quinta-feira, 23 de março de 2017

SMS 708. Sobre isso de que só falar, faz estremecer

Destruição em Vila do Bispo em 1969
23 março 2017

Sismos, exatamente. Jornais e televisões falam disso, por exemplo, quando não têm notícias disponíveis de emoção forte. E, de vez em quando, por aí se fazem uns “exercícios” envolvendo escolas ou cidadãos voluntários, quando ocorre a efeméride de uma catástrofe, como foi a do ano de 1755. E também se legisla e se regulamenta, é verdade. O Estado português tem sido sensível a este tema, muito embora prestando mais atenção a medidas reactivas e não tanto a medidas preventivas, como seria desejável.

Olhando para as construções implantadas nas últimas décadas, sobretudo no litoral algarvio e muito em particular nas áreas de falhas sísmicas, ou onde a sismicidade histórica se tem manifestado de forma violenta ao longo dos séculos, fica-se sem saber se a única solução é a de que “Deus nos ajude”. Fica-se sem saber se as decisões políticas no que toca a gestão e ordenamento do território e as regras de reabilitação do que se encontra edificado, continuam a ignorar ou a desvalorizar a probabilidade de ocorrência de um sismo, ou de um tsunami. Fica-se mesmo a desconfiar que continuamos a assistir à construção de edifícios, equipamentos e infra-estruturas em zonas de elevado e comprovado risco sísmico sem as adequadas técnicas construtivas para a redução dos riscos. Os dias passam, as coisas acontecem quando estamos distraídos, e o que de pior pode acontecer, não escolhe linhas limítrofes de concelhos – toca a todos.

Além de um quadro legislativo e regulamentar que, levado à letra e com responsabilidade, já teria provocado muito derrube e uma enormíssima correção, há também um número apreciável de avisos e advertências feitas com rigor, provenientes de universidades e de departamentos responsáveis, que tornam imperioso muito mais do que ensinar a crianças e a seniores medidas de autoprotecção sobre como agir antes, durante e depois do Deus nos ajude. Pode custar dizer as palavras mas são as únicas que se adequam ao caso – avaliação e fiscalização.

E qual 1755! Quem não sabe, entre tantos outros sismos conhecidos desde os anos 33 e 80 antes de Cristo, que o violento sismo de 1 de janeiro do ano 309 gerou um maremoto, provocando o desaparecimento de ilhas próximas do Cabo de S. Vicente, imagine-se o resto? Quem pode desconhecer o sismo de novembro de 1587 ocorrido na falha de Loulé, causando muitas mortes e elevados danos materiais, mais que em 1755 aí? E o sismo de 27 de dezembro de 1722, com epicentro também em Loulé, terra que então ficou quase totalmente destruída? E, mais proximamente, o que ocorreu em 12 de janeiro de 1856, igualmente com origem provável na falha de Loulé? O de 28 de fevereiro de 1969, já assim coisa ligeira face aos que aconteceram em 1587 e em 1722, está na memória de muitos que ainda podem contar.

Lembramos isto não para concitar temor, mas para se fazer apelo à prevenção e à correção do que foi manifestamente mal feito e mal feito está, sobretudo feito em altura e em áreas altamente sensíveis.

Carlos Albino
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Flagrante operação: Chama-se produto ao resultado da multiplicação do populismo pela manha. E a ordem dos fatores não altera o resultado da operação, chamando-se a isto comutatividade. E mal andamos quando a comutatividade é sinónimo de política. 

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