quinta-feira, 14 de agosto de 2014

SMS 576. Tal como a água se some na areia

14 agosto 2014

Por vezes a gente embate com um estudo criterioso, com uma pesquisa fundamentada e com uma conclusão que se devia respeitar, não como artigo de fé, mas como pista para melhoria da Sociedade, e é como se agente embatesse com um meteoro, um pedregulho à deriva e que depois do embate, à deriva continuará por esse caos das inutilidades, sem aproveitamento, submergindo na escuridão. As universidades estão cheias desses pedregulhos que resultam em mestrados e em doutoramentos em número e com temas sem fim, muitos deles que deviam fazer parte do acervo da Política e basear as decisões, planos e programas políticos, mas, desaproveitados, ficam a andar por aí às curvas desaparecendo como meteoros nos confins. Ou, tomando como metáfora, verificações mais próximas dos olhos, são como a água que se some na areia. A Universidade do Algarve também tem disso, e se a sua água se some, a culpa não será da universidade, mas da areia dos poderes, todos, dos locais aos centrais, qual deles melhor ou pior que o outro. Se a conclusão incomoda e colide, some-se.

Ora aconteceu que, andando eu por esse caos, embati com o meteoro de uma dissertação de 2011, em sede da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, precisamente com este título: “O Universo Associativo no Concelho de Loulé - Formas de interacção entre a Câmara Municipal e as suas Associações: estudo de caso”. Foi uma dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Administração e Desenvolvimento Regional, da autoria de Carina Castanheira Guerreiro, que não conheço mas que logo lhe retirei o peso da metáfora de meteoro errante, vendo que se trata de boa água, tão boa que não devia sumir-se na areia. Certamente que haverá mais estudos sérios, envolvendo o Algarve no seu todos ou nas suas partes, e sobre os mais diversos temas de elevado interesse para a Sociedade.

O trabalho é longo, 329 páginas, estou a ler atentamente, até porque 2011 não é assim tão longínquo. Vou pela metade, mas já deu para validar a conclusão enunciada à cabeça: “Os resultados confirmam as hipóteses de partida, isto é, o Associativismo Louletano está muito dependente dos subsídios atribuídos pela Câmara, subsídios que são pouco objectivos e criteriosos, existindo o risco de alguma arbitrariedade. Paradoxalmente, assiste-se a um aumento do número de associações, mas ao mesmo tempo, a uma diminuição da participação pública. Podemos concluir, pois, que na ausência de uma definição estratégica municipal, o Movimento Associativo Louletano não é parte integrante das políticas públicas locais. Esta é, afinal a característica mais relevante das políticas públicas locais de primeira geração”.

Claro que, com uma conclusão destas em 2011, a água teria que sumir-se pela areia e, hoje em 2014, a areia está seca. Para conveniência geral: dos que beneficiam do caos e dos que são beneficiados por tudo isto andar à deriva. Todavia, oportuna adversativa, parabéns Carina Castanheira Guerreiro. Mais vale tarde que nunca.

Carlos Albino
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Flagrante constatação: A Comunicação Social do Algarve, toda, das empresas a agentes devia começar por duas coisas simples: a legalidade e a transparência. Devia deixar-se das paredes-meias. Ninguém nisso sobrevive em verdade, e, sem isso, invocar a Ética é o mesmo que invocar o santo nome de Deus em vão.

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