quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

SMS 493. Aos leitores acima de tudo

27 dezembro 2012


Porque não há jornal sem leitores, não há leitores fiéis sem assinantes e não há assinantes sem que o jornal sirva o interesse público e o bem-comum com independência, isenção e aquele esforço próprio que o faz porta-voz de uma comunidade – a comunidade dos leitores fiéis, dos por estes influenciados a que se juntam, ainda bem, os curiosos do online -, é aos leitores acima de tudo que deixamos aqui os votos de que 2013 seja um ano de esperança em que tudo isto melhore, de coragem para se enfrentar este dia a dia em que a generalidade da gente séria faz das tripas coração para honrar compromissos e continuar com palavra de honra, e sobretudo um ano de saúde, segurança, cultura e justiça.

A Imprensa, de forma muito particular e gritante no Algarve, vive dias negros na onda geral dos dias negros que afeta pessoas, empresas e instituições. Numa região, como a nossa, a mais flagelada pelo desemprego e pelas consequências calamitosas de erros já em décadas na política de desenvolvimento que desencorajou a agricultura, decapitou as pescas, levou o comércio a viver aos supetões e instalou um turismo sem sede no Algarve feito balcão, mais do que nunca essa Imprensa – a local e a regional – é necessária e é um bem imprescindível. Se queremos que a Região tenha um correio público que preserve a sua identidade cultural já de si tão esbatida, ponha em letra de forma a defesa dos interesses gerais e transcreva os anseios da sociedade em documento que os poderes sejam obrigados a sentir e a registar desde que essa mesma Imprensa não seja mera montra da política e dos políticos, tentação que, a bem da verdade, a contaminou bastante e muito perverteu, não há volta a dar a não ser com os leitores e os assinantes acima de tudo. Tal como os políticos, num regime democrático, não sobrevivem muito tempo sem eleitores, um jornal, seja local e atento à rua e ao número da porta, seja regional dedicado aos grandes assuntos e aos factos relevantes de lés a lés, não sobrevive sem leitores. Uma política desfasada dos eleitores é o cancro da liberdade, morre da doença; um jornal sem leitores firmes e que respondam à chamada é andar enganado na mesma doença da liberdade, morre da cura. É do Bê-á-Bá.

Assim sendo, Bom Ano para os leitores acima de tudo.

Carlos Albino
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    Flagrante correio azul: E por último, mas só depois dos leitores, Bom Ano e muita força anímica para o o diretor do Jornal do Algarve, Fernando Reis, para aguentar o barco, e, se me permitem, para os que semana a semana mais direta e pacientemente recobrem o autor destes apontamentos com benevolência, desde a voz castelã da Filomena, ao Domingos Viegas que é o jornalista mais alto do Algarve e ao trio de combate da Lídia Palma, da Irene e Ana Reis.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

SMS 492. O burro e a vaca

20 dezembro 2012

Se há religião do mundo que tenha dado à humanidade algum símbolo de sublime afetividade e de paz, sem dúvida que essa religião foi ou tem sido o cristianismo mais ou menos já purgado do fundamentalismo que o arrastou para os extremos da inquisição, para as chantagens do confessionário, para as histerias de púlpito e para as incongruências dos apetites pelo poder temporal em, nome de um Deus que, segundo santos bem informados, nunca permitiu isso nem está no seu feitio. E de tudo o que o cristianismo deu de aproveitável para crentes e não crentes, o exemplo mais acabado símbolo de magia afetiva e de poética da paz está indubitavelmente no presépio, construção forjada ao longo de séculos onde o inverosímil é lógica pura, não importando se foi falso ou verdadeiro, importando apenas o símbolo mágico da afetividade e da paz e o código genético da tolerância que todos temos pensado ser a matriz da civilização que transportamos como se fosse uma chama olímpica. E nessa construção mágica e poética do presépio, tudo é importante mesmo que inverosímil, mesmo que se saiba tratar-se de invenção circunstancial a que se foi somando, ao longo dos tempos, a imaginação empurrada pela força simbólica.

É assim surpreendente que o papa, como não tendo mais nada no mundo com que se preocupar, se venha meter com o burro e com a vaca do presépio, pretendendo emendar a história naquilo que não pertence à história. O burro e vaca, tal como o anjo, os reis e as estrelinhas, a palha do menino, a samaritana, os pastores e as ovelhinhas, por aí fora, são peças desse puzzle simbólico que tem sido o jogo anual de paciência para gerações, ponto de encontro de famílias e olhares, enfim, suave magia que pacifica o espírito e dá alminha de paz ao corpo mesmo que esse corpo seja o do pior bruto. Entender-se-ia que o papa questionasse o burro e vaca ao pequeno-almoço com dois cardeais, já não se entende que ele não perceba o que um símbolo e faça doutrina. Por mim, vou armar o presépio de sempre com o mesmo burro e a mesma vaca, justificando-se ainda mais, nos dias que correm, que torne mais vivo esse símbolo de conforto anímico.

Andando pelas ruas, vê-se que as pessoas estão tristes e que as ruas estão tristes. Além de não haver o espalhafato autárquico das iluminações com milhões de lâmpadas da China, é raro ver um Pai Natal pendurado das janelas, um paninho onde se leia o bordado de um Feliz Natal, uma lampadazinha portuguesa a dar um tom de mágica exceção à fachada da casa. Ao menos que, num recanto da casa, haja um presépio, haja uma ceia, haja um presente, haja um símbolo sendo verdade que todo o símbolo tem a sua vaca e o seu burro, tenha Sua Santidade santa paciência na sua frieza alemã pois não foge à regra. E já, agora, que p melhor presente do Natal deste ano seja já o Natal do próximo ano com um milagre, o milagre de que isto mude, o milagre de que haja alguém, inspirando confiança, a dizer basta e que retire os falsos burros e as falsas vacas de um presépio onde não têm lugar. Alguém que reponha o símbolo da esperança.

Carlos Albino
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    Flagrante assalto: Ao Estado.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

SMS 491. Pés de guerra

13 dezembro 2012

No fundo, para além da papelada, dos belos objetivos gerais e dos defensáveis objetivos específicos, dos cronogramas e dos anexos que são o principal do filme, quanto à chamada reforma das juntas de freguesia, vira o disco e toca a mesma música. Mais ou menos, fica-se como há uns anos atrás, esquecidos já que estamos do populismo e do eleitoralismo que semeou freguesias, para não se falar da sementeira de concelhos em grande parte falhada mas a que não eram, alheios interesses imobiliários e outros dos promotores, servindo-se de uns tantos ingénuos, de outros tantos distraídos mas também de muita gente de boa fé que, por isso mesmo, não lhe é dado perceber o que está por trás das causas difusas. Nem sempre foram intuitos genuinamente democráticos a basear tais movimentos alinhavados pela exacerbação do localismo. Em todo o caso, a dita reforma, aí está, resumindo e concluindo, com um vasto leque de “uniões de freguesias”.

Em boa parte dos casos, deixando-nos de figuras de estilo, trata-se de anexações e em bastantes tais uniões de freguesias, o poder é nómada, anda com a casa às costas de quatro em quatro anos, rotativamente, ora somos nós, ora são vocês. Portanto, a reforma não parece ser do território, mas do mando ou do comando, como se queira, haja anexações ou o poder local ande como as caravanas dos que falam caló. No intuito de reduzir o número de freguesias, reduzem-se apenas os comandos, criando-se reinados temporários e, não se deseja isso, mas é de prever que a cada eleição corresponde um pé de guerra.

Uma reorganização do território, se é isso que se pretende, deveria começar pela regionalização, com o Estado a transferir o que há muito deveria já ter transferido para os administrados. Mas não, o Estado preferiu manter a sua pesada rede de direções regionais e de delegações ao mesmo tempo que estimulou um municipalismo anti-regionalista e agitou o caleidoscópio colorido das freguesias onde cada presidente, outrora regedor, se foi habituando, tanto quanto possível, à ideia de que era chefe de governo proclamando em muitos casos fronteiras ridículas com placas não menos ridículas, além da promoção das excursões a Fátima e de outros trajetos que sempre dão votos. Naturalmente que o sistema não poderia funcionar sem ser excessivamente oneroso e sem que criar uma ampla teia de burocracias inúteis, repetidas e de jogos de empurra das câmaras para as freguesias e das freguesias para as câmaras, que foram deixando o cidadão comum cada vez mais atónito, descrente e, por defesa, também cada vez menos participativo. A democracia local viveu à custa das obras e do fogo de vista, o que, em abono da verdade, castrou os sentimentos de região, delapidou acervos seculares de identidade e quebrou figurinos de comunidade em que território, cultura e desenvolvimento deveriam ser denominadores comuns e não mantas de retalho com cada um a puxar para o seu lado. E foi assim que se adiou o Algarve com o fomento de algarvezinhos.

