quinta-feira, 26 de maio de 2005

SMS 107. As presidenciais tacadas

26 Maio 2005

Foi em Novembro de 2003 (como o tempo passa…) que aqui se pediu ao Presidente Jorge Sampaio para fazer uma Presidência Aberta no pobre Algarve, no Algarve dos pobres, no Algarve da pobreza que é a maior parte do Algarve. Pediu-se que o Presidente percorresse a Serra e o Barrocal, que ouvisse os agricultores, os autarcas do interior, que fosse a Alcoutim, que falasse com os de São Brás, os de Loulé, os de Silves e os de Monchique, que se confrontasse com o paradoxo de uma Região que é tida por rica mas que tem as zonas mais pobres do país, que alertasse para a dramática ruptura cultural, para o grave problema de comunicação que atravessa e fere a sociedade algarvia. O Presidente Sampaio nada fez e agora com eleições, referendos e com um pé de saída, já é tarde para o fazer. Foi ao Minho tratar de descentralização, andou nove dias na Guarda, percorreu a Beira Baixa a propósito de educação, esteve em Évora, andou por todo o lado e, há pouco, até circulou por estradas e auto-estradas por causa da sinistralidade rodoviária. Para o Algarve, nem uma Presidência Aberta decente e sem encenações, nem sequer um 10 Junho, um diazinho de Portugal que recolocasse a dignidade de Sagres traída. Por tanta azáfama presidencial, Sampaio esqueceu o pobre Algarve onde acabou por vir apenas episodicamente e, mais recentemente, por umas tacadas de golfe pelo que, depois de condecorar Palmer com a comenda do mérito, abalou. Na verdade, Sampaio e os governos têm tratado o Algarve à tacada e ficam muito contentes se acertam com os seus méritos nos buracos – como se essa fosse a sua função, a função do Presidente e a função dos governos. Sampaio, assim não. Mas já é tarde.

Carlos Albino

quinta-feira, 19 de maio de 2005

SMS 106. Nomes das Escolas… pensem bem.

19 Maio

E aí temos cada Escola com o seu bilhete de identidade, havendo já muitas poucas no Algarve sem um nome de «patrono» ou sem uma designação mais ou menos apologética. Algumas escolas, melhor dizendo, as direcções de algumas escolas foram atrás de nomes mais ou menos célebres pescados por entre as relativas celebridades da terra ou dos arredores; outras direcções escolares pretenderam afirmar, enfim, alguma ideia política de progresso; outras ainda quiseram apenas homenagear um morto. Mas quase todas as direcções escolares procederam e decidiram como se todas as escolas tivessem que estar associadas a um patrono célebre, a uma ideia supostamente salvadora ou, à falta de melhor, a um morto que pouco mal tenha feito em vida.

Assim, à falta de Pedagogos (do Algarve, ficaram na história dois que não chegam a três), à falta de Cientistas e de Investigadores (há bastantes mas os decisores algarvios não só os desconheceram em vida como depois da morte), à falta de Vultos Literários de peso e de Vultos Políticos com peso humanista (bem contados todos eles, vão para sete, oito, nove ou, vá lá, para dez os que já marcaram ou estão a marcar, havendo muito vulto do passado que não tendo sido vulto, não passou e não passa de fantasma), pois à falta de eminências, algumas escolas, nesse frenesim de encontrar um «patrono», acabaram por ficar com a canga de nomes escolhidos por critérios mais que duvidosos seguidos pelos respectivos conselhos directivos.

Há escolas, por exemplo, com nome de padres mortos só porque supostamente foram homens bons (como se não tivessem sido diabos pela calada e verdadeiras nulidades do Saber) mas, no que importa ou importaria para as escolas, sem obra científica, pedagógica ou até cultural de relevo – corra-se o Algarve e é evidente que é difícil descortinar qualquer padre algarvio com o nível do Abade do Baçal. E, à falta de padre morto, até há escolas com nomes de divindades cristãs, mudando o que pode ou deve ser mudado, à boa maneira do fundamentalismo islâmico. Se não há Vulto ou Eminência na terra e arredores, porque é que a Escola não poderá ficar apenas com o nome do sítio? Sem dúvida que esta matéria, algum dia, terá que ser revista com serenidade e com critérios.

