quinta-feira, 7 de agosto de 2014

SMS 575. Orquestra do Sul, uma metamorfose

7 agosto 2014

No passado dia 2 de agosto, a Orquestra do Sul fez um ano. À mesma data, se fosse viva, a Orquestra do Algarve faria doze. Para comemorar o nascimento da segunda e o adeus à primeira, houve um concerto no Conrad Hotel, e ao que parece nenhum presidente de câmara do Algarve assistiu. Foi pena, fizeram falta. Deveriam ter estado para contemplar aquilo que a sua incompreensão levou à falência. A falência de um projeto que os seus antecessores e as forças económicas que movem o Algarve não permitiram fazer vingar em tempo útil.

Ninguém duvida da dificuldade de manter uma orquestra sinfónica digna desse nome e conceito, numa região em que os principais cultores da música clássica são os residentes estrangeiros, e os amantes nacionais, não tão escassos quanto isso, no momento de sair de casa, primam por outras escolhas. Um erário público deficitário, uma crise financeira instalada a nível nacional, e uma moda internacional de tudo desmantelar para agradar aos mercados, fizeram o resto. Demasiada adversidade contra um sonho belo. Para não se fecharem as portas e vender-se em hasta pública casacas e violinos, os responsáveis fizeram o que lhes pareceu possível ser feito – Transformaram a sinfónica numa orquestra versátil. Na noite do primeiro aniversário, passou-se da ópera ao jazz, do jazz ao fado, do fado à eletrónica, e como mostruário, foi bem sucedido. Nós ficámos a saber do que a nova orquestra é capaz, e os investidores presentes, se os havia a sério, folhearam um mostruário. O problema é que da versatilidade à metamorfose vai um breve passo.

Onde vai parar a Orquestra do Sul?

Parece que em breve irá acompanhar a fadista Gisela João, e que se seguirão outros e vários acompanhamentos. Casamentos? Jantares de ocasião? Cómicos? Danças de roda? Emanuel? Batizados? - Cuidado. Quem nos avisa nosso amigo é. A noite da celebração do primeiro aniversário foi simpática, e dói escrever estas linhas. Mas nas mesas redondas sobre as quais se serviu um magnífico jantar, muitos fizeram silêncio com receio da metamorfose. Em breve, o rebento que saiu da Orquestra do Algarve poderá não mais ser um sítio honrado para os grandes intérpretes, como no caso, felizmente, foi o trompetista Francisco López, e o barítono Job Tomé. Quando isso acontecer, nós todos seremos responsáveis. Por não nos movermos, não dizermos, não nos cotizarmos, não exigirmos, não mostrarmos que o Algarve precisa de música diferente da que se ouve nos supermercados e se escuta nos telemóveis. Confesso, na inevitabilidade da escolha destes hibridismos, eu não queria dormir sobre a almofada onde os que dirigem a Orquestra do Sul repousam a sua cabeça. Mas ficaria de mal com a minha consciência se não lembrasse que um híbrido tem de manter a natureza do seu elemento fundador intacta, de contrário, está destinado a perder-se na sua metamorfose e a morrer.

Carlos Albino
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Flagrante falta: Agora, sim. Faz falta um Congresso do Algarve, com reuniões regulares e que seja a voz plural e institucionalmente credível da Região. E não apenas uma assembleia circunstancial de boas vontades. Não se vê outra instituição que possa fazer isso, a não ser a AMAL. De outra forma, toleramos que isto se transforme numa freguesia de Évora.

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