quinta-feira, 29 de novembro de 2007

SMS 238. Estamos governados

29 Novembro 2007

Os seis deputados do PS entenderam proclamar que, em matéria de investimentos da administração central para 2008, o Algarve «não tem razões de queixa». Não sei se falaram para os eleitores que representam, se para o governo que devem ou deveriam escrutinar, independentemente da simpatia política, ou se falaram apenas porque tinham que dizer alguma coisa fosse o que fosse. Em todo o caso foi uma proclamação perigosa, embora politicamente confortável para os próprios.

Naturalmente que o Algarve tem sobejas razões de queixa em matéria de transportes e vias públicas (não basta requalificar a 125 e sabe lá Deus quando!), de segurança, de saúde, de educação, de cultura, de ambiente, de requalificação urbanística… por aí fora. Mas, uma coisa é dizer-se que não há dinheiro ou que o dinheiro é pouco, outra é representantes afirmarem numa democracia representativa que não há razões de queixa, assim mesmo, como quem diz sem rei nem roque – porque não te calas?

É muito preocupante, para não dizer que é de mau tom, que representantes façam o papel de delegados. Mau prenúncio para a noção de Algarve e de representação do Algarve.

Carlos Albino

Flagrante adopção: A ligação das 2500 lâmpadas de Natal no Refúgio Aboim Ascensão, às 16 horas e 45 minutos de sábado, 1 de Dezembro, em Faro. É de ver porque significa muito.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

SMS 237. Os médicos, desta vez, têm razão

22 Novembro 2007

Muito breve e em poucas palavras – os médicos que apresentaram demissão de chefias do Hospital Central de Faro têm razão. E independentemente de terem razão, é chocante a forma como os responsáveis pela saúde no Algarve geriram o problema, a denotar que o complexo da maioria absoluta também já vem fazer aqui turismo de Inverno.

É claro que falar verdade da questão da saúde no Algarve – que está numa lástima – não é contribuir para o alarmismo e insegurança, pois os doentes e os que dos cuidados médicos necessitam, já há muito estão alarmados e inseguros. Para nada serve abafar a verdade da questão e rejeitar saber qual é problema pois os algarvios, sobretudos a vasta camada dos mais pobres e remediados, há muito sentem a dor da verdade para a qual uma democracia sadia tem cura ou pelos menos dispõe da terapêutica das práticas democráticas e que foi o que não se verificou. O que se verificou foi a pesporrência que é a cólica da democracia. Os médicos até podiam por hipótese não ter razão, mas não a atitude de quem tem poder e é responsável público não pode ser aquele “ai!” que dá conta de haver cólica.

Numa região onde as manifestações consolidadas de crítica política são escassas e até mal vistas (voltou-se a identificar a crítica como sendo coisa “contra a situação”…) é natural que responsáveis com poder se sintam confortados com a impunidade. Duvido que este tipo de comportamento se altere nos próximos tempos, até porque quem mais precisa tem medo e cala-se – cala-se é a palavra.

Os médicos, a bem da verdade, mais não fizeram do que se descartarem das responsabilidades pelo caos da saúde no Algarve e que não pode ser iludido pelo argumentário dos que comem estatísticas ao pequeno-almoço, ao almoço e ao jantar, sabendo-se que a estatística, sobretudo a da saúde que reduz algarvios a números, é profissão muito mais velha no mundo que a outra. E está tudo dito.

Carlos Albino

Flagrante actor: Correia de Campos

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

SMS 236. Como cão por vinha vindimada

15 Novembro 2007

Nesta terça-feira, os algarvios que se sentem afectados pelo traçado de linhas de alta tensão, manifestaram-se em Lisboa às portas da REN, e fizeram bem.

Duvido, duvido mesmo se José Penedos estará a falar verdade e certo quando afirma que a REN, nos traçados das linhas eléctricas, fala com as autarquias envolvidas e com os proprietários dos terrenos afectados, além de que tem equipas no terreno «a falar com as pessoas, a dar informações e a negociar». Admitindo que fale verdade ou convencido desta, não sei se fala certo. Sabemos, desde há muito, que os electricistas plantam caixas onde querem e passam fios por onde lhes apetece ou convém, como se os fios fossem cães a passar por vinha vindimada. É claro que esta REN não será directamente responsável por tudo o que foi feito no passado, nem por tudo o que feito nas ruas de cidades e vilas onde os electricistas das câmaras dão nota da mesma cultura da REN e da mãe que a gerou, e que é uma cultura de desprezo pela estética e pelo bem-estar público, porque a cultura eléctrica é pura e simplesmente chegar ao contador de quem afinal paga.

E assim é que linhas de alta tensão passam exactamente sobre telhados de casas rurais, havendo, em tais casas, coincidências que José Penedos não deveria descartar num ponto de vista de saúde pública. Mas, independentemente dos legítimos receios em matéria de saúde, convenhamos que, olhando para montes e vales em pleno mapa turístico do Algarve, é demais. São fios eléctricos para ali, de telefones para além, cruzando-se uns sobre os outros, postes encavalitados sobre postes uns para Norte, outros para Este, sem respeito pela paisagem, em travessias sem respeito por nada, como se o País fosse dos fios e não os fios a servir o País, e no caso do Algarve, como se o Algarve fosse todo ele uma herdade de pecuária.

