Dizer que António
Ramos Rosa é um dos maiores poetas do Século XX é dizer pouco. É preciso
acrescentar que é um dos maiores poetas portugueses da segunda metade desse
século. E para se precisar um pouco mais, talvez convenha acrescentar que se
manteve como um porta marcado pela dedada da terra onde nasceu. O seu endereço
de nascimento é este – Cidade de Faro, Algarve.
Que é uma honra para
nós, seus parceiros de terra? Sim. O seu primeiro poema, datado de 1958, “Os Dias sem Matéria”, foi publicado em
A
Voz de Loulé. Ao longo do tempo e dos seus abundantes títulos, as marcas de
uma paisagem luminosa que lembra o Sul, parecem sobreviver desde o primeiro
título “O Grito Claro”, datado
também de 1958, até ao último, “Figuras
Solares”, de 1996. Talvez o seu maior esplendor como poeta da originalidade
– e aqui originalidade refere-se sobretudo à origem - esteja concentrado nas
recolhas de 74 e 75, bem como no livro “O
Ciclo do Cavalo”. Depois, a pureza de António Ramos Rosa nunca foi manchada
por nenhum descuido ou cochilo. Sempre grande, por vezes quase imaterial, quase
sem raiz na terra pátria, para passar a ter só raiz no mundo. Não importa.
O que há a salientar,
no momento que passa, e é tão fugaz, é que António Ramos Rosa tenha sido tão fiel à poesia pura. Numa hora tão
absurda como é aquela em que vivemos, em que a Literatura se mistura na alcofa
das vendas a retalho, é bom que um poeta tenha escrito:
Às vezes um homem consegue ser a palavra
Entre a terra e a terra
E abrir uma porta.
A Biblioteca Municipal de Faro tem o seu nome e a sua obra. Oxalá
nós tivéssemos na nossa vida a inteireza da sua poesia.
Carlos Albino
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Flagrante indicação de voto: Escolham estes ou aqueles e, conforme, depois não se queixem, dizendo que foram enganados e que estão arrependidos.
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