O primeiro-ministro esteve a banhos na Manta
Rota, dias calmos, e ainda bem, porque a
democracia exige serenidade na manifestação pública e respeito pela vida
privada. No final da semana passada, foi a rentrée
política no Calçadão de Quarteira, com o que se convencionou chamar Festa
do Pontal, onde não faltaram ministros por conveniência, dirigentes no seu
direito ao palanque e comentadores que nos restantes dias do ano pintam a cara
de semi-independentes e se reclama de estar “fora da política ativa”. Enfim,
foi o Pontal. Mas o curioso é que Pedro Passos Coelho, tendo estado uma
semanita no Algarve e discursando no Algarve, sobre o Algarve nada disse, e
para o Algarve não disse nada. É como se tivesse falado numa terra de ninguém,
onde não está ninguém, ou onde se alguém está, é de passagem pelo Pontal. Sendo
a região do País mais fustigada pelo desemprego, com gente mais do que assolada
pela fome às claras, e das mais atingidas no seu coração económico pela crise financeira,
com a construção civil parada, as autarquias nas lonas, o comércio a fechar e
os serviços a fazerem das tripas coração, pois em cima do vulcão social, o
primeiro-ministro nem uma palavra dirigiu ao alvo, entretendo-se em esperanças
gerais e com alfinetadas retóricas.
Se fosse regra não falar dos dramas locais, com certeza, seriam critérios discutíveis, mas critérios.
Mas não tem sido assim noutros lados. Por exemplo, noutra festa, a Festa do
Bodo no Pombal, dias antes de vir para a Monta Rota, Pedro Passos Coelho,
segundo os anais, andou um quilómetro a pé numa volta às obras de recuperação
urbana. E uns dias antes, noutra festa, a Festa das Romanas, nas Pedras
Salgadas, também andou por lá, falou de lá e para lá. Mas em Quarteira, e
naquele Calçadão que é a capital do Algarve em estado puro, foi como que falar
do nunca em terra de ninguém.
Ele não fez sequer 20 metros a pé, perante as câmaras de televisão, para se inteirar das
obras de requalificação do muro de Berlim que é a estrada 125; não fez uns 15 metros que fossem para
comprovar o abandono de Faro; dois metros para indagar as consequências para as
populações do regabofe financeiro das câmaras de sua simpatia ou de algumas
outras de sua antipatia; ou, o que seria quase um milagre, um passo para lançar
a segunda pedra no Hospital Central do Algarve. Nem fez isso, nem falou disso,
como passou ao lado das dramáticas questões de segurança da população residente
e visitante, da bela obra dos mega-agrupamentos escolares que espatifaram com o
que melhor havia no sistema de ensino numa população dispersa mas coesa, não
perdeu cinco minutos para ouvir os pequenos comerciantes, os pequenos
empreiteiros, os pequenos agricultores, todos os pequenos que são o tecido do
Algarve. Mas se não escutou, não foi ver, ou não lançou uma segunda pedra,
também isso se compreende em função da agenda. O que não se compreende é que
venha ao Calçadão de Quarteira, faça a sua rentrée
política no Algarve com todo o bronze e trate esta terra como terra de ninguém.
E assim sendo, para os algarvios, foi a Festa de Ninguém.
Carlos Albino
________________
Flagrantes jogos informáticos: Ou muito nos enganamos, há por aí uma candidatura autárquica cujos jogos informáticos não são caso jornalístico, são caso de polícia, de procurador e de tribunal.
Sem comentários:
Enviar um comentário