Carlos Albino
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    Flagrante estratégia: Em alguns municípios, quem vier a seguir que apague a luz que quem a acendeu já se safou.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SMS 490. Bibliotecas Públicas em maré vazia

6 dezembro 2012

Vem do centro da Europa aquele velho provérbio que diz que, quando a maré desce, quem está nu dentro do mar mostra as vergonhas. Se este princípio se aplica às economias em geral, nos tempos que passam, tal como o disse há pouco tempo Christine Lagarde, o que não dizer de certos sectores, como a Cultura, as Artes e a Leitura, actividades sempre frágeis, sempre balouçando financeiramente na corda bamba, não pelas más administrações, ou vício de parasitismo, como em geral se diz, mas pela sua própria natureza. Como se sabe, estas são actividades que geram as riquezas motoras fundamentais para o desenvolvimento, mas não se autofinanciam.

A que vem isto a própósito? Vem a propósito de que a imagem da maré vazia, aplicada ao caso particular das Bibliotecas Públicas do Algarve, lembram o que foi feito durante a maré cheia.

Durante a maré cheia, governos centrais e autarquias criaram uma rede de bibliotecas invejável, numa zona completamente desprovida de equipamentos culturais do género. As cidades principais desta região muniram-se de espaços polivalentes extraordinariamente bem concebidos, os arquitectos foram prendados, algum luxo foi mesmo aplicado. Mas aos pilares e escadarias de bom desenho e às boas cadeiras de encosto, candeeiros de tecto que poderiam ser do Siza, não correspondeu a elevação do nível cultural esperado. Esgotado o dinheiro que permitia tapar o sol com a peneira, encomendando serviços externos, pagos e bem pagos, promovendo e até mesmo publicando livros ou cobrindo edições municipais de valor zero, mas impressos em papel sumputário, agora, as Bibliotecas do Algarve ficaram entregues à verdade nua e crua daquilo que são os talentos dos seus bibliotecários. É aí que entra a maré vazia.

Na maré vazia, não vamos de  dedo em riste entrar pela porta das bibliotecas acusá-los, mas apenas manifestar o desgosto, de que terminado o tempo das marés cheias, alguns deles não tenham sequer capacidade para criar uma montra de livros de Natal. É de chorar às lágrimas perceber que as sugestões de leituras para o Natal podem ficar por um amontoado de livros de esoterismo, anjinhos e diabos, espiritismo e profecias, enfeitados com desenhos próprios das "Modas e Bordados".

Triste maré vazia, triste realidade.

Que um outro sino de Natal, do ponto de vista cultural, chegue rápido.

Carlos Albino
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    Flagrante classe política: Para as autárquicas no Algarve, ou há candidatos a mais, ou há candidatos a menos, em alguns casos nenhum.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

SMS 489. Deputados, mais uma vez

29 novembro 2012

Vamos em 38 anos de democracia, já elegemos deputados vezes sem conta, pelo que seria quase ridículo lembrar que um deputado é, antes de tudo, porta-voz da população na Assembleia da República, que deve responder e dar corpo aos anseios e necessidades dos seus eleitores e que por isso mesmo compete-lhe procurar respostas legislativas para os problemas deste mundo e não do outro mundo. Seria ridículo lembrar isto se os deputados, a começar pelos cá da casa, assim tivessem procedido e não, como tem sucedido, assumirem posição inversa, ou seja, a de porta-vozes do governo se são do partido no poder ou do diretório central da oposição se são da oposição. Um deputado do poder não tem que explicar à população medidas do governo, tem que ouvir a população, e um deputado da oposição não tem que espicaçar os eleitores para a luta superior do seu partido, tem, sim, é que ouvir os mesmos eleitores para que a oposição seja coerente, idónea e, já agora, alternativa credível e não mero fruto das circunstâncias. Portanto, ser deputado não é uma profissão de carreira, é um serviço que deve ser prestado por um contrato solene com os eleitores. Ser deputado não é ir para Lisboa e iniciar uma carreira que pode dar em ministro, em secretário de Estado, outro grande cargo, ou, nessa impossibilidade, viver uma vidinha de funcionário de corte política cumprindo disciplinarmente os deveres partidários a troco de privilégios e de um razoável salário de lealdade. E por isso mesmo, um dos seis deveres que decorrem do seu estatuto é precisamente o de “assegurar o indispensável contacto com os eleitores”. Para tanto, o regimento parlamentar reserva-lhe as segundas-feiras, todas as segundas-feiras que, para cada deputado não são portanto “dias livres” mas dias a preencher com o trabalho de ouvir e registar aquilo que as populações têm a dizer.

Vem isto a propósito dos deputados do PSD cá da casa terem anunciado a promoção de “nova ronda de atendimento de eleitores” em três sábados deste mês de dezembro – dia 8, Elsa Cordeiro em Tavira e Pedro Roque (Portimão), a 15, Cristóvão Norte em Faro, e a 22, Mendes Bota em Loulé.  Dos dois do PS e dos outros dois do BE, do PCP e do CDS, não se sabe se fazem também alguma nova ronda nuns sábadozinhos, é possível que sim, é possível que não. Não está em causa que os deputados troquem a segunda-feira pelo sábado para atenderem eleitores, o que releva é que parece ser um ato excecional aquilo que devia ser normal e rotina, seja ao sábado por conveniência de deputados e eleitores, seja às segundas-feiras, todas as segundas-feiras por força do dever indeclinável e regimental dos deputados, de cada um dos deputados. Vamos em 38 anos de democracia e só não é ridículo lembrar que esse dever devia ser uma rotina, porque passam as semanas, os meses, anos e anos e o que mais se tem visto e observado não é o cumprimento do dever de ouvir o que populações têm a dizer ao governo, mas, volta e meia, uma espécie de direito dos deputados a juntar eleitores para lhes explicar ações do governo ou espicaçá-los para os cálculos de oposição – o contrário do que devia ser e daquilo para que uma democracia é feita. Em todo o caso, mais valem três sábados que nenhuma segunda-feira.

Carlos Albino
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     Flagrante cheiro: A inevitáveis eleições se não houver emenda ou remendo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

SMS 488. Não é para inglês ver

22 novembro 2012

A insegurança do dia de amanhã está a tornar Portugal um país nada confiável para os portugueses. O que foi ontem prometido não é cumprido hoje, discursos de esperança para arrebanhar circunstanciais aplausos esbarram pouco depois com fracassos em grande parte evitáveis, previsões de melhoria são desmentidas com os números feitos à mesma hora em que tais previsões foram feitas, anúncios de dinâmica nova para a economia portuguesa cedo se revelam dependentes dos humores económicos que nem são assim tão mundiais mas residem cá na casa, garantias de um governo menos pesado de ser carregado pelos cidadãos acabam por se transformar em aumento de prosperidade apenas para alguns, as reformas de contenção de gastos do Estado não se traduzem no reforço da potencialidade do Estado mas em mais impostos e em mais entraves burocráticos e legais que impedem o integral desenvolvimento das forças produtivas do país, o implante de modelos que não foram referendados estão a quebrar ou quebraram já o que até há pouco era um franco entusiasmo com as conquistas do país na consolidação da democracia e da estabilidade económica, enfim, a instabilidade tornou-se um património da sociedade e isso é amplamente percebido.

Portugal tem, pela primeira vez desde há muitos anos, perceção de risco, com uma classe política dirigente que se contradiz amiúde, sem uma ideia ou um pensamento claro e amigo, mas que sobrevive pela ameaça e sobretudo com essa acusação falaciosa feita a todos os portugueses segundo a qual vivemos muito acima das nossas possibilidades, quando a verdade é que os dirigentes que temos tido ou fomos elegendo, esses sim, revelaram-se ou acabam por se revelar como muito abaixo das potencialidades que se esperava terem. Há a suspeita geral de que grandes escândalos que à evidência estiveram e estão na base do desvario das contas públicas e do erário público, são esbatidos ou abafados como que por milagre divino, em função do poder de influência dos seus autores, coniventes ou beneficiários. O Estado não se descentralizou, nem sequer onde lhe seria fácil como no caso do Algarve, comprometendo os administrados nas decisões que lhes pertencem, tudo isso a pretexto de se insuflar um municipalismo que, na hora de fazer contas, agora quase é colocado no banco dos réus ou de castigo, tanto que não temos Ministério das Finanças mas apenas Ministério do Orçamento e não temos Ministério da Economia mas Ministério dos Remendos. Para um país que há bem pouco tempo era visto como um país de futuro, é bom saber que esse futuro está mais longe e não é para inglês ver.

