quinta-feira, 3 de novembro de 2005

SMS 130. Formiga branca

3 Novembro 2005

Até agora, pelos menos aparentemente, o Algarve tem estado imune ao mal que, aqui e ali mas cada vez mais em mais lugares, ataca as traves mestras da democracia, que é o um mal em tudo idêntico ao da formiga branca. Sem que se note, o bicho consome tudo deixando apenas uma fina película exterior a dar o aspecto de que o mundo está normal. Apenas há um pormenor que o bicho não disfarça - o cheiro. E quando cheira a formiga branca há que pelo menos desconfiar. Ora, no Algarve, embora o mundo, sobretudo o mundo autárquico e a película exterior do poder sufragado, pareça um mundo normal, alguns, possivelmente muitos de nós sentimos esse cheiro a formiga branca que anda nos ares. O tráfico de influências envolvendo alguns barões reformados dos partidos é notório, amiúde reforçando o indevido poderio do clã; os negócios da imobiliária envolvendo paraísos fiscais são coisas faladas à boca calada, mas são coisas; o enriquecimento sem justa causa fornece uns quadros bem pintados mas discretos como mandam as regras do enriquecimento sem justa causa, e por aí fora, sem falar na intensa economia paralela que é a metamorfose alada da formiga e que desova à vontade quando a justiça, também ela, está corroída . É claro que não temos autarcas algarvios, do presente ou do passado recente, à berlinda como a formiga branca de Felgueiras, mas cheira. Cheira. Também não temos casos como os que na Andaluzia, há poucas semanas, levaram à prisão de vários eleitos locais precisamente pelas ligações perigosas entre exercício do poder e imobiliária, mas cheira. Cheira a formiga branca e pergunto a mim mesmo se em Portugal houvesse uma Operação Mãos Limpas a sério como a que houve na Itália, também aqui os partidos, todos sem excepção, não teriam que mudar de nome como condição para a sobrevivência do ideal democrático. E, ou muito me engano, ou um dia que não será longínquo, estaremos a falar de nomes. Prefiro que me esteja a enganar.

Carlos Albino

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