quinta-feira, 26 de junho de 2008

SMS 268. Resta a escaramuça

26 Junho 2008

Pelo que se deu conta, apenas uma só pessoa do Algarve marca presença nos novos órgãos nacionais do principal partido da oposição – Isabel Soares, secretária da mesa do Congresso, um lugar de faz de conta, sem desrespeito pela autarca de Silves.

Houve quem esperasse, enfim, que Macário Correia na eterna mas também divertida estafeta partidária com José Mendes Bota, pudesse personificar a tradicional consolação reservada pelos grandes partidos aos tristes sulistas e liberais palradores. E chegou-se a pensar que as suas profissões de fé em Manuela Ferreira Leite seriam já não tanto um passaporte para vogal da Comissão Política Nacional do PSD, mas pelo menos um visto de residência no Conselho Nacional.

Macário Correia foi governante, é autarca prestigiado e sendo presidente da Grande Área Metropolitana do Algarve (embora esta coisa pareça uma ONG), ele reunia condições para, desta vez e nas águas que passam agora debaixo das pontes do seu partido, assinar politicamente o livro de ponto. Mas não. Macário Correia ficou de fora e também seria difícil a Manuela Ferreira Leite encontrar alguém do Algarve que com ela fizesse equipa, sobretudo na matéria da regionalização administrativa da qual foge como o diabo da cruz.

Se Macário tivesse o peso adquirido de dirigente nacional do partido, naturalmente que o próximo embate com José Mendes Bota na disputa da liderança regional do PSD, teria outro sabor político. Não seria guerra, mas poderia ser diferendo de ideias, enfim, de projectos de sociedade, se é que nos tempos que correm se pode esperar de algum líder ou candidato a líder alguma ideia ou algum projecto de sociedade, porquanto são quase tão só bandeiras de algum conjunto de interesses difusos.

Nestes termos, o embate de Macário Correia com José Mendes Bota não vai passar de escaramuça. Independentemente do desfecho, quem ganhar a escaramuça outra coisa não vai ser na actual máquina do PSD do que um sorridente sulista e inofensivo palrador.

Carlos Albino

      Flagrante regresso: O de João Sabóia ao Arquivo Distrital de Faro que tem andado demasiado arquivado.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

SMS 267. O debate político…

19 Junho 2008

É já um lugar comum dizer-se que há falta de debate político no Algarve. E outra coisa não seria de esperar, sendo este um verdadeiro paradoxo da democracia que temos – não se usa os instrumentos que temos para, em completa liberdade de ideias e opinião, se aperfeiçoar a sociedade. É claro que se discute o cargo e o nomeado ou o preterido, a construção permitida ou interdita, a estrada que devia passar para todos e não à porta do regedor, é-se do contra quando não pinga o subsídio e defende-se o compadre quando o subsídio pingou, mas claro é também que isto não é a Política e muitas vezes ou quase sempre sendo da política está contra a Política.

As secções regionais dos grandes partidos limitam-se às escaramuças de sucessão e alternativas (agora é o PSD a passar por essa fase) ou então não ultrapassam a gestão calculada dos benefícios do poder para o que o silêncio é regra de ouro (caso típico do PS também nesta fase). A coisa parece aquecer quando o calendário eleitoral força a elaboração de listas para S. Bento, câmaras e juntas e, mesmo assim, a política não passa da política de listas em função de interesses e de grupos de interesses paralelos à política – o que também não é Política, muito menos debate político, embora se diga que seja. Resumindo e concluindo, aquilo a que impropriamente se chama política pouco mais será do que a organização de interesses privados mascarados de interesse público, sem que alguma vez se questione o bem comum, os valores que devam nortear a convivência, os projectos para uma ideia firme de sociedade no Algarve e os programas que avaliem meios para atingir as finalidades do bem comum e dos primados da pessoa, da justiça, da segurança e do desenvolvimento. Não se nega que os partidos, a começar pelos grandes (PS e PSD) estão cheios de ideais gerais sobre essas matérias, mas de ideias gerais está o inferno cheio com isso enganando-se todos os diabos.

Colocar nomes a este propósito, não só seria de mau-senso como também não seria de bom-tom para a Política como a entendemos numa democracia. Os nomes são secundários nesta abordagem e diabolizá-los também não iria salvar ninguém que esteja no inferno das ideias gerais. Mas será bom que todos os diabos pensem nisto, antes que o inferno estoire por falta de Política.

