Não é falta de tema, nunca houve tanto tema, mas ocorre falar dessa
palavra generosidade em política que é coisa tão necessária ter ou dar a
entender que se possui, que não há ladrão, corrupto u calculista que se meta na
vida pública que não comece por enganar meio mundo tudo fazendo para se mostrar
homem generoso, ou, já agora, mulher generosa. Se conseguir a fama da
generosidade, o ladrão, o corrupto ou o calculista acertou na tecla e com isso
dá o primeiro passo para uma carreira paradoxalmente impoluta. Já o político
que nunca tenha roubado nem alguma vez tenha sujado as mãos com tráfico de
influências, se não tiver essa fama está desgraçado, mesmo que jure pelas
esquinas que foi sempre e será sempre generoso. Ou seja, todos, do ladrão ao
impoluto, reconhecem e sabem que em política a generosidade é uma qualidade
imprescindível mas a coisa só se complica quando a fama não corresponde aos
factos. E complica-se de tal modo que o ladrão que tenha conseguido a fama de
generoso a ponto de ninguém acreditar que não o seja mesmo que os factos digam
o contrário, esse pode continuar a roubar ou preparar-se para roubar muito mais
que cada roubo surgirá aos olhos da opinião pública como ato de generosidade. E
isto porque entre o ladrão e o impoluto há uma grande diferença: o ladrão sabe
pintar a manta e o impoluto não sabe nem quer saber que a manta tem que ser
pintada. Se houvesse espaço para desenvolver esta ideia da generosidade que em
política parece ser não sendo nada disso, até poderíamos dizer que o ladrão, na
ânsia de granjear a fama de generoso, é em tudo mais coerente que o impoluto. O
ladrão é de uma coerência extrema em mostrar-se generoso, dos pormenores ao
geral, até porque a sua generosidade não obedece a princípios. Já o impoluto é
um incoerente na matéria, acreditando em nome dos princípios que a sua
generosidade fala por si, esquecido de que a generosidade nunca fala e se
falasse ninguém acreditaria nela. Não há espaço para desenvolver a ideia, mas
ainda cabe dizer que a falta de liderança política na região ou em cada partido
da região (não confundir chefias com lideranças) tem muito a ver com falta de
generosidade dos políticos cuja fama de generosos, se é apenas fama, não os
salva. E é este o problema do Algarve. Não há generosidade e quando ela parece
que existe, não passa de mera fasquia comum aos que, por cultivada coerência,
sabem roubar, e aos que, por inadvertida incoerência, jamais querem roubar e
nunca roubaram.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante pergunta: A de Mendes Bota ao governo, sobre o prolongado encerramento da Pousada de São Brás, encerramento esse que é ais um exemplo de como o turismo no Algarve é tratado com os pés.
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