Carlos Albino

quinta-feira, 12 de maio de 2005

SMS 105. Correia de Campos, uma asneira atrás de asneira

12 Maio 2005

Inevitável, é inevitável falar-se do projectado Hospital Central do Algarve e do ministro Correia de Campos que é uma tristeza de ministro. Primeiro, antes das eleições, era ele ainda mero ou presuntivo candidato a ministro para mudar Portugal – bem nos recordamos – disparou contra aquele anseio de todos os algarvios que corresponde a uma prioridade e necessidade evidentes, sendo de imediato desmentido por José Sócrates e o assunto ficou por aí porque, todos nós ou, melhor, a maioria absoluta de nós queria mudar Portugal para melhor e não para pior.

Todavia, já ministro, Correia de Campos torna-se repetente no dislate que ninguém pode deixar de classificar como uma provocação política, obrigando o primeiro-ministro a desmenti-lo de novo. Mas, em vez de dar a mão à palmatória, Correia de Campos fez a terceira e mais grave asneira ao fazer depender o hospital da encomenda de um «estudo», como se não tivesse havido já estudo e como se os dois desmentidos de Sócrates não tivessem sido previamente bem estudados…

É claro que houve estudo, pelo que o ministro Correia de Campos ou está sediciosamente desatento ou falta à verdade, colocando o primeiro-ministro José Sócrates, pela terceira vez, numa posição de desconforto face à posição unânime do Algarve e dos Algarvios sobre essa matéria – de José Apolinário a Carlos Martins, de Miguel Freitas a José Mendes Bota e de Sagres a Vila Real de Santo António passando por Macário Correia. Assim, o ministro da Saúde, arrogante e politicamente trapalhão, não ajuda a mudar Portugal – apenas dá continuidade ao pior que Portugal tem: encomenda estudos ou nomeia comissões para estudar depois de tanto estudo feito, adia, gasta, provoca e, pior do que tudo, ofende. Correia de Campos ofendeu o Algarve.

Carlos Albino

Nota: É claro que Correia de Campos é natural de Torredeita, Viseu. Se vem ao Algarve, se conhece o Algarve, se para aqui vem apenas bronzear-se ou se se confrontou alguma vez com o que o Algarve é durante meio ano, não se sabe.

quinta-feira, 5 de maio de 2005

SMS 104. Influente e rei…

5 Maio 2005

Como habitualmente, nas manhãs de sábado, tento passar o melhor possível a pente fino as coisas do Algarve. Para tanto, nada melhor há do que jogar mãos à imprensa disponível – sento-me numa pequena e discreta esplanada de café e meia-hora basta para solitariamente ficar ciente de algumas coisas boas e outras francamente más para a região, passando os olhos por esses sete títulos que me aguardam na tabacaria. Numa das últimas vezes, tive companhia. Um influente homem pede para me fazer companhia, concedo e ele senta-se. Ao ver sete jornais algarvios, para além das três publicações da imprensa diária e semanal que selecciono também por hábito e simpatia, o homem não disfarçou um enorme espanto. «Tantos jornais que você lê?» - perguntou-me, sorvendo meio copo de cerveja (mais caro que os 0,90 € do Postal do Algarve) enquanto eu ia mexendo o meu cafezinho. «E você não lê nenhum jornal?», tentei saber, ao que o influente homem replicou com o argumento de que os jornais são caros – «E então logo essa meia-dúzia!» – e falou, falou, dizendo que «Jornais só à borla!» e que «Mandam-me dois pelo correio que nem abro, a mulher é que devora aquilo, para além do jornal com que vem da missa», pediu outra cerveja também mais cara que os 0,75 € do Barlavento), seguiu-se uma terceira (ao preço do 1 € da Voz de Loulé), continuou a falar do político A, da carta anónima, do vereador B e do último boato, continuando a falar na quarta cerveja (no custo do 1 € do Algarve Região) até rematar numa quinta mais cara que 0,75 € da Região Sul. E nisto, o influente homem puxou – imagine-se – um valente charuto consumindo na primeira fumaça mais que os 60 cêntimos de O Louletano e numa segunda e espaventosa fumarola enquanto fechava um olho como que num simulacro de zarolho, fez subir para os ares mais do que os 75 cêntimos do Jornal do Algarve… E não é que ele continuava a falar, a falar e a falar? É claro que, na duração dessa cena, não consegui ler nada mas fiquei mais convicto de como o povo tem razão ao observar que em terra de cegos, o zarolho é rei. O Algarve está cheio destes reis: falam muito, não lêem nada.

Carlos Albino