era inegável prova de paz. E quem estava no terraço? Estava Serras Gago, conselheiro da Representação Portuguesa junto da OCDE, a dissertar sobre o rumo do País e o futuro do Algarve, tirando o melhor da sua reconhecida experiência de sociólogo. Estava Manuela Júdice, a grande inventora da Casa Fernando Pessoa a quem João Soares tirou indecentemente o tapete. Estava Lídia Jorge, a testemunha sábia de todos os meus momentos e de todas as minhas inquietações. E estava o Poeta Nuno Júdice, de olhos perscrutantemente incrustados num corpo tão quieto, tão quieto como um monge budista jamais conseguiu e jamais conseguirá. Um corpo tal como Mar em frente. Todavia, notei uma enorme, secreta e julgo que irreprimível movimentação nesse corpo, tal como no Mar a fazer razia. E desafiei-o: «Nuno, esse poema que por aí anda, por mais breve ou longo que seja, é para os leitores das SMS do Jornal do Algarve». E como que a não querer interromper o secreto discurso, ele apenas murmurou um curto «Sim». Uns poucos dias depois, recebi sete linhas que são a síntese daquela sensação esmagadora de Belo e que certamente levou Deus, ao sétimo dia, à decisão de criar Loulé em Quarteira e o Algarve no oitavo. Leiam:

    LUAR EM QUARTEIRA

    Roubo, do céu onde a noite
    a fixou, a prumo sobre
    o mar, o rebordo vermelho da lua,
    nem crescente nem minguante;
    e um gemido de maré
    cola-se ao buraco branco
    que ficou no céu.

    10-8-2003

    Nuno Júdice


    Se eu fosse autarca, mandaria gravar as sete linhas numa placa de pedra a colocar junto daquele Mar.

    Carlos Albino

    sexta-feira, 12 de setembro de 2003

    SMS 18 - Subsídios já p’ró Poeta

    11 de Setembro 2003

    Foi descoberto um homem que, pelo diz e escreve, pode ser considerado já o maior Poeta Popular vivo do Algarve, supondo-se que também tenha lugar assegurado entre os mortos. Uma quadra inédita que nos chega às mãos é prova suficiente da abençoada genialidade:

    Vim ao mundo tirado a ferros
    Sem que dissesse ai nem ui!
    Minha mãe é que ficou aos berros
    - Porque pai de mim próprio fui.


    A rima de «ferros» com «berros» e de «ui» com «fui», além do uso do travessão no quarto verso, são fórmulas tidas como definitivamente inovadoras da Literatura Portuguesa. Assim sendo, Silves deve dar já 24 mil euros para a publicação do primeiro livro do Poeta; Loulé deve dar e quanto antes 30 mil euros para a investigação, naturalmente universitária, sobre o manuscrito ainda inédito; Faro, obviamente em parceria com a RTA e Parque da Ria Formosa, tem a obrigação de conceder 100 mil euros para o primeiro álbum fotobiográfico do poeta popular. Monchique deve-lhe fazer alguma homenagem (60 mil euros - e já! - da Delegação do Ministério da Cultura para foguetes e sessão) e que Portimão, Lagos e Lagoa puxem pela imaginação porque génios como o do nosso Poeta devem ser subsidiados sem hesitação e generosamente, até porque o Tribunal de Contas não presta atenção a gastos deste género... Entenderam como se pode ganhar 214 mil euros de uma penada?

    Carlos Albino

    quinta-feira, 4 de setembro de 2003

    SMS 17 - Grande surpresa, meu Deus!

