quinta-feira, 8 de outubro de 2015

SMS 634. Faro 2027, é quase começar do zero


1 outubro 2015

Ninguém desejará que Faro não venha a ser designada Capital Europeia da Cultura, mas terá que ter a humildade de reconhecer que tem que partir do zero. É verdade que tem algum património de valia, tem em excelente museu (obrigado, Dr.ª Dália Paulo!), mas sem livrarias, sem grande teatro, sem vida cultural de referência, com uma população genericamente desmotivada para tais fins, sem jornais próprios, sem centros de rádio e televisão que não sejam meras estâncias, e, nestas circunstâncias, com uma tradição mais hegemónica que agregadora, além da extrema dificuldade económica e financeira que explicará as lassidões e os males mas não todos, Faro terá 12 anos para recuperar muito tempo perdido mas também tempo mal administrado ou administrado longe do horizonte cultural, que é o que está em questão. Mas, convenhamos, partir do zero, por vezes é melhor.

Segundo uma ordem prevista para cada ano até 2033, cabe a Portugal e à Letónia, apresentarem candidaturas para “Capitais da Cultura”, em 2027. Pelos procedimentos estabelecidos, os programas das cidades designadas para o mesmo ano deverão ter alguma relação entre si e a decisão final em muito dependerá de um júri composto por sete altas individualidades independentes, especializadas no setor cultural (duas designadas pelo Parlamento Europeu, duas pelo Conselho, duas pela Comissão e uma pelo Comité das Regiões). O júri elabora um relatório que transmite posteriormente à Comissão Europeia, ao Parlamento Europeu e ao Conselho.

Com dois anos de antecedência, Faro já divulgou que a sua candidatura que, como todas, deverá ter como base um projeto cultural de dimensão europeia e assente fundamentalmente na cooperação cultural, vai ser apresentada oficialmente daqui a dois anos (2017), devendo o resultado ser conhecido em 2019.

Pormenor importante, a União Europeia contribui financeiramente para a "Capital Europeia da Cultura". Até 2010, esse financiamento era de 1,5 milhões de euros por capital europeia, mas, desde então, passou a ser atribuído um prémio em vez de um subsídio. Este prémio, em honra de Melina Mercouri, é atribuído o mais tardar três meses antes do início da realização das iniciativas. Além disso, podem ainda subsidiar esta realização, os fundos estruturais (através dos acordos de parceria entre a Comissão Europeia e os Estados-Membros) e os programas europeus como Erasmus+, Europa Criativa ou Europa para os Cidadãos. Este pormenor não é desprezível, desconhecendo-se, neste momento, se Faro tem concorrência nacional.

Só que, Faro, partindo do zero, tem que fazer muito até 2017, muito mais até 2019 e muitíssimo mais ainda até três meses antes de 2027, para ser deveras uma capital, além disso, europeia e, fórmula máxima, da cultura. E por mais acordos de parceria que surjam para obviar, não há cultura sem gente culta, como não a há deixando-se morrer à míngua a gente culta.

Voltaremos ao assunto.

Carlos Albino

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Flagrante inquérito: Quais seriam os resultados caso se perguntasse em Faro e arredores, que cidades são neste 2015 capitais europeias da cultura? Possivelmente só os deputados a serem eleiotos no dia 4, responderiam certo: Mons (Bélgica) e  Plzeň (República Checa).

1 comentário:

cabrita disse...

Que este lúcido apontamento se transforme na semente que rapidamente germine e multiplique o interesse de todos os agentes, não só os culturais, para que Faro e o Algarve venham a singrar no campo deste tão importante factor do nosso desenvolvimento. Nota de rodapé: No "Postal do Algarve", (on line), de 22 Setembro, no apontamento "Atalaia 3" já se aborda com objectividade um "alvo" integrador.