quinta-feira, 27 de junho de 2013

SMS 519. A sinalização do que o Algarve tem

27 junho 2013

Tem-se chamado a isso “sinalética turística” mas prefiro escrever sinalização cultural, histórica, paisagística. Não é o turismo que dita a cultura, o património ambiental, a história e pré-história, mas é tudo isto que deve estar na base do turismo. Ora, quem chegue ao Algarve, atravesse as portas do aeroporto e ande pelas estradas de lés a lés, não encontra qualquer sinalização para monumentos nacionais (há poucos, mas há e esplêndidos monumentos), para monumentos de interesse público, para parques naturais e para zonas históricas relevantes. É verdade que quem vem de Lisboa encontra um painel com o castelo de Silves e outro para a velha praça militar de Paderne, mas a coisa fica por aí. Nada mais. E pelo emaranhado das estradas secundárias, as referências históricas, culturais e ambientais são raras, embora seja muita a chuva de placas de praias com chapéus de sol e três riscos ondulados a sugerir ondas do mar com que as autarquias marcam território e até disputam provincianamente território.

Não é que tudo o que o Algarve tem, possa ou deva ser indicado, mas, para já, os monumentos nacionais, dois ou três museus de valia que há e os sítios classificados deviam aparecer aos olhos, não só para amostra da região para quem a visita mas também para a auto-estima dos habitantes, muitos dos quais até já desconhecem o que têm na própria terra ou o que há na terra ao lado.

Podem argumentar à vontade que muitos desses monumentos estão sistematicamente fechados pelas mais diversas razões e motivos. É verdade que muitos estão fechados quando deviam ser visitáveis com a disponibilização de folhetos explicativos. Para tanto, as instituições implicadas deviam pôr-se de acordo e estabelecer protocolos de colaboração, que não sejam apenas aqueles para sacar dinheiro do Estado a pretexto de obras de conservação e restauro. Que falem entre si, mas tornem os monumentos visitáveis, dêem-lhes vida, evitem que os monumentos algarvios sejam monumentos mortos, jazigos de portas fechadas a criar teaças.

De vez em quando fala-se no tal estudo encomendado para a “sinalética turística”, sabendo-se que tais estudos feitos por quem está fora ou que só vem ao Algarve para justificar a avença, pouco mais serão do que sumo de mapas Michelin espremidos. E mesmo sendo assim, passam os anos e os estudos não aparecem.

Carlos Albino
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Flagrante pergunta: A partir de hoje, faltam 94 dias para as eleições autárquicas. Para qualquer pergunta, veremos a resposta do eleitorado algarvio.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

SMS 518. A ética política e a lei

20 junho 2013

A 101 dias exatos das eleições autárquicas, são inevitáveis dois assuntos diferentes entre si mas que têm o denominador comum da ética política: a “suspensão provisória” do mandato em Faro por Macário Correia e os casos de candidaturas para quarto mandato, ali ao lado que é o mesmo ou melhor ainda. No primeiro caso, o Supremo Tribunal Administrativo confirmou a perda do mandato do autarca que, num primeiro momento, disse não acatar garantindo que iria entrar todos os dias pela mesma porta, mas, num segundo momento, anunciando a suspensão provisória. Quer dizer: não acata, mas em 101 dias, com os tribunais que temos, o provisório é definitivo. No segundo caso, os que porfiam por quarto mandato, agarram-se à forma de escritura da lei, letra a mais, letra a menos, e não tanto ao espírito da lei ou ao princípio ético que informa a lesma lei, confiantes em que Portugal continue a ser aquele tal país em que tudo o que não é proibido, é permitido.

