quinta-feira, 26 de junho de 2003

SMS O7 - Líderes algarvios?

26 Junho 2003

Não é líder quem quer, mas sim quem tenha uma ideia salvadora ou que, para esse golpe de asa, conte com o apoio de um escol ou uma elite de pensamento, e, sobretudo, quem nas coisas sérias não faça rir. Pelo cimo dos partidos no Algarve temos visto desfilar ora uma gente cinzenta que é a cor do oportunismo, ora, com mais continuidade, uns apenas funcionários da política, zelosos mas criptogâmicos*, ora ainda – fugazmente como os cometas - uns indivíduos para quem a liderança não passará da pura afirmação do seu ego desde o Guadiana até ao Promontório de Sagres passando pelo Coiro da Burra. Daí que, por muito que nos custe, o Algarve não tem uma estratégia assumida e mobilizadora (depende das tácticas, como o turismo, por exemplo) porque também não tem elites de pensamento, não tem escol e não tem líderanças e líderes a sério. Tomar-se consciência disto já é bom começo para um futuro diferente. O que requer a humildade de que cinzentos, funcionários e cometas estão desprovidos.

* Incapazes de criar

Carlos Albino

quinta-feira, 19 de junho de 2003

SMS 06 - Portas do Céu, bonito

19 Junho 2003

Há em Loulé um peculiar parlamento. Encontram-se todas as sextas-feiras, à hora do almoço, vai para a casa dos 20 anos, à volta de uma enorme mesa redonda, armada para o efeito, nas Portas do Céu, nome da história local com origem inconfundivelmente judaica. Não é um grupo fechado, senta-se quem quer ouvir, falar e sobretudo ver. Há gente de todos os partidos, gente sem partido e até gente contra partidos. Discutem tudo, desde as questões nacionais às internacionais e, claro, os temas quentes «da terra». Quase sempre há um convidado especial, pessoa de referência. Tudo começa às 13 horas mas às 14 e 30, a mesa volta a ser desarmada. Uns chamam-lhe «grupo de pressão», outros, os que preferem andar no mar alto sem fundo, chamar-lhes-ão «línguas do mundo». Na verdade, são apenas gente serena e, diga-se para registo, gente com elevado sentido de cidadania. É mesmo bonito.

Carlos Albino

quinta-feira, 12 de junho de 2003

SMS 05 - Arma de destruição maciça

12 Junho 2003

Verdade. Grande empório turístico, envolvido num eterno nem ata nem desata com o «concelho mais rico do Algarve», a propósito de um dos habituais contenciosos entre apetites imobiliários e legalidade, dirigiu-se a uma das principais bancas de advocacia em Lisboa (com nomes eticamente sonantes da deontologia dos advogados) sabem para quê? Para a elaboração de um parecer sobre como contornar a legalidade que a autarquia teimava impôr e bem segundo parece. Ao que se chegou! Saber de leis e de direito já não serve apenas para fazer valer a Legalidade e realizar a Justiça, mas também para concretizar com êxito a ilegalidade. Chama-se a isto contribuir para o Estado de Direito, não é? As autarquias onde impera a rectidão (escasseiam mas existem ainda, acreditemos) seguramente têm que ter mais e melhores instrumentos de defesa. E digamos frontalmente que o saber contornar a legalidade tem sido no Algarve uma arma de destruição maciça.

Carlos Albino

quinta-feira, 5 de junho de 2003

SMS 04 - Os quatro modelos

5 Junho 2003

Pois que modelos no Algarve de 2003? À cabeça, Tavira. Macário Correia, pacientemente, com rigor, tornou Tavira numa cidade linda, sem inciativas pirosas, sem o folclore lambujado que se diz popular mas que é sordidamente contra o povo. Alcoutim, depois. Médico que teima (e bem) em ser dos primeiros românticos no Algarve do século XXI, Francisco Amaral é uma campanha de saúde e tirou muitas cataratas àquela esquecida parte do Guadiana. Quem não veja bem, mesmo sem óculos, não hesitará em ver um modelo na praia fluvial que é milagre no pauperrimo nordeste algarvio. Seguidamente, Olhão. Francisco Leal, cultivador nato da seriedade, colocou Olhão nos antípodas de Felgueiras (há muita Fátima aqui por perto), tirou-lhe o mau cheiro, fez da cidade um magnífico sítio para viver. E há ainda Vila do Bispo. A batalha de Gilberto Viegas pela classificação de Sagres como património mundial da UNESCO, porque tem razões de sobra para isso, cai deveras no goto. Honra aos que fazem bem.

Carlos Albino