Carlos Albino
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     Flagrante apelo: Aos leitores assinantes do Jornal do Algarve dos quais depende a continuação desta obra de que o Algarve não pode nem deve prescindir. Juntamo-nos ao apelo bem lembrado de João Leal: “Salvem o Times”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

SMS 487. A Universidade e a paisagem

15 novembro 2012

Funcionou como um murro no estômago, a notícia sobre a eventualidade da Universidade do Algarve ter que encerrar como consequência das restrições orçamentais. Como murro no estômago em alguns, não em todos pelo que não se viu um forte cerrar de fileiras dos que, aqui ou ali, nomeados ou eleitos, estão investidos em funções de zelo pelos chamados interesses algarvios. Ora, deve ser dito em alto e bom som que não é possível admitir o encerramento da Universidade, e muito menos aceitar a sua absorção por Évora (fusão iria dar nisso). A sul de Lisboa, a Universidade do Algarve é a que melhor oferece um quadro de internacionalização e de contactos internacionais designadamente no quadro lusófono e em parcerias com o Norte de África e Médio Oriente, além de oferecer áreas de atuação por excelência (caso do mar e o turismo) e sugerir outras por explorar devidamente (caso das línguas). Destruir o que a Universidade do Algarve conseguiu e representa, seria um recuo de décadas e equivaleria a mais um passo para o Algarve voltar ao estado semi-colonial e de indigenato que o marcou secularmente. É inadmissível o encerramento da Universidade pelo que a região deveria ter já feito uma barragem de voz única ao cutelo, se há cutelo, quer face aos ministros das Finanças e da Educação, quer ao próprio primeiro-ministro.

É evidente que há falhas. É evidente que a falta de ambição cultural da população algarvia (há que reconhecer isso com verdade e humildade) não está a ser alterada pela presença da Universidade. É evidente também que a Universidade carece de dinamismo e de entrosamento com a sociedade algarvia em patamar de excelência e sem cedências a nivelamentos por baixo. E é também evidente que, não existindo um escol na sociedade algarvia, a Universidade não provocou ainda o aparecimento de tal escol com domicílio na região e sem interesses difusos. Mas isso são contas nossas – nossas, da Universidade e da paisagem que a cerca. Todavia as deficiências ou aparentes pontos fracos não permitem ao Estado varrer a região como se varre um capacho, depois do mesmo Estado ter escondido a enormidade que durante décadas recebeu do Algarve e por causa do Algarve comparada com a ninharia de investimento público feito na região da qual a Universidade é ou deveria ser o motor, um motor de que não se pode prescindir.

Carlos Albino
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    Flagrante pobreza: Pobreza mental, a de Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares em que o Banco Alimentar do Algarve se integra. Ouvimos bem o que disse, e em seis minutos com uma má ideia pode-se estragar um bom ideal.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

SMS 486. Próximas autárquicas

8 novembro 2012

Ainda há pouco tempo, antevia-se as próximas eleições autárquicas como mais um ritual de um presidente dar lugar a outro seu rival ou seu correligionário, ou mais uma quinzena de propaganda rotineira, de comícios que nenhuma novidade introduzem a não ser rouquidão nos oradores menos prevenidos, e sobretudo de jogadas que só cinco ou seis em cada terra percebem e mesmo assim ficando tudo dentro dos partidos que são como as lapas – só se mexem quando se lhes toca. Parecia, pois, que as autárquicas iriam despertar o menor interesse na história da democracia, até porque com a profunda crise em que o País mergulhou, gerir uma câmara e conduzir um município não dá a pompa que recentemente dava. E sendo assim só um grande santo disposto a enorme sacrifício ou então algum diabo com grande e estranho interesse atado ao rabo escondido, poderiam concorrer a presidências de câmaras deficitárias, algumas quase falidas, outras na corda bamba mas dissimulando tudo isso para salvar o prestígio do poder local, sem que alguém se importe minimamente com o facto de ter sido o somatório destes poderes que esvaziou, para gáudio do Estado centralista e centralizador, o que poderia ser hoje um poder regional.

Acontece porém que nestas próximas eleições autárquicas não vão ser tanto os candidatos que vão estar à prova mas sim os eleitores. É que, depois das promessas, incongruências e trocas de pés pelas mãos que o eleitorado verificou e sente na pele como resultado das recentes legislativas, é muito provável que, nas próximas autárquicas, já sejam muito menos os que comem gato por lebre ou que vão exclusivamente atrás da propaganda. Numa democracia adulta, o eleitor é altamente exigente para consigo mesmo; numa democracia de fatela, o eleitor vai atrás do compadre, vota na mira de um favor e por vezes chega a dar um contributo decisivo para uma eleição apenas para corresponder a um aperto de mão do candidato. E é por saberes disto que alguns candidatos, sobretudo nos poderes locais, imitam campanhas só admissíveis em clubes desportivos mesclados com negócios – grandes jantares e passeatas como se fossem mini-Presidentes da República.

Pelos indícios já dados nos últimos meses, parece que nas próximas autárquicas serão em número muito mais reduzido que em eleições anteriores, os eleitores que vão dar voto fiado. E se assim não for, será caso para se dizer que pior que a democracia só a ditadura, quando se preferiria dizer que melhor que a democracia só uma melhor democracia.  E quanto a isto não decretos que determinem – depende dos eleitores que temos e somos.

Carlos Albino
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    Flagrante pena: Guimarães que não pediu desculpa ao Algarve pelo tal cartaz, está com dívidas, tem que importar criadores de todo o lado e apesar de ter esvaziado as nossas praias, não tem gente. É uma pena só  encher o castelo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

SMS 485. Divórcio com o eleitorado

1 novembro 2012

A palavra divórcio é adequada ao caso, embora deputados e eleitorado nunca tenham casado. Não é todos os anos que um país inteiro toma conhecimento de um Orçamento de Estado de desfazer os ossos, como não é coisa rotineira que uma região ou círculo com seus eleitores pode ver desmoronar-se programas e projectos em que se empenhou e e que acreditou. É verdade que o debate foi nacional, ou seja, foi um debate entre os diretórios partidários, com avanços ou recuos em função das fatias do bolo da democracia (caso do acordo para as autárquicas entre dois desses partidos), mas nada justifica que os deputados se tenham refugiado na toca ou se tenham tornado anónimos, portanto sem nome e sem cara.

No caso do Algarve, é para todos, sejam quatro ou três mais um, dois apenas ou um. Não basta um comunicado apaziguador dos militantes, ou de resposta a facção interna, ou ainda para mostrar serviço a Lisboa. Muito menos basta uma croniqueta, dessas que mal começam, sabe-se logo como acabam. Os deputados do círculo, todos por um ou um por todos, deveriam ter tomado posição pública sobre assunto da mais elevada importância para indivíduos, empresas e instituições da região. O normal é que cada um desse a cara, mostrasse a boca e olhasse olhos nos olhos os eleitores que o elegeram, muitas vezes sem hesitações, outras por arrasto da figura de proa.

Nunca escondi que sou crítico deste Orçamento – pela sua filosofia, pela garotice na condução do processo, pelas intenções escondidas e pelas omissões graves sobre a causa da crise e desta emergência com impunidade para os reponsáveis. Isso não quer dizer que apenas seja bom ou correto quem partilhar da mesma opinião. Nada disso! E no caso dos deputados do Algarve, esperava, sempre esperei que tivessem ido a Lagos, a Tavira, a Silves, a Portimão ou a Faro que apenas fosse, explicar o sim ou o não. Não basta Lisboa dizer que não, para isentar os deputados regionais da explicação, como não basta Lisboa decretar a disciplina de voto para os dispensar da prova pública de que têm um voto de consciência. Não o fizeram, ficaram-se pelo comunicadozito ou por um textozito com fotografiazita, e assim deixaram provado que o divórcio com o eleitorado ainda lhes dá o que resta do casamento: o ordenadozito.

Carlos Albino 
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    Flagrantes monumentos: Sobretudo igrejas, é verdade que abertas para glória dos turistas que estão lá nas alturas tais como santos e anjinhos, mas perante as quais os vivos dão com os narizes nas portas.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