Não estão em causa, no primeiro caso, as razões ou motivos que Macário Correia tenha para discordar dos juízes, que veja nisso tramóia que o injustiça, ou que a punição política é excessiva. Nem, no segundo caso, se põe em causa a competência ou até mesmo a moral pessoal dos que, impedidos pela lei para prosseguirem a saga do poder na terra onde têm pé, ponham o pé na terra ao lado e siga a roda. O que está em causa é a ética política. Ora, esta mesma ética não faz nem justifica partido (já tivemos um “partido ético” que se evaporou porque qualquer ética evapora…), nem se pode nem se deve esperar que sejam os tribunais a determinar a ética (tomara eles, os tribunais, serem meticulosos na sua própria ética, a ética judicial, não se deixando contaminar pelos interesses difusos que a ética política recrimina e de que a sabedoria popular se apercebe, desalentando-se, descrendo e abstendo-se, o que não é apenas mau, é péssimo).

É evidente que a lei não diz expressamente, nem consta em nenhum lado que um mandato qualquer que seja (de autarca, de deputado ou de governante) não pode nem deve ser considerado por quem para ele é eleito, como coisa da sua propriedade privada e de que dispõe como um bem próprio, herdado ou adquirido, ou como dom que lhe deve ser reconhecido acima de todas as fronteiras, ainda que, para tanto, o espírito da lei possa ser contornado, pelo que, para isso, nada melhor do que a ajuda tíbia dos tribunais, em matéria que não é judicial mas ética.

Perante os olhos de quem está atento, os primeiros a ficarem diminuídos são os que enveredam nessa jogada entre lei e espírito da lei, mas haverá um momento em que será o próprio sistema da sociedade a ficar lesado insanavelmente, agindo-se em democracia como ela fosse autoritarismo (ou seja, total isenção da ética política) o que não deixará de tentar alguns a visionarem o autoritarismo como sub-espécie de democracia, coisa em que Portugal tem longa experiência e experiência transmitida de pais para filhos. Essa mazela terminal de que tudo o que não é proibido, é permitido, dá nisso, se se tolerar que a mazela cheque ao extremo.

Carlos Albino
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Flagrante contagem: Neste blogue, foi colocado um contador de dias regressivo para as eleições autárquicas. Em cada dia, vai faltando menos um dia para votos que, pelas circunstâncias, mais do que nunca são soberanos. Boas escolhas! 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

SMS 517. Uma ideia, por exemplo

13 junho 2013

Há iniciativas que em nome do Algarve deveriam ou poderiam ser tomadas, sem grande dispêndio ou com dispêndio relativo, se não é que com saldo positivo. Há empreendimentos, designadamente na área cultural e por arrastamento na área da afirmação cultural da região, que poderiam chegar a bom porto sem subsídios estatais mas com o mínimo de entendimento, coordenação e pondo de lado a guerra de protagonismos provincianos.

Assim por exemplo, na Feira do Livro de Lisboa. Quem andou por ali entre 23 e de Maio e 10 de junho, por entre as dezenas de pavilhões das editoras, notou a presença da cultura dos Açores, um stand com as publicações editadas nessa região ou sobre essa região. E apesar de não exceder vinhos ou comes e bebes, lá estava o Ribatejo. Não nos alonguemos, mas isto para se dizer que seria perfeitamente possível um stand do Algarve onde se colocasse á disposição pública as obras editadas na região, desde as de escassas editoras privadas às publicações de câmaras, RTA, Universidade, tudo ou o mais possível. Não todas, mas algumas dessas publicações são de comprovado valor, desde livros de pesquisa a álbuns. Há matéria e há material para um stand, junto do qual, à semelhança de outros instalados na feira, poderiam ser também colocados à disposição pública produtos que nada têm a ver com livros mas que, com moderação, adoçam ou alegram qualquer leitura – doçaria e vinhos, entre outros.

