quinta-feira, 29 de setembro de 2005

SMS 125. Foi com uma vacina, imaginem com o resto

29 Setembro 2005

Neste País, o que deve e pode ser estudado, não se estuda, e o que salta aos olhos da vista, dispensando mais estudos, passa a estudo, com a nomeação da tal comissão de estudo que se farta de estudar até ao cansaço cerebral. O senhor ministro da Saúde, até que enfim, afiançou que a necessidade de um Hospital Central no Algarve já lhe saltava aos olhos da cara, mas - para não fugir à regra nacional - logo adiantou que precisava de um estudo que vai estudar o óbvio. É como se Correia de Campos, para ter a certeza de que 2 e 2 são 4, se sentisse na obrigação política de nomear comissão para apurar tal evidência. Então, contemos ao ministro uma história recente.

Pois, senhor ministro, aconteceu que uma jovem, na corrida que diariamente faz nas férias, ao atravessar o pinhal de Monte Gordo, foi atacada e mordida por um cão, mordida a sério porque os cães quando lhes dá para morder, não estudam - mordem. Mandam os bons conselhos que alguém nessas circunstâncias corra o mais rapidamente que puder para um vacina contra o tétano. E aqui começou a saga: os Centros de Saúde procurados não tinham vacina anti-tetânica, aconselhando a jovem a adquiri uma vacina em alguma farmácia. E assim fez mas sem êxito: em todas as farmácias lhe disseram não estar autorizados a vender vacinas desse tipo. Então a jovem, na emergência, rumou para o Hospital de Faro, sem mais estudos. A meio da tarde, a fila de espera nas urgências de Faro era de tal extensão que, na melhor das hipóteses, logo lhe disseram que apenas poderia ser atendida já noite adentro... Claro que a jovem, ciente do que lhe poderia acontecer, não hesitou e rumou de novo de Faro para o nascer do sol, ou seja Espanha. Dirigiu-se ao posto público de saúde em Ayamonte onde apenas não foi vacinada de imediato porque a jovem não tinha o Cartão de Saúde Europeu (atenção leitores destas SMS, tratem disto) mas sugeriram-lhe adquirir a vacina numa farmácia (espanhola, claro) que ela seria administrada prontamente. E assim foi - vacina comprada, vacina aplicada com a adequada assistência médica.

Ora, senhor ministro, não concluiu nada desta história ou será que apara concluir necessidade de uma comissão de estudo que avalie a aplicação urgente de vacinas no Algarve? Mas se quiser nomear mais comissões de estudo, também lhe posso contar mais histórias, muitas histórias envolvendo corações, aneurismas, pernas, olhos, intoxicações, por aí fora, incluindo os cansaços cerebrais das muitas comissões de estudo que não passam de pretexto para disfarças a ausência de vontade política. Com Correia de Campos pode não ser o caso, mas como diz a bela canção, uma comissão de estudo é um nome que não é um espanto, mas é cá da terra... Perante evidência, qualquer comissão de estudo é uma Maria Albertina que dá o nome de Vanessa à filha…

Carlos Albino

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

SMS 124. É um calafrio

22 Setembro 2005

Não cabe repetir aqui o que vai subindo ao noticiário quotidiano em matéria de segurança no Algarve. O crime vai aumentando em números, grau de brutalidade e frequência, regra geral associado ao tráfico de droga, às redes de prostituição e à actuação de grupos de criminosos, sem dúvida organizados e que assentam arraiais na imigração ilegal. Quase todos os dias é um calafrio, para não lembrar as centenas de casos abafados ou sem queixa ou por chantagem dos criminosos ou por falta de confiança do sistema se segurança. É óbvio que toda esta gente indesejável actua sobre uma grande almofada de impunidade suportada classicamente por interesses locais cruzados, tudo isto resultando do desfasamento entre as autoridades policiais e os tribunais, desfasamento que advém por sua vez de legislação obsoleta e que não atende a casos específicos como é o caso do Algarve. As autoridades espanholas, depois do massacre de Madrid, estão a tentar atacar o mal pela raiz, identificando os grupos, proveniências e métodos. Na Andaluzia, por exemplo, foram identificadas várias dezenas de grupos de crime organizado, máfias tradicionais e novas máfias cuja actuação vai além fronteiras. No caso da Andaluzia, não é difícil concluir que esse além fronteiras significa em apreciável medida o Algarve – se, para cada um de nós Sevilha é um salto, para uma organização de criminosos o Algarve também é um pulo, se é que também não pulem de cá para lá. Ora, anunciar o reforço policial no Algarve durante o Verão, não basta, como também não é suficiente essa corrida entre autoridades aos recordes da apreensão de droga, própria de autoridades da parvónia. É preciso ir à raiz do problema, e, para tanto, há que identificar o problema, até porque – grande Aleixo! – há criminosos que não parecendo o que são e porque não são aquilo que parecem, têm sobretudo medo da identificação do problema. Esta gente está, anda entre nós, e é um calafrio.