Porque uma coisa é José Penedos a olhar para as suas linhas no mapa aberto sobre a sua enorme secretária, respeitando e bem, segundo diz, até vestígios arqueológicos, outra coisa é olhar-se para as mesmas linhas na paisagem real e sobre as casas e corpos de cada um, onde a gente viva não é mero e menosprezível vestígio.

Carlos Albino

Flagrante cena de desenvolvimento: Com o encerramento da fábrica de Loulé será que o turismo deixou de consumir cerveja, ou anda outro negócio atrás disso?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

SMS 235. Quando os pais borram o estatuto

8 Novembro 2007

Um pouco por todo o Algarve, é inacreditável o que se passa à porta das escolas, à hora da saída de aulas. Toda a gente quer recolher o menino ou a menina com segurança e rapidez, o que não se recrimina. Só que a onda de egoísmo que submerge a sociedade – diríamos até, de egoísmo fundamentalista que não deixa de redundar mais dia, menos dia em terrorismo social – tem infelizmente, em muitos desses pais descarados protagonistas, transformando espaços que deviam ser de alegria e confiança no futuro, em espaços de atropelo, de manifestações provincianas de comodismo e de militante desdém pelo outro. Naturalmente que o assunto raramente é caso de polícia porque talvez esse enxame, no seu conjunto, mande na polícia, controle a polícia ou talvez mesmo atemorize a polícia. Mas as cenas repetem-se todos os dias, havendo motivos para pensar que esse sindicato de egoístas vai à escola menos por zelo pelos filhos e mais por aquilo que o egoísmo fundamentalista já transformou em norma e que é o «estatuto social». Esta semana foi-me dado comprovar, numa escola da capital, que muita dessa gente vai por estatuto e para mostrar estatuto, o que só é possível mostrar exactamente junto das grades da porta de saída, uns sobre os outros, e todos encavalitados com os seus estatutos a ocuparem a via pública à espera que os respectivos filhos entrem para esses territórios soberanos em que os egoísmos andam sobre rodas. Na verdade, com um imenso parque de estacionamento vazio mesmo à frente dos olhos, andar vinte, cinquenta metros a pé acompanhando os filhos, seria caso de perder estatuto… Ora, pais destes, não frequentando a escola, só estragam a Escola, e, aqui para nós, borram o seu próprio estatuto.

Carlos Albino

Flagrante coisa positiva: O portal-piloto Algarve Digital, embora tenha muita parra e pouca uva em função da prioridade que foi a alma do projecto – um ponto de encontro, inteligível para os utilizadores, entre a administração central e autárquica (sic).

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

SMS 234. Listas

1 Novembro 2007

Porque dois ou mesmo três anos, politicamente, é um ar que se lhe dá, sente-se já os movimentos, melhor, a movimentação para as listas, onde presunção e água benta cada um toma a que quer. Para o comum dos mortais, as eleições (legislativas, autárquicas) ainda vão longe, mas para os imortais da política, a coisa está perto ou na hora de «não perder o comboio». Alguns, fartos de serem autarcas ou vendo num assento parlamentar a coroa de louros a que se julgam com direito, posicionam-se – não dizem que querem, até dão ar de desdém, mas quem desdenha quer comprar. E os que por enquanto vão estando assentados, sabem também que entraram na última fase da «consolidação do lugar», pois não anda longe de verdade que um assento parlamentar é a coisa que, no País, tão rapidamente aquece como arrefece. Portanto, nada de irritar os chefes partidários e, pelas diversas vias, «chegar ao povo» a fim de se obter, a tempo, a chamada legitimidade de consideração. É claro que será dispensável referir os presidentes de juntas que palpitam uma hipótese na vereação ou, casos mais raros, os vereadores falhados que almejam ao menos uma junta para ressarcimento dos desastres.

Nada contra isto – é normal numa democracia. O que não é normal é que aos movimentos dos que têm apetite por elegíveis lugares de poder, não correspondam movimentos de ideias e debates, sobretudo corajosos, sobre as questões de interesse geral e do bem comum. As ideias, como as temos sentido, não passam, umas, de ideias parasitas e asseptizadas dos programas partidários, outras, de ideias adventícias do chefe respectivo cujo nome, amiúde, invocam em vão, designadamente daquele chefe próximo ou distante de quem, quer se queira ou não, dependerá a formação das listas. Por isso, impera a manha. Parece silêncio mas não é – é manha. Ora, uma democracia de manhosos, pode ser muito popular, mas é contra o povo. E quem se pica, alhos mordica.

Carlos Albino

Flagrante economia regional: É mais difícil encontrar uma empresa algarvia entre as mil maiores empresas do País, do que uma agulha no palheiro.