Quanto à independência crítica, todos, estejam ou não filiados em partidos, é bom que a tenham, a conservem e torçam por ela. A independência de espírito é um bem inestimável, e se algum partido eventualmente a não tolera, estará a esgotar a democracia interna ou terá deturpado gravemente os procedimentos estatutários. Só que a invocação de independência dá para tudo. Por vezes nada mais é que a camuflagem de subserviências e interesses em nome de “grupos de cidadãos”, ou, pior, a máscara de vaidades pessoais, de ressaibos mal administrados e de fato eleitoraleiro dos vira-casacas.
Nesta época de candidatos livres, aí temos os independentes de várias espécies. Há os
independentes por mera afirmação ou motivação pessoal, há os independentes
“apoiados” por um partido ou concorrendo em lista de partido, há os
independentes que já foram de um partido mas que, perdendo a corrida interna da
sua facção, surgem como espécie de vingança acrítica e de pregação emotiva, e
há também os independentes, sobretudo nos pequenos meios ou nos meios rurais,
que em anteriores eleições foram apoiados por um partido e agora surgem com
apoio de outro. Se me dizem que o independente é aquele que isso invoca por não
ser filiado num partido ou neste não tem militância, sendo próximo, nada haverá
a opor. Os partidos têm o direito, a legitimidade e até o dever de recrutar os
melhores da sociedade, os probos, os honestos, os competentes e, naturalmente,
os que tenham dado provas de independência crítica. A presença destes
independentes no jogo eleitoral é saudável, enriquece a democracia e vai ao
encontro dos eleitores que, estes também tenham independência crítica. E até se
admite que de fora dos partidos também surjam independentes probos, honestos e
competentes, com algum programa de ação e ideias que os partidos recusaram ou
não previram, e que um grupo de cidadãos assuma. O problema não é esse, o
problema é quando a independência é uma máscara, o resultado do mais reles
oportunismo e, pior será, quando o independente julga que o mandato que quer
renovar ou conquistar é como coisa de sua propriedade privada, algo que lhe
pertence por direito próprio, como se cada eleitor fizesse mera figura de
notário.
Mas olhando bem para programas, slogans e
ideias-chave, dos que, no Algarve, invocam
ser independentes, de modo geral, os programas são pobres quando não irreais,
os slogans de campanha são inócuos e andam perto dos anúncios dos
supermercados, e quanto a ideias-chave, ou repetem o pior populismo criticável
nos partidos, ou não passam de exploração do que julgam ser as emoções
localmente mais fortes. E dizem à boca cheia que são “independentes” porque
dependem de si próprios, sabendo-se que o convencimento da auto-dependência é a
maior negação de independência. E um embuste. Não é o grupo de cidadãos que
trabalha, é o eu.
Carlos Albino
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Flagrante pormenor: Até dia 9 (segunda-feira), os partidos políticos, coligações de partidos e grupos de cidadãos devem comunicar à junta de freguesia os representantes das candidaturas nas mesas de voto. É aconselhável que indiquem gente de olho atento para que os mortos, abstencionistas por velhice, invalidez ou sabidos, não votem. Para que não se repita o que já tem acontecido, pois há gente que não olha a meios para atingir os fins.
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