    4 Setembro 2003

    Passaram dois séculos de «cartas ao director», em que alguns dos mais afoitos e privilegiados, enfim, lá iam conseguindo ver impresso, tarde e más horas, um resuminho de reflexão, de protesto e de alerta ou, mais extensamente, as louvaminhas segundo a sabida conveniência das sociedades locais. A internet acabou com as restrições e as «cartas» começam a ser outras, tudo podendo ser divulgado num ápice. Basta querer e conhecer. Quase a única limitação será, hoje, a de não querer e a de não conhecer. E é com grande surpresa, meu Deus!, que vejo surgir blogs algarvios, por regra pautados pela dignidade, pela elevação e pela qualidade. Vejam como www.jaquinzinhos.blogspot.com dá cartas; abram www.notasoltas.blogspot.com; sintam como tempo não é perdido em www.umpoucomaisdesul.blogspot.com e, se fazem favor, vejam como o humor pode ser cortante e sadio em www.macjete.blogspot.com. Claro que há diferença entre os exercícios de www.1000euma.blogspot.com e as boas tiradas de www.alcagoita.blogspot.com; que o caminho de www.ambliguidades.blogspot.com é diferente do de www.hemogoblina.blogspot.com tal como as há entre www.diariodamarilu.blogspot.com e www.lampadamagica.blogspot.com. Mas há mais, todos a reforçar uma «ideia» de Algarve: www.a-formiga-de-langton.blogspot.com, www.blogal.blogspot.com; www.baldepeixe.blogspot.com; www.repensar-a-politica.blogspot.com; www.almariado.blogspot.com; www.algarveglobal.blogspot.com; www.deslizarnosonho.blogspot.com e www.vialgarve.blogspot.com. Antecipadas desculpas se houve omissão de algum blog algarvio, mas serve a mancha deste texto para ajudar a concluir que se está já num mundo novo. Oxalá, os cafés das nossas cidades e vilas começem a substituir a enfadonha televisão pelo computador. E se cada um dos 400 mil algarvios tiver um blog – não haja medo disso! - haverá menos gritaria e mais Algarve. Então, honra aos pioneiros.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 28 de agosto de 2003

    SMS 16 - Muita parra e pouca uva

    28 Agosto 2003

    1 - Agradeço imenso ao deputado José Apolinário a gentileza de ter enviado o relatório-síntese supostamente da actividade dos quatro parlamentares eleitos no Algarve pelo PS, ou melhor e para ser mais preciso, dos três eleitos pelo PS e de mais um para o PS que ninguém viu por cá mesmo que a Região tivesse ardido toda. Gostaria que os restantes quatro do PSD - porque não há mais - fizessem o mesmo no que toca ao Algarve.

    2 - Cumprido o agradecimento, vamos à matéria do relatório. Salta dali aos olhos uma fácil colectânea de conhecidas reivindicações locais, muitas delas tão velhas que já têm barbas e outras tão gastas que não há meio de deixarem de ser bandeira dos que se revezam na oposição, numa espécie de reposição política do Senhor Feliz e do Senhor Contente.

    3 - Para além das 200 perguntas ou requerimentos que garantem, e acredito, terem apresentado ao Governo (até estranho que não tenham despachado 1675 perguntas ou mesmo 8965 requerimentos porque perguntar é fácil e requerer muito mais), o relatório de José Apolinário fala do trabalhoso interesse dos deputados por 15 ligações rodoviárias, sete portos de pesca ou de recreio, quatro hospitais, quatro esquadras de polícia ou quartéis da GNR, três barras e duas passagens de nível. E ainda tiveram tempo e forças para se interessarem por uma ponte, um projecto urbanístico, um teatro, um achado arqueológico, um pólo universitário, uma escola de hotelaria, um tribunal, um estádio, um INEM, um centro emissor, um Metro de Superfície e por pouco não chegavam a Marrocos e se interessavam por uma palmeira, um camelo, um tijolo de mesquita em Fez, uma tâmara de Marraquexe e já agora a árvore que falta plantar em frente da minha terna casa de Loulé.

    4 - Ah! Já me ia esquecendo, também se interessaram pela elevação de Odiáxere a vila e promoveram a excursão de 400 algarvios até às galerias de S. Bento o que, apesar de tudo, é um acto politicamente mais limpo do que essa peregrina ideia das juntas de freguesia algarvias, num gesto de duvidosa religiosidade, organizarem e promoverem excursões a Fátima como se fossem paróquias.

    5 - O relatório das «actividades parlamentares» fica por aí como se um deputado fosse um «autarca» de primeira grandeza ou um «porta-voz» dos autarcas de segunda que não raro também falam como se fossem Deputados de primeira. É que no relatório e por certo também nas actividades, não há uma palavra para os assuntos fundamentais, estratégicos e da verdadeira Política na pureza desta palavra se é que ela ainda é pura. Ora, sabemos todos que um deputado é muito mais do que um compadre de presidente de junta e, naturalmente, muito menos que um enteado de Chefe de Estado por mais que deste seja predilecto a desfavor dos filhos naturais. Mas também não é um presidente simultâneo e ambulante das 16 câmaras algarvias e claro que também não será um fiscal de obras ministeriais andando de concelho em concelho com o livro de ocorrências em punho. Um deputado transporta ou deveria transportar uma Ideia, um Projecto, uma Estratégia, um Rumo de Valores, e é ou deveria ser a superior afirmação da Política. E isto é que não há meio de se ver. É um mal que vem de há muito e não há meio do mal acabar porque aqueles que optaram pela profissão de políticos, são esses os primeiros a confundir Ideia Política com chicana, Discurso Político com circunstancial tagarelice populista e Estratégia Política com colectânea de reivindicações, pelo que nada custa aceitar que perguntem e requeiram até sobre a tâmara de Marraquexe. Muita parra e pouca uva.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 21 de agosto de 2003

