quinta-feira, 17 de setembro de 2015

SMS 632. Como Toledo no século XVI

17 setembro 2015

Ocorreu-me, há dias, pensar na sorte de Toledo, antiga capital de Castela a par de Saragoça, capital de Aragão, resultando desta bicefalia a emergência de Valladolid como capital antes de Sevilha, até que Madrid capital ficou. Os de Toledo assistiram a esses saltos da corte espanhola e, conformados, aceitavam e diziam no século XVI que a sua cidade era “ um lugar com um passado ilustre, um próspero presente e um futuro incerto"...

Salvas as devidas proporções, o Algarve está nessas condições de um passado ilustre (embora tenha perdido 85 por cento da sua memória), um próspero presente (embora 65 por cento não esteja nas suas mãos, 20 por cento nas mãos de filipes e 15 por cento ao deus dará das disputas de hegemonias locais que se anulam).

O Algarve parece ter essa sorte traçada. Vê as cortes andarem de um lado para o outro, e conforma-se com o passado ilustre. Assiste ao despejo de números redondos e convence-se de que o presente é próspero. Mas do que fica do nomadismo das cortes e do despejo dos números, é rigorosamente um futuro incerto. Incerto para o Algarve como Algarve, do Algarve como cidade imensa que é mas que filipes, esquecidos, e gestores do acaso apenas vêem como somatório de aldeamentos, cada qual até se esgotar, valendo cada vez menos nas trocas sucessivas.

Neste cenário, do qual está ausente escrutínio sério, objetivo e rigoroso, mas entulhado de promessas, descrições de projetos ornados de linguagem técnica e sugestões políticas, de planos e siglas que apontam geralmente para um século de ouro, é evidente que cada vez mais há mais pobres, há mais precariedade, há mais alheamento da população, deixando porta aberta aos profissionais da caridade que assim cortejam o Estado onde o défice de Algarve é também cada vez mais notório, com os de Toledo igualmente cada vez mais conformados e com temor.

Tenho observado que todos são “algarvios” até ao momento em que tomam as rédeas do poder local exacerbado, e que o “bom político” é o que nesse localismo que não leva a lado nenhum consegue ainda assim pintar a manta. Claro que há exceções e até boas exceções. Mas a regra é a de Toledo: futuro incerto.

Substituiu-se a voz do Algarve pela voz da corte, e paradoxalmente nunca o centralismo foi tão forte, o que não é um mal em si, convenhamos, apenas é um mal quando se torna desdenhoso e implanta o pior do centralismo, imitando-o à escala.

Carlos Albino
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Flagrante acompanhamento: Para os chamados Incentivos do Estado aos Meios de Comunicação Social Regionais e Locais (prorrogado o  prazo das candidaturas sem que, publica e claramente, se indique até quando e para quando) foi nomeada uma “comissão de acompanhamento”. Para a indicação de representantes, não se discute os critérios da Associação Portuguesa de Imprensa, nem os da inclusão confessional da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã. Mas o que é estranho é que, pela Associação Portuguesa de Radiodifusão, para coisa do Algarve e para o Algarve, tenha sido designado um elemento da rádio Diana de Évora… Será que a Total FM, a Solar, a RUA, etc., alguma rádio algarvia, vai ser nomeada para o Alentejo?

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