quinta-feira, 17 de novembro de 2005

SMS 132. A Casa Madeira

17 Novembro 2005

Desconcertantes foram os termos usados por Luís Filipe Madeira sobre a candidatura presidencial de Soares. «Não pertenço à Casa Soares – sou um cidadão, não sou um criado de serviço», disse o homem de Alte que, repetidamente, é apresentado como «figura nacional» e que nos meandros políticos de Lisboa é, por deferência de serviço, tido como «líder do Algarve» mas cuja obra mais notável a favor do Algarve terá sido, como a população sabe, a rectificação da curva da 125 nas Ferreiras, há uns vinte anos, e pouco mais para além dos discursos pois Filipe Madeira discursou muito e pouco fez. Naturalmente que a população igualmente sabe que se Madeira não pertence à Casa Soares, também Soares não pertence à «Casa Madeira», e fiquemos por aqui porque a continuarmos por aqui, seria fazermos o mesmíssimo jogo dos que têm estragado a democraticidade interna dos partidos no Algarve, aquela democraticidade real, não a formal ou a politicamente correcta – nomeadamente a do PS, mas sem excluir a do PSD que também tem as suas «casas», não tanto gentílicas mas de interesses difusos.

Em síntese e por aquilo que veio a lume, parece que Filipe Madeira dedicou-se à sua casa pelo não avanço da regionalização, muito embora ele saiba que a regionalização do Algarve ficou em definitivo e há muito postergada quando foi retirada da Constituição a possibilidade da criação das regiões-piloto, por obra e graça de magníficas abstenções, silêncios oportunistas e votos dos criados de serviço da época. O amuo aparente de Filipe Madeira não tem pois justificação, e porque não tem justificação, ele sempre fez política de casa, naquele sentido formal e de jogo ou de jogada, ou por si próprio ou por interpostas pessoas. Filipe Madeira está e não está, conforme lhe convém, e agora, a demarcação desconcertante face a Soares, não passa de uma conveniência para ele estar. Ora, um comportamento político destes não é o de um líder mesmo na reserva, e porque comportamentos destes abundam no Algarve – nomeadamente face a Cavaco também – eis uma das razões porque não temos líderes regionais na coerência forte do termo, e o motivo porque os líderes circunstanciais apenas são «figuras nacionais» enquanto forem criados de serviço.

Carlos Albino

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