quinta-feira, 29 de março de 2012

SMS 455. Aeroporto, está à vista

29 março 2012

É tema de reportagem junto de passageiros à partida e à chegada, de funcionários e dos responsáveis pelas obras, será até assunto a justificar entrevista (entrevista, e não questionário subserviente) com quem gere o aeroporto, e num pequeno apontamento como este apenas se pode dizer que aquilo está mal, está mesmo muito mal. É verdade que à chegada, o passageiro pode ler que há obras por ato da natureza e que se pede desculpa pelo incómodo, mas isso não basta. Também é verdade que foi garantido, há dias, que as obras terminarão no final de abril, mas a avaliar aquele estendal é difícil aceitar que um mês basta. Faltam indicações úteis e práticas, o túnel não é um túnel de passageiros – é um túnel de despejo, os trajetos para quem vai esperar ou para quem chega não estão devidamente assinalados, escasseia o atendimento, são centenas de metros entre o carro estacionado em parque pago e o local de chegada que a generalidade tem de adivinhar, a polícia gere carros com motoristas às voltas e peões a arrastar malas serpenteando por entre o pessoal das agências com tabuletas que dão àquilo um ar de mercado de ciganos e, vá, lá que o tempo está seco, não há lama e os guarda-chuvas não complicam. Mas, enfim, tudo isto se compreenderia e os transtornos seriam suportados com paciência, caso se notasse da parte de quem gere o aeroporto uma consideração nas coisas essenciais pelos passageiros que nos acabam de visitar ou que começam a visita, e por quem por eles espera ou se despede. É do género “amanhem-se”. Essa porta fundamental do Algarve está em obras mas, mesmo em obras, devia ter dignidade, ostentar respeito e cultura de acolhimento que é uma coisa que se nota logo em qualquer canto que seja. Isto, ali, não há. Amanhem-se. Ora quando essa cultura de acolhimento falta, a culpa não é do vento que Zéfiro intencionalmente dirigiu em fúria contra a parte nascente do aeroporto, nem culpa é dos materiais usados na construção e que não devem ter andado longe dos usados para a Arca de Noé. Quando a cultura do amanhem-se, ela sim, é um ato da natureza, estamos conversados e não há que pedir desculpas. Sabe-se do que a casa gasta, sendo triste que a porta do Algarve não seja varrida o que dói a quem gostaria de ver a porta asseada, ainda que num asseio de obras ou em obras asseadas.

Carlos Albino
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1 - Flagrante constatação: E foi assim que conseguiram que Faro seja a única capital de distrito que não tem um jornal local próprio.2 - Flagrante resistência: A deste Jornal do Algarve que venceu mais um ano e oxalá vença muitos mais com a chama fundadora do saudoso José Barão. Parabéns!



quinta-feira, 22 de março de 2012

SMS 454. Contas furadas

22 março 2012

O temor é que o turismo morra selvagem como selvagem nasceu e cresceu. As Canárias bateram em 2011 o record de visitantes explicadamente pelo desvio de turistas do Magreb devido à instabilidade política. No ano passado as Canárias receberam cerca de dez milhões e meio de estrangeiros, face aos 8,5 milhões do ano anterior, o que traduz um aumento de 20 por cento, com a Alemanha a surgir como o principal mercado. Já quanto ao Algarve, como se sabe, perdeu quotas de mercado e viu as expetativas e resultados desceram a um ponto tal que os números do desemprego já não podem mascarar a realidade. Associada ao tombo, o turismo algarvio anda por esse mundo afora com a imagem da insegurança (quem não sabe disso?), da incultura nas relações humanas (o episódio do aeroporto de Faro correu mundo) e do desrespeito ambiental, rebenta um ETAR e tudo pela calada, nunca há uma explicação para a imundície). Ou seja, o Algarve em vez de atrair, afugentou; e em vez de receber bem quem já cá chegou, tratou com pés. Todos nos recordamos das contas que alguns responsáveis fizeram em 2009 quando o Norte de África foi ao rubro, mas foram contas furadas. Um turismo sem competitividade, sem promoção externa e interna adequada, com a irresponsabilidade e o oportunismo a campear nos departamentos públicos, com o provincianismo balofo a ser sistematicamente eleito para câmaras e juntas de freguesia (com especuladores a subirem as curtas escadarias daquelas almas), e sem estrutura cultural pensada com golpe de asa, peso e medida, naturalmente que o Algarve não podia ter conseguido o que as Canárias conseguiram. Antes pelo contrário, só podia ter regredido, os resultados estão à vista e não são explicáveis apenas pela crise – também se explicam pelo lado selvagem que marcou o turismo algarvio logo à nascença, com qual marca cresceu e se exibe sem se aperceber das causas pelas quais o terreno lhe foge debaixo dos pés.

