quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

SMS 41: Duas Guinés-Bissaus? Não, obrigado

19 Fevereiro 2004

1 . Cheiro da Serra e odor da Doca. Naturalmente que prefiro ver Aljezur, Monchique, São Brás de Alportel e Alcoutim integrados numa Grande Área Metropolitana. O cheiro da Serra incomoda-me menos do que o da Doca de Faro em hora de maré baixa. Além disso prefiro ver todos os concelhos da linha serrana numa única área muito embora admita que o poder central – seja qual for o partido que por ele ande a rolar – gostará de ver o Algarve dividido para melhor reinar. Sabe-se como isso tem acontecido com os Municípios e não vale a pena gastar espaço em dissertações sobre o óbvio. E mais: prefiro ver sempre algum concelho da linha serrana ou na presidência ou numa das vice-presidências de uma Junta Metropolitana do Algarve, do que vê-los como caniches atrelados a alguma Comunidade Urbana ou a alguma Associação Intermunicipal que, no Algarve, serão mais tarde ou mais cedo sempre fórmulas para dividir tudo isto em duas Guinés-Bissaus a bem da truculenta Grande Imobiliária que, no mesmo Algarve, tem sido anti-cosmopolita, anti-metropolitana e já agora anti-Região. Além disso, não gosto de caniches em Política – nem são cães nem são gatos.

2. Acusaram o toque. Naturalmente que a Região-Piloto do Algarve nunca esteve na Constituição... mas o incómodo dessa ideia acompanhou a Lei Fundamental desde as constituintes a todas as cenas de revisões (a de 1982 foi o exemplo da tal traição). A imposição da «simultaneidade» para as regiões administrativas teve apenas um fim em vista: inviabilizar qualquer pretensão algarvia, e que um eventual êxito da regionalização, mesmo que em regime experimental, contaminasse o País. Daí que tenhamos escrito e voltemos a escrever: a Região-Piloto esteve lá, fez parte do espírito da Lei Fundamental mas foi retirada por uns braços no ar a que – logo vi – só lhes interessava fazer uma Oligarquia no Algarve e não uma Região. Os braços acusaram o toque e fiquemos por aqui. Além disso, não gosto de oligarcas em Política – nem são caniches nem são domadores de circo.

3. Curiosamente. Até agora, sempre que têm estado no poder, tanto o PS como o PSD revelam-se fortissimos zeladores do Poder Centralizador em detrimento da Regionalização, esquecendo o discurso de campanha. Mas sempre que voltam ou alternam na oposição, também cada um desses partidos volta a reivindicar a Regionalização... Nestas alterações de comportamento (no poder e na oposição) as elites «distritais» que, por regra, sobrevivem da nomenclatura centralista só enganam quem quer ser enganado. Recordo-me por exemplo, de um inquérito feito em 1996, pelo Expresso, junto de 15 dos 19 presidentes das distriatis do PSD – apenas Mendes Bota (então a liderar a distrital de Faro) se declarou «inquestionávelmente favorável» à regionalização. Claro que os restantes 14 então homólogos de Mendes Bota não tinham ainda tido tempo para compreender que a promessa eleitoral de regionalização feita pelo PS não era para cumprir e que o referendo (ou a forma como referendo foi montado) equivaleu a um lavar de mãos. Tal como na revisão de 1982.

Carlos Albino

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