    SMS 15 - O Problema do Algarve

    21 Agosto 2003

    Em escassos dias deste Agosto, coleccionei uma boa trintena de episódios que me dão conta de que o Problema do Algarve não é só de infra-estruturas, de planeamento, de projectos, de engenharias financeiras, de freguesias que querem ser cidades e que mal são cidades querem ser concelhos ou, entre muitas outras questões, muito menos será da falta de navegabilidade do Arade, do Gilão e já agora da Ribeira de Alte. Estes serão meros problemas compreensivelmente atrelados à pedincha da UE que já deu tantas piscinas em vez de virtuais plantações de melão e tantos jeeps em vez de máquinas agrícolas dadas nos formulários como imprescindíveis para o «projecto». O grande Problema é de Estrutura, sim, de Estrutura Mental. Dos trinta episódios, escolho apenas sete. Aqui vão um a um:

    1 – Fogos. Era meia-noite. No eirado de onde se avista a faixa apresepiada do barlavento e com o bico da Foia como manso limite da terra, via-se perfeitamente a linha trágica dos incêndios e se não se ouvia, pressentia-se a dor e os gritos de desespero de todos os que tiveram no fogo o pior dos ladrões. Ora, naquele preciso momento em que as labaredas estavam às portas de Silves e o governo decretava estado de calamidade para grande parte do Algarve, eis que nas bandas de Albufeira surge um vistoso fogo de artifício. Fogos de todas as cores, foguetório, uma festa! Não se chama a isto falta de Estrutura?

    2 – Quarteira. Boa e digna Feira do Livro onde não se sabe se o artesanato é engodo para os livros ou os livros engodos para o artesanato. A organização destinou dois quiosques à Junta de Freguesia de Quarteira. Esperava eu que a Junta aproveitasse a oportunidade para mostrar o que a terra vale, o que tem, o que significa, o que deseja, enfim, que desse um sinal de que os quarteirenses não são como os búzios que só têm um pé para andar. Pois bem, um dos quiosques nem abriu, ficou vazio e o outro, foi subalugado a uma casa de bolos! Nada tenho contra os bolos a não ser quando são em demasia pois com papas e bolos se comem os tolos. Mas quando uma Junta entrega o mandato à doçaria, não se chama a isto falta de Estrutura?

    3 – Urbanidade. O Homem é poderoso no Algarve e ocupa um dos cadeirões do poder regional. Digamos até que se não é o rei, parece. Chegou acompanhado da mulher. Eu estava numa das mesas da acolhedora esplanada das Portas do Céu, com três amigos de longa data. O que faz o Homem? Puxou uma cadeira, ocupou o lugar nobre da mesa, começou a falar, a falar e a falar mas nem uma com licença, nem um bom dia, nem um desculpem... E o que fez a Mulher? O mesmo. Claro que, passado um bom período de indulgente benefício da dúvida, cumprimentei apenas os meus três amigos que não sendo reis são fidalgos da urbanidade, levantei-me, deixei o Homem poderoso a perorar à vontade, afastei-me daquele Urbanidade. Quando um Poder destes é assim na vida, não se chama a isto falta de Estrutura?

    4 – A condutora da Goncinha. À saída de Loulé para Faro, numa estreita e perigosa estrada tipo caminho-de-cabras de fazer desmaiar o Euro 2004, uma rapariga consegue fazer ao mesmo tempo o seguinte: falar pelo telemóvel preso entre o ouvido e o ombro, segurar o cigarro ao canto da boca, meter uma mudança forçada, fazer manobras de volante mal se aproximou de uma lombas artificiais e nem sei onde ela foi buscar a mão com que simultaneamente a tudo isto ajeitou a longa cabeleira que lhe entrava para os olhos... Resultado: uma travagem brusca, uma guinada torta e, pasme-se, como só então se apercebeu que não nasceu com mãos para tanta coisa, lançou o cigarro aceso pela janela da direita, para as bermas onde o restolho seco confina com a apreciável vegetação da Goncinha. Caso a rapariga não seja uma bombeira à paisana, não se chama a isto falta de Estrutura?

