Ainda me recordo de eleições autárquicas em que a publicidade partidária até usava avionetas com
longos panos a esvoaçavam sobre aldeias, vilas e cidades apelando ao voto, numa
manifestação de poder, força e dinheiro. Na inteira propriedade do termo, tais
avionetas pagas sobretudo por empreiteiros e ofícios liberais correlativos,
voavam acima das nossas possibilidades. Entretanto cá em baixo, aquilo é que
eram montanhas de esferográficas, cachecóis, bonés, medalhas e medalhões, tudo
para lançar o “nome”, para afirmar a suposta autoridade moral do candidato e
fundamentalmente para caçar o voto, como um período eleitoral fosse uma época
de caça. Muito pobre diabo assim se transformou, apenas por via do slogan lá em
cima e dos bonés cá em baixo, em luminar e em génio da política local, embora
pouca luz irradiassem e raros pensamentos próprios fossem capaz de apresentar
sem o papel de auxílio escrito por terceiros. Depois, os “caçados” foram vendo
o comportamento dessa gente, uns atrás de outros, nas jogadas de interesses, na
ginástica de fazer legal o ilegal, lícito o ilícito e na arte de dar um ar
sério às brincadeiras com o interesse geral e às trafulhices com o bem comum.
Alguns casos pontuais transformaram-se em escândalos, mas, de modo geral, tudo
o que não chegou a escândalo contribuiu para a abstenção dos eleitores, para o
desapontamento dos contribuintes e para a descrença dos cidadãos.
Agora, os partidos fazem questão em não fazer espavento financeiro com as propagandas
eleitorais, como dizem, devido à crise, mas também, como deixam sugerido,
porque numa sociedade com gente à fome, desempregada, indefesa, com a maior
parte das pessoas a não saberem como será o dia de amanhã e até como vencerão o
dia de hoje, o dinheiro gasto a rodos com a propaganda produziria o efeito
contrário ao desejado. Mas ainda assim há bastante espavento. Aqui e ali, há sementeiras
de cartazes que são uma agressão e uma ofensa a quem conta os cêntimos para
enfrentar o dia a dia, e que já aprendeu na pele que o bom candidato não
depende do cartaz mas das suas ideias, do seu programa, das suas propostas, da
sua visão da sociedade e das garantias ou provas que o seu passado pessoal dá.
Só que a força do marketing político de
fatela e o desespero de alguns em caçar
votos, levam ainda alguns a continuar os velhos métodos que contribuíram para
pôr nódoas nesta Democracia. Não resisto a observar que alguns desses cartazes
mais me parecem cartazes de aiatolas do Irão, caras enormíssimas semelhantes às
dos aldrabões sorridentes, supostamente dominadoras das opiniões públicas
locais, mas que espremidas dão em cabeças de alfinete.
Carlos Albino
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Flagrantes desperdício: Surgem por aí uns livros editados com apoios autárquicos, que são desperdício de dinheiro, massacres para quem tenha o mínimo de cultura, inutilidades para a instrução pública, alguns verdadeiras peças pimba, embora sejam monumentos de vaidades pessoais de gente que apenas sonha com os seus nomes numa travessa local. Enfim, com papas e bolos…