quinta-feira, 29 de julho de 2010

SMS 373. Estrelas a rodos


29 julho 2010

Independentemente das ações judiciais e de quem tem ou não razão, se os promitentes-compradores britânicos se a empresa às portas da Quinta do Lago, o caso é chocante. E é chocante não pelos milhões dos apartamentos em causa, muito menos pelo apresentador José Mourinho, mesmo nada por ser PIN a fazer recordar aqueles discursos entusiasmantes de Manuel Pinho, também em nada chocando que a administração reitere, como acaba de o fazer, que o empreendimento “é claramente um produto acima do Hilton”. É chocante pelo número de estrelas.

Na verdade, o anúncio do empreendimento surpreendeu o país: não era quatro, nem cinco mas de seis estrelas! Com tanta estrela, as televisões noticiaram, os jornais repicaram e aquela parte do Algarve que continua provinciana mesmo que dela já façam parte britânicos que, alguns, vão para onde forem, também arrastam o seu próprio provincianismo crédulo porque não são exceção à globalização do provincianismo, regozijou-se com a nova constelação caída dos céus para uma zona classificada como florestal no PDM de Loulé. E então dizia um que pouco daquilo haveria em toda a Europa, ao que outro emendava – qual Europa? A nível mundial! E como tudo isso, é claro, que todos tivemos de acreditar nas seis estrelas, pois hoje já nada se faz sem estudos prévios, sem estudos previsionais, sem pareceres jurídicos ao pormenor para a lei não ficar em crise nuns casos, ou noutros para que legalmente se contorne a lei pelas veredas das lacunas, omissões e doutrinas difusas emanadas de instâncias interpretativas, havendo recurso, nas horas tristes e se a coisa dá para o torto, à invocada crise conjuntural que era coisa apenas imprevisível para quem, na origem das estrelas, já escondia a cabeça na areia.

Sabe-se agora que as referências às seis estrelas foram apagadas da obra e que, pelos vistos, só agora se percebeu que o número de estrelas não é por livre arbítrio, havendo um quadro legal. É claro que não se sabe muito bem porque é que as estrelas foram mal contadas ou se até o próprio ex-ministro Manuel Pinho por lapso contou seis onde estavam cinco, devendo nós ressalvar que, se não houvesse lei para o caso, até concordaríamos em dar sete, nove ou - porque não? - dez estrelas, ou até mais mesmo sem contrapartidas, formais ou informais. Aliás, como o governo, na altura, também ressalvou ao decretar a suspensão do PDM apenas na área do empreendimento, possivelmente fiado nas estrelas…

Carlos Albino

    Flagrante merecimento: Claro que esta homenagem não é autárquica ou, por outras palavras, a levar água no bico, mas 21 anos a fazer um jornal – Carteia - assumidamente local e que sempre resistiu a fazer de capacho autárquico, é obra. Vaz dos Santos, continue com brio.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

SMS 372. Aproveitemos estes dois meses e picos


15 julho 2010

Sim, aproveitem alguns este agosto e setembro que julho vai para o fim para passear pela fresquinha nos areais junto da arrebentação das ondas, para fotografar arribas agora que nenhuma delas se desmorona sem estudo prévio, para refrescar memórias a meio da tarde com os dedos cruzados em alguma esplanada que sirva café que não saiba a cardos, para percorrer nas noites sem ventania algum chão calcetado perto do mar se possível lambendo um gelado que é a melhor forma de evitar brigas nas famílias desavindas, para sonhar de janelas abertas aqueles sonhos que repelem até os mosquitos quanto mais os lobisomens, vampiros e outros títeres voadores que não perdem uma greta para saborear o sangue alheio à falta de sangue próprio, enfim aproveitem alguns estes tempinhos para perceber um monumento que ninguém explica se é que a porta esteja aberta. E que outros também aproveitem estes meses e picos para vender brindes, servir sardinha assada, lucrar alguma coisita com chapéus de palhinha e óculos de sol, compensar dezembro com baldinhos de plástico que calem crianças berradoras, equilibrar janeiro com uns quilitos de camarão assado junto de quem parece querer tirar a barriga da miséria mas a teve sempre farta, fazer esquecer fevereiro com umas camas paralelas mas tão paralelas como todas as outras pois dormir em camas verticais deve ser muito incómodo, enfim, justificar março convencendo que é artesanato o que à pressa se acabou anteontem para ir de feira em feira, e saldar algumas contas de abril com essa laranja toda à beira das estradas grande parte com aquela casca grossa que apenas engana papalvos. Ah! É claro que muitos não podem evitar o sofrimento nestes dois meses e picos, sobretudo perante as palmeiras comidas até ao tutano pelos bezouros, ou, depois do milagre de não ter sido passado a ferro por aquele carro conduzido por um cara de pau a 140 à hora na rua mais digna de civilização da localidade, ou ainda após ter engolido o habitual impropério da tal rapariga de óculos escuros com ar de ministra da Palestina mas que mais não é que rapariga das limpezas da agência bancária. Aproveitemos todos e o melhor possível estes dois meses e picos porque já estamos habituados, e, além disso, as próximas eleições legislativas ainda vão longe, muitos autarcas já não poderão ser reeleitos mas é agora que, sem abrirem demasiado o jogo, devem preparar o salto para outra, embora alguns, à evidência, melhor fariam se aproveitassem este tempinho que falta inscrevendo-se nalgum curso das novas oportunidades – e há um desses cursos, o da cultura geral, que forma excelentes especialistas.