SMS 484. Falemos então dos passarinhos…

25 outubro 2012

Segundo parece o debate sobre o Orçamento e a região (região, por assim dizer) não pegou. Nem quanto ao papel dos nossos deputados (nossos, por assim dizer) que no mínimo teriam a obrigação de explicar um sim ou um não, sem se abrigarem nas desculpas da disciplina partidária ou no argumentário da salvação da pátria que naturalmente não existe sem as regiões atentas ao seu futuro como também a democracia não existe sem os círculos eleitorais com eleitores providos de memória e de responsabilidade quanto ao futuro. As próprias alas regionais dos partidos parecem atadas, uma por um motivo, outra por alguma razão de cálculo, e enquanto o barulho de minorias a todo o pretexto faz o seu trabalho de amedrontamento. A nosso política regional, segundo parece, esgota-se no registo acrítico a nomeação deste para aqui e daquele para ali, no porto de pesca que precisa disto, no município que precisa daquilo, e no que fulano disse sobre algo em geral, cicrano sobre nada em particular e beltrano repetiu sem se aperceber que repete o mesmo há anos. A única universidade pública da região pode estar em risco, mas ninguém toca no assunto como se o problema fosse apenas um problema corporativo das Gambelas e não da região. O turismo pode continuar a viver ou a sobreviver como se estivesse num mundo aparte e do Algarve só precisasse gente para as limpezas, para os balcões de receção e um ou outro quadro mas reduz-se a mera questão de estatística, porque quanto a inserção numa política de desenvolvimento regional, só por tabela. A saúde pode ter gravíssimos problemas mas a época baixa não faz subir ao alto o diagnóstico político do assunto. A pobreza e a miséria bate cada vez mais à porta com a enorme legião de desempregados e outra ainda maior de sub-empregados a que se juntam os explorados até ao tutano e o feche em catadupa de mini-empresas, mas não interessa, diz-se que é da crise e basta para se encolher os ombros. Por aí afora. E ai de quem pensa e escreve que alguma coisa está mal na banda que passa, que alguma coisa está mal quando a política se resume ao combate e aos preparativos do combate para ocupar postos e assentos de comando ou de babugem da nomenclatura política, que alguma coisa está mal quando, nos sítios e com gente própria não se discutem as questões de fundo para a região. Região esta que está politicamente amorfa, não sendo o barulho nas ruas que, só por si, lhe dá vida. O barulho é um sinal mas algo está mal quando o sinal não provoca reflexão, busca de soluções e projetos políticos concretos que denotem a existência de quadro mental nos arautos. Quem pensa e escreve colocando algum dedo na ferida, gera equívocos, equívocos que incomodam sobretudo aqueles que desejariam que apenas se escrevem crónicas sobre os passarinhos que fazem os seus ninhos, coitadinhos, felizes com seus filhinhos nos beirais dos telhados.

Carlos Albino
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    Flagrante caso: O da criança de Carlos Albino que comprovou o enorme défice de informação do Algarve e no Algarve. É o pior dos défices.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

SMS 483. O voto dos representantes, irá representar?

18 outubro 2012

Aqui temos, desta vez, um fantasmático Orçamento de Estado que, para um Algarve com o maior nível de desemprego do país, autarquias nas lonas, empresas fechadas, turismo com coração aqui mas carteira lá fora, insegurança até dizer basta, portagens coloniais, agricultura grandemente desfeita e pescas metidas a pique, para este Algarve, o Orçamento que se apresenta irá ser como que um exército de invasores a matar sem dó nem piedade e a pilhar tudo o que luza. Se no tempo das vacas gordas, o Algarve foi tratado com os pés, agora que nem é sequer já de vacas magras mas de esqueletos de vacas, o Algarve é atirado para o fundo do mapa ou mesmo dele retirado. A falha imperdoável do governo em honrar compromissos eleitorais e o seu fracasso em atingir metas traçadas somado ao fraco valor político e técnico de ministros-chave, gerou a desconfiança geral do país, e, aqui no canto do mapa, criou aos algarvios um sentimento de que estão indefesos e de que não há ninguém que os possa e queira defender. Há discursos que são já tardios e por isso ineficazes; e há prosápias que tentam justificar o não feito pelo prometido, e também por isso que não geram convicção em ninguém.  E quanto ao Orçamento, de uns, umas quantas generalidades de circunstância, circunstância de oposição, e de outros, o silêncio, moita-carrasco, agachem-se soldados na trincheira enquanto houver tiros lá em cima.

Quanto aos nove deputados eleitos pelo Algarve, claro que seria de esperar que tivessem tomado a posição de votarem contra este Orçamento tal como ele se apresenta para a região e para os algarvios. Ou então que tivessem dito que se revêem nele, que o apoiam e que, enfim, receberam o mandato dos algarvios para tal fim. Tenham essa coragem, como os deputados da Madeira sem rodeios a tiveram, ou como os dos Açores, à sua maneira (que aqui entre nós é como que à maneira de Monchique ou de Querença, ou seja, com toda a manha) já a expressaram telegraficamente. Pois eles, os nove deputados, representam o quê e quem? Representam as direções partidárias ou representam os eleitores algarvios?

Acaso esses nove deputados reuniram-se com associações empresariais e sindicais, com instituições regionais, com autarquias, enfim, com cidadãos em reuniões abertas, pelo menos nas 16 sedes concelhias, e não apenas com sequazes, sejam estes seus discípulos de aldeia ou seus mestres de escritório? Sendo tais nove deputados os legítimos representantes dos algarvios, com que fundamento eles vão dar um voto favorável ou contrário a este Orçamento de Estado que vai afetar as vidas de todos os eleitores que representam e sem os quais eles não seriam o que são nem estariam onde estão? Vão votar por essa tal disciplina partidária que tem  matado as raízes da participação política, ou vão votar em representação do Algarve, sem medo de que o denominador comum seja o máximo? Ou têm medo, paradoxalmente, até de declararem que vão votar a favor desta obra que, sem medo, aqui se deixa claro, é iníqua além de errada com erros crassos? Digam.
(Os 9 deputados eleitos pelo Algarve, neste mês de outubro, no seu conjunto já deviam ter feito 27 contactos com o eleitorado algarvio nas três segundas-feiras que passaram, pois para isso têm as segundas livres. Mas fizerem esses 27 contactos ou fizeram 27 fins-de-semana prolongados?)
Carlos Albino
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    Flagrante afronta: O propósito de encerrar a Fundação António Aleixo, é uma afronta. Seria interessante saber quais foram os meninos de coro que fizeram o estudo em que o governo se baseou para decidir infantilmente. É uma afronta para Loulé e para Quarteira e uma afronta dessas é uma afronta ao Algarve.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SMS 482. Assim, por exemplo...


11 outubro 2012

O PCP viu subir recentemente ao plenário parlamentar o seu projeto de resolução sobre “Dinamização da atividade portuária como instrumento de desenvolvimento económico da região algarvia”, subscrito entre outros pelo deputado Paulo Sá, um dos nove eleitos pelo Algarve. O projeto de resolução foi votado no dia 28 de setembro, sendo rejeitado (votos contra do PSD e CDS, favoráveis do PCP, BE e PEV e abstenção do PS). Não interessa para aqui avaliar tais votos e tal abstenção, mas o texto do projeto, a sua eficácia política, alcance, viabilidade e adequação. Sem dúvida que temos ali uma razoável descrição dos três portos comerciais e de outros três de pesca, mas, chegados ao ponto das recomendações ao governo, estas não passam do elenco de reivindicações que é normal encontrar-se em programas eleitorais. Não é que as reivindicações não sejam pertinentes e justas – no caso dos portos algarvios até são uma coisa e outra -, só que figurando num projeto de resolução apenas se justificam com prévia e sólida negociação política ou com a certeza e segurança de eficácia da iniciativa. E se assim não for, é atirar barro à parede e adiar mais uma questão como foi o caso. A partir do parlamento, quem está na oposição e sobretudo em nome de uma região politicamente frágil, pode tentar mas não pode obrigar o governo a fazer o que este não quer fazer mesmo que possa, e, além disso quer se esteja na oposição ou do lado do poder, também não deve confundir iniciativas parlamentares com cardápios eleitorais apenas para satisfazer um diminuto número de militantes. Faltou qualidade, clarividência e oportunidade política ao projeto do PCP, mas quem perdeu não foi o PCP que nunca esperou ganhar a votação mas apens fazer trabalho de casa, quem perdeu foi o Algarve que, mais uma vez viu adiada, senão enterrada por muito tempo, a discussão dos seus portos comerciais e de pesca, matéria em que todos os governos têm andado a brincar. Mas se os governos podem brincar aos algarves como têm brincado, já os deputados da região, sejam eles do PCP, do CDS, do PSD, do BE ou do PS,  poder podem mas não devem jogar às manecas no parlamento. Pode ser divertido, mas é politicamente primário.

Carlos Albino
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Flagrante pergunta: Com essa retirada do helicóptero do INEM para Beja, não compreenderam que para este governo, o Algarve não está no mapa e que os algarvios são uns sub-alentejanos?

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SMS 481. Deputados e proximidade


4 outubro 2012

Temos no parlamento, como se sabe, nove deputados ativos, 4 do PSD, 2 do PS, 1 do CDS, 1 do BE e 1 do PCP. É claro que a atividade parlamentar se mede pela qualidade e adequação das iniciativas legislativas que apresentam, pelo teor das intervenções, pelo impacto dos requerimentos ao governo e pelas repercussões das perguntas que formulam sobretudo aos ministros.  Além disso, para o perfil de cada deputado também conta o nível de trabalho em comissões, o valimento das deslocações que fazem, os dotes que comprovam possuir quando são eventualmente nomeados como relatores e também a perspicácia  e grau de conhecimentos que revelam nas audições em que circunstancialmente são envolvidos. O registo de tudo o que fazem vai constando exemplarmente no site oficial da Assembleia da República onde só não constam porque não podem constar podem constar, os resultados ou a eficácia política da atividade de cada deputado em S. Bento, sendo esta uma matéria do partido a que pertencem e em última análise aos cidadãos que os elegeram e não andam distraídos. Mas isso é S. Bento, havendo outra bitola para avaliação dos eleitos. É a bitola da sua proximidade com os eleitores e para tal têm tempo reservado.