Carlos Albino
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Flagrante advertência: Preparemo-nos para o pior porque a realidade aponta para isso.

quinta-feira, 15 de março de 2012

SMS 453. Duas coisas do mar

15 março 2012

Duas coisas do mar que nos dizem respeito: petróleo e tesouros.

Quanto ao petróleo, é mesmo inacreditável que o governo tenha assinado mais dois contratos para a concessão de direitos de prospecção, pesquisa, desenvolvimento e produção de petróleo ou gás natural (o que se encontrar) na costa sul do no mar algarvio, a juntar a outro na costa oeste, sem cautelas e sem salvaguardas.  Para qualquer coisita em terra, é o estudo de impacte ambiental, é a consulta pública, é o parecer a juntar a outro parecer, é a avaliação do custo/benefício, é o quadro de indemnizações devidas por eventuais prejuízos, e, sobretudo quando entra o Estado, são as cláusulas de salvaguarda, são as contrapartidas financeiras. No caso do petróleo, ou com a capa do gás natural, é o próprio Estado a escapar-se como safio às obrigações que impõe para as coisitas onde mal a costa apresente terra para arquitetos.  Como é que um governo decide uma coisa dessas e dá de barato, sem ponderar o Turismo e a Pesca, afetando a costa algarvia? Admite-se que a decisão pudesse que ter sido tomada, mas em termos, com condições e medida. Assim, sem a mínima consideração pela população e pelos interesses da Região, é como que andar à deriva, hipotecando o futuro, que é a pior ou a mais perigosa das hipotecas.

Quanto a tesouros, referimo-nos naturalmente ao recente desfecho do tesouro da "Nuestra Señora de las Mercedes", achado pela empresa de caçadores de tesouros norte-americana, a Odyssey Explorer, a 21 milhas em plena Zona Económica Exclusiva da costa algarvia e devolvido dos EUA a Espanha por ordem dos tribunais. Segundo se diz, tesouro avaliado em 500 milhões de euros e que, ao longo de anos e anos, motivou cenas de filme de espionagem entre uma dúzia de empresas de caçadores do mesmo género à mistura com propósitos científicos, à frente dos olhos da Marinha, do IGESPAR e também dos mirones de Vilamoura. Pois bem! Portugal não reclamou nada de um achado na sua ZEE, apesar das duas convenções internacionais de que é parte e que são bem claras nessa matéria. Aquela gente andou por aqui como se isto fosse terra e mar de ninguém, fizeram o trabalhinho todo naquele segredo que é a alma do negócio (ou então com discretos entendimentos com alguns civilizados indígenas, nunca se sabe), discutiram lá fora a posse do espólio como se o Algarve fosse o Kiribati ou o Tuvalu, e Portugal nem antes, nem no momento reclamou, e muito menos protestou depois, por algo que anda próximo da pilhagem se não é mesmo pilhagem. É inacreditável esta gestão do património histórico e arqueológico marítimo. Por decência, deveriam ser chamados os responsáveis todos e perguntando se foi lassidão, falta de meios, ingénuo desconhecimento a tender para a imputabilidade, ou conivência calculada apesar de tanto perito (um, por acaso, até se meteu com alertas aqui lançados no Jornal do Algarve em 1998!), ou se foi acordo de cavalheiros para, pelo menos uma moeda de ouro e outra de prata para amostra no museu arqueológico de Faro. E isso soube-se pela disputa em tribunal nos EUA, porque se não tivesse havido disputa judicial pela posse do espólio, cada caçador seria o que sempre foi: o último a rir.