Carlos Albino

    Flagrante advertência: Com provincianos, uma região nunca vai lá e mal de quem adverte pois o provincianismo jamais perdoa quem faz o diagnóstico, tal como o doente que prefere morrer na ignorância da causa.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sete anos de SMS

Poucos deram por isso mas passaram sete anos sobre o dia em que as SMS começaram neste mesmo espaço que é também tempo e vestígio. Foi a 15 de maio de 2003. Obrigado a todos os que desde então ou de ainda agora nos acompanham.

SMS 371. Olhando, medindo e comparando


15 julho 2010

Não é de agora, nem de há pouco mas há muito tempo que a caixa de correio se me enche desmedidamente às quintas e sextas. Não, não é pela publicidade gratuita mas pelos jornais locais e regionais um pouco de todo o país. Alguns mesmo, são os principais ou os mais vivos, intervenientes e, portanto de referência, independentemente do número de páginas ou da roupagem. A maior parte desses jornais vêm-me parar às mãos por deferência, bastantes por mediáticas cumplicidades antigas, alguns deveras por gratidão em função de ajudas, colaborações esporádicas ou, caso mais frequente, por ensinança, coisas que de modo geral para a imprensa loca ou regional fui fazendo ao longo da vida sem qualquer contrapartida e ainda assim é hoje. Mas porquê esta conversa? É que dei por mim não tanto a folhear e a ler na diagonal cada um desses jornais de toda a semana passada acumulados na caixa do correio, mas a compará-los uns com os outros, em três áreas de interesse, não quanto à forma mas quanto ao conteúdo: editoriais, noticiário próprio e publicidade. E sobretudo nesta área da publicidade ocorreu-me comparar, com mais pormenor, o grosso dos jornais lá de cima com os do Algarve. Rapidamente cheguei a uma conclusão para qual não é preciso grandes dotes, enorme esforço e muito menos correr-se o risco de cansaço cerebral: a publicidade dos jornais locais e regionais lá de cima, sobretudo os oito ou nove principais e que não vivem adventiciamente de ou para esquemas esquisitos, refletem a sociedade onde se inserem e servem, desde a publicidade colocada diretamente pelas autarquais e empresas locais, até aquela mesma publicidade colocada pelo cidadão comum, seja a da oferta ou da procura de serviços, seja a da mera prestação de informação social como é o caso da necrologia. E, para comparar melhor o fenómeno, medi com mais atenção dois desses jornais, um do Oeste (a Gazeta das Caldas) e outro da Beira (o Jornal do Fundão) comparando-os com os dois melhores jornais regionais do Algarve que não andam em barrigas de aluguer, não porque me repugnem as barrigas mas apenas porque as barrigas desvirtuam a avaliação própria do jornal alojado, sobretudo em matéria de publicidade que nunca se sabe. Mas que diferença lá em cima com aqui em baixo! Lá em cima, autarquias, empresas e serviços marcam presença nos jornais como que por necessidade e para eficácia; cá em baixo, não levem mal e aceitem mil desculpas se estamos em erro, a publicidade é colocada, pelo que parece, ou por favor e caridade patrocinadora, ou à espera de encómio adequado nem sempre discreto, ou como contrapartida para campanha sem convicção e por vezes para fogachos pessoais. E interrogo-me: como é que os jornais no Algarve podem sobreviver? Melhor: como é que o Algarve e os algarvios querem ter jornais? É que medindo e comparando bem, autarquias, empresas e cidadãos cá em baixo, na sua relação com os jornais cá de baixo, imitam e fazem o mesmo que as agências funerárias, no género – «Morreu alguém? Para que isso se saiba, basta colar fotocópias do morto em cada esquina e em placards sem taxas e sem IVA, que a família do morto paga!» Pois tenho que dizer: no Algarve, quer o Jornal do Fundão quer a Gazeta das Caldas, seriam jornais impossíveis, não por falta de apoios e ajudas mas por diferenças nas mentalidades e procedimentos entre lá em cima e cá em baixo, como se verifica logo folheando as agendas municipais cá de baixo. Isto da sociedade algarvia não se refletir nos seus jornais, dói.

