quinta-feira, 25 de outubro de 2007

SMS 233. O que é inacreditável

25 Outubro 2007

1 – Inacreditáveis as notícias que chegam de Alvor. Ou as autoridades ambientais e autoridades conexas esclarecem de uma vez por todas o que está a acontecer na Quinta da Rocha e agem sem delongas, ou mais ninguém de boa-fé definitivamente acredita em leis, planos, redes e ordenamentos do território. As notícias de Alvor dão conta apenas de um fio da meada. Há muitos outros problemas aqui e ali geridos pela calada ou, pior do que isso, geridos com «engenharia política» e com o «controle de impacto» na sociedade – os prevaricadores, dissimulados ou não, sabem que esta, a sociedade algarvia está dividida em comarcas de interesses, subdividindo-se as comarcas em regedorias de manha. Não são todos, oxalá até que seja uma minoria, mas há gente que opera no Algarve ostentando gloriosamente o bilhete de identidade de investidor turístico, passeando-se depois com métodos, procedimentos e objectivos próprios de invasor bárbaro. E o que vai arrepiando é que aquilo que era manifestamente bárbaro há dez anos, hoje é tolerado pela lei e enquadrado na lei.

2 – Aos bárbaros, obviamente, não lhes interessa os Algarvios, porque até desejariam um Algarve sem Algarvios, ou com o mínimo possível de Algarvios. Sem regras ou contornando as regras, os bárbaros negoceiam o Algarve retalhado fora do próprio Algarve – daí odiarem a Regionalização da qual fogem como diabo da cruz. Os resultados dessa perversa pose de conquista em que as pessoas não contam e que em muito determinou aquilo a que seraficamente chamados de Política Turística, contando apenas o negócio, e com a qual alguns algarvios têm ingenuamente colaborado a bem da avença, tais resultados estão à vista e são dramáticos: o risco de pobreza pirou no Algarve entre 1955 e 2000 (dados conhecidos) de 15 por cento para 25 por cento, ainda que o PIB regional tenha aumentado – sendo este PIB o turismo (com a neve do golfe incluída) e não já a alfarroba e amêndoa ou a pesca e conserva. O risco da pobreza é um indicador fundamental do desenvolvimento e esse risco no Algarve retalha o peito. É de suspeitar que a situação tenha piorado, e muito, desde 2000 a esta parte – basta andar por entre a pobreza envergonhada ou que por aí se esconde até ao último momento de dignidade possível. Nenhum bárbaro, dos muitos que temos, se envergonha disso, como comprovam algumas esmolas que dão.

Carlos Albino

Flagrante advertência: As represálias de professores sem escrúpulos sobre professores escrupulosos, estão a exceder as marcas… Algum dia, isto virá ao de cima.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

SMS 232. Exemplo. Continuem porque fazem falta

18 Outubro 2007

Definem-se como «uma equipa multidisciplinar que pretende intervir na sociedade algarvia, quer pela via da opinião escrita, quer pela realização de estudos e debates, mesas redondas e outros eventos que permitam reunir ideias e gerar massa crítica numa região com carência de interventores e de agitadores de opinião». E por isso têm porfiado, aqui e ali, desde 2001 até agora, sob a designação de Vialgarve – há seis anos, portanto, que se esforçam por rasgar no arenoso chão mental algarvio aquilo a que Sérgio chamava as Avenidas Largas da Crítica – a sua carta de princípios está muito próxima dos preceitos sergianos, e, com esta, já estarei a meter-me onde não sou chamado. As suas ideias e propostas têm já título de residência permanente nos arquivos de vários jornais e, avaliando bem o acervo, os que têm transportado a olímpica chama da Vialgarve merecem-me profundo respeito – são um exemplo, continuem porque fazem falta. Não conheço ninguém do grupo, nem é preciso, mas é como se os conhecesse de sempre – os que amam o Algarve são todos primos à distância.

