quinta-feira, 30 de agosto de 2007

SMS 225. As empresas e a Imprensa

30 Agosto 2007

Observo com espanto a forma como as empresas que operam no Algarve olham de esguelha para a generalidade da Imprensa cá da terra, mesmo até para os dois ou três jornais de justificada referência regional. Naturalmente que os hotéis pouco ou nada precisam dos jornais para terem as camas ocupadas e que os bons sonhos ou pesadelos de quem nestas se deita não dependem da maior ou menor publicidade na Imprensa. Também o que ao Algarve chega a jusante do turismo, da imobiliária à distribuição alimentar, ou a montante, das funerárias às águas engarrafadas e ao jogo, para não falar dos eventos muitos dos quais são as funerárias da cultura e o engarrafamento da convivência, não precisará grandemente dos jornais para engrossar a contabilidade de caixa. Mas é com espanto que, ano após ano, décadas de turismo já após décadas, as empresas que operam no Algarve, ainda que por conveniência não sejam do Algarve, não sintam a necessidade de um laivo de responsabilidade para com os jornais que tantas vezes ou amiúde zelam afinal pelos seus mais directos interesses e estão na primeira linha da defesa de boas condições e circunstâncias para que operem com êxito, proveito e lucro. Folheio a imprensa regional de ponta a ponta e é no mínimo uma vergonha a ausência, divórcio e distância dessas empresas que parece ser desdenhosa e colonial – não lhes dá distinção. As camas podem ficar ocupadas a cem por cento, mas a honra não consta na lista de hóspedes.

Sobre esta vergonha, há mais para dizer, descansem as autarquias e empresas públicas – fica para depois.

Carlos Albino


Flagrante debandada: Numa gala de beneficência em Vilamoura, a Primeira Dama saiu cumpridos os discursos e foi a mesa de honra ficou um deserto. Provincianismo é isso.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

SMS 224. Há dinheiro, Santo Deus!

23 Agosto 2007

Afinal, vendo bem, há dinheiro. Muito dinheiro, embora nem todos os municípios possam dizer o mesmo – sobretudo, ou como sempre, os municípios sem litoral que, sem resposta, reclamam solidariedade. Para não falar do dinheiro a rodos que o ministro Manuall Pinho atribuiu pelas caves de Serralves e pois coisas efémeras – algumas boas, sem dúvida, mas tão efémeras como a tal célebre coreografia na Ilha do Farol – isto é só meio milhão para uma regata de rei, 400 mil para aquilo, 200 para outra coisa, 300 para mais outra, 450 para que não se fique atrás do vizinho, 100 mil para dá cá aquela palha, 600 mil em três parcelas possivelmente para não se notar para quatro eventos porque o evento é que está dar, que o digam os intermediários que semeiam eventos mas não sofrem as tempestades. Há dinheiro, portanto, mas para as coisas efémeras. Para o que fica ou deveria ficar, para estruturas e programas com continuidade para os pobres indígenas, lá para isso não há, muito embora haja uma elite de parolos que apesar de não terem um chavo dentro da cabeça, vá beneficiando de uns pingos pela calada como convém.

Pois isto é tudo muito bonito, muito festivo mas suspeito que, algum dia, a massa crítica e sem dúvida culta da geração mais jovem acabará por acusar poderosos protagonistas do tempo presente como irresponsáveis, desprovidos de visão e alegres esbanjadores sem escrúpulos. Pensem bem.

Carlos Albino


Flagrante coincidência: Um responsável do PSD encontrou-me e disse-me: «Você diz coisas que eu penso e com que concordo mas que eu não posso dizer publicamente. Obrigado.» No da seguinte, um responsável do PS, trocando-se por acaso comigo, abriu a conversa assim: «Obrigado! É importante que haja alguém que diga as coisas que você diz, com as quais concordo plenamente mas que não posso dizer publicamente.» Coincidência, não é? Falta-ma ouvir o CDS, o PCP e o Bloco, porque estou em crer que até nestes haverá gente que não pode dizer publicamente o que pensa…

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

SMS 223. Diplomatas algarvios

16 Agosto 2007

Não sei porquê, mas parece que os algarvios não devem ter queda para a diplomacia. A propósito de um encontro anual minuciosamente preparado por um embaixador algarvio no activo, ocorreu contar os diplomatas cá da terra – não chegam aos dedos da mão. É claro que esta é uma daquelas coisas de que nenhum governo é culpado e de que nenhum partido é responsável. Mas abriu uma pista de reflexão – na verdade o Algarve, a sociedade algarvia e as suas poucas e frágeis instituições vivem como de costas viradas para as relações internacionais, quase ao avesso da política externa e como se a actividade diplomática e a acção política externa do Estado fossem coisas longínquas e com as quais o Algarve não tem nada a ver. Desde o Pai Adão que não há uma jornada, um seminário, uma conferência que seja sobre tais matérias, pelo que como as águias não geram pombas, também só por acaso deste ninho pode nascer um diplomata. Já era tempo da Universidade pública do Algarve ou algum instituto superior privado pensarem no assunto e mobilizarem a sociedade.

