quinta-feira, 29 de outubro de 2009

SMS 334. Acredito numa nova geração

29 Outubro 2009

Ser líder político do Algarve ou, talvez melhor, no Algarve, não significa nem depende de ser deputado pelo Algarve, nem o facto de alguém ser deputado significa que, só por isso, seja líder na região ou da região. Daí que o esmagador número dos deputados que os eleitores algarvios, desde 1976, têm vindo a depositar em S. Bento, jamais tenham feito parte de qualquer liderança visível e credível, que apenas um pequeníssimo número deles tenham tido alguma fama de líderes mas que não passou da fama, e que ao fim de décadas de democracia dificilmente se pode dizer que houve ou há um, dois, três líderes políticos algarvios com pensamento estruturado, discurso mobilizador, projecto com profundidade, coerência e reconhecimento geral para a sociedade balcanizada deste Sul, e, sobretudo, com voz autorizada em Lisboa e que seja respeitada pelos governos e directórios partidários como a voz a ter em conta. Assim com estas características não tivemos nem temos essa voz ou vozes, como outras regiões têm e ainda bem. É claro que tivemos e temos gente muito trabalhadora - Mendes Bota, então, na última legislatura, foi uma fábrica de requerimentos, protestos, pedidos de esclarecimento, por aí fora, a contrastar com a lassidão dos seus colegas de partido e dos seus directos adversários que andaram a dormir nas curvas. Mas isto não basta.

E porque é que se chegou a este ponto? Certamente porque as estruturas regionais dos partidos ocuparam-se nestas décadas de democracia em jogos de poder, em distribuição de mordomias, em atribuir lugares marcados, em disputas alimentadas simpaticamente pelos poderes instalados em Lisboa, porque quanto a ideias e a debate, pouco ou nada. Nem o PS nem o PSD se livram desta evidência que já vitimou o PCP para durar e inclusive o BE neste seu breve trânsito, muito embora os partidos tenham promovido de quando em onde alguns fóruns, bastantes jornadas e possivelmente colóquios a rodos todos eles para consagrar os líderes de ocasião que, no Algarve, tão depressa sobem como rapidamente acabam por cair… Tudo isso não deu nada ou deu muito pouco, como se viu com a formação das listas para a Europa e para as legislativas em que a regra foi a do «come e engole».

Com o fracasso de voluntaristas sem estofo, com o desapontamento de meros afilhados do poder de Lisboa, e após estas décadas de espera por um golpe de asa da parte de quem, só tarde se viu, era incapaz de voar, acredito que apenas uma nova geração de políticos no Algarve, sem os vícios dos progenitores, poderá proporcionar a formação de um escol de qualidade e de um lote de dirigentes onde se a representatividade se reveja na liderança e, sobretudo, onde o oportunismo partidário não só seja crime como também castigo. Para essa nova geração, leva tempo e é preciso que não nasça já envelhecida, já que, em política, os bebés-velhos são já vulgares…

Mais? Fica para a semana.

Carlos Albino

    Flagrante espectáculo: Vai repetir-se em breve o triste espectáculo das renúncias e suspensões de mandatos em S. Bento.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SMS 333. Os partidos como os caranguejos

22 Outubro 2009

Não é difícil perceber que, no rescaldo deste arrastado ciclo eleitoral (europeias, legislativas e autárquicas) que consumiu metade do ano, muito vai mudar sobretudo nos partidos onde muita gente não soube envelhecer, e, pior do que isso, onde alguns julgando-se insubstituíveis não conseguiram entender que o protagonismo exacerbado é o doença prolongada da política. Não estou a falar de um partido em especial, estou a falar de todos, os grandes e os pequenos, os que têm tido penacho parlamentar e os que nem isso.