Carlos Albino

    Flagrante interpelação: O Algarve tem deputados a mais ou deputados a menos?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

SMS 370. A 125? Há seis anos ninguém ligou


8 julho 2010

Foi em 16 de dezembro de 2004 que a nossa mensagem curta n.º 84 trazia este título: Uma Avenida Metropolitana para todo o Algarve… Vai para seis anos, portanto. Confesso que tive a esperança de que a ideia fosse aproveitada por algum amante do Algarve mas sobretudo decisor ou influenciador, e secundada pelos amadores. Confesso que tive a vaga esperança de que os autarcas se mobilizassem, de que os dirigentes políticos assumissem a ideia, e de que, enfim, o Algarve se mexesse em vez se ficar à espera do trem e do sábado que vem. Mas não, ninguém ligou, e nem mesmo quando o governo avançou com a ideia da requalificação da 125, ninguém levantou um dedo, sabendo-se que tal requalificação não é da estrada mas sim requalificação de gabinetes de arquitetos, de engenheiros e de construtoras. Julgo que ninguém levantou um dedo porque toda a gente se acomodou na ideia de que a Via do Infante sem portagens era um dado adquirido e de que a Via do Infante continuaria até todo o sempre como a via rápida e única de travessia do Algarve, e até porque não houve político que tenha sido eleito ou nomeado para mordomia que não tenha feito essa promessa que alguns até entoaram como profissão de fé.

Justifica-se repetir esse apontamento de 2004, para que o leitor conclua:

Boa ideia, a que ouvi de Horácio Neves, o editor e director da Brasilturis (para quem não sabe, a maior publicação de turismo do Brasil). Estávamos a evocar José Barão e eis que ele salta com a proposta de se transformar a Estrada 125 que atravessa a Província Algarvia, numa avenida – precisamente a Avenida Metropolitana do Algarve. Na verdade, em muitos pontos, a 125 e derivados (os apêndices da 125 vão de 1 a 9) já não é mais nem menos do que ruas de comércio, trabalho e residência, movimentadas ruas às quais é crime chamar estrada. A ideia de Horácio Neves vem a matar e julgo que é uma daquelas ideias galvanizadoras, um projecto integrador de que o Algarve precisa como de pão para a boca e pelo qual vale a pena terçar armas. Os Municípios envolvidos – 12 dos 16 que integram a Área Metropolitana – se quiserem, podem concretizar a ideia não porque essa avenida venha a ser a maior da Europa mas porque retiraria o Algarve do beco onde possivelmente já está ou para onde caminha se não houver uma ideia salvadora. A transformação da 125 em Avenida pode ser um daqueles desígnios muito mais significativos do que D. Afonso III ter conquistado castelos aos mouros… Portanto, Macário Correia deve anotar isto na agenda. Deixemo-nos disso que caiu em folclorada do «Não às Portagens» e tratemos é desta boa ideia que, por tão boa, é a melhor resposta ao ministro António Mexia e ao senhor que se segue que não deve ser muito diferente do que o antecedeu. Está nas nossas mãos.

Recusar uma ideia destas tem perdão? Não tem. Ponham a mão na consciência.