    5 – O inglês reformado. O fleumático cidadão, leitor permanente de livros e que fez do Algarve segundo berço, pagou sempre pontualmente a caixa postal privativa que mantém na Estação de Correios. Por desleixo do responsável, o registo de pagamento não foi feito e cortaram-lhe sem aviso, sem apelo nem agravo, o lugar das correspondências e o inglês deixou de receber o cheque mensal da reforma. Levou três meses para resolver a situação, com o Chefe dos Correios a dizer que não e ele a dizer que sim exibindo o recibo de pagamento. Sem o seu dinheiro mensal certo, ficou com uma depressão, naturalmente. Para ele, uma Estação de Correios parece-lhe uma esquadra da Guarda Islâmica do Irão. Não se chama a isto falta de Estrutura?

    6 – Mártires da Pátria. Andou muita gente por aí preocupada pelo Poço de Boliqueime voltar a chamar-se Fonte. Pois ali bem perto, a um carreiro íngreme que não tinha nome, a junta local entendeu chamar-lhe Rua dos Mártires da Pátria. Mesmo que num carreiro, fiquei curioso por esta tardia homenagem ao General Gomes Freire executado no Forte de S. Julião da Barra e aos seus companheiros enforcados no Campo de Santana e que por isso mesmo se chama Campo dos Mártires da Pátria. E fiquei curioso porque quando uma junta de freguesia revela conhecimentos, ainda que mínimos, da História Portuguesa, merece também no mínimo, curiosidade. Só que foi tudo por água a baixo quando verifiquei que a intenção foi prestar uma homenagam aos soldados mortos no Ultramar. Para aquela gente Mártires da Pátria do século XIX ou Combatentes do Ultramar do século XX, é tudo a mesmo coisa. Não se chama a isto falta de Estrutura?

    7 – Fiscais. Os fiscais municipais são uma obra-prima. Alguns conseguem construir vivendas mais esplendorosas que os GNR de Albufeira, ganhando até menos que estes... Como o fazem, não sei, mas corre à boca calada por todo o lado que o regime de compensações informais a troco do olho fechado para obras ilegais, é um costume, pelos vistos incontrolável. Mas eu verifiquei com os meus próprios olhos, nestes dias, várias «obras» de bradar aos céus, na área de Loulé. Desde muros erguidos sem as regras da lei, até armazéns a abrir portões pela estrada dentro e casas acrescentadas, ampliadas a triplicar sem exibição do cartaz de licenciamento camarário, sei lá, é um regabofe. Os fiscais passam e fecham os olhos. Apenas os abrem selectivamente, como a Guarda Islâmica do Irão. Não se chama a isto falta de Estrutura?

    Carlos Albino

    quarta-feira, 20 de agosto de 2003

    SMS 14 - Quem não deve, não teme

    14 Agosto 2003

    O regime democrático tem ou deve ter um credo inicial: a Transparência. Sem transparência ou com transparências apenas para inglês ver, a situação de liberdade alimenta o diz-se, diz-se, o boato, a inverdade e, por resvalo, tudo o que bate à porta da calúnia e da difamação. Vem isto a propósito do que cidadãos eleitos ou nomeados para relevante cargos públicos deviam impor a si próprios: a regra de divulgarem, em boa hora, os seus currículos profissionais e académicos, de forma exaustiva e sem hiatos. Currículos na íntegra porque quem não deve não teme. As instituições públicas regionais, as autarquias, os serviços estatais desconcentrados ou regionalizados têm lugares na Internet e é aí que deveriam constar os currículos profissionais e académicos de eleitos e nomeados. E nada melhor que alguém com responsabilidades começar por dar o exemplo, como é o caso do Presidente da RTA, instituição emblemática e em certo sentido lugar-chave de poder no Algarve. Gostaria imenso que o senhor Helder Martins divulgasse o seu currículo exaustivo, precisamente para dar exemplo. Que tornasse público o que estudou, a formação complementar que obteve, as empresas que serviu de quando até quando, se apenas em Portugal ou também no estrangeiro, enfim, a sua experiência profissional completa. Tudo colocado à vista desarmada. Em democracia, um cidadão que aceita ser eleito ou nomeado para um cargo de relevante interesse público, não deve evidentemente temer que o seu passado seja escrutinado, fornecendo ele próprio os dados sem omissões. Esta é até a melhor defesa para o eleito ou para o nomeado, antecipando-se eventualmente a alguém que malevolamente faça o currículo por ele mas mal. A Transparência (assim mesmo com letra grande) deve imperar. Aprecio imenso as «mensagens» que os presidentes de câmaras dirigem aos seus munícipes, aprecio imenso que alguns até digam que são casados e têm um número tal de filhos, aprecio muito mais que digam que são militantes deste ou daquele partido desde o ano tal com desempenho deste ou daquele cargo dentro do dito partido ou como corolário da filiação e registo com enorme satisfação que digam qual é a sua profissão. No caso das Câmaras Municipais aprecio imenso esses rasgos de sinceridade mas isso não basta, e muito menos basta quando se trata de funções que implicam o Algarve e os algarvios no seu todo. Os nossos vizinhos Espanhóis, para não falar do que se passa em toda a Europa organizada, já aprenderam há muito essa regra da Transparência, usando a Internet não tanto para plantar flores mas para ajudar a árvore da democracia a crescer e a enraizar-se. Tem portanto a palavra o senhor Helder Martins, o eleito mais recente de uma instituição do maios peso.