Carlos Albino


Flagrante tristeza: Na verdade, trazer ao Algarve arte contemporânea sem textos de enquadramento e sem adequadas notas explicativas é mesmo cultura do género do despacha que o cheque já foi passado e tem cobertura. Tanto comissário nem se sabe para quê.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

SMS 222. Dez coisas desagradáveis

9 Agosto 2007

Não é porque não faltem assuntos da política e dos políticos, ou lá porque médicos, jornalistas e advogados sejam já todos santos, ou porque o ministro Manuall Pinho já tenha ganhado a humildade que lhe falta, que o ministro Correia de Campos nos tenha convencido que essa do hospital não é para as calendas de Março, tal como tem acontecido com a eterna barragem de Odelouca, para não falar do célebre TGV Faro/Huelva prometido há dez anos para 2018! Nada disso! Falemos de dez coisas desagradáveis do dia a dia, tão desagradáveis que ninguém gosta de falar, perante as quais se fecham olhos, narinas e ouvidos, conforme o caso.

1 – Gente a urinar às esquinas das vias públicas ou fazendo o mesmo nas estradas, saindo de carros de alta gama – dois destes até reconheci obrigando-me a fazer cruzes canhoto. Vê-se.

2 – Gente da mesma igualha que escarra para os passeios públicos de Vila Real a Lagos, marcando território para a direita e para a esquerda. Ouve-se.

3 – Motos com tubos de escape abertos ou modificados, subindo ruas ou descendo avenidas como bombardeiros no Iraque. Ouve-se.

4 – Condutores que, com toda a insolência e até nas barbas dos polícias, estacionam os seus veículos sobre os passeios e só não o fazem junto da cama onde dormem, não por obesidade mas porque os carros não sobem escadas. Está patente.

5 – Outros da mesma igualha que passam pelas passadeiras de peões como talibãs em fórmula 1. Na terça, eu próprio por pouco não fui cilindrado.

6 – Gente que com contentores de ecopontos à frente dos olhos, continua a atirar lixo para as ruas porque para essa gente a rua será ainda uma pocilga. Cheira a peixe podre como qualquer mosca pode dar público testemunho de usufruto.

7 – Também gente que vai à frutaria e espeta a unha negra de suja na fruta ou que apalpa o pão depois de ter limpado a unha na fruta. Nota-se.

8 – Outra gente que, às tantas da noite, vai roubar flores, por exemplo, aos canteiros restaurados da Avenida de Loulé, para adornar marquises traseiras com cortinados chineses de onde seguem as educativas telenovelas do canal público e de outros canais correlativos.

9 – Restaurantes que, a escasso metro e meio de automóveis de gasolina, usam sem higiene alguma os passeios para os assadores de sardinhas e grelhadores de todas as carnes e gorduras, infestando os ares, provocando a vizinhança e provando que a ASAE nuns lados é um excesso desmedido e noutros faz de conta.

10 – Por último, umas croniquetas que há por aí que não passam de plágios da página 42 de um livro do Tibete e da página 73 de um filósofo de pacotilha que morreu à procura da felicidade pessoal absoluta tirando a dos outros. É claro que fazer plágio é o mesmo que exibir aquilo nas ruas a fazer aquilo ou espertar a unha negra na fruta intelectual.

Carlos Albino


Flagrante espectáculo: Macário a cantar o hino do Algarve se é que sabe a letra de cor e salteado.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

SMS 221. Autarcas, cuidado. Isso pode dar na saloiice.

2 Agosto 2007

Designar a época de Verão como a Silly Season será o mesmo que chamar-lhe Estação Pateta? Claro que não. A expressão inglesa guarda, quando importada, uma espécie de requinte que os adjectivos pateta, ridículo, tolo, imbecil ou idiota, apesar de tudo, não contêm. Por isso mesmo, teremos de manter a expressão inglesa se quisermos que o conteúdo dê os seus frutos.

E até que dá. Agora, quando os dancings juntam respeitáveis políticos com strippers, nas mesmas pistas, e as vidas dos verdadeiros actores são misturados com as videntes, e os piqueniques integram sheiks das Arábias e ministros, tudo se compreende e se desculpa, a começar pelos próprios, pois estamos na Silly Season.

E claro que o palco da Silly Season onde é? O Algarve. O Algarve, região da Silly Season, por excelência, suporta todos os descomandos, todas as misturas e inversões! Fotografias bizarras, festanças descomunais, champanhes nas piscinas....

Por isso mesmo o Algarve faz rodar o papel cor-de-rosa como em nenhum outro lugar do país...

Mas os autarcas deveriam tomar cuidado. Porque a nossa Estação Pateta não é bem uma Silly Season. Entre nós, gente em apuros, conviria que uns tantos mantivessem juízo, e soubessem distinguir entre o que significa ser fotografado ao lado de Óscar Niemeyer e de Lili Caneças. Entre o estar num Concerto na Praia dos Pescadores, e estar na feijoada de Cinha Jardim.

É que a Silly Season passa, mas a memória retém. E entre nós, de súbito a expressão pode ter outros requintes – A estação pode vir a chamar-se simplesmente de Estação Saloia, e o Algarve o espaço saloio que a recebe.

Carlos Albino

Flagrante pesca: Se o bispo de Aveiro pode ir pregar para as praias, porque é que o Governo não haveria de pregar aos peixes no Algarve? Não é tudo uma questão de isco?/span>