Carlos Albino
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Flagrante fase: Tivemos Mendes Bota I, seguiu-se Mendes Bota II e agora Mendes Bota III – experiente, calejado, com iniciativas algumas de grande fôlego como no Conselho da Europa) e exercícios críticos cada vez mais sem a canga partidária. Outros deviam tomá-lo por exemplo. Sobretudo os que não passaram da fase II.

quinta-feira, 8 de março de 2012

SMS 442. Que fique tudo preto no branco

8 março 2012

Há uns bons tempos, o PSD algarvio exigiu, e bem, que tanto os candidatos a cargos públicos como os nomeados, apresentassem os seus currículos suficientemente claros. Por onde e quando andaram, onde trabalharam, enfim, o valor e o reconhecimento que têm, as provas que podem ostentar para merecer a confiança dos cidadãos e dos contribuintes. Quando essa exigência foi apresentada, aqui se aplaudiu pois em matéria de cargos públicos, a democracia exige que fique tudo preto no branco, e nisto os partidos são particularmente responsáveis pois os partidos não podem nem devem servir como expedientes para subir na vida sem provas e muito menos para branquear passados ou para dourar a pílula. Assim é por esse mundo afora que se reclama de civilizado onde para oi exercício de cargos públicos se exige acima dos graus académicos formais, sobretudo competência e vida limpa. Por vezes até pode haver competência mas a vida pode ser não ser limpa e noutras vezes a vida pode ser limpa mas não há provas de competência, provas tais que só podem vir da experiência profissional passada. Para isso servem os currículos. Ninguém deveria ser nomeado ou colocar-se em posição suscetível de ser candidato a funções públicas (como é o caso dos presuntivos candidatos a presidências de câmaras municipais) sem apresentação de currículos rigorosos, verdadeiros, sem omissões. Quem não deve não teme.

O facto de se ganhar o poder interno num partido não é suficiente ou não deveria ser suficiente para que esse mesmo partido imponha um candidato tendencialmente beneficiário da lógica previsível dos votos do eleitorado geral. Daí que, na disputa interna de poder nos partidos, essa exigência de apresentação de currículos verdadeiros e sem omissões deveria estar na primeira linha. Não é o facto de uma pessoa ser vista todos os dias ou até ser vizinho que dispensa a apresentação de provas de vida competente e limpa. Ninguém tem que se meter na vida privada dos outros mas quando alguém se posiciona ou é endossado para funções públicas, o caso muda de figura e as provas têm que ser dadas ou devem ser apresentadas sem equívocos.

A justiça faz os seus cadastros e nestes pode haver alguma coisa prescrita que não impede que o cadastro esteja formalmente limpo. Mas na política, onde a honorabilidade pública é um valor supremo, exige-se mais pois o assunto não é de prescrição – é de limpeza de vida e de competência. E é aí que os partidos não podem comportar-se como grupos de amigalhaços com pactos de fidelidade sem escrutínio.

Portanto, meus senhores que aí por dentro dos partidos andam na corrida ao lugar para presidência de câmaras, apresentem currículos. Não ao somatório de graus académicos que me refiro. Refiro-me à vida limpa. Vida limpa nas empresas onde se trabalhou e na própria vida.

As mais recentes fábulas portuguesas já ensinaram o suficiente sobre como os espertalhões estragam a vida a todos.

Carlos Albino
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Flagrante tema: Esse tesouro avaliado em 500 milhões de euros resgatado do fundo do mar, em 2007, em plena costa marítima algarvia, devolvido dos EUA para Espanha e que dá para falar no próximo apontamento.