A CCDR, em função do que é, do que pode fazer, do que pode impedir que se faça, do que concede, do que decide e do que contrata no âmbito das suas atribuições, é uma instituição de referência de primeira grandeza na região, exigindo-se-lhe credibilidade pública a toda a prova. Não interessa, para o caso, se o presidente é do partido A, B, C ou de nada (o nada é muito pior porque o nada é uma capa que pode esconder tudo). O que interessa é que, exigindo-se à instituição credibilidade pública, isto quer dizer, à cabeça, que se exige ao seu comando ética política. E esta ética política é independente da forma de nomeação do presidente da CCDR, seja ela por substituição, seja por concurso público, ou como se anuncia, por eleição indireta.
E porque a ética
também não depende de despachos e decretos, compete aos empossados avaliar se
os seus compromissos, cargos, responsabilidades e estratégias pessoais não põem
em crise, direta ou indiretamente, a ética política e, por arrasto, a
credibilidade pública da instituição. Ora, se é verdade que a ética política
não se mede nem se pesa, também é verdade que fica ferida de morte quando o bom
senso dita que “isso é demais”.
Vem isto a propósito
do atual presidente da CCDR/Algarve ter sido eleito presidente da estrutura
regional do partido a que pertence, e de, com essa eleição, assumir a mensagem de
ter como grande objetivo as eleições autárquicas de 2017. Sabendo-se como a
CCDR, no âmbito das suas atribuições e competências, interfere e interage com
as autarquias e com toda a gama de interesses fortes da região e na região,
dita o bom senso que essa acumulação é demais, e que põe em crise a ética
política. Ou dirige o partido, ou preside à CCDR. Esteja o partido no poder,
esteja na oposição. Não é a filiação
partidária que está em causa, mas o endosso da sua direção. O que, por ética
política, não se pode aceitar é que um presidente da CCDR acumule a direção
regional do partido a que pertence, seja qual for o partido simpático ou
antipático que esteja no poder central. E mesmo não se pondo em causa a ética
pessoal desse presidente, é a credibilidade pública da instituição que não fica
acautelada, muito menos garantida. Financiamentos, incentivos, programas,
parcerias, apoios, contratos, etc., entram no campo público do diagnóstico
reservado e a invocação de critérios, mesmo que sejam legítimos e justos, ficam
feridos de morte. Dir-se-ia o mesmo se os papéis dos partidos litigantes do
poder fossem trocados.
Não se pode exigir a
um só homem com uma só cabeça e uma só alma que como presidente da CCDR e
em funções públicas decida com independência e liberto do jogo renhido
eleitoral como as autárquicas de 2017 irão ser (renhido e presume-se que
brutal), e ao mesmo tempo, na porta ao lado, como dirigente de partido
interessado, prossiga como grande objetivo as mesmas eleições. Éticamente é
demais.
Entre outros
episódios que só podem alimentar a chicana política, se “tecnicamente” a
forma como o atual presidente da CCDR tratou a Universidade do Algarve no caso
das bolsas de mobilidade foi demais (SMS 625, 30 de julho 2015), dirigir
regionalmente um partido com um grande objetivo eleitoral anunciado, e dirigir
a instituição regional de referencia do Estado com tudo o que esta acarreta e
condiciona, é não só demais, como absolutamente nada credível. Nem um anjo
consegue passar entre duas gotas de chuva.
Carlos Albino
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Flagrante sugestão: A Entidade Reguladora para a Comunicação Social e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista deviam fazer uma visita ao Algarve. E não para banhos.
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