quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SMS 498. A crise dos que estão em crise


31 janeiro 2013

É nos momentos de crise que muita coisa devia estar mais forte e com mais vida do que nos momentos de vacas gordas quando muita força e muita vida é força e vida à custa de subsídios, subvenções, esquemas, parcerias de conveniência e tudo o que se foi vendo, não por virtualidade própria. A escola, do básico à universidade, devia estar a dar respostas e não apenas a fazer perguntas; os jornais deviam ser procurados e não encostados ao muro das lamentações; os sindicatos deviam prestar orientações mesmo sem serem procurados e não à espera do comando central para a próxima jornada; as associações empresariais deviam mobilizar-se para o investimento próprio dos congregados ou captado em parcerias sérias e projetos sérios em vez de carpirem o fim dos negócios fáceis com voos rasantes pelos paraísos fiscais como segredo de ofício; os da segurança deviam pensar mais na defesa dos inseguros, no apoio ativo aos indefesos e na prevenção do que é previsível do que andarem por aí na obsessiva caça à multa e nas manifestações de combate ao crime depois do crime ter sido cometido; o voluntariado devia surgir diariamente como resposta onde o Estado não responde porque não quer ou não pode; a noção, mentalidade de região devia estar na cabeça das pessoas, nos propósitos das autarquias e na ponta da língua dos líderes políticos que se reclamam paradoxalmente como líderes regionais; e por aí fora, não se deixando de dizer que a sociedade devia mostrar e ter canais de solidariedade permanente, atenta e eficaz para as tragédias que se sabem ser quotidianas e já de rotina para um imenso número de envergonhados que sofrem pela calada porta sim, porta não, além de que deviam mostrar debate de ideias, debate sobre caminhos a seguir e soluções a encontrar, debate combativo e não tanto combate de pasmaceira ou permanente luta acesa pela qual tantos desperdiçam a alma. E quando não há isso, é sinal de que há uma crise mais profunda do que a crise de não haver vacas gordas. É uma crise estrutural que não se disfarça por mais festas que se promovam, por mais festivais que animem a aldeia, por mais peregrinações a Fátima em que as juntas de freguesia se comprometam.  É claro que não se nega há, aqui e além, debate, solidariedade, uma ou outra ideia de projeto, um ou outro empresário com resposta, uma ou outra escola ativa, como também não se nega que há voluntários quando há enxurrada. Mas são casos isolados ainda que emblemáticos. Falta Algarve no Algarve, há muito quintal, há muito ego a querer fazer figura de proa. E essa é que é a pior crise dos que estão em crise porque não se resolve por decreto, nem a solução nasce de um dia para o outro.

Carlos Albino
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    Flagrante pergunta: Não foi VEXA, senhor presidente da Comissão Europeia que quando era primeiro-ministro prometeu uma linha de alta velocidade Faro-Huelva e até mostrou o mapa?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

SMS 497. O reino do eleitor

24 janeiro 2013

Esta crise é uma oportunidade para os eleitores afirmarem a sua responsabilidade na escolha dos poderes. É nas horas difíceis que se conhecem os amigos, não é? Nas anteriores eleições autárquicas, em todas elas, os eleitores bem tiveram mil desculpas para, em algum momento, justificarem que se enganaram. Agora não será assim. Os eleitores, do mais letrado devido às toneladas de livros que meteram na cabeça até ao perfeito e já vulgar licenciado em telenovelas, futebol e Correio da Manhã, agora, se são enganados é porque querem, ou porque têm interesse no engano, porque será difícil haver distraídos. Não há desculpas para uma irresponsabilidade naqueles dois ou três minutos que se gastam no voto. Nas anteriores eleições locais, é muito provável que muitos, endossados por partidos ganhadores, tivessem sido eleitos apenas porque granjearam a fama de bons organizadores de festas e peregrinações, ou então porque beneficiaram de campanhas faustosas financiadas pela imobiliária desde o porta-chaves até à avioneta com faixas nos ares para influenciar o pacóvio, ou ainda porque, como se diz, estavam ou pareciam estar por dentro das coisas, ou seja, inspiravam aquela confiança de quem se mexe bem em Lisboa a benefício da terra. Claro que outros não. Outros, até independentemente dos partidos, foram eleitos pela competência e saber, pela honestidade e probidade, pelo bom coração e por serem gente de palavra. É por isso mesmo que se lamenta que, por força da lei de limitação de mandatos, alguns bons autarcas tenham que ficar fora da carruagem para serem rendidos não se sabe por quem. E não se sabe porque, nestas eleições de horas difíceis, mais do que nunca, o reino é do eleitor.

