quinta-feira, 3 de março de 2016

SMS 656. Conversa de surdos e mudos

3 março 2016

Não as instituições que não têm boca e orelhas próprias, mas os indivíduos que estão à frente das instituições, são no Algarve useiros e vezeiros em ouvir de orelhas moucas e falar de lábios fechados. É o que, como se costuma dizer, conversa de surdos e mudos. Nos patamares do civismo e da política, os resultados desta pose que tem por pai o oportunismo e como mãe a manha, não são visíveis à vista desarmada mas produzem consequências nefastas a prazo por vezes curto, quando a mudez cívica e a surdez política dos indivíduos compromete as instituições, sejam estas quais forem, da que está na base das bases da pirâmide à que nos contempla a todos lá no pino das alturas.  Pergunta-se e não respondem. Responde-se, e fingem não ouvir. Estranha-se a surdez mantida majestaticamente a coberto das instituições, ou desconfia-se de que a mudez decorra de um poder que deu em patologia, e, quando muito sentir-se-á longinquamente uma resposta soletrada na proporção da necessidade de auto-defesa espúria, ou então, mais proximamente, uma voz de carroceiro, adequada à pressão, à chantagem e mesmo à ameaça fátua. Entre um recurso e outro, não é raro o uso da intermediação do que se costuma designar por “voz do dono”.

Esta gente alojou-se na Democracia como poderia ter-se alojado numa ditadura, porque é da sua natureza alojar-se, porque o entendimento que faz da inteligência é saber alojar-se, e a conceção que tem dos poderes públicos é a de que tais poderes são como que coisa da sua propriedade privada. Daí que tais surdos e mudos se incomodem com a crítica fundamentada, com o escrutínio desinteressado e sobretudo com o facto de haver felizmente no mundo gente com olhos e ouvidos.

É verdade que só agrada a todos aquele que não tem olhos, não tem ouvidos, não tem boca, não tem cheiro e não tem tacto. Não tem nada. Mas é maior verdade que é muito mau sinal que algum ser humano consiga viver e conviver como aquele peixe que sobrevive a cinco mil metros de profundidade, nas mais profundas fossas marítimas: sem olhos, sem pavilhão auditivo, sem língua, sem narinas e sem sensibilidade cutânea. Peixes destes nem para caldeirada servem. Estragam as instituições e fazem destas uma caldeirada que até pode repugnar.

Carlos Albino

Para bom entendedor… meia conversa basta.
_______________________
Flagrante verificação: Há muitas, muitas associações sem qualquer associativismo, mas algum, ainda algum associativismo sem qualquer associação. A subsídio-dependência explica.

Sem comentários: