quarta-feira, 30 de setembro de 2009

SMS 330. E ninguém tira conclusões?

1 Outubro 2009

Desculpem, sobretudo Miguel Freitas e Mendes Bota, mas as eleições legislativas ainda são feitas por círculos com listas próprias pelo que a leitura política do sufrágio deve passar por um primeiro patamar que é o do círculo – só a partir daí é que a conversa pode ser outra. Nesse primeiro patamar, estão em causa as lideranças partidárias regionais, as listas da cabeça à cauda, e os projectos, programas ou ideias galvanizadoras para a região, sobretudo se a região coincide com o círculo como é o caso raro do Algarve. Os líderes regionais não podem isentar-se desse escrutínio, tenham sido cabeças ou segundos das listas, estejam ou não eleitos.

As perdas enormes do PS no Algarve obviamente que não se explicam pelos incorrectamente chamados votos de protesto que, como tal, não existem e são desculpas de mau pagador de promessas. Quando o eleitor vota, escolhe quem quer e discrimina ou afasta quem não quer – qualquer voto é simultaneamente adesão e protesto. Tanto assim, que é admissível e até comprovável que muitos eleitores que voltaram e voltarão a votar no PS protestam tanto ou mais ainda do que aqueles alegados protestantes que transferiram os seus votos para o PSD do Algarve e para o BE do Algarve. Não é por aí, não valendo a pena explicar os males do PS do Algarve como efeitos dos erros de Sócrates.

O mesmo no PSD que perdeu a hipótese de uma vitória histórica no Algarve mas viu escapar-se-lhe eleitorado suficiente para o CDS julgar que é o que não será tanto. O PSD só não ficou eleitoralmente humilhado porque a perda para o mesmo CDS foi compensada pelos votos provenientes do PS, compondo a fotografia.

Ora Miguel Freitas e Mendes Bota deveriam tirar conclusões, possivelmente aquelas conclusões que o escol do eleitorado tirou: o Algarve tem chefes e até muitos candidatos a chefes, mas não tem lideranças políticas com bilhete de identidade reconhecível, programa galvanizador, projecto com cabeça tronco e membros, ideia para a região e não para os quintais de interesses e caciques do costume.

Quanto a Miguel Freitas, as enormes perdas do PS do Algarve foram, em análise séria, perdas no Algarve, e se, globalmente no país, o PS tivesse seguido o comportamento do eleitorado algarvio teria o destino traçado: em vez dos 96 mandatos até agora obtidos, teria metade dos de 2005: apenas 60… Naturalmente que a lassidão de comando e arrastamento acrítico do PS do Algarve nos últimos anos, conduziu a isto.

Quanto a Mendes Bota, enfim, teve tudo contra – perfil da líder nacional do partido, perfil da lista, perfil circunstancial do CDS que fez à vontade e sem transtorno o tal trabalho de sapa que o mar faz nas falésias da região hidrográfica.

Carlos Albino

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SMS 329. Quase roçou o insulto

24 Setembro 2009

Deve-me ter escapado algum depoimento mas julgo ter lido praticamente todas as declarações por palavras que não voam, i.e. imprensas em papel de jornal, ditas pelos cabeças de lista do círculo eleitoral de Faro. Todos eles, sobretudo os que se reputaram com a fama de elegíveis, não sendo oriundos do Algarve (o que é de somenos importância) nem tendo histórico político identificado com o Algarve a ponto de a legitimidade de o representar coincidir com a credibilidade cívica da ligação aos eleitores (e isto é que está em causa), pois todos eles se esforçaram por ou atenuar ou secundarizar a forma como tomaram ou tiveram que tomar cada um o seu comboio para o Algarve e em alta velocidade. Com particular curiosidade segui os depoimentos de Bacelar Gouveia (de Lisboa, PSD), João Soares (de Lisboa em parte por via da Fuzeta, PS), Cecília Honório (de Cascais, BE), Paulo Sá (de Guimarães, PCP) e Artur Rêgo (de Luanda, CDS). Cada um disse o que pensava sobre as questões essenciais do Algarve, tudo bem, são responsáveis, de maior e vacinados.

Mas há um depoimento que deveras me chocou e até me entristeceu. Foi o de Bacelar Gouveia. Para justificar a sua falta de ligação ao Algarve respondeu que há pessoas de referência da região que não são algarvias, dando como exemplos o bispo do Algarve (transmontano) e o treinador do Olhanense (do Porto), reduzindo depois essa questão a um «aproveitamento bairrista». Ora, Bacelar Gouveia adulterou o fundo da questão e as analogias que estabelece entre a eleição do principal representante da região no parlamento e o bispo do Algarve ou treinador do Olhanense, roça o insulto a quem vê a política e espera da política mais do que uma missa ou um pontapé na bola.

É claro que não basta dizer que se conhece o Algarve (o da vida diurna? nocturna? O dos golfes? o dos iates?) para daí se concluir que há uma identificação política – política, repita-se, na dignidade da palavra ou na dignidade que ela devia ter sempre – com o eleitorado, com os cidadãos que do Algarve fazem a sua vida e dele dependem. Também não basta ter-se nascido no Algarve para se ser algarvio, nem é preciso repetir a Bacelar Gouveia que alguns, e não são poucos, nasceram no Algarve mas são politicamente um erro da natureza. Não há qualquer «aproveitamento bairrista» exigir-se aos que se propõem representar o eleitorado algarvio no parlamento um perfil de identificação cívica e política com a vida algarvia, a que reside aqui, aqui trabalha e aqui vai morrendo em cada segundo que passa, e não a que para aqui vem em calção curto, começando o Algarve no Mar-e-Guerra e terminando no Patacão, cabendo num circuito do Minibus de Faro.

Bacelar Gouveia obviamente desconhece que os algarvios sabem muito bem o que é o bairrismo, sabendo melhor que o senhor bispo de Faro, por melhor transmontano que seja, dificilmente treinará bem o Olhanense, assim como se duvida que o treinador deste clube, treine ele melhor que ninguém, diga melhor missa e faça homilia mais excelente que o bispo. É preciso continuar?

Carlos Albino

    Flagrante naturalidade: Por acaso, João Soares até conseguiu fazer-se mais algarvio em oito dias do que o n.º 2 e a n.º 3 da lista do PS durante anos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

SMS 328. Em função dos líderes



17 Setembro 2009

Como se esperava pelos critérios e tropelias das listas, a campanha para as legislativas depende dos líderes dos partidos, cada um deles por sua vez cabeça de lista de outros círculos (José Sócrates pela Beira Baixa de Castelo Branco, e tanto Ferreira Leite como Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã por Lisboa com ou sem TGV, já que o sulismo é o diabo para Paulo Portas além do Sul não ter grande lavoura e os nossos mercados haver mais peixe que peixeirada). A lassidão dos dirigentes partidários regionais, alguns deles já de si algarvios por adopção ou, melhor, por usucapião, somada à fraca preparação política ou, se ela existe, ao seguidismo dos militantes que se escondem acriticamente nas trincheiras concelhias, permitiram ou facilitaram o uso do círculo eleitoral de Faro como barriga de aluguer, voltando à expressão aqui usada há semanas e que se volta a reiterar para responder a protestos de consciências pesadas. E porque a campanha, melhor, o voto depende mais dos líderes do que das listas, eles aqui vieram, e num caso até mesmo fora do dia de baile para que a tampa não se notasse tanto. Portanto, tudo funcionou e funciona como se as eleições fossem para eleger o primeiro-ministro, e não apenas e só representantes por círculos que se juntarão aos restantes representantes dos outros círculos ditando uma determinada maioria e umas quantas minorias de cujo voto colegial dependerá o próximo governo. Portugal não tem um sistema de governo de chanceler mas, desvirtuando o regime de parlamentarismo e semi-presidencialismo, aqui vamos cantando e rindo como se a finalidade de 27 de Setembro fosse eleger um chanceler.

Numa coisa Jerónimo de Sousa tem razão, deixem lá o homem ter razão ainda que seja numa, embora isto mais pareça ser uma observação do nosso caro Watson para Sherlock Holmes: as eleições legislativas não são para eleger o primeiro-ministro, são para eleger deputados em listas por círculos…

Todavia, apesar de no círculo de Faro não estar directamente em causa a eleição de José Sócrates, Ferreira Leite, Louçã, Jerónimo ou Portas como deputados, a propaganda, a actividade dos partidos e a enorme pressão oportunista exercida sobre o eleitorado relegou para segundo plano os candidatos genuínos que, bons ou maus, serão eleitos ou postergados em função dos respectivos líderes que, de resto, os colocaram impositivamente na barriga de aluguer. Isto não justifica a abstenção, apesar do desvirtuamento das regras democráticas acabar por ser uma sorte grande para os três primeiros de cada lista.

Carlos Albino

    Flagrante sintoma: O esforço para prova de ter alguma coisa a ver com o Algarve, como se isto fosse questão de raça. Se até os marroquinos adoptivos e os cães de caça têm, porque é que angolanos remotos, lisboetas de gema, beirões reciclados e minhotos in vitro não hão de ter?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

SMS 327. Não há explicação



10 Setembro 2009

Descontado algum caso de manifesto favor ou compensação política não justificada (não vamos entrar por aí porque daria pano para mangas), acerca das listas dos partidos para as legislativas no Algarve, pouco ou nada há para dizer que já não tenha sido dito: não há explicação aceitável para que os cabeças de lista não sejam figuras da região, figuras para a região ou figuras que provadamente e com identidade algarvia tenham capacidade, sensibilidade e conhecimento para representar a região. Se as alas regionais dos partidos aceitaram isso, o problema naturalmente que em primeira linha é dos partidos. Mas veremos como o eleitorado reagirá, muito embora os partidos já se tenham encarregado, há muito, de deixar sugerido que o melhor eleitorado é um eleitorado que, acéfalo e acrítico, se deixe conduzir ou moldar não pelas ideias mas pela propaganda, tal como já moldaram o cidadão algarvio para a inevitabilidade da descaracterização dos tons, valores e responsabilidades regionais.

Os partidos, designadamente quando estão no poder, têm tratado o Algarve como se isto aqui fosse uma caldeirada entregando a meros emigrantes de luxo instalados na região responsabilidades e competências a que nas suas terras de origem jamais ascenderiam. É também mais do que verdade que os algarvios, a começar pelas suas chamadas forças vivas que deveras estão mortas, consentem isso, toleram isso e por vezes até gostam disso por perverso exercício de represália contra um concorrente conterrâneo.

O mal dos que têm conduzido ou conduziram a política no Algarve é o de, desde há muito, desde o 25 de Abril digamos sem ofensa, serem de uma extrema subserviência para qualquer poder de Lisboa (do partidos ou do Estado) e, ao mesmo tempo, de uma extrema arrogância para os algarvios que estão ao lado, um pouco acima ou um pouco abaixo, sendo a arrogância maior caso estejamos perante um algarvio mal amanhado.

Carlos Albino

    Flagrante sabedoria: O ministro do Ambiente quer multar os banhistas… Pouco faltará para multar os safios, as bogas, os camarões, as ferreirinhas, as lapas, enfim, todos esses seres responsáveis pelos crimes ambientais cometidos na costa algarvia por acção ou omissão, sobretudo as bogas e as ferreirinhas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

SMS 326. Arquive-se?



3 Setembro 2009

A Procuradoria abriu um inquérito-crime sobre a tragédia da praia Maria Luísa, mas, curiosamente, as declarações de isenção de responsabilidade continuaram como se não houvesse inquérito. Além disso, a atribuição de louvores não se fez esperar como se o inquérito já tivesse terminado e as conclusões permitissem louvores. Nada permite duvidar das intenções e da actuação da Procuradoria muito embora seja lícito pensar que eventuais culpados terão todo o interesse em esvaziar, por esta ou aquela via, a iniciativa legal. Isso mesmo já tem acontecido noutros casos e mais um não admiraria que viesse a terminar com o tal carimbo do «Arquive-se».

Mas admitindo-se que há inquérito sério e sem a intenção política do «Arquive-se» a ruir sobre as conclusões em fuga atempada, há duas perguntas inevitáveis. Por acaso foram exigidos os relatórios dos célebres estudos que responsáveis garantiram ter sido feitos pouco tempo antes da tragédia e que permitiram concluir que o risco «não era iminente»? E por acaso foi questionada em sede de inquérito a oportunidade da demolição do trágico penhasco da praia e a importância dessa iniciativa para a conservação e avaliação de provas – ou seja, a demolição foi feita com prévia consulta e anuência da Procuradoria?

Voltaremos ao assunto as vezes que forem necessárias.

Carlos Albino

    Flagrante cálculo: A avaliar os cálculos dos responsáveis pelos cinco partidos com expectativas de ganho regional nas legislativas, o círculo de Faro elegeria 14 deputados e não apenas os oito que lhe cabe em sorte… Aguardemos calmamente o final de Setembro e, até lá, alguns humoristas da política que vieram parar ao Algarve podem dizer tudo e até atirar foguetes e apanhar as canas.