quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

SMS 347. Grande pedalada


28 janeiro 2010

Enquanto João Soares se dedica à OSCE, Miguel Freitas discursa sobre a necessidade de um choque de adrenalina, e um ou outro deputado do círculo faz perguntas por perguntar com grande dívida da imaginação ao óbvio, José Mendes Bota vai em grande pedalada. Só neste mês rápido de Janeiro, ele levou o seu partido a avançar para a criação de uma comissão parlamentar eventual «para o máximo consenso sobre regionalização»; questionou indignado sobre o provável encerramento da agência Lusa em Faro; promoveu solidariedade para o Centro Comunitário do Barranco do Velho; questionou os ministérios da Administração Interna e da Defesa sobre «o número exacto de efectivos das diversas forças de segurança estacionadas no Algarve, em série cronológica, às datas de 31 de Dezembro de 1999, 31 de Dezembro de 2004 e 31 de Dezembro de 2009», coisa que, segundo testemunhou a governadora civil desconhecia, e ainda despachou 17 perguntas sobre o estafado Hospital Central do Algarve… Chama-se a isto, grande pedalada.

Ora, perante essa pedalada, sobre a comissão eventual «para o máximo consenso», naturalmente que a coisa deverá ficar pelo menor múltiplo comum, sendo assim há décadas; sobre o encerramento da Lusa, também não custa a acreditar que a coisa há muito que está encerrada em termos qualitativos, sem grandes protestos do povo e seus representantes; sobre o centro comunitário do Barranco do Velho, não é caso isolado, há mais nessa situação ou por erros crassos discretamente geridos pela Segurança Social dita regional, ou por insensibilidade dos poderes de Faro que já têm os seus Terreiros do Paço de trazer por casa; sobre as forças de segurança estacionadas no Algarve, o deputado diz bem – estão estacionadas ou talvez agora deixem de estar por obra e graça daquele aparelhinho que o ministro Rui Pereira veio ofertar segundo difundiu a Lusa (a Lusa vai funcionando) e com o qual os criminosos vão ser identificados enquanto o diabo esfrega um olho; e sobre o Hospital Central do Algarve, naturalmente que a coisa também deve estar à espera de novas eleições para novas promessas, datas e certezas. Chama-se a isto grande pedalada, e para aguentar esta coisa que assim se chama, naturalmente que é preciso ter mesmo um choque dessa coisa da adrenalina.

Isto vai bem e bonito.
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Flagrante ensino universitário: Então não é que já há por aí no Algarve centros de explicações para matérias dos cursos de ensino superior que por aí há? É preciso explicar o que superiormente isto significa?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

SMS 346. Segurança e sinistralidade


21 janeiro 2010

1. Quanto à segurança, a propósito do que recentemente aconteceu com residentes britânicos e levou o Algarve às parangonas de jornais e exaustos relatos televisivos sem ir às causas, tem que se dizer que a segurança dos britânicos residentes não é mais que a segurança dos residentes algarvios. O bandido não escolhe nacionalidades, escolhe bens, e actua quando sabe que o seu próprio perigo é mínimo ou mesmo inexistente. Para os bandidos e delinquentes, o terreno de ataque está livre por esses campos e cerros com vista para o mar ao longe, onde flores, passarinhos e alegria não faltam faça sol ou chuva e que, se não fossem os inesperados bandidos, a coisa estaria muito próxima do paraíso. Mas há bandidos que actuam primeiro porque são bandidos e segundo porque sentem o terreno livre. Dir-me-ão que em todo o lado é assim. Não duvido, só que em poucos lados que tenham o turismo à cabeça, a vigilância de cidades parece ser vigilância de aldeia e a das aldeias nem existe, com as recepções das polícias à espera dos clientes que são as vítimas, e com as polícias, muitas vezes, a parecerem um corpo de escuteiros, por falta de condições, por erros crassos de política, por falta de credibilização designadamente pública, e por comandos não suficientemente escrutinados e fiscalizados. É por isto que um número incontável de vítimas nem se queixa e quando se queixa é em função da companhia de seguros. E quem ainda não é vítima anda à sorte e depende da sorte, mesmo que por canhestra manobra pública se aumente o número de escuteiros.

