quinta-feira, 13 de novembro de 2014

SMS 589. Gatos e ratos

Toda e qualquer coincidência com nomes conhecidos
 ou com a realidade, é simples semelhança”
8 janeiro 2014 

Por muito que haja, o debate local autárquico e também o debate regional, não ganham vigor e muito menos verdade, se tudo isso se resumir a uma luta de gatos e ratos. Os ratos nos seus esconderijos, resistindo com as possíveis provisões de queijo e toucinho, à espera de que o gato se afaste ou que, desalentado, vá à caça de outro roedor; o gato disfarçando-se em vegetariano, comendo cenoura, alface e até ovos de perdiz, para iludir o rato sobre o instinto carnívoro dos felinos.

Este jogo de disfarce até tem a sua piada quando gatos e ratos atuam no mesmo território, seja ele o de uma freguesia ou o de um mesmo concelho. Reuniões públicas de câmaras e de juntas, ou de assembleias municipais e de fregueses, naturalmente que propiciam divertidíssimos momentos em que os ratos exercitam com esperteza a paciência da clausura política (toda a clausura de rato é sempre política), e em que os gatos abdicam de um passarinho na ementa – quanto mais de um rato! – para provarem à sociedade que, por coerência com os resultados do último sufrágio, passaram a comer brócolos políticos (todo o bróculo na boca de um carnívoro é sempre político).  Todavia esse divertimento entre gatos e ratos, se é feito no mesmo território que os bichos partilham, até pode favorecer o escrutínio das ementas de cada um, ou seja, ajuda a esclarecer se gato come brócolos e se rato ainda tem queijo para se aguentar no esconderijo. Em cada concelho, em cada freguesia, poderíamos dar nomes aos gatos e ratos locais, mas ter-se-ia que usar a tal legenda dos filmes: “Toda e qualquer semelhança com nomes conhecidos ou com a realidade é simples coincidência”. Assim foi na Arca de Noé, onde este almirante bíblico conseguiu a proeza de evitar que os ratos fossem extintos pelos gatos e estes, por sua vez, extintos por abocanharem politicamente ratos envenenados (todo o veneno dado a rato é sempre político). Por aqui não há problema.

O problema é quando, sem que o gato saiba ou disso se aperceba, o rato escolhe outro território, outro concelho, outra freguesia com a proteção dos gatos locais, para espreitar a ocasião da extinção do gato no território onde campeou. E igualmente problema será quando o gato, alterando de igual forma as regras do confronto, vai à caça dos ratos do concelho a que não pertence ou da freguesia onde não é freguês, fazendo a caça de forma perversa: comendo brócolos, ou cenouras como coelhinhos da banda desenhada. A esta troca de terrenos sempre se chamou emigração política de conveniência, mas também sempre com maus resultados. Ou seja: entre gatos e ratos apenas muda uma letra. E essa letra mutante é politicamente suicidária.

Isto é uma fábula, e, tal como em todas as fábulas, “Toda e qualquer coincidência com nomes conhecidos ou com a realidade é simples semelhança”.

Carlos Albino
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Flagrante modalidade paraolímpica: Espionagem autárquica.

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