    Carlos Albino

    SMS 13 - Essa história da RTA

    7 Agosto 2003

    Custa-me aceitar que, depois desse enorme estendal de buscas na RTA, com apreensões de discos rígidos e com uma caterva de suspeitas atiradas para o ar, mas sobretudo depois da seta atirada certeiramente ao peito de Paulo Neves, que não haja, decorrido este tempo, nada de concreto, que não haja um indício, um sinal sequer de justificação da gravidade que levou à intervenção a qual, tal como foi dito pelos responsáveis, nem podia ser antes, nem depois. Mas porque não antes ou porque não depois? Naturalmente que os algarvios sérios e honestos que felizmente são muitos, muitos mesmo embora calados, ficaram em estado de choque com o sucedido, tanto mais que a operação e a forma como foi suportada pelo zelo matreiro próprio da divulgação sediciosa que não se livra da fama de ter sido concertada, determinou incontornavelmente os resultados da eleição da liderança da RTA. Naturalmente que os algarviotes, que apesar de poucos são bastantes para influenciar perversamente a coisa pública (por isso é que são algarviotes) devem estar a rir-se a bandeiras despregadas. E felicissimos, então, devem andar os algarviões, um reduzido número, um grupo quase insignificante mas que está para o Algarve como a pneumonia atípica está para Singapura (por isso é que são algarviões). Mas agora um pouco à distância dos acontecimentos, parece que, mais uma vez, o segredo de justiça (tão machão mas impotente) se casou com a justiça do segredo (aparentemente virgem mas mais sabida que a cobra reputada de Eva), sabendo-se que, em Democracia e num Estado de Direito, desse casamento só pode resultar geração irremediavelmente estropiada ou meia dúzia de siameses unidos monstrusosamente pela cabeça como um molho de rabanetes. Faltaram dois votos a Paulo Neves. Pelo que me dão como certo, a história da RTA já terá resultado num arguido que não é Paulo Neves e, ou redondamente me engano, ou andará muito perto da verdade a sugestão de que os dois votos que lhe falharam, foram precisamente o do segredo de justiça e o da justiça do segredo. Se assim for, que Paulo Neves conte comigo como testemunha.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 31 de julho de 2003

    SMS 12 - A Justiça de Loulé tem saia de 7.032 Kms!

    31 Julho 203

    Num processo dito «urgente» fui, com muita honra, testemunha de um cidadão íntegro porque fora vilmente ofendido e infamemente prejudicado (crime de imprensa por atentado ao bom nome e imagem pública). Por força da lei, o processo deveria ter decorrido em metade dos prazos, mas levou cinco anos. Depois do arrastamento do caso por três anos, por grave erro de apreciação dos factos por parte do juiz de Loulé, começou enfim a saga do julgamento. E fui sendo notificado em Lisboa para comparecer, como testemunha, naquele tribunal judicial, com desmedidas ameaças caso faltasse injustificadamente: ora era a multa até aos velhos 160 contos, ora era a ordem da minha comparência sob custódia... Foi assim que andei em bolamas de Lisboa para Loulé, por treze vezes, para julgamentos falhados, em cada um deles com horas e horas à espera que o juiz chegasse do pequeno almoço, que o juiz comunicasse depois do almoço, que o juiz mostrasse que era meretissimo afinal simultaneamente em Ourique e em Loulé com as respectivas ajudas para o jantar. Por treze vezes, fiz o trajecto para nada e passaram mais dois anos, num processo a que a lei impõe celeridade. Em 17 de Maio de 2000 fui remetido para 6 de Junho, deste dia o julgamento saltou para 29 de Novembro, depois para 11 de Janeiro de 2001, seguiu-se 21 de Fevereiro, tudo então remetido para 20 de Setembro, foi marcada nova data para 13 de Novembro, aqui aprazou-se 3 de Dezembro que, em cima da hora, «ficou sem efeito» remarcando-se 7 de Dezembro que, também no próprio dia, voltou a ficar «sem efeito» para valer 10 de Dezembro que igualmente não valeu, pois virou a página do calendário para 2002 e lá fui eu de novo a caminho da Justiça de Loulé em 18 de Janeiro, sem adivinhar que lá teria de voltar a 28 para então ouvir uma rapariga, verde em leis mas com cara de pelourinho, a instar-me para ser rápido porque tinha que ir almoçar… Foi então que me interroguei sobre se teria valido a pena vencer os 293 quilómetros entre a minha residência em Lisboa e o digno tribunal para colaborar com a Justiça. Feitas as contas, com as treze idas e vindas, a saia da justiça de Loulé ficou com medida registada: 7.032 quilómetros. Quem acredita numa justiça destas com saia tão larga? Ninguém. Há pouco, um amigo meu que integra o Conselho Superior de Magistratura disse-me, a propósito: «O problema é que há justiça que é caso de judiciária e judiciária que é caso de justiça». Dá que pensar.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 24 de julho de 2003