2. Quanto à sinistralidade, a das estradas entenda-se, foi por aí dito que diminuiu. E porque diminuiu, não faltou quem logo atirasse foguetes, feita a leitura das estatísticas com ligeireza ou segundas intenções, intenções estas que são as de mostrar serviço. Ora, até o Senhor de La Palice diria que com a redução de tráfego a sinistralidade também diminui… Os gasolineiros vendem mais gasolina e diesel que há um, dois, três, quantro e cinco anos? Não vendem. Os stands vendem mais automóveis? Não vendem, antes pelo contrário. Os centros de inspecções deixam permitem que carros sem condições circulem? Não permitem. Há cada vez mais gente a deixar o carro à porta? Há. Por aí adiante. É claro que, assim sendo, a sinistralidade é menor e até seria nula se os automóveis desaparecessem – quando muito voltaríamos à época em que os acidentes mais não eram do que cornada de boi, patada de mula e burro enlouquecido. As leituras ligeiras das estatísticas pode ser pretexto para mostrar serviço mas mal da administração pública que tem um La Palice metido na política.

Carlos Albino

    Flagrante epitáfio: Após estas décadas de desperdiçada democracia, já dá para sugerir a muita gente que prepare o epitáfio: «Aqui jaz um homem (ou uma mulher) que se serviu com total devoção da política e mais não se serviu dela porque o que é bom também se acaba».

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SMS 345. É com choques de adrenalina?


14 janeiro 2010

Não foi um sismo de grau 8 nem um furacão mas muita gente ficou estupefacta. O líder regional do PS, Miguel Freitas, que ao longo do exercício da maioria absoluta do seu partido nem um laivo de reparo político enviou lá de Bruxelas, e que na campanha eleitoral das legislativas também se isentou de qualquer crítica ao rumo governativo, ao procedimento de decisores ou mesmo às manifestas opções partidárias (o caso das listas, por exemplo), agora que a sua formação perdeu a maioria e que o governo está mais que feito à imagem e semelhança do anterior, acordou. O governo fez a opção que fez para o governo civil, e Miguel Freitas, de pronto, justificou que isso foi no interesse dos algarvios; nomeou gente para cargos regionais ou procedeu a transferências e, também de pronto, explicou que cada caso era para o bem do Algarve. E também foi assim, nesse outrora da maioria absoluta, da saúde à educação, do turismo aos transportes, passando pela atribulada política de segurança. Ninguém obviamente levou a mal a pose de Miguel Freitas porque aparentemente cumpria o seu papel – dirigente regional do partido do poder e alto funcionário do estado por confiança política, ele não podia fazer números de oposição, por si e pelo partido. Agora que as legislativas passaram e que era o tempo, e sem que se saiba ao certo se voltará a suspender as funções de deputado (a sua comissão em Bruxelas foi renovada por mais três anos, em 1 de Setembro, por despacho do ministro dos Negócios Estrangeiros), Miguel Freitas diz o que no fundo Mendes Bota está farto de dizer, o que mais ou menos o PCP não enjeita e o que o BE repete. Ou seja, faz um número de oposição talvez porque tenha chegado à conclusão de que os péssimos resultados eleitorais do PS no Algarve foram em parte devidos ao facto da pregação oficial não ter convencido o eleitorado algarvio. E então, diz Miguel Freitas que o Algarve, por efeito da acção governativa, tem vindo a perder influência política e que as competências dos organismos desconcentrados na região têm sido esvaziadas, verificando-se mesmo, diz, “um definhamento crescente” e exemplifica com o caso do turismo discorrendo sobre a “tentativa para reduzir a autonomia” da Entidade Regional dessa matéria… E mais, o que parece só agora também descobrir: que apesar do Algarve ter o título estatístico de região rica, que “crescemos concentrados numa só actividade, fortemente dependente de fluxos externos e gerando excedentes financeiros que são na quase totalidade absorvidos pelo exterior, com mão-de-obra pouco qualificada, com emprego precário”. E então, preconiza Miguel Freitas que “o Algarve está a precisar de um choque de adrenalina” e que “tem de sair do estado de dormência em que se encontra”. Mas que descoberta! Andamos a dizer isto há anos.