Olhando bem para essas duas facetas do conjunto que o Algarve despachou para S. Bento, de modo geral o panorama é politicamente pobre para não dizer paupérrimo.

No que toca à azáfama em Lisboa, pode um ou outro apresentar um comboio de iniciativas legislativas, mas não passam de iniciativas de paus mandados, com a assinatura para fazer número; pode este ou aquele invocar um sem número de perguntas e de requerimentos, só que, além de impacto político escasso ou nulo, a grande percentagem de tais perguntas sem resposta e de tais requerimentos que nem aquece nem arrefece o requerido, não ultrapassa matéria própria de assembleia de freguesia soando a ridículo e a reles interesse eleitoraleiro numa Assembleia da República – só falta aparecer um requerimento para a substituição da lâmpada de 25W naquela rua sem nome do Cachopo . E quando se trata de intervenções de fundo em plenário, é a voz do dono conforme o chefe do momento. 

No que toca à proximidade com os eleitores, está à vista desarmada. Claro que um u outro deputado de vez em quando toca nas grandes causas mas pegando-as de cernelha se são afetos ao poder ou fazendo pegas de caras desajeitadas se são da oposição. Por isso mesmo, a proximidade fica-se nas pequenas causas e, nestas, ou é encenação montada para se ser visto, e não para ouvir, indagar e auscultar quem tem razões fundamentadas dando-lhes seguimento, com vista à iniciativa legislativa, ao requerimento doa a quem doer ou à pergunta com resposta polticamente obrigatória e rápida, dando prova de que um deputado em Lisboa, seja ele do partido do poder ou da oposição, não é um verbo de encher e um pobre sortudo que veio da província e já tem mais do que esperava ou contava ter pelo que convirá não descarrilar.  

Carlos Albino
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    Flagrante défice mental: Corre nos círculos bem informados, que foi a troika que obrigou o governo a inaugurar a escola de Martinlongo, 13 anos depois de estar a funcionar em pleno, pois o facto de uma coisa abrir sem ser inaugurada e ser inaugurada para continuar aberta, contribui para o agravamento do défice mental.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

SMS 480. Pequeno aviso, grande advertência

27 setembro 2012

As manifestações de 15 de setembro foram uma surpresa para todos: os que, desta ou daquela maneira, a promoveram não contavam com a grandeza da adesão, e os destinatários do protesto (poder e partidos que o suportam) também faziam outras contas. Assim foi em todo o país, não sendo o motivo de alegrias mas de tristeza e repulsa pela falta de palavra política e pelo abuso político. E no Algarve, que sofre o maior desemprego, sente a maior insegurança do país e engole o maior desdém do governo por uma região, onde também se registou uma das maiores provas públicas de sempre (em Faro, Portimão e Loulé) também há conclusões a tirar, quer pelos promotores, quer pelos destinatários.

Quanto aos promotores, não só não podem nem devem ir além do que a manifestação foi – inegavelmente um estrondoso protesto cívico –, como também terão de concluir que os que encheram as ruas não foram atrás da folclorada, ou seja, não foi uma manifestação de tachos e caçarolas, foi uma manifestação de almas doídas e de protesto contra a política que rasga compromissos, oculta entendimentos e e que em vez de entregue a gente madura e séria, parecerá entregue a adolescentes tardios e a rapazolas. Portanto, os promotores não podem pensar em cantar hinos do tipo de até à vitória final, porque a esmagadora maioria dos que foram para as ruas não o fizeram para cantigas – foram para a rua não como um meio mas como um fim.

Quanto aos destinatários, nenhum deles pode deixar-se tentar pela ideia de que o alvo dos manifestantes foi o vizinho do lado, e não é só o poder ou os partidos do poder que, numa prova de inteligência e sobrevivência política, podem e devem tirar ilações, mas também os da oposição. As manifestações excederam em muito as contas porque as pessoas não se sentem capazmente representadas como as fizeram acreditar que estavam no atual sistema político. As vozes que elegeram para as representar ou lhes soam a engasgadas, ou engasgam-se por comprometidas, ou até mesmo correspondem a bocas que politicamente nada valem ou valem menos que uma casca de amêndoa e nem para espantalhos de pardais servem. Foi para estes mesmos destinatários – todos, sejam os do poder esquecidos já do que prometeram quando eram oposição ou os da oposição que julgam que toda a gente se esqueceu das fanfarronices de antes de ontem – que a manifestação algarvia foi também um pequeno aviso e uma grande advertência.

Pequeno aviso - o de que a sociedade não está cega, surda e muda. Grande advertência - a de que haja uma mudança de práticas políticas para que eventuais avisos seguintes não sejam maiores ou, para além de inorgânicos, incontroláveis frutos do desespero que já é um grande pomar.

Carlos Albino
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    Flagrante antevisão: Possivelmente as próximas autárquicas não vão ser como até aqui – coisa controlada quase exclusivamente pelos partidos. Assim por exemplo, um reconhecível ladrão que se atreva a concorrer...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

SMS 479. As pessoas não aguentam

13 setembro 2011

Coincidiu que a democracia em Portugal se converteu em rotina precisamente quando a Europa entrou na nossa rotina. E assim foram sendo eleitos primeiros-ministros em função dessas duas rotinas coincidentes, cada qual eleito por dizer cobras e lagartos do anterior e quanto mais melhor mesmo que de forma perversa, explorando a esperança dos eleitores e quase por regra abusando da sua crença. Cada eleito, até este último inclusive, foi-se apresentando como salvador da pátria e do mundo, fama essa que também por regra foi durando seis meses, quando muito um ano, período esse durante o qual também foi tolerável que cada novo eleito atribuísse ao deposto o mal e a caramunha.

Só que os eleitores foram assistindo até à exaustão, a este jogo do empurra e das ambições, estado de exaustão em que a maioria dos votam hoje se encontra. O eleitor está exausto dos que prometem uma coisa e fazem outra completamente diferente ou que executam o que juraram nunca fazer; está exausto dos jogos para atingir apenas o poder e depois mantê-lo ao serviço de quem está por trás do reposteiro e que nunca soube estar noutro sítio; está exausto dos que ganham as pessoas com a cantiga de que primeiro estão as pessoas mas que rapidamente escolhem as pessoas para o tiro ao alvo; está exausto dos escândalos de toda a ordem e cujos autores por aí andam com caras de anjinhos como se nada tivesse acontecido; e já está tão exausto que não diz sequer que está exausto, ficando o eleitor pura e simplesmente calado, sem acreditar seja em quem for e sem esperança. E então o que resta? Resta um terreno propício para o exercício autoritário do poder, sem oposição que seja capaz de o fazer tremer, e rodeado de clientelas que sugam o Estado como a formiga-branca suga a madeira de cuja ação só nos damos conta quando estala a pintura. Ora, deixando-me de abstrações, tenho que dizer que, depois dos outros três que emigraram, assim se chegou a Pedro Passos Coelho que está a estalar a pintura, porque as pessoas estão exaustas e não aguentam mais.

Carlos Albino
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    Flagrante irresponsabilidade: A de decapitar direções próprias das escolas, deixando-as ao deus dará ou ao sabor dos dedos de quem recebeu o telecomando.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SMS 478. Quarteira perdoa


6 setembro 2012

Durante anos e anos, Quarteira foi usada como símbolo do desvario urbanístico e do caos imobiliário em todas as crónicas e croniquetas. Até o projeto turístico do Alqueva chegou a ser apresentado como um paraíso onde o erro de Quarteira não teria lugar. Gente que nunca pôs os pés em Quarteira ou que apenas por lá esteve de passagem há trinta anos, ainda hoje, quando lhes dá jeito meter na prosa um exemplo do inferno, lá recorrem ao símbolo que se lhes meteu na cabeça como um quisto. Ora, não é assim. Quarteira não é propriamente um milagre das rosas mas para quem conheceu a terá ainda como póvoa de pescadores, depois a viu crescer desnorteada, assistiu ao enorme esforço de requalificação e hoje a vê como uma cidade esplendorosa com o mar por vizinho à mão como poucas, só pode concluir que se não houve milagre, parece. Na verdade, contrariamente ao que diz o poeta, ali em Quarteira Deus quis outra coisa, o Homem corrigiu e a obra nasceu. O longo passeio público marítimo, o conhecido calçadão, é a qualquer hora dádiva da natureza e milagre de convivência humana; nas avenidas que deram novo traçado à terra respira-se paz; o que era alto ficou disfarçado e o que sempre foi baixo ficou integrado; desapareceram os apartheids, o apartheid dos ricos a poente e os apartheids dos pobres e remediados , de tal forma que se a justiça social não fosse perturbada pelos diabos que Deus quis com o rei na barriga, ali o Homem parece sempre sonhar e a Obra sempre a nascer. É uma cidade esplendorosa, símbolo de um Portugal corrigido pela determinação, generosidade e visão de poderes eleitos.   É uma terra onde se pode ir e estar. Há poucos exemplos de milagres como o de Quarteira, apetecendo dizer à cidade: “Quarteira perdoa a quem não te viu como estás e que fala de ti não sabendo como és. Perdoa.”

