quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

SMS 654. Caminhos que vão dar a Querença

18 fevereiro 2016

Os números são impressionantes: 10.096 versões de peças do romanceiro tradicional português publicadas entre 1828 e 2010, a somar a 3.632 inéditos, recolhas sonoras contidas em 609 cassetes correspondendo a 660 horas de gravação. Papel e registos magnéticos ficam preservados adequadamente e saltam para uma plataforma digital que fica acessível online.

Tudo isto tem morada com código postal: a Fundação Manuel Viegas Guerreiro, com imponente sede em Querença, a provar que não se trata de um elefante branco. Este importantíssimo acervo vai ser publicamente apresentado pelo coordenador da iniciativa, Pedro Ferré, neste próximo sábado (16 horas) no Auditório da referida fundação. Esse acervo junta-se a outros acervos, coleções e arquivos já em depósito na instituição, pelo que em matéria de fontes culturais, não todos os caminhos mas muitos caminhos vão dar a Querença, terra de fontes.

Seria impensável que, havendo já um Ministro da Cultura, ele não estivesse presente com olhos e ouvidos atentos. João Soares lá vai estar na apresentação desse projeto batizado por “O Arquivo do Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna (1828-2010): sua preservação e difusão”. É um projeto de envergadura, silenciosamente preparado e de cujo alcance estamos hoje longe de poder avaliar. Financiado pela Fundação Gulbenkian e comprometendo, em parceria, a fundação anfitriã e a Universidade do Algarve (Centro de Investigação em Artes e Comunicação), o projeto faz de Querença uma terra de referência para investigadores dessa área que tem tudo a ver com língua e identidade e, já agora, é uma boa e grande homenagem ao patrono da instituição, Manuel Viegas Guerreiro, nascido da terra e um dos mais insignes expoentes da Etnografia portuguesa.

É de coisas como estas que o Algarve precisa. Assim existissem noutros domínios, da economia à ciência e tecnologia, da arte às coisas do mar, porque modas e bordados não são suficientes. Os autarcas, cada um e no seu conjunto, têm enormes responsabilidades na construção de um Algarve de excelência e de eleição, ou seja, o tal Algarve com tesouros mas que nunca vai a eleições, e que tantas vezes fica prejudicado, no bom caminho para o futuro, pelas modas e bordados do provincianismo sorrateiro, populista e calculista. Ponhamos de parte coisas tristes porque, hoje, uma boa notícia pelo menos: há caminhos que vão dar a Querença.

Carlos Albino
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Flagrante Mário Centeno: Independentemente de concordantes ou discordantes, independentemente do Plano A dar certo ou do suplício de algum um Plano B, e independentemente da Política ir em linha reta ou aos ziguezagues, foi reconfortante ouvir o Ministro das Finanças iniciar conversa pública em Faro, assim: “Caros conterrâneos”. Já nos tínhamos esquecido de que um ministro pode ser algarvio e que um algarvio pode ser ministro, uma vez que alguns até parece que escondem. Ou pelo menos dissimulam.

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