Resumindo e concluindo: Miguel Freitas teve um choque de adrenalina. O Algarve ainda não. E duvida-se se isto vai com choques de adrenalina ou se será uma forma correcta de interpretar a política e proceder ao tal almejado “aprofundamento da democracia” a de se provocar artificialmente choques, virando o disco e tocando a mesmo música.

Carlos Albino

    Flagrante apelo : Estimem a ACTA, honrem o valor desse actor e encenador que se chama Luís Vicente. Faro perde-se como capital quando julga ganhar questiúnculas.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

SMS 344. A epidemia dos reis na barriga


7 janeiro 2010

Lutou-se e luta-se, e bem, contra a gripe A. Foram campanhas de prevenção, vacinas, medidas contra o pânico, enfim, até a ministra encheu 2009 num tu cá tu lá com o cidadão soletrando com óculos descaídos a explicação de alguma das poucas mortes ou transformando em homilia a parábola de uns casos suspeitos e desdramatizando algum receio de surto. Assim tivesse acontecido ou venha a suceder com todos os surtos e com todas as epidemias. Contra uma desses surtos, por exemplo, e que grassa mais do que a gripe A, que é o surto epidémico dos reis na barriga, ninguém mexeu uma palha. Temos por aí muitos e graves casos, havendo fundamentados receios de que, sem vacina e sem campanhas de prevenção, o surto alastre por contágio e por simples espirro. Claro que falo de política e da política algarvia – há gente afectada por esse mal que basta espirrar para contaminar quem esteja por perto sem que o sinta, pois a doença dos reis na barriga é silenciosa, discreta e não causa cólicas.

Um dos sintomas desse mal que não custa acreditar que seja epidémico, é fazer-se crítica por ressaibo, parecendo crítica mas não é – é mero rancor, ressentimento, ranço se quiserem. Quem tem o rei na barriga tem, com toda a coerência da doença, aquele mesmo sentimento ou tique próprio dos reais reis que nascem e são educados na ideia de que o povo lhes pertence recebendo esse mesmo povo por herança tal como se herda uma casa, um terreno ou um canito de estimação. Mas com uma diferença: os reais reis têm o povo na barriga, enquanto os contagiados pelo surto têm na barriga o próprio rei. Claro que falo de política e da política algarvia que sendo um mundo muito pequeno, fechado e onde todos os contagiados se conhecem uns aos outros, leva a que, não existindo anonimato social dos portadores de reis na barriga, torna vulgar esse coerente pudor de cada contagiado por tal mal, confidenciar a qualquer outro que apresente sintomas do mesmo mal, que está contagiado, mesmo que os dois espirrem em simultâneo. Claro que falo de política algarvia.

O contagiado pelo surto dos reis na barriga pensa pois que eleitorado lhe pertence. Por isso, ainda que eleitorado o tenha aconselhado a ficar em quarentena, não suspende funções. E se, por medida mais grave que a quarentena, o mesmo eleitorado lhe sugere sem equívocos que aceite o internamento na vida civil comum, o contagiado não se demite e, antes pelo contrário, simula ter aquela vitalidade de falsete que leva ao ressaibo, ao ressentimento, ao ranço, ao rancor, como quiserem, pois os sinónimos para as consequências de ter se ter o rei na barriga são muitos. Claro que falo da política algar… (para bom entendedor meia palavra basta).

Carlos Albino

    Flagrante omissão de prémio: Tem sido tradição atribuir-se, por ocasião do Dia de Reis, o tal prémio anual SMS de Jornalismo que não dá cheques nem t-shirts sendo mera consideração. Pelo segundo ano consecutivo não se vê fundamento de maior para que haja prémio. Alguém do júri ainda sugeriu premiar-se ex-equo o grupo de autarcas que escreve aquelas “crónica” no Correio da Manhã. Mas, santo deus! Aquilo não são crónicas, são editoriais de agendas municipais… Posto isto, aguardemos por 2011.