quinta-feira, 4 de agosto de 2005

SMS 117. Debate desenxabido nos quintais municipais

4 Agosto 2005

É possível que em Setembro, com a partida dos turistas e o apertar da crise, o tom do debate político no Algarve suba de tom e de nível, mas até agora tem sido ensonsso em Faro, insípido em Portimão, dessaboroso em Silves, desgracioso em Loulé, desanimado em Tavira, desgostoso em Albufeira, sensaborão em Lagos, e até mesmo em Vila do Bispo, desta vez, à falta de um novo Infante a traçar planos do futuro sentado no forte de Sagres e a olhar para a fotografia, o momento é sensaborão. O debate autárquico, por todo o Algarve, é desenxabido e os cartazes parecem dizer tudo ou pelo menos traduzem grande parte da verdade – não se vai além do «eu sou melhor do que ele», «eu sou a honestidade», «só eu serei um presidente para todos», «a competência dorme e acorda ao meu lado»; enfim, desenxabimento, é a palavra, para mais com enormes fotografias em que cada um dos candidatos apenas prova que está mais gordo e apenas ligeiramente mais velho do que há cinco anos, embora todos sorridentes ou então com olhos solenes de esquisita Sexta-feira Santa porque já vamos pelo Verão fora.


No entanto, tanta coisa haveria que discutir! A começar pela questão financeira dos municípios, do endividamento e dos expedientes para obter empréstimos por formas que nem o banco central sonha ou então a que fecha um olho mas para os quais (expedientes) aldeamentos e urbanizações têm os dois olhos abertos. E nem falemos das acumulações, dos empregos políticos ou da sua expectativa que na generalidade gerou as listas, nem falemos da ruína das fiscalizações municipais, da péssima e por vezes prepotente para não dizer mal criada relação dos funcionários locais com as costas quentes do poder face aos administrados por efeito dos comandos que os comandam explicando-se todos com essa profissão mais antiga do mundo que não é a que alguns pensam e que é a burocracia, por certo mãe da outra que se julga mais antiga.


O êxito ou fracasso da apresentação das listas acabou assim por ser aferido pelo maior ou menor número de gente que se inscreveu para o jantar – faltando ainda alguns jantares – e avaliado também pela qualidade e suposto nível dos apresentadores, uma estrelas políticas despachadas por militância de Lisboa e que, regra geral, teceram (faltando a algumas ainda tecer) rasgados elogios ao cabeça de lista porque o segundo e terceiro já não contam, como provam as fotografias dos cartazes.


Tudo isto poderia acontecer até como tem estado a acontecer e nenhum mal daí viria ao mundo. O problema é que o debate político autárquico esgota-se nisso, não passa disso e é quase só isso - «eu sou melhor do que ele», «eu sou a honestidade», «só eu serei um presidente para todos», «a competência dorme e acorda ao meu lado»…


Ninguém discute a sério as contas locais, o destino ou uso do dinheiro dos contribuintes, a qualidade das ruas, a lisura das decisões públicas que a todos afectam e, o que já seria pedir demais, que Algarve que projecta e se deseja no futuro acima dos quintais autárquicos cada vez mais murados com provincianos egoísmos municipais. Outrora, diziam os de Monchique «Adeus Algarve, que vou p’ra Faro!» Agora todos são de Monchique, o que é coisa desenxabida.

Carlos Albino

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