quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

SMS 190. Apenas 12 coisas das 287 que ajudam a justificar a vida

28 Dezembro 2006

Bem contadas, há 287 coisas simples que apenas poderei fazer ou encontrar no Algarve como um dos lugares do mundo que justificam a vida, mas por ora destaco apenas 12:

1 – Dar uma volta completa à Doca de Faro, quando a maré está cheia.
2 – Oferecer aos amigos uns bolinhos de amêndoa da Ti Marquinhas de São Brás.
3 – Beber um copo de vinho da Nave do Barão que vale mais que 100 verdades.
4 – Subir e descer as ruelas de Ferragudo.
5 – Parar frente ao mar de Quarteira que é o único livro de água que a Terra tem.
6 – Aqueles mariscos de Olhão.
7 – Sentar-me, recolhido comigo mesmo, na Sé de Silves.
8 – Fazer um pedido à Mãe Soberana, mesmo sem acreditar.
9 – Armar um presépio com pedras da Ribeira da Tôr.
10 – Sentir de perto séculos, possivelmente milénios, pondo-me a pensar perante o grande relógio solar de Sagres.
11 – Uma ida e volta pela ponte de madeira da Quinta do Lago rente às águas da Ria Formosa.
12 – Andar ao acaso pelos caminhos rurais de Alcoutim e sentir a noção de paz.

Carlos Albino

Flagrante contraste: Uma ceia de Natal, e, logo nas segunda-feira, uma funcionária de hiper-mercado, confidenciar-me que, no dia 23, alguém tinha ido lá comer uma lata de comida de gato.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

SMS 189. Macário começou pelo telhado

21 Dezembro 2006

Para nada serviram reparos e observações feitas com enorme cortesia – Macário levou até ao fim a sua ideia de um hino com letra saída de um concurso público e música de encomenda, o que não está em causa no que politicamente importa. O que está em causa é, mais uma vez, começar-se a obra pelo telhado – um hino, mesmo que a letra seja mais genial do que o samba numa nota só, e, glosando o outro, esteja a cantoria para a consciência colectiva assim como a música clássica está para a música militar, um hino não gera símbolos, ele tem que ser antes de tudo um símbolo, o símbolo, tem que possuir uma carga simbólica que não se obtém por decreto, muito menos por concurso público e jamais por teimosia política. Por outras palavras, é o símbolo que gera o hino e não o contrário, mas Macário, à falta de um discurso político galvanizador, distanciado e sobretudo sábio, insistiu, e, quanto a isto, Apolinário tem toda a razão ao classificar a iniciativa do hino como uma acção «forçada» e «inconsequente». E disse pouco, porque a iniciativa pisa o risco do provincianismo e do ridículo. Pisa o risco, não – um hino do Algarve, tal como Algarve está e é, sem alicerces de Região e sem pedra angular que legitime alguma autonomia, é uma manifestação de ridículo provincianismo. Claro que todo o provincianismo é inofensivo, mas torna-se ridículo quando insiste em começar a obra pelo telhado. Para brincadeira, bastou o MIA, que até teve piada.

Carlos Albino

Flagrante contraste: Tanta e tão rica inteligência

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

SMS 188. Um personagem e um intérprete

14 Dezembro 2006

Quer se queira ou não, ou por mais que alguns desejem outra coisa, o Algarve político está praticamente reduzido ao PS e ao PSD, porquanto o PCP é um colectivo de marcar presença com a honra de alguns bons argumentos gerais, o CDS, após uns fogachos de enriquecimento eleitoral sem justa causa, deixou oxidar a prata da casa, e quanto ao Bloco, este parece que bloqueou. Mas, além do Algarve político estar reduzido ao PS e ao PSD, acontece que o PS, proporcional e convenientemente, reduzido está ao nome de Miguel Freitas com tudo o mais acomodado, e o PSD, cabalmente com os resultados da reeleição, é sinónimo de Mendes Bota com o resto entre parênteses. Todavia, a personagem do PS instalou-se em Bruxelas, e o intérprete do PSD acabou de afirmar que já comeu «o pão que o diabo amassou» mas que está «em plena travessia de um deserto eleitoral», o que vai dar na mesma.

