quinta-feira, 3 de maio de 2012

SMS 460. Protagonismos e pouco mais

3 maio 2012

Sim, inteiramente de acordo quanto a listas únicas nas autarquias. Não se entende que uma dada força política possa concorrer à assembleia municipal e não tenha que disputar a câmara. Se não pode concorrer por impossibilidade de formar lista, o que fará tal força na assembleia a não ser um exercício de espírito de contradição ou de pacto com a força que mais convirá ao interesse? E se não quer concorrer à câmara, porque é que concorre apenas à assembleia a não ser por birra, por ânsia de protagonismo ou para afirmação de algum interesse escondido? E, um a força ou um partido, concorrendo a câmara e assembleia, para quê em listas separadas, cada qual com sua cabeça de lista, podendo acontecer, como já aconteceu, que um cabeça de lista do mesmo partido da outra cabeça possa fazer campanha contra o correlegionário?

Caso vinguem as listas únicas para câmaras e assembleias, só há que lamentar que o modelo chegue tarde à democracia local. As forças cívicas organizadas, caso não queiram alinhar ou integrar-se em partidos e relativamente a estes reclamem independência, não podem nem devem contribuir para que a discussão política e o escrutínio do poder local se transforme num mero espetáculo de bota abaixo ou de encómios de arreata por via de atores independentes que tantas vezes representam o que não sabem nem querem saber e que de independência não têm nada e que andam por aí a negociar o seu papel de empecilhos quando não empecilhos perversos. Um movimento cívico, se quer fazer civismo, não precisa de veranear numa assembleia municipal a fingir de partido ou como se fosse partido. Se o movimento cívico quer mesmo fazer política, para o que terá toda a legitimidade, deve ser consequente e concorrer simultaneamente ao lugar onde a política local se executa – a câmara – e ao lugar onde as regras são votadas e as decisões escrutinadas – a assembleia. Um movimento cívico não pode ser um movimento de ressabiados, como por regra tem sido na prática, pelo que a democracia local não pode estimular o ressaibo. Pelo contrário, deve retirar estímulo a tais atitudes de parasitarismo do poder. E tal como não se justifica que a uma força que não concorra à câmara lhe seja facultada a possibilidade de um lugar na assembleia, assim também não se justifica que candidatos vencidos, sejam eles provenientes de partidos ou de movimentos, fiquem nesse triste papel de vereadores sem pelouro que é o equivalente ao papel do morto na missa de corpo presente e que, por ser morto, obviamente se abstém em tudo e, pior, se revela incapaz de confidenciar aos vivos onde tem a alma... Um vereador da oposição, o que é isso? Quem ficou na oposição deve assumir o lugar de oposição que a assembleia lhe reserva.

Carlos Albino
________________
Flagrante lei natural: Ensina a mãe-natureza que jamais um burro se pode licenciar em cavalo e que jamais um cavalo pode evoluir para mestre-burro.

Sem comentários: