Claro que cada
partido organiza festas, grandes ou pequenas, de expressão nacional ou de
interesse meramente local, onde, quando e com quem muito bem entender. O certo
é que, à maneira das religiões, os grandes partidos também têm, cada um, a sua
santa festividade anual e o verão proporciona às mil maravilhas que o padroeiro da circunstância apareça a céu aberto,
sendo verdade que foi o PSD a iniciar essa tradição no já longínquo ano de
1976, num pinhal próximo do aeroporto de Faro, local cujo nome – Pontal –
haveria de carimbar a festa para todo o sempre, vá ela para onde for. Em 2005,
o Pontal foi já na doca de Faro e em 2006 transferiu-se para o Calçadão de
Quarteira, continuando Pontal. É um símbolo desse partido e à exceção de
Manuela Ferreira Leite ausente em 2009, todos os líderes foram afinando os seus
discursos de poder ou de oposição para o almejado Pontal, inspirados pelo
impulso inicial de Francisco Sá Carneiro, com a garantia de títulos de primeira
página e presenças de rádios e televisões. E foi assim que vimos desfilar
bronzeados Pinto Balsemão, Cavaco Silva, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de
Sousa, Luís Filipe Meneses, Marques Mendes e, já em 2010, Pedro Passos Coelho
quando ainda prometia muito na oposição sabendo então o mesmo que, no poder,
hoje sabe, ou não tivesse dito à época que estava pronto a governar com o FMI.
Mas, enfim, foram festas a céu aberto, mesmo sem o pinhal que deu origem e
nome.
No próximo dia 14, o
Pontal deixa esse céu aberto e muda-se para edifício coberto, o Aquashow de
Quarteira, alegadamente por “redução de custos e facilidades logísticas”. A
festa deixa portanto a praça pública e entra para ambiente fechado, com lugares
marcados, entradas controladas, ar condicionado e tudo debaixo de olho. Como se
disse no início cada partido organiza as suas festas onde, quando e com quem
muito bem entender, mas um Pontal assim, visto de fora, não deixa de sugerir um
clima de “claustrofobia democrática” como diria Paulo Rangel, ou seja, o medo
da praça pública, contrariamente ao que o PSD habituou o país desde esse 1976,
naquele tal pinhal, onde, segundo se conta, um comunista assumido, presente na
festa, se dirigiu a Sá Carneiro com um copo de vinho na mão e lhe disse: “sou
comunista e vim aqui porque tenho admiração por si e por isso vou brindar à sua
saúde”. E o que fez Sá Carneiro? Tirou o copo da mão do homem e bebeu o resto
do vinho… Foi assim que o Pontal se transformou em símbolo e, por este caminho
ou por tais “facilidades logísticas”, ainda se transforma em salão de chá, com
a política fervida como folhas de tília. Medo? Medo de quê e de quem? Do vinho
que resta?
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante animação: O turismo, com a inflação da música pimba e festivais de cantores reles, não vai longe.
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