Carlos Albino

    Flagrante refúgio dos bandidos: Reconhece-se agora abertamente que parte apreciável dos bandidos que assaltam, roubam e atacam, vêm de Espanha e que, depois de cada façanha, ao refúgio de Espanha retornam. As autoridades de um e do outro lado, sabendo disto, não agem? Ou será que as queixas de um lado não comovem o outro lado?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

SMS 369. A única Via que o Algarve tem


1 julho 2010

Vamos por pontos:

1 – A Via do Infante, em grande parte, não custou um cêntimo ao estado e a pequena parte que custou mais não é do que o retorno de uma décima milionésima parte do lucro que o Algarve tem dado ao mesmo estado. Além disso, ficou barata: absorveu as montanhas de escórias de Sines tornando-se por isso, em largos troços, na via mais barulhenta da Europa.
2 – Estrada de 3 vias esticada com engenho para 4, a Via do Infante foi uma solução para a EN 125 pois esta 125 não foi planeada para a região mas feita para ligar terra a terra, aos ziguezagues, na época da mula e das duas camionetas da EVA, quatro automóveis de Faro para Portimão, duas cucciolos de Olhão, duas de Sachs para Loulé e o resto a pedal quer no Parchal quer do Patacão. E com tanto turismo, foi um crime ter-se deixado que a 125 se transformasse na Estrada da Morte, após décadas de fino lucro do estado com o mesmo turismo.
3 – Largos trajetos da Estada da Morte foram sendo anulados consoante os bochechos da Via do Infante, transformando-se praticamente em ruas com restaurantes de grelhados e casas de toldos à esquerda, vendedores de automóveis e de materiais da construção civil à direita, separadores de arame ao centro com casas de móveis de um lado e outro, rotundas volta e meia com setas para paraísos da imobiliária, tudo menos uma estrada de ligação longitudinal do Algarve que nunca foi mas isso fazia de conta. Entusiasmadas pelo progresso, as câmaras concederam licenças atrás de licenças, os clandestinos legalizaram-se, as finanças do estado agradeceram (e de que maneira!) e a estrada, hoje, é uma feira de quilómetros e quilómetros. É verdade que a 125 deixou de ser a Estrada da Morte mas isso aconteceu apenas porque a Via do Infante passou a ser a única estrada de travessia do Algarve, sem alternativas e nada tendo a ver com a lógica da rede de auto-estradas do Minho, do Douro e das Beiras, também não tendo comparação com os descampados do Alentejo – a Via do infante, na hora que passa, é a única via possível, a única utilizável e a única que serve e o próprio conceito de SCUT que se lhe aplicou foi um erro político de entendimento. E aqui é que bate o ponto.
4 – A anunciada mas muito atrasada requalificação da EN 125 mais não será do que a requalificação da Estrada da Morte – requalificará mais a morte que a estrada pois a 125, tal como nasceu e para o que serviu, não tem emenda. Talvez até ficasse mais barato uma estrada nova, embora esta tenha ficado inviabilizada pelos erros de traçado da Via do Infante por efeito daquela pressão de meia dúzia de fundamentalistas do ambiente que são os que mais conspurcam às escondidas o ambiente humano.
5 – Mesmo com a promessa da morte requalificada, a 125 deixou de ser estrada, e se voltarem a empurrar o trânsito para aí, por mais rotundas e traçados de emenda que arquitetos e construtoras adoram, a mesma 125 será, sim, a Estrada do Genocídio com palmeiras e rotundas. É só esperar pela pancada.
6 – Introduzir portagens na Via do Infante é, além de injusto, uma violência e um abuso, porque essa estrada numerada como A 22 não é uma entre outras auto-estradas que o Algarve tem, é única via de que a região dispõe – é uma via que o estado tardiamente construiu com dinheiros dados ou repostos com maus modos e ainda assim aos bochechos (é 22 mas terminou depois da 48). E, além disso, é auto-estrada por acaso porque foi pensada para estrada de três vias por gente dos gabinetes em Lisboa a justificar que “O Algarve não precisa mais do que isso”.
7 – É preciso dizer Não a isso.

Carlos Albino

    Flagrante falta de zelo: Diz a Câmara de Loulé que atuou no património da Praia do Trafal “por falta de resposta das entidades com responsabilidade direta nesta área”. Mas que novidade! O Algarve não é local para sinecuras?