Carlos Albino
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Flagrante geografia política: Para este governo, o Algarve não deve já constar no mapa do País.




quinta-feira, 30 de agosto de 2012

SMS 477. Na hora que passa

30 agosto 2012

Devia o Algarve ter, nesta hora que passa, um canal de televisão adequado aos interesses regionais, pelo menos uma estação de rádio de referência obrigatória, jornais que espelhassem a região de forma que tanto o poder como as oposições sentissem e de vez em quando até temessem, e, claro, devia ter também intervenção nas redes sociais e quejandos, que desse vida e debate à política, à cultura, às atividades económicas, por aí fora, e desse conta de uma sociedade que não está dormente. Mas o panorama é como o de uma terra que não pertence a um país nem quer ou nem pode ter voz própria. As televisões, a pública e as privadas, apenas se lembram do Algarve ou por esmola ou por desgraça, e a ideia de um canal regional foi sonho gorado de há muitos anos; as rádios locais que se aguentam são gira-discos; os jornais nacionais que têm o seu mercado, uns só registam o crime e o último desastre na 125 e quanto maior melhor, outros, enfim, lá vão publicando uns faits divers ou notícia tardia de algum clamor; os jornais da terra que de modo geral fazem das tripas coração para se manterem com os senhores do turismo a fazerem-lhe figas, ou se entretêm em cotoveladas desnecessárias e ridículas, são acríticos e fortemente dependentes da produção noticiosa cozinhada lá em cima ou dos press-releases das conveniências de cá em baixo, pois até as agências funerárias anunciam os mortos privativos do negócio por fotocópias coladas nas paredes e, pelos vistos, isentas de taxas como na selva; e quanto às redes sociais também na generalidade a atividade não passa dos namoros sem namorado e da fotografia do umbigo, pelo que algumas coisas sérias e até bem feitas, se perdem no espaço e apenas uma ou duas dúzias as seguem, sem impacto social, portanto. E para mudar este panorama não há milagres nem decretos nem posturas municipais – a coisa tem que partir da terra e só pode partir da terra se houver interesse e empenhamento da sociedade. Sem esse interesse e sem esse empenhamento, batatas.

Na hora que passa, o Algarve devia ter voz própria, uma vozinha que o País sentisse mesmo que ao de leve. Ora, uma voz própria não cai do céu, nem alguma vez ela será possível com cegos, surdos e mudos que tinham a obrigação e condições de ver, de ouvir e de falar. E fico por aqui.

Carlos Albino
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Flagrante património: A Sé de Silves coberta de telha vermelha é o mesmo que um bispo lá celebrar missa de Natal com equipamento de ciclista do Tavira.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

SMS 476. Essa palavra generosidade


23 agosto 2012

Não é falta de tema, nunca houve tanto tema, mas ocorre falar dessa palavra generosidade em política que é coisa tão necessária ter ou dar a entender que se possui, que não há ladrão, corrupto u calculista que se meta na vida pública que não comece por enganar meio mundo tudo fazendo para se mostrar homem generoso, ou, já agora, mulher generosa. Se conseguir a fama da generosidade, o ladrão, o corrupto ou o calculista acertou na tecla e com isso dá o primeiro passo para uma carreira paradoxalmente impoluta. Já o político que nunca tenha roubado nem alguma vez tenha sujado as mãos com tráfico de influências, se não tiver essa fama está desgraçado, mesmo que jure pelas esquinas que foi sempre e será sempre generoso. Ou seja, todos, do ladrão ao impoluto, reconhecem e sabem que em política a generosidade é uma qualidade imprescindível mas a coisa só se complica quando a fama não corresponde aos factos. E complica-se de tal modo que o ladrão que tenha conseguido a fama de generoso a ponto de ninguém acreditar que não o seja mesmo que os factos digam o contrário, esse pode continuar a roubar ou preparar-se para roubar muito mais que cada roubo surgirá aos olhos da opinião pública como ato de generosidade. E isto porque entre o ladrão e o impoluto há uma grande diferença: o ladrão sabe pintar a manta e o impoluto não sabe nem quer saber que a manta tem que ser pintada. Se houvesse espaço para desenvolver esta ideia da generosidade que em política parece ser não sendo nada disso, até poderíamos dizer que o ladrão, na ânsia de granjear a fama de generoso, é em tudo mais coerente que o impoluto. O ladrão é de uma coerência extrema em mostrar-se generoso, dos pormenores ao geral, até porque a sua generosidade não obedece a princípios. Já o impoluto é um incoerente na matéria, acreditando em nome dos princípios que a sua generosidade fala por si, esquecido de que a generosidade nunca fala e se falasse ninguém acreditaria nela. Não há espaço para desenvolver a ideia, mas ainda cabe dizer que a falta de liderança política na região ou em cada partido da região (não confundir chefias com lideranças) tem muito a ver com falta de generosidade dos políticos cuja fama de generosos, se é apenas fama, não os salva. E é este o problema do Algarve. Não há generosidade e quando ela parece que existe, não passa de mera fasquia comum aos que, por cultivada coerência, sabem roubar, e aos que, por inadvertida incoerência, jamais querem roubar e nunca roubaram.

Carlos Albino
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Flagrante pergunta: A de Mendes Bota ao governo, sobre o prolongado encerramento da Pousada de São Brás, encerramento esse que é ais um exemplo de como o turismo no Algarve é tratado com os pés.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

SMS 475. Forças vivas?

16 agosto 2012

Outrora tínhamos as forças vivas que ora apareciam nos momentos solenes ora elevavam a voz quando o interesse geral ou o bem comum para isso as empurravam para não fazerem figura de forças mortas. Tínhamos as forças vivas do Algarve e também as forças vivas de cada terra, forças vivas essas que englobavam não só quem tinha e exercia poder mas também todos os que de algum modo tinham influência e cuja opinião contava. E agora? Nem forças vivas, nem forças mortas. É verdade que elegemos deputados que aproveitam o melhor possível o seu tempo em Lisboa para a chamada carreira política e que de vez em quando lá se lembram da terra também pela chamada fidelidade aos eleitores; é também verdade que temos autarcas agora com mandatos contados e que deixam de o ser quando começam a ter alguma força; é ainda verdade que temos uma nomenclatura de chefes regionais nomeados para isto e para aquilo e que andam ou têm que andar nos carris se é que querem também fazer carreira de funcionários. Fora disto, ficam os bombeiros, os músicos da Orquestra do Algarve, um ou outro carola de rancho folclórico ou mesmo algum artista de fogo de artifício e ainda as agências funerárias que dão as notícias dos mortos por fotocópias coladas nas paredes. A única universidade pública não conseguiu ter voz marcante e esperançosa sobre as grandes questões da região, as poucas escolas privadas de ensino superior vendem o produto o melhor que podem e pelo mundo das escolas secundárias e básicas as exceções confirmam a regra de mundos à margem do mundo quando não interesses corporativos tocados.

É claro que a democracia fez-se para eleger poderes de decisão e de representação mas também para dar mais vida às forças vivas, o que não acontece nem há meio de acontecer porque ninguém quer e caso alguns poucos o tentem ficam paradoxalmente isolados por um clima montado de suspeições partidárias, ficando a participação e mobilização cívica e torno das grandes causas regionais completamente bloqueadas. Portanto, restam as praias e fazer o maior dinheirinho possível em julho, agosto e setembro em que o sol é de facto a força viva mas não tem voz.

Carlos Albino
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Flagrante desdém: Dos governantes responsáveis pela matéria nem uma palavra sobre o 31das portagens na Via do Infante e sobre o pandemónio da 125 que nenhuma “requalificação” pode salvar. Já não apenas desconsideração, é desdém.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

SMS 474. Medo da praça pública

9 agosto 2012

Claro que cada partido organiza festas, grandes ou pequenas, de expressão nacional ou de interesse meramente local, onde, quando e com quem muito bem entender. O certo é que, à maneira das religiões, os grandes partidos também têm, cada um, a sua santa festividade anual e o verão proporciona às mil maravilhas que o padroeiro da circunstância apareça a céu aberto, sendo verdade que foi o PSD a iniciar essa tradição no já longínquo ano de 1976, num pinhal próximo do aeroporto de Faro, local cujo nome – Pontal – haveria de carimbar a festa para todo o sempre, vá ela para onde for. Em 2005, o Pontal foi já na doca de Faro e em 2006 transferiu-se para o Calçadão de Quarteira, continuando Pontal. É um símbolo desse partido e à exceção de Manuela Ferreira Leite ausente em 2009, todos os líderes foram afinando os seus discursos de poder ou de oposição para o almejado Pontal, inspirados pelo impulso inicial de Francisco Sá Carneiro, com a garantia de títulos de primeira página e presenças de rádios e televisões. E foi assim que vimos desfilar bronzeados Pinto Balsemão, Cavaco Silva, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Filipe Meneses, Marques Mendes e, já em 2010, Pedro Passos Coelho quando ainda prometia muito na oposição sabendo então o mesmo que, no poder, hoje sabe, ou não tivesse dito à época que estava pronto a governar com o FMI. Mas, enfim, foram festas a céu aberto, mesmo sem o pinhal que deu origem e nome.

