quinta-feira, 21 de outubro de 2004

SMS 76. Faro perdeu a oportunidade

21 Outubro 2004

Cinco meses perdidos. A dois meses de Faro iniciar, enfim, a saga de, por um ano, ser a Capital Nacional da Cultura, pouco ou mesmo nada se vê à vista desarmada, a não ser a demissão de António Lamas e, a seguir, a nomeação de António Rosa Mendes para o cargo de presidente da comissão organizadora. Um professor de história, portanto, substitui um engenheiro civil e com isto perderam-se, desde Maio, cinco meses cruciais para a organização do acontecimento.

Equívocos. Desde o início, alimentou-se o grave equívoco de reduzir a «capital da cultura» a um «festival de espectáculos culturais». Depois, equívoco mais grave, fez-se passar a ideia de que esse festival teria de coincidir com a época alta do turismo e portanto feito em função do turismo - uns escassos dois meses e meio. Faro nem piou.

Haja dinheiro! Ora fazer festivais e montar festivais, é coisa fácil – basta haver dinheiro e instalações. Havendo dinheiro, contrata-se um bailado de Moscovo, dez violinos a Londres, um fagote a Paris, uma potente voz a Milão e, sobrando algum, claro, lá teremos uns coisitas de teatro, umas cantorias em português, umas pitadas de cinema, umas borradas de pintura e, imprescindivelmente, o monumental fogo de artifício na Doca. E chamar-se-á «capital» a isto que não passará de estendal.

Convite ad hoc. Nos dois meses que faltam para 2005 começar, António Rosa Mendes pouco poderá fazer. Com rigor, não poderá fazer nada. É evidente que poderá gerir o estendal de cultura para a época de verão» mas não conseguirá erguer uma Capital Nacional de Cultura e nem o inusitado convite (segundo me disseram mas não acredito porque se acreditasse, António Lamas pediria a demissão) feito, em São Paulo, pela própria ministra Maria João Bustorff à cantora Lena d’Água para esta ser comissária de Faro para a música ligeira (coisa que a cantora terá aceite, ali, imediatamente) salvará a questão. Aliás, a ser isso verdade, inquinou a questão.

Erro tremendo. Faro perdeu a oportunidade para, com serenidade, construir a Cultura que lhe falta. De uma Capital 2005 alguma coisa ficaria, de um Estendal de dois meses não ficará nada porque acabada a festa, desarma-se a igreja. Por uma vez, dou razão aos homens do futebol que vêem na bola o espelho da sociedade: Faro está na terceira divisão e a zero. Foi um tremendo erro de política cultural e pouco adianta fazer aproveitamento partidário desse erro. O que está perdido, perdido está.

Carlos Albino

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