quinta-feira, 28 de maio de 2009

SMS 316. Então venham as boas notícias



28 Maio 2009

Sobretudo os do poder, clamam contra o darem-se apenas as “más notícias” com isso pretendendo dizer-se que as “boas notícias” são omitidas ou deliberadamente omitidas. Sem talvez disso se aperceberem, esses que clamam estão a assumir o princípio fundador de qualquer censura prévia e que tem a ver, obviamente, com aquilo que leva a que uma notícia possa ou deva ser considerada como má ou como boa, o que varia radicalmente entre quem governa ou administra e quem é governado e administrado – má para aqueles por amor a estes ou má para estes por amor àqueles tais. É por isso que nos regimes autoritários de censura prévia, há listas ou critérios para determinar quando uma notícia é má e quando ela é boa, chegando-se tanto mais ao ridículo quanto mais o regime político entrar no ridículo – uma notícia de mau tempo, por exemplo, sendo má, passa a ser proibida, como já infelizmente aconteceu aqui e além neste pobre mundo. É claro que, num regime democrático, quem clama contras as “más notícias” ainda não chegou ao ponto de querer proibir ou contrariar notícias sobre o mau tempo, como acontece na Coreia do Norte, quanto “más notícias” serão apenas aquelas tais que visam quem assim protesta ou o grupo onde quem protesta se insere, sendo “boas notícias” todas aquelas que consegue fazer divulgar visando o adversário político, o concorrente económico ou o pressuposto inimigo na escala da saloice social. Apenas não chegam à Coreia do Norte porque a democracia ainda tem corda, o que já por si é uma boa notícia ainda que seja uma das poucas boas notícias numa terra onde em doze notícias más é uma sorte haver uma boa e mesmo esta, para ser deveras boa, tenha que elogiar em algum parágrafo quem se julga na legitimidade de fazer a lista ou traçar os critérios do que seja mau ou bom numa notícia – na saúde, na segurança, no emprego, na economia, por aí fora incluindo o turismo que foge das más notícias como o diabo da cruz quando tem os tiques do diabo. Daí que, boa notícia no Algarve, obviamente, é a da subida do Olhanense, ou, para descarregar a alma de vez em quando, que foi distribuída ao almoço bastante comida a meia-dúzia de pobrezinhos porque para uma dúzia a comida seria já pouca e, sabendo-se isso, corria-se o risco de ser má notícia.

Carlos Albino

      Flagrante apelo: Votem no dia 7 porque a Europa não tem culpa.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

SMS 315. Pressões altas e baixas pressões



21 Maio 2009

Há um lado da sociedade que, no que toca a defender interesses, volta a considerar-se acima de qualquer regra, isenta de qualquer lei e à margem de qualquer comando colectivo. Tais interesses obviamente que não são interesses gerais mas apenas interesses pessoais ou, de quando em quando, interesses de grupo ou de bando, como se queira. E nem pertencendo tais interesses sequer à esfera do interesse geral, mais longe estão do que se costuma designar por bem comum. Os que se acolheram nesse lado da sociedade e actuam no livre arbítrio, para sobreviverem, necessitam todavia de poder, de qualquer poder, de qualquer porção ou qualidade de poder, nem que seja um ridículo poder de fatela. Só com poder é que essa gente de excepção sediciosa desenvolve força de pressão para voar acima das regras, se isentar das leis e marginalizar-se solenemente dos comandos colectivos impondo à consideração geral o seu livre arbítrio. Sem dúvida que um regime autoritário é por definição o exemplo acabado de uma sociedade submetida ao arbítrio de tal gente, mas um regime democrático não está livre dela sobretudo quando atribui ou distribui poder sem escrutinar quem o exerce e a forma como o exerce. Aliás essa gente espúria num regime democrático e que, pela lógica que lhe é própria, se crava como o espinho de pita em qualquer partido ou força democrática, destina a sua primeira e permanente atenção a tudo o que possa impedir o desenvolvimento do livre arbítrio, o benefício da isenção das regras e a vivência à margem dos comandos colectivos. É assim que amiúde contaminam o procedimento administrativo, é assim que perturbam o sistema de partidos dissimulando em fonte de admiração o que, numa sociedade em normalidade, não passaria de delinquência, é assim que interferem nos actos de autoridades legítimas que se lhe oponham ou que surpreendam o tal flagrante delito, é assim que moldam a justiça quando esta se deixa reduzir ao barro modelável dos adiamentos, dos recursos, da invocação torcida do número tal retorcido pela tal alínea visando o arquivamento da perna que ficou de fora, é assim que soterram a moral política. E a coisa revela-se tanto pior quanto mais cá por baixo do poder o fenómeno se nota. Tenho verificado que a própria GNR já recua na autuação perante um cartão de chefe municipal de terceira ordem colocado no vidro dianteiro do carro… As altas pressões começam por aqui.