No próximo dia 14, o Pontal deixa esse céu aberto e muda-se para edifício coberto, o Aquashow de Quarteira, alegadamente por “redução de custos e facilidades logísticas”. A festa deixa portanto a praça pública e entra para ambiente fechado, com lugares marcados, entradas controladas, ar condicionado e tudo debaixo de olho. Como se disse no início cada partido organiza as suas festas onde, quando e com quem muito bem entender, mas um Pontal assim, visto de fora, não deixa de sugerir um clima de “claustrofobia democrática” como diria Paulo Rangel, ou seja, o medo da praça pública, contrariamente ao que o PSD habituou o país desde esse 1976, naquele tal pinhal, onde, segundo se conta, um comunista assumido, presente na festa, se dirigiu a Sá Carneiro com um copo de vinho na mão e lhe disse: “sou comunista e vim aqui porque tenho admiração por si e por isso vou brindar à sua saúde”. E o que fez Sá Carneiro? Tirou o copo da mão do homem e bebeu o resto do vinho… Foi assim que o Pontal se transformou em símbolo e, por este caminho ou por tais “facilidades logísticas”, ainda se transforma em salão de chá, com a política fervida como folhas de tília. Medo? Medo de quê e de quem? Do vinho que resta?

Carlos Albino
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Flagrante animação: O turismo, com a inflação da música pimba e festivais de cantores reles, não vai longe.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

SMS 473. Doutores da mula ruça

2 agosto 2012

Dentro daquela lógica segundo a qual tudo o que não é proibido é lícito, pelo que com toda a esperteza haverá que aproveitar os buracos, as lacunas e os alçapões da lei, algumas universidades e institutos superiores sobretudo privados que nos públicos ainda há um certo pudor mas pudor apenas, cá vai disto, fizeram fornadas de licenciados nisto e naquilo, alguns com o canudo à velocidade da luz pelo expediente das equivalências, outros pelo facilitismo de provas, outros ainda, certamente por genialidade hereditária, porque nasceram ensinados. Quanto ao estudo, nada; quanto à investigação, zero; e quanto ao que mais importa que é o quadro mental que só uma universidade pode e deve dar, uma nulidade. Naturalmente que os ditosos licenciados do pé para a mão ficaram muito felizes no dia da bênção das pastas, ufanos a gabarolas se começaram a autojustificar com novos cartões de visita ostentando o título académico em brilhante relevo, mas a sociedade ficou mais pobre com cada um de tais doutores da mula ruça.

E tinha que dar nisto. Concederam-se alvarás para o ensino superior como se os critérios fossem quase os mesmos para quem abre uma mercearia – não vendem feijões, vendem diplomas. Em alguns dessas escolas entra o pior que o ensino secundário debita e que não tem entrada em mais nenhum lado. Os professores ditos titulares são low cost e assinam de cruz, tudo o mais possível dentro da tal lei cega para o que à evidência é ilícito. E os chefes de tudo isto, no seu conjunto, mais não formam que uma tribo nómada que tal como a maior parte das tribos nómadas, vivem da apanha da alfarroba que não lhes pertence ou da venda de berbigão e amêijoa em época de apanha proibida, com bastantes autarquias, de norte a sul, a curvarem-se respeitosamente perante tal saber e até a canalizarem orçamento apreciável em nome do chamado prestígio local que foi o que esteve na base do erro.

É claro que, com os anos, a falange dos licenciados por equivalências e facilitismo acabaria por formar uma corporação de interesses e é por isso que, sempre que estala algum caso necessariamente badalado, os da corporação ficam mais caladinhos que os ratos, porque, lá no fundo, sabem muito bem que o seu cartão de visitas tem um erro e que a bênção de pastas foi um regabofe. Um enorme erro que é uma afronta para universidades a sério e para quem a sério por elas passou com a consciência de que uma sociedade não vai a lado nenhum com ilícitos, mesmo que os ilícitos sejam paulatinamente esquecidos pela lei, porque se por ela forem estimulados, que a Sicília nos desculpe, mas essa sociedade iria dar no que a Sicília é emblema.

Carlos Albino
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Flagrante bom momento: O da exposição de pintura de Graça Morais, no Convento de Santo António (Loulé).

quinta-feira, 26 de julho de 2012

SMS 472. Combustíveis

26 julho 2012

Os testemunhos são muitos. São lesados a dizer, são mecânicos de saber e experiência insuspeita a confirmar, e, já agora, é a nossa triste e dispendiosa estreia na matéria – há combustíveis adulterados à venda no Algarve, com alguns postos a fazerem referência do mal. Como e quando os combustíveis são adulterados, quais são os intervenientes, qual o grau de responsabilidade de quem está no circuito do dolo, e se isso acontece sempre ou é coisa esporádica, não sei. O que sei é que há motores de carros, uns novos em folha outros nem isso, que ficam arrumados por aquela causa sem que muitos dos lesados tenham meios de defesa e de prova. Também sei que em determinados postos que ostentam marcas de bandeira há aparentemente controle dos combustíveis despejados nos depósitos e que são selados, noutros não – dependem do mercado e dos preços que também aparentemente facilitam certas promoções que acabam por sair caras para o consumidor crédulo, demasiado confiante ou sem alternativa para o abastecimento. O certo é que, pela experiência contada, há já os chamados “postos malditos” dos quais, quem sabe, foge. Hoje a história contada é dali, amanhã é de acolá, sendo certo que, com a adulteração, alguém enriquece com o esquema. Esquema que é crime e que justifica a intervenção de autoridades e instituições de defesa do consumidor que devia m passar os postos de abastecimento a pente fino. Por mim falo – depois do que aconteceu, estou inseguro sempre que preciso de abastecer no Algarve e muito agradeceria que, à semelhança das bandeiras azuis a garantirem a qualidade das praias, os postos com combustível de qualidade certificada tivessem uma bandeira de qualquer cor, fosse verde, amarela ou branca, o que quiserem, mas uma cor que indicasse que por ali não há ladrão. Na verdade, isto já é demais. É que para além dos assaltantes de postos que são notícia todos os dias, temos agora os postos que assaltam sem que sejam notícia. Acabem com isso porque as oficinas estão cheias de motores espatifados, uns logo, outros lentamente, com cada vez mais gente a apontar o dedo à ferida mas só alguns a poderem apresentar queixa formal. Na maior parte dos casos, a culpa é do diabo e há que encolher os ombros. Mas isto tem que ser dito e ficar em letra de forma.

Carlos Albino
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Flagrante incêndio: Então isso ardeu e de que maneira e a explicação é só do vento e do calor? Como foi possível isso chegar tão longe?

quinta-feira, 19 de julho de 2012

SMS 471. Caso Macário

19 julho 2012

Obviamente que o acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de terminando a perda do mandato autárquico de Macário Correia por violação do PDM em Tavira, tinha que ter repercussões políticas, como repercussões tiveram a recusa dos termos do acórdão e o anúncio de recurso por parte do visado. O caso coincidiu com condenações do tribunal de Lagos aplicadas aos presidentes da Câmara e da Assembleia de Aljezur (José Amarelinho e Manuel Marreiros) a perda dos respetivos mandatos também por violação do PDM, caso este que ainda está para dar. E como se não bastasse, no primeiro caso, a notícia correu praticamente colada à das opções de reforma e pedido de subvenção vitalícia de Macário Correia, mais um ou dois processos já no consulado em Faro, suficientes ingredientes para um refogado populista do acórdão, com as repercussões também políticas que tais refogados, se não sugerem, provocam..

Perante isto, o que se esperava? Como aqui se escreveu telegraficamente na semana passada, “muita gente, no lugar de Macário Correia, já tinha tomado uma decisão”. Com isto se pretendeu dizer que Macário Correia, das duas uma: ou acatava o acórdão e assunto arrumado, ou não acatava, como não acatou, mas com explicação política dessa decisão ao nível das repercussões políticas do caso e não com base em dúvidas ou subterfúgios legais ao nível do acórdão que anda por ali à volta de minúcias deveras irrelevantes e que bem lidas só colocam mal um Supremo Tribunal. Pelas minúcias, o Supremo bem poderia determinar a perda de mandatos a 89,5 % aos autarcas de norte a sul, para não falar dos das ilhas adjacentes, pelo que não se compreende como se decide por um acórdão que transparece como mero ato de exceção aparentemente filada por algum interesse difuso com emprego no Ministério Público.