Mas quem poderia concretizar tal ideia? A AMAL? A RTA? Câmaras isoladas ou em grupo concertado? Admito que seja difícil, embora não impossível. Mas seria extremamente fácil se houvesse recurso a um chapéu que desse cobertura a tal iniciativa em Lisboa exposta a centenas de milhares visitantes. Refiro-me à quase esquecida Casa do Algarve que outrora já foi tratada como a embaixada da região na capital, mas que, nos tempos que correm, embora viva dias de resistência, ainda terá muito para dar, desde que se queira e haja o tal entendimento e a tal coordenação. Os custos de uma tal iniciativa, repartidos proporcionalmente por todos, não seriam excessivos e é de crer que o saldo final revelar-se-ia positivo quanto a contas, para não se falar do lucro que isso representaria para a imagem da região. Não é coisa que esteja além do que promete a força humana.

Para isto, bastará alguém que diga aos outros interessados ou contagiados: “Mãos à obra!”

Carlos Albino
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Flagrante pérola esquecida por uns, desconhecida por outros: E por homenagem a António Rosa Mendes, leia-se um livro que nos deixou por legado - "Olhão fez-se a si próprio".  Lê-se como ficção, avança-se nas páginas como saga, não falta poesia, surpreende-se uma história local como se fosse metáfora da história universal. Leiam.   

quinta-feira, 6 de junho de 2013

SMS 516. O Algarve sem a garra do Porto

6 junho 2013

Do Porto foi expedida uma Carta Aberta ao Governo de Portugal, em defesa do crescimento económico e do respeito pelo Porto. Os signatários são de peso, o enorme batalhão de influências da capital do Norte está lá, da universidade ao mundo empresarial até ao bispo do Porto que não se coibiu de subscrever preocupações do foro do poder temporal.  Mudando o que deve ser mudado, o que nessa carta aberta se afirma também poderia ser escrito em defesa do Algarve e do respeito pelo Algarve. Só que no Porto há um batalhão de influências e de vontades, e, no Algarve, se vontades não faltam, as influências ou são poucas, ou estão atadas. E mesmo que se desatassem, não sei se o bispo do Algarve tomaria a decisão de aderir a um pedido de respeito, como o seu colega do Porto fez em consciência e ciente de estar bem acompanhado.

A economia regional está nas lonas, o desemprego é percentualmente e de longe o mais elevado do país, somos os menos culpados e os mais modestos beneficiários da excessiva construção de auto-estradas, o reclamado hospital central está no papel e não deve sair daí tão cedo, as ligações ferroviárias para o País e Espanha são uma lástima, a política portuária tem sido de um laxismo atroz, a promoção internacional e interna do turismo algarvio além de não ter rasgo não pesa na balança, a política cultural não existe, enfim, o rol de pretextos para uma carta aberta ao governo é extenso e a lista de motivos para se pedir respeito pelo Algarve é tão interminável como os grãos de areia sobre os quais nos habituámos a ver governantes atrás de governantes a bronzearem-se, porque após o bronzeamento “adeus Algarve, que vou para Portugal”.

É claro que não temos personalidade promotora da igualha de um Rui Rio, mas à falta de lideranças nacionalmente firmadas, políticas ou empresariais, que imponham respeitinho, ainda assim temos uma Universidade que não deveria continuar por ali, fechada como vieira, por entre os pruridos de Gambelas e da Penha, se calhar à espera da cataplana. Competiria à Universidade tomar essa iniciativa, tomar a dianteira, dar prova de que possui um bilhete de identidade vitalício com o nome e o sobrenome da sociedade onde se insere e da qual filialmente depende.

Carlos Albino
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Flagrante suspeita: Tudo leva a crer que as próximas autárquicas vão ser uma enorme manifestação...

quarta-feira, 5 de junho de 2013

GRANDE TRISTEZA. A morte de António Rosa Mendes

Portanto, uma grande tristeza. Morreu o prof. António Rosa Mendes, meu amigo, que não resistiu a uma pneumonia dupla. Defensor da minha região natal, homem íntegro e de uma cultura contagiante, nos últimos anos deu um contributo inexcedível para a investigação científica em torno da História do Algarve. Grande tristeza. Ia nos seus 59 anos e muito, muito de esperava dele, tudo menos que a sua terra natal fosse já, tão inesperadamente, também a sua terra mortal. Grande tristeza.