Nas bancadas parlamentares, os deputados algarvios ficaram-se pela ponte de Alcoutim que não existe e a que ninguém do poder de Lisboa ligou; a Associação de Municípios não perdeu, e está longe de perder, o ar de grémio ou de refém das cortesias políticas; a Junta Metropolitana tem letra mas não tem música – foi outro engano, traumático engano; as delegações regionais de ministérios estão confortavelmente sentadas (algumas ducalmente, eximindo-se ao escrutínio público) nos sofás da maioria absoluta, e a única instituição restante das veleidades da regionalização, a RTA, vai ser convertida em agência, como já era.

E pelas bandas da intervenção cívica não partidária, a tal sociedade civil, não há nada politicamente de relevo, até porque os ecologistas já encontraram todos os linces e todos os bufos reais. Essa sociedade civil troca o jeep pelo último modelo, decide tecnicamente pelos presidentes de câmaras, vende moradias, algumas excepções por bom tom fazem-se amigas do Teatro das Figuras, e, claro, amassam o pão em nome do diabo, telefonam para Bruxelas e fazem de alegres dromedários nesta estafante mas também divertida travessia .

Ou seja: o Algarve tem todas as condições para que um populista manhoso ou um manhoso que não abra a boca, tenham êxito. Obrigado, oh Democracia que nos desenvolveste até este ponto!

Carlos Albino

Flagrante contraste: Com os que se perfilam para a Agência de Turismo do Algarve e com tanta falta que isso faz, não haver um referendo sobre a Interrupção Voluntária da Sensatez.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

SMS 187. Silves. Quem diria!

7 Dezembro 2006

António Carneiro Jacinto assumiu publicamente querer candidatar-se à Câmara de Silves, depois da sua prestação, por muitos questionável, como adjunto de dois ministros dos Negócios Estrangeiros. E fez o anúncio declarando que não conta com apoios partidários, sendo estranho que o PS não lhe dê suporte à partida, e que a condição dos elementos para a sua equipa de trabalho é a de que sejam «menores de 45 anos», fasquia de que ele próprio se exclui, porquanto Carneiro Jacinto tem 55 anos (nasceu em Lisboa, a 7 de Setembro de 1951). Portanto, quem em Silves já tiver 45 anos e dois dias, por mais competência e seriedade que se lhe reconheça, que tire os cavalinhos da chuva - tivessem nascido dois dias antes.

Mas, para além do cabal esclarecimento de um antigo episódio fatal de Belém, e da justificação que Carneiro Jacinto possa dar para o facto de ter conseguido receber salários e abonos de Conselheiro na Embaixada em Paris trabalhando em Lisboa como adjunto nas Necessidades, até poderemos considerar que António Carneiro Jacinto (se, o que atrás se referiu, fosse esclarecido ponto a ponto) teria um bom perfil para Silves se conseguisse dissipar duas dúvidas.

Primeira das dúvidas, sobre as suas habilitações - Segundo o que no Anuário Diplomático se declara, António Carneiro Jacinto é «licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito de Lisboa» e como licenciado se deixou oficialmente tratar desde Guterres a Freitas do Amaral. É mesmo licenciado?

E segunda dúvida, sobre a sua conversão ao Algarve - Carneiro Jacinto foi convidado, há largos meses, para se integrar como sócio na Casa do Algarve em Lisboa, mas recusou evadindo-se em reservas. Porquê este inesperado amor, agora, por Silves e Algarve de que Silves - desculpem os de Faro e Portimão - é o inegável e que deveria ser o palpitante coração histórico? Apenas agora e porquê?

Carlos Albino

Flagrante contraste: Em terra de turismo, continuar a não estar disponível o directório oficial dos cônsules honorários no Algarve, nos portais do Governo Civil, RTA e AMAL. Com todos os nomes, sem excepção.