quinta-feira, 11 de agosto de 2005

SMS 118. Muito felizes, muito.

11 Agosto 2005


O objectivo da regionalização como corolário do melhor que os regimes democráticos podem e devem propiciar, em detrimento do centralismo incontrolável no que tem de arrogância e arbítrio, pois esse objectivo desapareceu como que por milagre dos discursos oficiais, escapuliu-se do debate público e da boca dos políticos profissionais. Bastou o primeiro-ministro José Sócrates determinar o adiamento da regionalização para que todos os nossos políticos, desde logo também se sentissem na obrigação de se adiarem, até porque uma regionalização a sério incluiria à cabeça o escrutínio do poder e, pelos vistos, este escrutínio não interessa a ninguém enquanto houver uma parcela para vender, uma ilha para negociar ou uma arriba para lotear pelas veredas dos subterfúgios legais onde o esperto é rei e cada município um verdadeiro condado. Assim sendo, quem hoje por acaso ou por convicção, defender a regionalização do Algarve, corre o risco de estar a terçar armas por uma espécie de coisa quase já clandestina ou pelo menos muito inconveniente. Estamos felizes.

No entanto, à falta desse escrutínio, os Municípios continuam a fazer o impensável ao mesmo tempo que os reis da batota também sabem que é muito mais fácil manobrar e influenciar direcções-gerais longínquas quase sempre com o apoio exitoso de gabinetes especializados. E é neste quadro, que os apregoados objectivos da desconcentração e da descentralização, acabam por funcionar igualmente como farsas a começar pelo preenchimento dos cargos, onde os critérios da competência, da capacidade de acção e do conhecimento da «região» acabam por dar lugar à prática do clientelismo político e do favorecimento sem justa causa. Mas também ninguém questiona por que motivo fulano foi nomeado para ocupar um lugar do Estado no Algarve até porque isso é emigração de luxo, sendo também inconveniente beliscar os emigrantes de luxo. Estamos felizes, muito.

É claro que, por ora, não citamos nomes para que não se diga que há nestes reparos algum ataque pessoal, muito embora se saiba que mesmo sem citar ninguém, as palavras são incómodas, sobretudo quando todos estão felizes. Muito felizes, apesar da crise do Estado e da crise do Algarve que, felizmente, ainda tem bastante areia para as avestruzes enterrarem a cabeça. Honra, vida longa e muito dinheirinho para as avestruzes.

P.S. - Ouvimos dizer que Faro é a Capital Nacional da Cultura. Não sabemos se a Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, tem já conhecimento disso.

Carlos Albino

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