quinta-feira, 8 de outubro de 2015

SMS 635Feitas as contas do 4 de outubro


8 outubro 2015

1 – A abstenção. O número de abstencionistas no Algarve não nos deixa em conforto, antes pelo contrário, esse número causa incómodo. O Algarve com 48.62% de abstenção global, muito acima da média nacional (43.07%), e com os maiores concelhos a rondar ou mesmo acima dos 50%, significa algo nos tempos que correm. Esse algo compete aos partidos decifrar, sobretudo os que descortinam pouco mais que o aparelho, os interesses e interessados no e do aparelho. Num desses concelhos, Albufeira, por exemplo, a abstenção atingiu 54.79%. Arrepia.

2 – Os resultados. Os partidos liderantes na região inverteram posições relativamente a 2011, mas de forma agora relativamente atenuada: o PS que, em 2011, obtivera 22,95%, subiu agora para 32,77% (4 deputados), e o PSD desceu dos seus 37.03% de 20011 para agora, em coligação com o CDS, se fixar nos 31.47% menos que isolado (o CDS em 2011 obtivera 12,71%. A osmose/endosmose destes partidos em coligação resultou num tombo, e só o casamento salvou a comunhão geral de bens e de adquiridos que fica nas mãos de 3 deputados. Depois, BE e PCP/PEV que, em 2011, ficaram quase ombro a ombro, também agora inverteram posições com o ombro do PCP descaído (de 8,57% para 7,19%) e o do BE bastante levantado (de 8,16% para 13,88%). Para isto, cada um dos eleitores terá a sua explicação desde o voto de castigo, ao voto de cansaço, ao voto de descrença, mas seja qual for a explicação é como que procurar uma agulha no palheiro, sendo que muita palha parecerá agulha.

3 – As conjecturas. De modo geral, se é lícito admitir que umas eleições autárquicas podem equivaler a uma avaliação do Governo central a meio mandato, também umas eleições legislativas a determinar novo governo, podem ser entendidas como avaliação das políticas locais ou autárquicas, neste momento a meios mandatos, não havendo, como se sabe, “política regional”. E analisando-se, no Algarve, os resultados de concelho a concelho deste 4 de outubro, cruzando-os com os resultados locais das legislativas de 2011 e os das autárquicas de 2013, da abstenção aos votos expressos, só quem não queira ver é que não encontrará motivos de reflexão. E no caso, aquele bicho que enterra a cabeça na areia, é o pior dos conselheiros. Partidos que obtiveram maiorias absolutas concelhias, sendo expectável que as mantivessem agora, mas as perderam, manda o bom senso que pensem a sério os seus futuros. E partidos que ganharam governanças locais identificadas com a linha maioritária no País, mas agora se viram ultrapassados por ventos contrários, também locais, manda a boa lógica que pensem a sério os seus passados. É que pior que enterrar a cabeça em areia, apesar de tudo firme se é molhada, é enterrar o corpo em areia movediça. Falo de política e de políticos. Falo dos que defendem a cidadania, a participação e a abertura à crítica de planos e projetos que implicam a sociedade ou as sociedades locais. Defendem isso, sim, mas apenas até à chegada ao poder. Depois esquecem-se, e tal esquecimento, num primeiro momento, vitima os seus próprios partidos, num segundo momento vitima os próprios esquecidos. Assim sendo, confiaria mais nas conclusões a extrair destas eleições de 4 de outubro, do que na força da propaganda futura, seja esta local em 2017, seja novamente geral, sabe Deus quando.

Carlos Albino
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Flagrante engano: Bastante gente, muita e alguma influente, por aí disse à boca cheia que não iria votar, que iria abster-se por isto ou por aquilo. Nada disso: não votaram porque não podiam votar – não estão inscritos nos cadernos eleitorais de onde residem e trabalham. Não são abstencionistas, são desenraizados por opção.

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