Daí que, em momento de grande renovação no poder local, os candidatos tenham a obrigação de serem verdadeiros e que sobre o seu passado não cometam omissões. Não basta a fotografia, o slogan, o discurso empolgado do comício a mostrar proa e três ou quatro ideias para exacerbar o bairrismo num mega-jantar de feijão com massa. É preciso que sejam verdadeiros no currículo profissional e académico, que nada omitam sobre os interesses que eventualmente os movem, e, além disso, que esclareçam as dúvidas se dúvidas existirem. Que digam por completo onde trabalharam, por onde andaram, se avançaram passos por mérito, que provas podem exibir para a experiência requerida. Sobretudo se são capazes de serem amigos nas horas difíceis. A democracia fez-se para isso, não se fez para aldrabões sorridentes. Daí a responsabilidade do eleitor porque a democracia é o seu reino.

Carlos Albino
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    Flagrante regabofe publicitário: Agora, as agências funerárias para além de encherem as paredes de fotocópias com os mortos tal como os circos fazem, já publicitam também as missas de 7.º dia, as missas do 30.º dia e até as missas do 1.º aniversário do morto como morto. Em vez dos normais anúncios nos jornais é o regabofe e, pelo que se diz, bem pago para o que é. Que Deus lhes perdoe a intromissão nas sacristias.   

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

SMS 496. E não foi sempre assim?

17 janeiro 2013

Cinco histórias
do dia-a-dia:

1 – O alemão por equivalência. O  homem discursava no lugar popular de frutas e legumes como o dedo em riste para a dona preocupada com o novo regime de faturação: “Tem que ser! Estamos na União Europeia e isso tem que ser! Como sabe sou alemão! Portugal não produz nada, ninguém quer trabalhar! Lá minha terra não é nada disto. Aqui, o pagode vive acima das suas possibilidades, é só auto-estradas, é só feriados… Não sabe que temos de lutar contra a economia paralela?”  Foi então que decidi cortar-lhe as vazas  com uma comparaçõeszitas entre Portugal e a Alemanha em matéria de adoção de normas europeias, de autoes-estradas, de feriados. Enrolou o estoijo e depois de ter saído, alguém no lugar comentou: “O que este me saiu! Lá por ter nascido na Alemanha, filho de emigrantes e que anda por aí sem fazer nada a viver dos rendimentos do pai, diz-se agora alemão para pregar sermões…”

2 – Educadoras. São educadoras infantis no jardim-escola e todos os dias estacionam as careros em cima do passeio a dar para uma passadeira de peões. Alguém lhes chamou a atenção e mesmo à frente da criançada, guinchou uma: “Você é da GNR?”

3 – Mortos privativos. Como se sabe, as funerárias em vez de anunciarem nos jornais da terra, andam por aí a colar pelos cantos fotocópias com os falecimentos e até para as missas de sétimo dia. Algumas até têm placares privativos que são verdadeiros jornais de parede como na China. Uma noite destas, vi um funcionário de3 uma dessas funerárias arrancar as fotocópias de uma funerária concorrente…

4 – Inglês acima da lei. Presta serviços de construção, tem um camião, vive à beira de uma estreita estrada municipal mas bastante movimentada, entre curva a 15 metros e uma contra-curva a outros 15. Tem um parque para estacionar o veículo, mas qual coisa! Estaciona na berma da estrada ocupando parte desta, a qualquer hora do dia ou da noite. Por essa estrada, pelo que já observei, passam regularmente veículos da GNR, não sei de em serviço de patrulha, se em alternativa de táxi, mas passam e fazem vista grossa. Até que um dia se dê por ali um desastre fatal. Nas quem vai falar com um iuglês acima da lei?

 5 – Alemã de bom feitio. Não sei o que fez nem o que faz, vive numa pequena casa rural à beira de um caminho municipal, a portada dá para uma lomba onde a circulação está limitada aos 40 à hora mas por onde grande parte dos vão sem visibilidade dos que vêm, passa a 100, 120, quando não mais. Pois a senhora alemã, para não ter o trabalho de abrir a portada, faz do caminho e da lomba o seu parque de estacionamento. Alguém lhe chamou a atenção e a receção foi a sete pedras. Se todos os alemães tiverem este fetio, estamos feitos.

Carlos Albino
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    Flagrante falta de prémio: Nada, ninguém no horizonte algarvio a quem, pudesse ser atribuído o Prémio SMS de Jornalismo 2012. Segundo o júri, isto vai de mal a pior, tanto que apenas se justificaria um prémio de anti-jornalismo àquela reportagem da televisão sobre a criança de Quarteira.   

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

SMS 495. Vamos a votos

10 janeiro 2011

Vão ser quatro anos de eleições seguidas, como se sabe. A abrir o ciclo, aí temos, em outubro, as eleições autárquicas que, no Algarve, por este ou aquele motivo, vão ditar uma extensa reformulação na galeria dos líderes locais. No próximo ano, 2014, são as eleições para o Parlamento Europeu que, independentemente das sinecuras e dos bónus a figuras dos partidos, costumam funcionar como barómetro interno. Depois, em 2015, o primeiro de dois pratos fortes, as eleições legislativas, se nada ocorrer que as antecipe, o que é improvável. E finalmente, em 2016, o segundo prato forte, com as eleições presidenciais a marcarem a entrada do retrato de Cavaco Silva para a galeria dos antigos presidentes. Portanto, vão ser quatro anos em que os partidos, mais do que nunca e que por vezes se esquecem, precisam dos eleitores que são também contribuintes e que, além disso e também mais do que nunca, sentem na pele a maior ou menor seriedade do Estado e têm gravada na memória a comparação entre as promessas feitas e garantias dadas em eleições anteriores e os factos. Um eleitor isolado pode ser enganado e um contribuinte solitário pode ser iludido, mas o conjunto do eleitorado, como está provado, tem uma sabedoria tal que até determina as sondagens, tal como o conjunto dos contribuintes tem uma tal perceção das coisas que, mais dia menos dia, até determina a desgraça dos aldrabões de Estado que, à semelhança da criação divina, são aqueles anjos que deram em diabos.

