Em todas as ruas principais há uma seta a indicar a loja do Senhor Belmiro, nenhuma a sugerir as
pequenas lojas de comércio tradicional. E querendo comprar alguma fruta, lá fui
esta semana à loja do Senhor Belmiro depois de ter ido à loja do Senhor
Alexandre para ter uma ideia, verificando que é tudo mais ou menos igual quanto
a “estratégias” embora tudo relativamente diferente quanto a “logísticas”. Aos
olhos, quer na loja do Senhor Belmiro, quer na loja do Senhor Alexandre, as
frutas e as verduras são esplêndidas, as cores magníficas, e se os olhos
comessem aquilo é que seria fruta. Já quanto ao cheiro, nada, sabendo-se que a
fruta começa pelo cheiro. E quanto ao tato, a coisa ou era dura que nem pedra,
ou era mole que nem alforreca. Então, era de fazer a interrogação sobre a
origem daquilo tão bonito aos olhos.
Pois na loja do Senhor Belmiro, percorrendo os expositores de ponta à ponta, os limões e
as mandarinas eram do Uruguai e as toranjas da África do Sul; havia maçãs da
Bolívia, do Chile, da Nova Zelândia, de França e da Polónia; as nectarinas,
melancias, meloas e melões verdes, de Espanha; ameixas e pêssegos, também de
Espanha; romãs e ameixas pretas, de Chipre; bananas às rodelas, das Filipinas;
miolo de amêndoa, ainda de Espanha, e já o miolo de amêndoa torrado, dos EUA,
como dos EUA era também o miolo de noz. E o amendoim torrado com casca? Da
China. Havia mais de todo o lado. Enfim, a loja do Senhor Belmiro, quanto a
frutas, parecia a ONU.
E de Portugal, para não precisar do Algarve? Pois de Portugal, a loja do Senhor Belmiro apresentava
umas laranjas que ou já foram laranjas ou então poderiam vir a ser, e umas
bananas da Madeira. Mais nada.
Perante isto, fica-se sem saber se a loja do Senhor Belmiro, tal como a
loja do Senhor Alexandre, visam beneficiar o consumidor que não tenha cheiro
nem tato, já que em nada favorecem o produtor português, e mesmo assim se isso
favorece de algum modo os produtores da Nova Zelândia, da China, de Chipre, das
Filipinas, por aí fora, porque caridade não é.
Carlos Albino
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Flagrantes sondagens: Os partidos que têm ainda algum dinheiro ou alguém lhes dá fizeram sondagens locais, aqui e ali, mudando inclusivamente candidatos já apresentados e alterando “estratégias” em função das sondagens. O certo é que, hoje, quinta-feira, faltam já 72 dias para as eleições autárquicas e não há sondagem que emende o carácter e a honra.
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