    SMS 11 - Jardim das tabuletas

    24 Julho 2003

    Tudo serve. É uma tira de papelão (com mais garatujas que letras) atado a um semáforo do cruzamento de estradas, é um pedaço de tábua (que fora antes tampo de uma mesa) atado a uma árvore com arames, é um metro de plástico (desses, do lixo) armado em faixa... Tudo serve. E até há quem vá directo às paredes, aí escrevendo, às esconsas da noite, o que de dia surpreendentemente todos têm que ler. As tabuletas, desde a «çardinhada» no tal restaurante até à «noite expectacular» no dito bar com a «selebrada artista acurdeonista» enchem estradas e ruas a cada esquina. A somar a isto, há coisas mais elaboradas, saídas de tipografias, com ar de bem feitinho e que se colam labregamente umas sobre as outras em tudo o que seja sítio. Para cúmulo, ainda há as agências funerárias que por aí andam a pôr fotocópias pelas paredes com os mortos e até missas de sétimo dia, não tanto por atenção à dignidade dos mortos mas para reforçar o negócio dos enterros por entre a forte competição em matéria de funerais. Tudo isto se faz sem regras, cada um faz o que lhe apetece, numa espécie de civilização do feio, do sujo, do abjecto e da indignidade. Tenho andado por muitos lados, nunca vi igual. Nem no México, nem em Marrocos, nem no Irão, muito menos em Malta. E que tentem fazer isso em Espanha, em França, na Alemanha ou na Itália... Por todo o lado civilizado, quem queira fazer propaganda tem lugares certos: os jornais e as rádios locais ou regionais, onde a publicidade tem regras. Câmaras Municipais e Juntas de Freguesias têm culpa, enormissima culpa por este Algarve estar convertido num sórdido jardim de tabuletas. Há muita postura que não se aplica não pelo receio de perder votos mas pelo favor ao compadre. É um regabofe. Quando terminará? Será bom que termine.

    Carlos Albino

    terça-feira, 22 de julho de 2003

    SMS 10 - Cinco liras na avançada...

    17 Julho 2003

    Ter ou não ter «cinco violinos» parece ser o problema número um daquela cultura nacional confinada à bola que não deixa de ser a cabeça mais redonda que anda pelo chão... A fórmula vem de longe, dos anos 50 do século passado, impondo-se como sinónimo do melhor que há para atacar com êxito e, sem desprimor, com os pés. Ora o Algarve que não tem «violinos», felizmente tem liras - instrumentos obviamente mais divinos, muito embora não dêem para os grandes negócios imobiliários da música de violino para certas autarquias. Como não se sabe qual das liras é melhor a outra, serve a ordem alfabética: António Ramos Rosa, Casimiro de Brito, Gastão Cruz, Nuno Júdice e Teresa Rita Lopes. Desafio seja quem for a provar-me se Portugal tem noutro sítio melhor avançada de Poetas Vivos do que esta. Não tem.

    Carlos Albino

    segunda-feira, 14 de julho de 2003

    SMS 09 - A detestável balcanização do Algarve

    10 Julho 2003

    Nos termos e pelos processos usados pelos que reivindicam novos concelhos neste Sul a que chamamos Região não sendo, é lícito perguntar a quem interessa uma balcanização do Algarve. Até é de menor importância, no caso em que a polémica mais se agudiza, se os de Loulé estarão mais próximos de serem bósnios ou se os de Quarteira são parentes dos sérvios, sendo eles, afinal, todos desta nossa paradoxal Croácia: rica no Litoral, remediada no Barrocal e paupérrima sem dúvida na Serra. A noção de cidadania envolve, por definição, a noção de solidariedade e é isso que não se detecta. Foi um erro crasso, ter-se impedido a criação da Região do Algarve - o único Concelho que verdadeiramente nos interessaria - tal como tem sido crasso erro manter-se a instituição das Freguesias no estatuto de menoridade ou secundarização política, sem competências e, em certos aspectos, sem a dignidade da representação que têm. A ambição de ser concelho surge assim como que querer ser balcânicamente um «Estado independente», supostamente livre de qualquer canga e sobranceria. Só que a balcanização do Algarve apenas será conseguida pelo preço de muitas e óbvias subserviências. O custo da não-Região, está à vista. O Algarve perde. Pensem bem.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 3 de julho de 2003