Carlos Albino

      Flagrante aniversário: O da Orquestra do Algarve que fez seis anos. Ora como a idade de uma orquestra é como a dos gatos (o primeiro ano equivale a 15 anos humanos e cada ano a mais vale cinco) a orquestra do maestro Cesário Costa tem 40 anos. Que o Algarve preserve o seu 17.º concelho que é a nossa maior autarquia de humanismo. Sem esse gato estaríamos mais pobres e sem companhia de estimação.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

SMS 266. Algarvios na Patagónia

12 Jumho 2008

Ponto prévio - Só por estreiteza de visão é que se pode ver aguerrida competição política entre a Presidência da República com a atribuição do Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa e os Prémios Talento do governo para distinguir os portugueses e luso-descendentes residentes no estrangeiro que se destaquem precisamente por isso – pelo talento. E estreiteza de visão ainda, lá porque uns prémios sejam dados num dia e outro no dia seguinte – no mesmo dia que fosse e à mesma hora, uma iniciativa não anula a outra, completam-se e, desde que os critérios sejam os da excelência, o mundo da emigração merece esses e mais prémios que houvesse nesse fito de reconhecimento da excelência.

Este ano, um dos prémios talento foi para uma associação de emigrantes radicados nos confins da Patagónia, emigrantes na sua maioria descendentes de algarvios – trata-se da Associação Portuguesa de Beneficência e Socorros Mútuos de Comodoro Rivadavia, província de Chubut, na Argentina, junto aos Andes patagónicos, a 2.000 kms de Buenos Aires. E quem subiu ao palco, foi a presidente dessa instituição, Maria Coelho Amado de Martín, descendente directa de gente do sítio da Tenoca, Boliqueime, Loulé… Aliás, os emigrantes dessa longínqua comunidade são, na sua maioria, oriundos do Algarve, chegados a essas terras desérticas a partir de 1902.

Fundada a 7 de Outubro de 1923, a associação liderada por Maria Coelho Amado é hoje uma obra imensa, pujante e afirmativa cuja descrição não cabe neste espaço, nem viria a propósito. O que vem a propósito deixar claro que o Algarve não pode nem deve perder de vista as extensões talentosas que possui na emigração, sabendo dar sem olhar ao que poderá receber ou sem fazer contas para tal e acima de estreitas visões.

Por isso, calou fundo a presença da governadora civil do Algarve na cerimónia de entrega dos prémios Talento, no convento do Beato. Não sendo algarvia, procedeu como algarvia e isso cala fundo.

Carlos Albino

      Flagrante trabalho de casa: Para Seruca Emídio que, com esta “descoberta” de louletanos nos confins da Argentina, lá tem que ir para a Patagónia. Mas que vá bem acompanhado.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

SMS 265. Sinais dos tempos

5 Junho 2008

A delegação portuguesa ao Congresso dos Poderes Locais e Regionais da Europa nomeada pelo governo, mostra os sinais dos tempos. Esse congresso, cuja primeira sessão plenária, em Estrasburgo, decorreu no final de Maio tendo decido por efectuar duas sessões a partir de 2009, é um dos quatro principais órgãos do Conselho da Europa, ao lado do Comité de Ministros, da Assembleia Parlamentar e do Secretariado-geral, aí cada estado faz o que entende – ou participa a sério e leva a sério, ou pura e simplesmente dedica-se ao turismo político. Mas o que, por ora se questiona, não saber-se se Portugal faz nisso turismo político, ou a isso se dedica a sério. Está em causa a delegação portuguesa.

Justificou o governo que para a nomeação de tal delegação consultou os governos autónomos dos Açores e da Madeira e ainda a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a Associação Nacional de Freguesias (ANF). E compreende-se – o congresso tem duas câmaras, a dos poderes locais e a dos poderes regionais.

Vejamos então no que resultou a consulta: os delegados dos poderes locais partem dos municípios da Covilhã, Sousel, Cabeceiras de Basto e da freguesia de Oliveirinha, com substitutos de Leiria, Torres Novas, e da freguesia de Torgueda. Por sua vez, os delegados à Câmara dos Poderes Regionais, são o óbvio Carlos César (Açores), obviamente Alberto João Jardim (Madeira e Maria da Luz Rosinha (da Junta Metropolitana de Lisboa), com substitutos também da Madeira, dos Açores, mais um da Junta Metropolitana do Porto e outro ainda da junta de Lisboa – trata-se portanto de aplicar a velha fórmula do poder central e ilhas adjacentes.

Isto não engana – o Algarve não conta, nem para substituto como «região», nem ao menos para figura de corpo presente por entre os poderes locais. Não conta, e também não faz muito para contar. Algum dia, o Algarve será definido como uma área geográfica onde outrora viveram algarvios.

Carlos Albino

      Flagrante diferença de preços: Até para temas políticos, qualquer dia teremos que atestar em Espanha…