Carlos Albino

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

SMS 123. E não se sai daqui

15 Setembro 2005

Um, tal como outros sete, diz que pretende «consolidar a mudança»; outro, tal outros cinco desta ou daquela maneira, apela a que o deixem «realizar o que o tempo não permitiu»; todos os que estão na oposição local garantem que «nos últimos quatro anos a terra parou» enquanto os que estão no poder asseguram que nesses mesmos quatro anos foi o progresso e que nunca se fez mais pela terra. E não se sai daqui, a não ser nos casos em que, por inspiração do marketing político balofo dos anos 90, quem está na oposição julga que o simples lançar do desafio de um «debate directo» com o adversário principal para discutir os problemas da terra, lhe dará votos acrescido. Não há uma ideia grande, um golpe de asa, uma posição firme e clara da terra no Algarve e sobre o Algarve implicando à terra. Até agora, apesar do adorno de inaugurações forçadas – algumas até afrontosas - o debate autárquico no Algarve tem sido pobre e duvido que enriqueça muito mais até ao sufrágio de Outubro, a começar pela referência «regional» que é Faro a que tem faltado um líder com cabeça, tronco e membros, que imponha um protagonismo político da cidade no País já não digo no nível de Lisboa ou Porto, mas pelo menos no de Coimbra, Évora ou mesmo Aveiro. O populismo e o voluntarismo que José Vitorino usa como instrumento de sobrevivência, não chega para isso e a repetir o que se lhe ouviu na televisão, Faro está a ter o destino do Farense: até perde em Lagoa por falta de comparência, além de nem ter dinheiro para tomar o autocarro para o Estádio Algarve.

Carlos Albino

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

SMS 122. Balões cheios de ar

8 Setembro 2005

A atravessar uma crise profunda – que não é só económica, é sobretudo cultural, moral e social – os líderes de partidos no Algarve cruzam os braços e se abrem a boca dizem o óbvio, o trivial ou então cumprem o seu papel de poder ou de oposição certamente para Lisboa receber os atestados das fidelidades. Das bandas do PSD, é certo que Mendes Bota vai dizendo umas coisinhas mas que não pegam ou pelos menos não pegaram até agora e Macário Correia do palanque que dispõe na chamada Junta Metropolitana, enfim, fala da água e pouco mais, desconhecendo-se se esta falácia da região já tem hino e música. Das bandas do PS, Miguel Freitas é como a Lua nas noites de eclipse parcial – vê-se o recorte, e quanto aos deputados (Cravinho, o que é isso?), nada sai que o noticiário político se sinta na obrigação de registar. O PCP algarvio tem diferença específica mas não tem peso e o Bloco ganhou algum peso mas não possui diferença específica. Claro que há líderes regionais porque cada partido tem que os ter estatutariamente, portanto líderes por inércia. E vendo bem as coisas, foi sempre assim no passado recente – grandes nomes em que Lisboa sempre acreditou serem líderes do ou no Algarve, afinal nunca passaram de balões cheios de ar. Não admira que hoje tenhamos muito ar a encher balões.

Carlos Albino

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

SMS 121. Então, foi assim na Ilha de Tavira

1 Setembro 2005

Pelo segundo ano consecutivo, fiz de protector civil na Ilha de Tavira para que os bombeiros não tivessem por certo algum grande trabalho. Costumo visitar, a meio de Agosto, amigos que não trocam nada deste mundo por uns dias naquele paraíso e que se instalam em casa certa. No ano passado, era já noite, não hesitei em dirigir-me a um grupo de jovens já entradotes que atiçavam um enorme fogo na orla do pequeno pinhal, com labaredas a tocar os ramos das árvores. Este ano a cena repetiu-se, também à noite, ainda mais dentro do pinhal, mas não sei se os irresponsáveis eram os mesmos de 2004 ou diferentes, sendo todos iguais. E nem tiveram trabalho para levar carvão – partiram uns ramos de árvores, puxaram fogo e estavam à espera que as labaredas abrandassem para chamas e estas para brasas, aparentemente para o preparo de uma sardinhada como se aquilo fosse o catamarã de Vilamoura. Mas se no ano passado, o grupo acatou a advertência, este ano assim não foi e, por pouco, o caso não deu para o que imaginam – mas o fogo terminou à força. Ora, como todas as histórias devem produzir alguma moralidade ou ensino, aqui segue a conclusão: um incêndio na Ilha de Tavira pode fazer jeito a alguém.

P.S.: Macário, faça o favor de colocar a protecção civil na sua estimada ilha. Sobretudo à noite. Não aguarde pela surpresa.

Carlos Albino