Carlos Albino

      Flagrante avaliação: O mínimo que se esperava é que, antes de mais um Allgarve, se apresentassem as contas e a avaliação do Allgarve anterior – se vale, como valeu e quem beneficiou, a quem e quanto se pagou, se foi encomendado um estudo de avaliação e se por acaso as conclusões foram publicadas e acolhidas, enfim, se compensa um ministério da Economia substituir-se ao ministério da Cultura como se o ministério da Economia fosse o mecenas ou o adequado representante sindical dos mecenas.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

SMS 314. Mudar esses hábitos



14 Maio 2009

O primeiro desses hábitos – Cada um na sua terra julga-se no centro do mundo e da sua terra não sai mesmo que na terra ao lado ou quase ao lado haja um colóquio, uma exposição, um concerto, um teatro, um debate, um encontro, por aí fora sabendo-se de antemão que se trata de coisa de elevada qualidade. Sair de Faro para em Portimão usufruir do que não acontece ou não há em Faro é um sacrifício, rumar de Portimão para Lagos faz envelhecer a não ser que a coisa em Lagos seja de um primo, compadre ou ex-credor e da foz do Arade até Faro será de todo impensável, ir de Tavira a Faro será quase o mesmo que uma circunvalação da terra, alguém de Faro deslocar-se a Loulé só empurrado pelo avanço do mar uns 15 quilómetros terra adentro… Resulta assim que o que de bom e até de muito bom vai acontecendo uma vez por outra aqui e ali no Algarve, tenha pequenos públicos que por vezes nem chegam a formar públicos mas grupos de almas cheias de piedade para as coisas da Cultura ou, por narcisismo, para as coisas de si próprias. Há deveras um défice de Algarve na participação em actividades culturais porque é destas que falamos e se não fossem os festivais de sardinhas, mariscos e cerveja os pobres seres que têm mais barriga que olhos, cada terra algarvia seria mais ilha do que cada ilha dos Açores. Há que mudar este péssimo hábito do isolamento altaneiro que mais não é do que localismo pífio provocado pelo vírus da gripe do provincianismo mental que se propaga pelos espirros – provoquem os espirros de Faro ou de Portimão e verão se a gripe cultural não contaminará todo o Algarve.

O segundo de tais hábitos – Passou a ser regra que sessão pública que se preze tenha de ser presidida por autoridade do mais alto possível. Compreende-se que na política assim possa ser e nalguns casos até deva ser porque na política há suseranias e vassalagens, já mais difícil de aceitar será que essa «presidência da autoridade» tenha que ocorrer na cultura e nos debates de ideias sem vassalagem. Mas isso suporta-se e muitas vezes até se deve agradecer a deferência da autoridade. O que já não se suporta e menos se aceita é que autoridade aceite presidir e das duas uma: ou se faz representar por alguém a fazer figura de autoridade, ou está presente nos cinco minutos iniciais para uma intervenção de sua majestade pirando-se da sala logo a seguir a pretexto de ter de cumprir acto de agenda há muito programado… Este hábito começou primeiramente lá em cima, foi descendo por aí abaixo, já chegou ao presidente de junta de freguesia e chegaria ao regedor se regedores houvesse declaradamente por lei, porque de facto mais não temos do que regedores nas autoridades que por aí andam a aparecer como que a cumprir aparições divinas. Também há que mudar este péssimo hábito: quem não pode ir, não delega; quem não pode estar até ao fim, não vai; quem não tem tempo ou paciência para aturar coisas chatas da cultura ou das ideias, demite-se da coisa pública e nem espera pela exoneração.

Carlos Albino

      Flagrante dúvida: E quem deve declarar como fossas as praias que amiúde e inesperadamente ficam transformadas em fossas porque fossas são?

quinta-feira, 7 de maio de 2009

SMS 313. A classe da classe política



7 Maio 2009

Desta feita esperava-se que os políticos algarvios, ou políticos do Algarve ou políticos que por acaso e conveniência estão no Algarve, ao lhes ser proporcionado espaço em jornais (sobretudo em jornais porque na rádio a voz pode falhar e em sempre é bonita de se ouvir) mostrassem classe, abordassem temas de teor directo e útil para a sociedade e, enfim, recobrissem os espinhos das polémicas perturbadoras com o veludo da confiança, ou seja, que mostrassem a classe da classe política. Esperava-se assim que nesta fase pré-eleitoral (pré das autarquias e pré dos lugares elegíveis das legislativas), os políticos elevassem a imprensa da região para aquele patamar onde o debate casa indissoluvelmente com a inteligência em regime de comunhão de conhecimentos adquiridos. Mas não! Vem um e fala dos passarinhos que fazem os ninhos nos beirais dos telhados, chega outro e escreve sobre a figura da mãe que é o tema mais estafado desde que a Eva escolheu essa nova oportunidade, outro ainda pronuncia-se sobre esse tema da política regional que é o da subida do Olhanense, outro mais avança com uns parágrafos sobre coisas mais que evidentes da Europa do género dois-mais-dois igual a qualquer coisa, e por aí fora, prevendo-se já que, nos próximos dias, algum autarca escreva sobre o 13 de Maio, outro sobre o problema da eventual invasão de alforrecas, mais outro sobre a forma como o governo está proteger a produção de mel e a proceder à medição das ondas como nenhum governo até hoje ousou – como se verifica, temas da mais elevada importância para os algarvios.

Aos políticos com a classe de políticos que temos, obviamente que não interessa a abordagem frontal dos problemas que afligem as populações, porquanto interessa-lhes apenas aparecer, melhor será se o aparecimento for regular ou periódico, sendo o ideal com fotografia como que a fazer uma espécie daquela prova de vida aos balcões da Caixa Geral de Depósitos. Interessa-lhes apenas dizer aquele «estou vivo», este «estou aqui» e «esta é a minha cara». Portanto, para quê mais do que os ninhos dos passarinhos, os filhos da mãe, o óbvio da Europa, a invasão de alforrecas? Não será verdade que para o grosso dos políticos que temos vindo a conhecer no Algarve as ideias não são mais do que «o combate do adversário» a tal ponto que não teremos políticos mas apenas grandes combatentes?

Carlos Albino


      Flagrante troço: Apolinário desafia Macário, que ainda está em Tavira, para debate das contas de Faro, falta Macário desafiar Apolinário para debate das contas de Tavira. Daqui se conclui que a 125 já está requalificada no troço Faro-Tavira.