quinta-feira, 27 de outubro de 2005

SMS 129. Capitalidade e coisas capitais

27 Outubro 2005

É evidente que o Algarve precisa de Faro. E precisa também de que à frente de Faro esteja alguém com o sentido de Algarve e não de regedor, que possua um discurso político elevado e não de comarca de terceira classe e, sobretudo, que saiba ser um parceiro dos restantes quinze inevitáveis pares do Algarve, a começar pelos mais próximos como Olhão e Loulé e a acabar nos mais pobres como Alcoutim e Aljezur. Faro, se quer ser e sequer continuar a ser capital irrecusável do Algarve, tem de saber sentar-se ao lado de Alcoutim e de Aljezur, tem que ter a consciência de que não desce de nível à altura de Silves ou de Vila do Bispo, ou seja – Faro tem a obrigação de ser e dar o exemplo de ser uma cidade ou um autarquia tão metropolitana como as restantes quinze autarquias e, se quer ser a capital metropolitana, não pode deixar-se enredar na tentação de ser um Terreiro do Paço provinciano pois já tem demasiados funcionários mais provincianos do que os do Terreiro do Paço, no pior que em educação e cidadania a burocracia provinciana sugere – há até cada vez mais algarvios que preferem a burocracia do emblemático Terreiro do Paço de Lisboa às burocracias dos nossos Terreiros do Paço a brincar. Faro é reconhecidamente capital e não tem que lutar por capitalidade, tal como Portimão não tem que porfiar por sub-capitalidade, e tal como Albufeira em pouco ou em nada serve para o Algarve procedendo como se fosse principado independente, como naquele ano em que deitou foguetes e fez fogo de artifício no dia em que Silves estava a arder à vista desarmada. Esse caminho da capitalidade, das sub-capitalidades e dos principados está ao arrepio do sentido e do caminho do Algarve e só terá um resultado final – o provincianismo e a mentalidade de quintal, com a coisa pública entregue a títeres locais que nem sequer categoria têm para serem ditadores, muito menos para serem exemplares democratas na atitude e nos factos. Essa obsessão por capitalidade, por sub-capitalidades e por principados é a doença infantil do narcisismo provinciano, e são estes meninos que foram e vão estragando o Algarve – o Algarve como Algarve que precisa de coisas capitais e não desses meninos.

Carlos Albino

P.S.: Este reacender da polémica das portagens na Via do Infante tem muita piada e mais piada tem que o ministro Mário Lino venha a reconhecer que a 125 é em grande parte já uma via urbana – entre pelos olhos da cara. Pegaremos nisto.

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

SMS 128. O caso Vitorino

20 Outubro 2005

Julgo saber que José Vitorino foi o único caso de derrotado no Algarve que atribuiu as culpas do desaire à comunicação social, assim fugindo à assunção de responsabilidades políticas, designadamente face ao partido que o apoiou e de que, outrora, ele fez parte. Na verdade, não sei se José Vitorino sabe o que significa comunicação social, porquanto ele, com tal explicação de mau perder, suporá que a comunicação social deveria ter feito campanha por ele, exaltando por exemplo a forma como o Farense arrecadou importante quantia, ao longo de quatro anos, com a célebre dádiva mensal dos 25 por cento descontados do ordenado de Vitorino, exemplo acabado do populismo mais tosco. Ora, Vitorino não entendeu que o populismo é o mesmo que comprar um carro novo em Faro e ir sempre em primeira mão bem puxada até ao aeroporto da Ria Formosa - gripa no Montenegro. Enquanto o carro anda, o povo saúda, há sorrisos de um e outro lado da estrada, todos se curvam à passagem do carro do presidente: mas se o carro gripa porque o presidente desconhecia o dever elementar de meter mudanças, naturalmente que a comunicação social tem o dever de registar o facto, sendo o facto simples - o carro novo do presidente gripou no Montenegro porque o seu populismo não saiu da primeira mão, derretendo o motor. E como, em política, um mandato de quarto anos não envelhece o carro - antes pelo contrário, deixar gripar assim o motor a meio caminho para o aeroporto o que é que tem a ver com a comunicação social que, nesta mecânica das autárquicas, até foi benevolente e caritativamente omissiva para a condução de Vitorino? Aliás, não apenas para o caso de Vitorino mas para muitos outros casos designadamente vitoriosos, a comunicação social do Algarve, de modo geral tem sido benevolente e caritativamente omissiva justificando-se até a sua santificação pelo papa Bento XVI, se por aí não houvesse uns casos de favores e de subsídios indirectos que borram a santidade.