As três eleições e particularmente as autárquicas que se desdobram em três sufrágios distintos (assembleias, câmaras e juntas) deram resultados tais que nenhum dos partidos se pode gabar de não ter progredido como os caranguejos – avançaram às arrecuas… - como também nenhum deles, quer por via das insípidas europeias ou das confinadas autárquicas, quer por via das desvirtuadas legislativas (círculo eleitoral desvirtuado, direcções regionais desvirtuadas, programas e compromissos eleitorais secundarizados em benefício dos apetites dos inúmeros líderes nacionais que se atropelaram), pode hoje dizer que debitou um contributo de liderança para o escol de líderes de que o Algarve carece. E aqui é que bate o ponto.

Na Europa, o Algarve perdeu ou não obteve um lugar, uma presença natural, o que só conseguiria impor por mérito de alguém suportado por eventual e incontornável força política dentro dos partidos; nas legislativas, os directórios políticos regionais deixaram-se ultrapassar pelos directórios de Lisboa que, na prática e apesar da fama de nacionais, são os directórios mais provincianos que o país tem e onde o Algarve não contou mesmo na sua parte mais provinciana; e nas autárquicas, além do apreciável número de chefes locais em fim de carreira por imposição legal ou movidos pela perspectiva de cálculo de reforma (também conta, mesmo a nível de freguesia) pouco ou nada, de Aljezur a Alcoutim e de Vila do Bispo e Vila Real, poderia emergir para o patamar de liderança regional, embora em Faro tenha sido levantada por mero exercício populista a questão da «Capital do Algarve», como se esta questão dependesse de postura municipal ou de subjugação das restantes 15 capitais como no fundo querem ser, à excepção de Alcoutim que é a terra mais pobre do país e de Monchique que é um Algarve à parte.

Mais? Fica para a semana.

Carlos Albino

    Flagrante evidência: Uma palavra para o elevado nível de um bom número de blogues algarvios neste ciclo eleitoral. Muita coisa por aí fraca, dispensável e até sem padrão de ética política; mas também um bom número que dá esperança pois foram prova de cidadania, dês escrutínio acutilante e, sobretudo, de saber.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

SMS 332. Macário Correia é quem fica mais exposto

15 Outubro 2009

A poeira das autárquicas começa a assentar e não é difícil perceber que as atenções, nos próximos tempos, vão virar-se para Faro. Na verdade é Macário Correia quem fica mais exposto aos olhos de todos, porque todos vão prestar enorme atenção aos pretextos que ele vai invocar quer para fazer isto quer não fazer aquilo.

Macário Correia não pode cair em argumentos provincianos já gastos e regastos ao longo destas décadas de experiências nas sucessões autárquicas, para tentar justificar o que não vai poder fazer, pois logo no primeiro momento em que decidiu trocar Tavira por Faro, como diria o outro, Faro não é Portimão, nem Albufeira, nem Loulé – Faro é Faro… Ou seja: Faro não é um concelho onde o ouro se cave e não fosse o aeroporto e uma dúzia de serviços administrativos a que se junta o governo civil, o fórum e o bispado, Faro seria menos que Faro.

Com isto não estamos a dar razão ao cartaz politicamente suicidário de José Apolinário (aliás, não foi Apolinário que falhou, foi a sua campanha que falhou) estamos apenas a dizer que Faro não depende de qualquer messias, pelo que se Macário Correia julgar, por um segundo que seja, que vai ser o messias de Faro, não só andará enganado como facilmente cairá na tentação de usar um argumentário de que será a primeira vítima no final do mandato, se não for antes, pois Faro gosta muito de sentir a iminência de intercalares – dá vida ao centro da cidade.

É que já está fora de moda esse pretexto das contas ou da situação financeira da câmara anterior se encontrarem invocadamente num caos, no fundo um pretexto para acautelar incumprimentos mais que certos por parte de quem isso denuncia – oxalá o ganhador em Tavira não use o mesmo expediente relativamente ao seu antecessor Macário pois sofreria as mesmas consequências que este sofrerá em Faro se cair na tentação desse choradinho típico do populismo.