Para as próximas autárquicas de outubro, no Algarve, salvo este ou aquele caso mais bicudo, estão mais ou menos completadas as nomeações dos partidos. Uns sabem que podem ganhar, outros sabem que farão apenas figura de corpo presente o que não deixará de ser um abnegado sacrifício, outros ainda outra expetativa não têm do que dar nas vistas o melhor possível, mas todos fazem parte deste jogo democrático em que os eleitores que são também contribuintes, têm a palavra decisiva, apesar de um ou outro enganado e de este ou aquele ludibriado. Não é um jogo que instale na terra o paraíso, mas é o melhor jogo humano possível desde que os candidatos, começando por parecerem anjos e arcanjos, não acabem por se revelar uns verdadeiros em diabos.

Ora, para se evitar em grande parte essa metamorfose de que o inferno está cheio, é importante que cada candidato, designadamente às funções de presidente de câmara, diga em verdade aos eleitores e contribuintes o que fez, o que estudou sem equivalências da macaca, que experiência tem, quais os interesses a que está ligado, onde trabalhou, se tem processos arquivados por conveniência das partes, enfim, que dê as mínimas garantias de não ser ou não ter sido aldrabão sorridente de Estado – o currículo completo e não amputado. Depois disso, vamos a votos, haja vida, saúde e paciência.

Carlos Albino
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    Flagrante coincidência: Neste ano de 2013, o número da paragem à porta do Cemitério da chamada Linha Amarela dos transportes urbanos de Loulé, é precisamente 13, além de ser amarela.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

SMS 494. Grande incerteza, enorme desconfiança

3 janeiro 2013

Todos gostaríamos que as palavras fossem outras mas não vale a pena pintar a manta: este ano de 2013 vai ser de grande incerteza e enorme desconfiança. Incerteza porque o compromisso do poder eleito com os eleitores deixou de ser um valor respeitável como ficou comprovado em 2012 e que já vinha de trás, cada um culpando o anterior para se desculpabilizar e sacudir a água do capote. Desconfiança porque os escândalos, quer os financeiros, quer os comportamentais, quer ainda os de incompetência, tornaram-se numa coisa normal e banal – factos ficam por explicar com uma justiça presa a formalidades eternas e fintada pelas lacunas das leis, responsabilidades ficam por apurar com os magistérios de influência a trabalharem afanosamente para salvar os compadres, e depois, o silêncio dos que deviam ser exemplos de moralidade pública e garantes da seriedade do Estado mas que, apanhados com uma perna de fora, usam e abusam da tolerância e do respeito que o cidadão comum nutre pelas instituições. E ainda há os que, sendo esbanjadores reconhecidos, populistas refinados e demagogos para quem a democracia é já burro velho, ainda há esses que, até à exaustão, julgando que convencem um povo atónito, repetem esse refrão de que vivemos acima das nossas possibilidades como se todos tivéssemos sido uns esbanjadores, como se fosse esse povo atónito a ocultar as causas da crise, e como se fossem os eleitores de boa a fé que dissimularam os motivos da confusão que grassa de alto a baixo no Estado e o colocou na dependência externa e à beira da miséria interna, Na verdade, neste anos todos que passaram com grandes certezas e enormíssima confiança, o que aconteceu é que elegemos gente que estava muito abaixo das capacidades que diziam possuir, gente sem fio de prumo moral, gente jogadora, gente manhosa que fez da manha a arte da política. É importante que se diga a esses que não foi o cidadão comum que viveu acima das suas possibilidades, mas sim que quem foi por ele eleito agiu e decidiu muito abaixo das capacidades que todos acreditámos terem. Não se pode fazer uma geração de um dia para o outro e certamente por bastante tempo, designadamente em 2013, teremos de suportar uma geração que errou, que não reconhece o erro e insiste no erro. O cidadão comum, eleitor de boa fé, só tem culpa numa coisa – ter escolhido mal ou ter escolhido também por não ter havido muito por onde escolher. Possivelmente, nas próximas eleições autárquicas, é isso que também irá acontecer. Oxalá que não.

Carlos Albino
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    Flagrante agricultura: Como há muito não se via, terras e terras arroteadas para sementeiras, muitas árvores novas plantadas para dar frutos e, portanto, ainda algum ânimo na serra e algum empenho no barrocal. Vamos ver no que dá.