quinta-feira, 9 de março de 2017

SMS 706. Qualifica, sim, mas com rigor e seriedade


9 março 2017

Está anunciado o programa Qualifica, sucedâneo das interrompidas Novas Oportunidades. Afiança do governo que o novo programa contempla a qualificação com obrigatoriedade de encaminhamento para formação certificada, ajustada às necessidades de cada formando. Para tanto, afirma-se que passa a existir uma lógica de complementaridade entre reconhecimento, validação e certificação de competências. Mais se diz que o programa pretende garantir que até 2020 metade da população ativa do país conclua o ensino secundário, que se visa alcançar uma taxa de 15% na participação de adultos em atividades de aprendizagem ao longo da vida, alargada para 25% em 2025, e que, até final de 2017, o governo pretende ver instalados no continente cerca de 300 centros Qualifica - atualmente, existem 261 centros, 30 dos quais criados em 2016, devendo ser aberto concurso para mais 42, ainda em 2017, em função das necessidades locais e regionais de qualificação. Podem inscrever-se neste programa todos os adultos que não disponham de qualificação de nível básico, secundário ou mesmo profissional, bem como os jovens que tenham abandonado a escola e não se encontrem a trabalhar ou a estudar. É mais um ciclópico trabalho.

Impõe-se perguntar: Quem forma? Quais os fatores de multiplicação de ciência, cultura e conhecimento que localmente ou regionalmente estão disponíveis com qualidade suficiente? Quem vai reconhecer, quem vai validar e quem vai certificar competências? As respostas a estas perguntas apenas serão aceitáveis se contiverem, em todos os casos, duas palavras: seriedade e rigor. E aqui está um também ciclópico imbróglio.

Num país e em regiões onde, a pretexto da educação e do ensino, se registou uma desenfreada corrida ao canudo pelo canudo, sobretudo no nível superior de onde deveriam emanar os tais fatores de multiplicação de conhecimento, ciência e cultura, o que está à vista e se verifica nos guichés da administração pública, não dá um panorama reconfortante. Antes pelo contrário, o panorama é desencorajador, independentemente das estatísticas. Obtido o canudo que permite ascensão e salto hierárquico, rapidamente muitos, muitos dos que beneficiam dos programas de qualificação, esquecem-se da aprendizagem ao longo da vida, porque para esses, a aprendizagem também rapidamente passa a episódio do passado. Obtido o canudo, já sabem tudo, dispensam aprender mais alguma coisa, e, pior, é quando passam a ensinar o que sabem mal e até o que não sabem. Acontece isto quando o facilitismo campeia, quando se confunde conhecimento e saber com almejados exercícios de poder, e quando se faz depender a competência exclusivamente do canudo.

É claro que a exigência de seriedade e rigor começa em cada um, seja este formador ou formando. Sem essa exigência assumida, cada um pode ganhar ou julgar que ganha, mas é a sociedade que perde. Nas áreas técnicas, a vida encarrega-se de fazer a triagem entre competentes e incompetentes; nas áreas verbalistas, que são as dominantes, corre-se o risco de a ignorância ser certificada como sabedoria e conhecimento. E já estamos, a sociedade já está a pagar o preço de muito facilitismo validado, e o custo certificado da falta de rigor e seriedade.

Carlos Albino
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Flagrante coragem: Contra a exploração de feldspatos, Rui André, presidente de Monchique, além de solicitar uma audiência com o primeiro-ministro António Costa para expor a situação, garante que “se for preciso, ponho-me à frente das máquinas!”. É mais um episódio em que todos os presidentes de câmaras do Algarve e da AMAL, no caso, não deviam deixar Rui André sozinho.

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