Carlos Albino

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

SMS 127. Os partidos, claro

13 Outubro 2005

1. Aqui e ali – não apenas em Felgueiras, Gondomar e Oeiras, mas no Algarve também – estas eleições ensinaram que os partidos, todos do CDS ao BE, têm que mudar de estilo, de meios e de visões. Trinta anos são suficientes para envelhecer uma democracia, dar azo ao laxismo, à inércia e à distracção, com isto abandonando-se a discussão crítica dos problemas de fundo, pondo-se de lado o interesse geral e sacrificando o bem-comum aos vorazes apetites do oportunismo organizado. No Algarve, isto tornou-se particularmente evidente pela pressão dos lobbies ligados à imobiliária e à construção (há muito que acabou o casino do figo no Café Aliança), não por serem lobbies mas pela pressa com que o turismo e actividades conexas lhes aguçam apetites. Nestas circunstâncias, os partidos têm sido meios privilegiados para quem quer subir na vida depressa, enriquecendo sem justa causa. Foi assim que surgiu uma nova arte – a arte de «saber fazer bem as coisas», o que significa «fazer as coisas» sem deixar uma perna de fora. Se a justiça funcionasse – não funciona porque muitos juízes também cultivam essa arte de não deixar uma perna de fora – os episódios que a todos nos chocam, teriam adequado e rápido desfecho nos tribunais, punindo corruptos e corruptores. Como não funciona, a política salva os delinquentes, iliba os arguidos e confere até aos acusados ares de definitiva e não apenas de presuntiva inocência, nem importando, para o caso, que salvos pela política, falem como foliões e ameacem com a violência própria dos perversos – referimo-nos naturalmente à perversidade contra a democracia que salva corruptos e corruptores. Assim sendo, será até secundário que a lei mude – o importante é que os partidos mudem as suas práticas, os seus métodos de triagem internos, as suas «máquinas» montadas para o clientelismo.

2. Chocante será assim que um «independente» ganhador proclame, na hora do entusiasmo perverso, que ganhou porque o povo não acredita nos partidos, mas muito mais chocante é que alguém no Algarve, eleito legitimamente por um partido e devido a um partido, apregoe que foi eleito com os votos dos que já não acreditam nos partidos – adivinhem quem é. Começa mal e, se não emendar, pode acabar pior que a foragida de Felgueiras.

3. Apolinário ganhou porque encontrou uma metáfora muito melhor do que Vitorino que talvez nem saiba o que é uma metáfora. Além disso, atravessou o Rubicão que, entre nós, não passa da Ribeira de Pechão mas é Rubicão. Vitorino não entendeu que para se ser presidente da Capital do Algarve não se pode estar num permanente estado de alma contra Olhão nem contra Loulé. Faro não é nada ou pouca coisa é sem uma estudada e concertada parceria com os arredores. Vitorino perdeu nos arredores mas não sei se ele sabe o que significa arredores.

Carlos Albino

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

SMS 126. Os nossos Albertos

6 Outubro 2005

O Algarve também tem os seus Albertos. Embora a Madeira tenha o protótipo, o original sem par a quem todo o mundo reconhece o cómico direito de ser João Jardim para além de Alberto, os nossos Albertos – infinitamente mais comedidos porque não somos uma ilha e manhosamente mais discretos porque também não temos paraíso fiscal que cubra as jogadas – não deixam de ser Albertos, enfim, pequenos mas eficientes Albertos, ou seja, Albertos uns à escala concelhia e outros à escala de freguesia mas Albertos. Quando podem, os nossos Albertos controlam os pequenos jornais impondo-lhes o conteúdo sempre com expedientes indirectos, submetem ao seu jogo as estações de rádio locais condicionando-as na forma e no cheque. Claro que apenas fazem isso quando podem, mas quando o fazem, porque são Albertos, cuidam de não deixar indícios de prova, e, como se costuma dizer neste século de Isaltinos, Fátimas, Valentins e Ferreiras Torres, fazem-no dentro da mais estrita legalidade – Oh! Como os juízes em greve apreciam esta coisa da estrita legalidade! Embora com os mesmos propósitos da programada caça ao voto longamente pensada e do controlo da opinião pública, naturalmente que os nossos Albertos não passam de pequenos Albertos porque, aqui, tudo também é pequeno (a Agência Lusa é pequena, a RDP é pequena e a RTP pequenina é) mas se o Algarve tivesse um paraíso fiscal como a Madeira tem, já teríamos um Alberto igual ao protótipo. Perfis não faltam. Pequenos perfis, diga-se, mas igualmente perversos.

Carlos Albino