Dissipadas as veleidades de ser uma Região-Piloto, coisa apenas embandeirada por benemerência antes de eleições, o Algarve é uma Região-Órfã. Não tem pai nem mãe. Podia ter padastro ou madastra, mas nem isso. Tem uma múmia de faraó mais ou menos recoberta de ouro que é a CCDR, tem uma marioneta que se move consoante a agilidade dos dedos que a manipulam que é a AMAL, e, além disso, uma pequena coleção de direções e delegações regionais que são uma grande homenagem à burocracia que faz do Estado e do seu aparelho um verdadeiro carrossel oito, com papéis a darem a volta por cima e outros por baixo. Com a extinção do Governo Civil perdeu uma espécie de tutor que, nos últimos dias, estava já reduzido à figura de mero empregado do Ministério da Administração Interna e que só por alguma deferência protocolar sugeria vénia. Com a secundarização ou mesmo a neutralização da RTA reduzida a penacho, até o turismo, principal atividade, é uma conversa pegada. E é assim que o Algarve está reposto no que por certo sempre foi: filho de pai incógnito e de mãe incógnita, se é que teve pai e mãe. Ou seja: uma colónia em que os colonos não se assumem, uma extensão da Costa da Caparica mas onde alguns barracos são mansões sujo valor depende das offshores e das revistas sociais.
Há quem, no meio disto, tivesse depositado e ainda deposita confiança, melhor, esperança na AMAL que nasceu sem mentir na sigla em 1992, com a mesma sigla faltou à verdade em 2004 como Grande Área Metropolitana, e que ainda com a mesma sigla se converteu, em 2008, na inverdade de Comunidade Intermunicipal do Algarve. Mas enfim, é por AMAL que se conhece isso, qualquer coisa como que chapéu de alentejano em cabeça de beirão. Está longe da população, os colonos passam ao lado, mas é a AMAL a única coisa que resta quanto a defesa do bem comum de Aljezur a Alcoutim, do interesse geral de Vila do Bispo a Vila Real, e do chapéu que ainda é Faro.
A anunciada “missão” da AMAL, na verdade, é “potenciar o desenvolvimento dos municípios e reforçar a identidade conjunta da Região, mediante a articulação de interesses e criação de sinergias”. E também como anunciada “visão”, a AMAL propõe-se “ser o guia e impulsionador dos Parceiros Regionais, capaz de conciliar e harmonizar as estratégias para o desenvolvimento sustentado da região”. Quanto à missão, não tem sido muito missionária, e quanto à visão, precisa de óculos. De um todo, falta-lhe iniciativa política, impulso, ganho da confiança geral, golpe de asa, pilotagem, ação nas “casas da frente” e não apenas no quintal, falta-lhe fazer o que um ser desprotegido espera de pai, mãe, padastro ou madastra que seja. E é assim que o Algarve é uma Região-Órfã. Para ser “piloto”, é necessário decreto; para ser “órfã”, é suficiente reduzir a Política ao carreirismo.
Carlos Albino
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Flagrante negócio: O das ambulâncias.
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