Um político que o seja, quando se candidata ao comando de uma cidade com a simbologia que Faro possui, naturalmente que tem a obrigação de saber como é que estão as contas que não são segredo de estado. Não é no dia seguinte que delas toma conhecimento, é na véspera de se candidatar, e é para isso que existem os partidos aos quais compete o escrutínio constante. É geralmente sabido que a contabilidade é um jogo mas, mesmo como jogo, não deve perder a decência, caso se pretenda ir longe, ou pelo menos, um pouco mais além.

Carlos Albino

    Flagrantes lições: As lições gratificantes do PS em Vila do Bispo e Olhão (para bom entendedor…), têm muito a ver com as penosas lições do mesmo PS em Loulé e em Monchique.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

SMS 331. Os 16 + 82 algarves, fora o resto

8 Outubro 2009

Pois o resto serão esses 56 organismos do estado, eufemísticamente ditos regionais, tal como foram contados por João Soares que se deu a esse trabalho, por entre direcções, administrações, delegações e possivelmente agências e que dificilmente conseguem evitar cair na tentação de serem quintais provincianos, a somar aos 16 tendencialmente quintais camarários e, os piores dos quintais, aos 82 das freguesias onde geralmente a humildade reside quinze dias antes das eleições e evapora-se oito dias depois.

É claro que esta descrição será um exagero e possivelmente uma falsidade se houver, em razão de cultura local, bastantes excepções entre as câmaras seja qual for a força política que as lidere, e excepções também por entre as freguesias. Ou melhor, para não se ofender ninguém, e não tendo em conta o número de algarves das empresas municipais, intermunicipais e paramunicipais que estão no vasto território de mordomais e favores discutíveis, nada custa afirmar gratuitamente que nenhuma câmara algarvia deixa de ser excepção não reclamando autonomia provinciana, e também que todas as freguesias algarvias são excepções ao mesmo anestesiante provincianismo – assim ficamos todos contentes com esse estatuto de excepções, embora as freguesias continuem a desunhar-se por mais três centímetros de território além, ou quatro aqui na perspectiva do imobiliário, e as câmaras continuem a contribuir, cada uma por seu lado e na defesa intransigente das suas visíveis fronteiras, para o esvaziamento do conceito concreto de Região (com letra grande), porque o conceito abstracto não incomoda e está nas nuvens. Ficamos portanto na mesma, sem se saber se o Algarve concreto é ou não todo ele uma excepção ao caciquismo ou todo ele uma disfarçadíssima adesão ao dito caciquismo que se pretende combater com a imposição legal do número de mandatos.

Somando as parcelas, 16 algarves camarários, mais os 82 dos fregueses, mais ainda os tais 56 do corrupio de despachos em Lisboa, aí teremos 154 algarves - o que, convenhamos, são algarves a mais para se pensar numa voz afinada, enfim, numa voz que há bem escassos anos se poderia designar como voz do povo algarvio, e que outrora foi lícito admitir que, em democracia representativa, haveria de ser sinónimo de salto cultural, de aprofundamento político do exercício da Crítica, e de movimentação cívica de uma sociedade ciosa de alguma identidade que lhe seja própria por nascença ou por adopção, tanto faz.

A falta dessa voz denuncia, todavia, a falta de liderança da Região ou a falta de competição entre candidatos a lideranças, como as legislativas poderiam e deveriam ter suscitado, para se evitar algum dia, um pior mal que é o do populismo. E não é pelas autárquicas que tal voz se consegue, antes pelo contrário.

Carlos Albino

    Flagrante surpresa: Surpresa mesmo, o despacho do Ministro dos Negócios Estrangeiros prorrogando por mais três anos (até 2012), a comissão de serviço de Miguel Freitas com efeitos a partir de 1 de Setembro, como conselheiro técnico principal na Representação Permanente em Bruxelas junto da UE. Como é? Outra vez suspensão do mandato? Para quê então concorrer?