    SMS 08 - Estradas sem história

    3 Julho 2003

    É claro que não deixa de ser comovente que se escreva «Via do Infante» com caracteres góticos (nem a 20 à hora se decifram) e que por lá se meta a martelo um astrolábio, mas não haja lugar para o perfil daqueles barquinhos (os caíques) que tanto jeito fizeram ao D. Henrique, ou mesmo para um figo torrado que, como se sabe, foi fundamental para a aventura marítima. Todavia, é inacreditável que quer a Via do Infante quer o troço (ou entorse) que vem lá de cima, atravessem o Algarve como se o Algarve não tivesse história, sabendo-se que a referência à História é um dos poucos expedientes que, no espírito que viaja à velocidade legal, pode travar a velocidade dos loucos da frente e dos loucos que vêm de trás. Há o desvio para Silves, mas nem uma placa que assinale monumentos nacionais ou património classificado. Para Loulé, Faro, Olhão, Tavira e por aí adiante, nada também. Para o outro lado que é Lagos e dá rumo para Sagres, também nada de história... Inacreditável a cultura do betão.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 26 de junho de 2003

    SMS O7 - Líderes algarvios?

    26 Junho 2003

    Não é líder quem quer, mas sim quem tenha uma ideia salvadora ou que, para esse golpe de asa, conte com o apoio de um escol ou uma elite de pensamento, e, sobretudo, quem nas coisas sérias não faça rir. Pelo cimo dos partidos no Algarve temos visto desfilar ora uma gente cinzenta que é a cor do oportunismo, ora, com mais continuidade, uns apenas funcionários da política, zelosos mas criptogâmicos*, ora ainda – fugazmente como os cometas - uns indivíduos para quem a liderança não passará da pura afirmação do seu ego desde o Guadiana até ao Promontório de Sagres passando pelo Coiro da Burra. Daí que, por muito que nos custe, o Algarve não tem uma estratégia assumida e mobilizadora (depende das tácticas, como o turismo, por exemplo) porque também não tem elites de pensamento, não tem escol e não tem líderanças e líderes a sério. Tomar-se consciência disto já é bom começo para um futuro diferente. O que requer a humildade de que cinzentos, funcionários e cometas estão desprovidos.

    * Incapazes de criar

    Carlos Albino

    quinta-feira, 19 de junho de 2003

    SMS 06 - Portas do Céu, bonito

    19 Junho 2003

    Há em Loulé um peculiar parlamento. Encontram-se todas as sextas-feiras, à hora do almoço, vai para a casa dos 20 anos, à volta de uma enorme mesa redonda, armada para o efeito, nas Portas do Céu, nome da história local com origem inconfundivelmente judaica. Não é um grupo fechado, senta-se quem quer ouvir, falar e sobretudo ver. Há gente de todos os partidos, gente sem partido e até gente contra partidos. Discutem tudo, desde as questões nacionais às internacionais e, claro, os temas quentes «da terra». Quase sempre há um convidado especial, pessoa de referência. Tudo começa às 13 horas mas às 14 e 30, a mesa volta a ser desarmada. Uns chamam-lhe «grupo de pressão», outros, os que preferem andar no mar alto sem fundo, chamar-lhes-ão «línguas do mundo». Na verdade, são apenas gente serena e, diga-se para registo, gente com elevado sentido de cidadania. É mesmo bonito.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 12 de junho de 2003

    SMS 05 - Arma de destruição maciça

    12 Junho 2003

    Verdade. Grande empório turístico, envolvido num eterno nem ata nem desata com o «concelho mais rico do Algarve», a propósito de um dos habituais contenciosos entre apetites imobiliários e legalidade, dirigiu-se a uma das principais bancas de advocacia em Lisboa (com nomes eticamente sonantes da deontologia dos advogados) sabem para quê? Para a elaboração de um parecer sobre como contornar a legalidade que a autarquia teimava impôr e bem segundo parece. Ao que se chegou! Saber de leis e de direito já não serve apenas para fazer valer a Legalidade e realizar a Justiça, mas também para concretizar com êxito a ilegalidade. Chama-se a isto contribuir para o Estado de Direito, não é? As autarquias onde impera a rectidão (escasseiam mas existem ainda, acreditemos) seguramente têm que ter mais e melhores instrumentos de defesa. E digamos frontalmente que o saber contornar a legalidade tem sido no Algarve uma arma de destruição maciça.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 5 de junho de 2003