Carlos Albino


Flagrante despiste: Se para requalificar a 125 não for promovido um debate público regional que não é o mesmo que somatório de duvidosas ideias de dubitativa meia dúzia de autarcas que raramente têm uma dúvida.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

SMS 231. A começar por este equívoco…

11 Outubro 2007

A propósito de deputadas e deputados do Algarve, o que mais se ouve dizer é que «representam o Algarve e não fazem nada», também que «falam do Algarve porque os seus estão no poder», ou ainda que «só agora falam porque estão na oposição» … É claro que sempre há um ou dois representantes que lá fazem requerimentos, perguntas a ministros, enfim, sempre é um ar de «representação da região», muito embora o interesse principal seja o de que jornais e rádios da redondeza dêem conta de que «o deputado algarvio requereu» ou que «a deputada algarvia perguntou», o que não deixa de ser uma prova política de vida que faz bem de vez em quando fazer, caso a política seja uma espécie de pensão. Para esta mesma prova, não todos mas alguns, preferem publicar artigos de tese ou de antítese, ou então «visitas ao local». E não se sai daqui porque há um tremendo equívoco, melhor, há uma cultura política de equívocos que leva ingénuos a considerar cada deputado ou deputada como voz da região, impulso ingénuo esse que se compreende porque o Algarve não tem voz política e bem dela precisaria.

E porquê?

É evidente que os deputados, por força do seu estatuto, logo à cabeça «representam todo o País, e não os círculos por que são eleitos.» O estatuto, ao explicitar que não representam o círculo que os elegeu, diz tudo. E os deputados falam do círculo ou das coisas do círculo é porque o partido tolera isso ou isso lhe convém, conforme as circunstâncias. O resto é conversa sendo raros os que se atrevem a pôr em risco a reeleição pelo círculo que acabam por não representar ou por não poder representar por força do estatuto, ainda que contraditoriamente o mesmo estatuto obrigue os mesmos deputados ao dever de «assegurar o indispensável contacto com os eleitores». Esta estranha indispensabilidade tem muito a ver com o equívoco.

Daí que tenha de ser um retirado de São Bento, Luís Filipe Madeira, em declarações ao semanário Sol (Helena Pereira, 5/Outubro) a dizer em letra grada que não viu «passos em frente no sentido da descentralização» e que «existem é órgãos desconcentrados que são governados pelo telefone». Algum deputado do PS ou que o círculo elegeu pelo PS seria capaz de dizer isto? Se calhar, será o próprio PS do Algarve que está a ser governado pelo telefone. Continuem assim que vão bem e longe, porque, sob outra forma e sofisticação, repetem-se os erros dos políticos algarvios da I República e que foram erros dos políticos algarvios e não tanto da I República.

Carlos Albino

Flagrante comparação: A política algarvia está para a música clássica assim como a filarmónica de Paderne está para Orquestra do Algarve.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

SMS 230. Pires de Lima, a Isabel

4 Outubro 2007

Na entrevista ao Expresso (Nuno Saraiva, 29/Setembro), a ministra da Cultura anuncia a requalificação da Fortaleza de Sagres. Isabel Pires de Lima mais não diz, mas o propósito da requalificação já é um bom sinal.

Na verdade, tal como ficou das últimas intervenções impostas, Sagres resultou numa vergonha, em cinco atropelos e em sete insultos, em que manifestações secundárias de adolescência arquitectónica e visões corporativistas do passado se cruzaram ou casaram com comunhão de adquiridos. Assim, é oportuno perguntar-se o que vai significar essa requalificação da Fortaleza anunciada pela ministra. Significa isso demolir o que deve ser demolido, refazer o que deve ser refeito, procurar o que está escondido e acautelar o que se vê à vista desarmada? Significa isso abrir de novo uma discussão pública serena e crítica sobre o dossier de Sagres, no que tem de património e de simbólica acumulada desde insondável antiguidade? Requalificar o quê, como, para quê e com quem? São perguntas que ficam no ar, mas só o facto de as perguntas voltarem a ser feitas dá mérito à ministra – discutir Sagres e tentar decifrar os muitos enigmas do Promontório é deveras um imperativo que Isabel Pires de Lima actualiza, a nosso ver com justificada nobreza, na agenda da política de Cultura.

É claro que, à partida, deveria ser elaborado um livro branco sobre o Promontório Sacro sem lendas, recuperando-se, entre o mais, todo o trabalho da comissão liderada por Romero de Magalhães, a propósito da gesta gorada da candidatura a património mundial. Embora com perdas irreparáveis, há tempo para recolocar a dignidade em Sagres. Ironiza Nuno Saraiva que «Pires de Lima bem podia ter como cognome Isabel, a ambiciosa». Se a ambição da ministra for a de retirar Sagres da lista de enxertos, então que se reconheça o legítimo direito ao cognome, pois há muito a requalificar politicamente no Algarve da Cultura ou na Cultura do Algarve, como se queira.

Carlos Albino

Flagrante falta de espaço: Para se falar da
magnífica obra arquitectónica de Gonçalo Vargas, na ilha da Deserta/Barreta, 24 páginas seriam poucas mas duas linhas bastam para chamar a atenção.