Embora todos lhe devam cumprimento, um PDM não é um Deus mas não compete a um Supremo Tribunal dar a explicação política de como os diabos tecem, nuns casos a torto, noutros a direito. Isso competiria a Macário Correia, como também, nos casos de Aljezur competiria a José Amarelinho e Manuel Marreiros a explicação política por todos os meios das sentenças que os visaram.

Sendo assim, precisa-se, muita gente no lugar de Macário Correia já tinha tomado a decisão de explicar politicamente esse assunto que é o de se invocar o nome do Deus PDM em vão, atacando o problema nas causas e não como advogado em causa própria. O caso Macário nada tem a ver com o do isaltinismo nacional, é um caso político ou um episódio político de uma questão política de fundo, e é como tal que deveria ter sido tratado.

Carlos Albino
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Flagrantes contas: As portagens ao longo da Via do Infante são mais de metade das portagens Algarve-Lisboa… E é de ver as filas de estrangeiros nas estações dos CTT a fazerem o pagamento com base em fotos das matrículas tiradas pelo telemóvel. Levam i ideia de um país credível.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

SMS 470. Voltamos a Sagres

12 julho 2012

Sim, voltamos à questão de Sagres, essa grande área marcante em todos os sentidos – pela História e restos da História, pelo Símbolo que é descontadas as moças que o nacionalismo autoritário engendrou, pelo ponto de deriva do planeta que quem lá chega sente que sempre foi e é. Não vamos retomar os argumentos que aqui, há uns anos já, aflorámos no sentido de uma iniciativa que, com peso e medida, conduzisse Sagres a Património Natural ou mesmo a Património da Humanidade. Nem vamos reabrir polémicas com meia dúzia de académicos diletantes e outra meia dúzia de políticos de ocasião que, de uma forma ou de outra, alcandorados nas mordomias nacionais a pretexto da UNESCO, interromperam uma campanha defensável, justificável e necessária, metendo-a na gaveta. Retomamos o tema de Sagres porque é chocante a forma como todo o chão de Sagres está na omissão da promoção da Região, sendo o seu emblema mais nítido e sendo o cinema natural, direto e vivo que o mundo culto, curioso e ávido de emoção com as surpresas que o planeta oferece, mais procura, visita e leva de recordação. Não vamos aqui repetir que o promontório há milénios conhecido como Promontório Sacro, bordejado por várias civilizações que se aventuraram à travessia de terras e mares, palco de santos e de piratas, de fábulas e de gestas inquestionáveis, recanto que não deixa nenhum poeta insensível e até esmagado, área em que a terra parece desabar mas não desaba e em que o mar parece gigantescamente domesticado mas não está, não vamos repetir o que Sagres contém de conhecido, de comprovado, de sugerido e de desafiante para quem queira pegar nos fios daquela meada com seriedade intelectual e sem aqueles corporativismos do saber que, por definição, também têm as suas cátedras de fatela.  Voltamos a Sagres porque para alemães que sejam, japoneses que cheguem de máquinas a tiracolo, norte-americanos que por lá passem tentando perceber o desconhecido, franceses, ingleses, por aí fora, enfim, todos aqueles que pela lógica da batata de alguns que tutelam a matéria são reduzidos a esse rótulo humilhante de “mercado turístico”, e não mais do que isso como se fossem rebanhos a sair do aeroporto de Faro, Sagres não é explicado ou é vaga e corriqueiramente explicado, e passa apenas como mero ponto interessante de excursão pífia a sítio ermo com farol e uns enfadonhos documentários da macaca. Ou seja: Sagres não é o ex-libris da região algarvia, peça obrigatória do seu cartão de visitas, marco indelével da história do país e passada larga da própria Europa.  E devia ser tudo isso se tivéssemos um Senhor Turismo a sério casado com uma senhora séria chamada Dona Cultura.

Carlos Albino
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Flagrante corolário: Muita gente, no lugar de Macário Correia, já tinha tomado uma decisão. Na capital da região, porque como dizia genialmente José Apolinário “Faro é Faro”, e na AMAL que anda com retrato muito desfocado.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

SMS 469. Jurem, a bem de todos

5 julho 2012

A crise portuguesa começou por ser uma crise de ética. Falta de ética lá em cima, aí pelo meio e cá em baixo. E quando vai chegando o momento em que os partidos têm de decidir quais os candidatos que irão apresentar nas próximas eleições autárquicas, com uma apreciável renovação por força da lei que impede terceiros mandatos consecutivos para os presidentes dos órgãos executivos (presidentes das Câmaras Municipais e das Juntas de Freguesia), impõe-se que se chame à responsabilidade da escolha, não os eleitores mas os partidos. O problema é que não são poucos os lados em que não há muito por onde escolher, pelo que quem chega à chefia local dos partidos é praticamente o chamado “candidato natural”. E conforme a simples grandeza do mesmo partido ou a capacidade artística deste para a propaganda, assim também as probabilidades de eleição independentemente da competência efetiva e do perfil ético do candidato. Para um segundo, ou para o agora impossível terceiro ou quarto mandato, as provas sobretudo de ética terão sido mais ou menos dadas, com o eleitor a poder conceder, pelo voto, reforço de benefício ou punição. Para os casos de estreia, ninguém sabe o que daí possa sair, pois debaixo de uma pedra pode sair um lagarto.  Ora, nesta fase de escolha, os partidos são inegavelmente responsáveis pelas opções que preparam para apresentação aos eleitores. Por isso devem escrutinar rigorosamente os nomes, para que não nos venha a sair na rifa democracia alguém de quem todos se arrependam e, pior, de quem tenham vergonha. Meio-caminho andado seria que cada um dos candidatos, antes de aparecer em comícios na praça pública, pudesse prestar dentro do seu partido o seguinte juramento: “Juro, por minha honra e à prova de bala, que nunca roubei nada, que não estou a roubar e que não me preparo para roubar no exercício das funções às quais me candidato, pelo que podem piamente confiar em mim”. Todos os candidatos que os partidos por aí preparam, designadamente os elegíveis, serão capazes de fazer este juramento?

Carlos Albino
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Flagrante penitência: Os governantes que venham ao Algarve para o bronzeamento, deviam ser obrigados a fazer um trajeto integral da estrada 125 e, depois, confessarem-se em Vila Real de Santo António ou em Lagos para sentirem bem a penitência que o padre lhes daria .

quinta-feira, 28 de junho de 2012

SMS 468. Os partidos cá na casa

28 julho 2012

Quem se apresenta para a liderança regional do PS diz que pretende o seu partido “aberto à sociedade” e que para tanto promete tomar iniciativas. Por outro lado, os restantes partidos que conseguiram eleger deputados pelo Algarve e que por isso são de referência no jogo democrático do poder, já perceberam no terreno que a sociedade se desinteressou da política. Não é que a sociedade tenha fechado as portas, mas o clima é descrença mas algum entusiasmo e até de festa fica confinado a militantes e alguns interessados em benefícios do poder, sobretudo a curto prazo, como é o caso das corridas para as autárquicas. É claro que o protagonista do PS se encarou a realidade que o cerca e que não se explica apenas porque o PS não tem o poder que desejaria ter obtido em eleições, e os restantes protagonistas só por enorme distração e autismo é que não se apercebem ou fingem não se aperceber de que a sociedade em geral, aquela sociedade que ciclicamente de uns tantos em tantos anos delegam em representantes a palavra e a iniciativa política, essa sociedade está de braços caídos, descrente e até estupefacta pela forma como a palavra delegada e a iniciativa de representação caem rapidamente em saco roto. E pior ainda, pelo facto do exercício democrático no Algarve não ter colocado peso e influência, voz autorizada e força moral inquestionável em nome da região nos centros de decisão do Estado. Ou seja, se a política fosse atletismo, até poderemos ter vencedores regionais no salto em altura mas não temos campeões nacionais.

E a responsabilidade por isto? Claro que essa responsabilidade não é dos eleitores já de si castigados por erros que não cometeram e muito menos compreendem na sua verdadeira extensão, causas e jogadas de alto gabarito. A responsabilidade é dos partidos que se fecharam à sociedade ou que à sociedade, por autismo, justificam omissões de palavra e de iniciativa de forma que a ninguém convence mas que, civilizadamente, os militantes toleram por conveniência, uns, por sobrevivência em pequenos postos de comando, outros. Gostaria de dar nomes a isto mas dar nomes a isso, numa sociedade cujo problema maior é o dos seus partidos estarem fechados e confinados a confrarias de poder efémero, não seria contribuir para uma chamada à razão por parte dos partidos responsáveis pelas águas paradas do charco.

Lá chegaremos às autárquicas em que poucos poderão suceder a si próprios. Fica para a próxima.

Carlos Albino
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Flagrante desastre: A promoção turística do Algarve, cá dentro e lá fora, é uma infelicidade pegada, um revés, uma fatalidade, um fracasso. Não pega.