    SMS 04 - Os quatro modelos

    5 Junho 2003

    Pois que modelos no Algarve de 2003? À cabeça, Tavira. Macário Correia, pacientemente, com rigor, tornou Tavira numa cidade linda, sem inciativas pirosas, sem o folclore lambujado que se diz popular mas que é sordidamente contra o povo. Alcoutim, depois. Médico que teima (e bem) em ser dos primeiros românticos no Algarve do século XXI, Francisco Amaral é uma campanha de saúde e tirou muitas cataratas àquela esquecida parte do Guadiana. Quem não veja bem, mesmo sem óculos, não hesitará em ver um modelo na praia fluvial que é milagre no pauperrimo nordeste algarvio. Seguidamente, Olhão. Francisco Leal, cultivador nato da seriedade, colocou Olhão nos antípodas de Felgueiras (há muita Fátima aqui por perto), tirou-lhe o mau cheiro, fez da cidade um magnífico sítio para viver. E há ainda Vila do Bispo. A batalha de Gilberto Viegas pela classificação de Sagres como património mundial da UNESCO, porque tem razões de sobra para isso, cai deveras no goto. Honra aos que fazem bem.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 29 de maio de 2003

    SMS 03 - O dicionário de Albufeira

    29 Maio 2003

    Faz bem o Presidente de Albufeira, Desidério Jorge da Silva, combater o analfabetismo público, embora se duvide da eficácia das multas. Depois de tanto tempo ter-se fechado os olhos, melhor solução seria tapar as asneiras até correcção adequada. Quem, à boa boa fé, encomenda quadros publicitários e por estes paga bom dinheiro a «gabinetes de imagem» e a «empresas de comunicação», não tem a maior responsabilidade na matéria. Os responsáveis por estes gabinetes é que, devendo saber escrever, estão obrigados a entregar trabalho limpo. Mas o que decidirá o Presidente de Albufeira se alguém apanhado em flagrante analfabetismo, invocar que usou como «instrumento de trabalho» esse glossário do disparate por aí entronizado como «Dicionário do Falar Algarvio», para justificar que escreveu «mõ» em vez de homem, «sàbenete» em vez de salmonete, ou ainda «mantéga» em vez de manteiga? A última multa devia ir já para essa recolha analfabeta e a primeira para os decisores públicos que até a oferecem como imagem de sabedoria da região...

    Carlos Albino

    quinta-feira, 22 de maio de 2003

    SMS 02 - A fundação fantasma

    22 Maio 2003

    Nem se sabe por quais motivos (mas adivinha-se) achou-se um incauto empresário na obrigação de entregar volumoso donativo para uma fundação que, volta e meia, até chegou a ser bastante badalada no Algarve. A cópia do cheque, datado quase sobre a hora do euro ter valor corrente, não engana: 10 mil contos endossados à fundação, levantados e certamente reciclados. Só que, desde os momentos de entusiasmo nesse gesto altruista, bem se tem esforçado o empresário em obter o documento justificativo do donativo, na esperança do legalissimo abatimento nos impostos. Em vão! E bem pode esperar todo um século porque, após consulta exaustiva, a dita fundação nem sequer como intenção consta no Diário da República . É o que se chama uma fundação fora de série como fora de série é, por certo, o ilustre fundador.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 15 de maio de 2003

    SMS 01 - Para bons entendedores

    15 Maio 2003

    Segurança, saúde, corrupção e justiça. São quatro palavras que estão na base de histórias que, todos os dias, se contam pelo Algarve fora. Há falhas de vigilância e de prevenção do crime de bradar aos céus. Há centros de saúde que matam com uma morte que não se vê mas que decorre sempre de uma prepotência tanto maior quanto mais frágil, fraco e menos influente for o cidadão. A burocracia (sobretudo autárquica) é rápida na proporção da velocidade do pagamento informal. E nos tribunais - santo Deus! - a justiça não passa muitas vezes de uma estagiária da arbitrariedade. Semana a semana, vamos tentar deslindar porque é que, afinal, o cidadão não par ticipa. Sempre em mensagens curtas porque para bom entendedor... o conhecimento das provas basta.

    Carlos Albino