quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

SMS 86. Como ganha o Algarve?

30 Dezembro 2004

Naturalmente que ganha. Eleições legislativas inesperadas ou talvez mais do que esperadas - lembram-se de Santana Lopes comovido a contemplar as cinzas do alto do Caldeirão como se a área de calamidade pública fosse apenas ele próprio e a sombra do corpo, mais nada? – estão à porta. Portanto, listas de deputados, propaganda política, palavreado, provavelmente muita demagogia de todos os lados, inverdades, mentiras misturadas com juízos certos, enfim, a algazarra dos que tentam um lugar em S. Bento e as mordomias próprias de representante que, por regra e pelo que se tem visto, pouco ou nada mais representam do que a si próprios e a sombra do corpo porque na verdade só temos visto deputados subservientes perante os directórios dos partidos – quem não for subserviente é castigado… Sem dúvida que o PS tem que renovar a cara, os ombros, os sovacos, a cintura, as coxas, os tornozelos e afastar os galifões, os mesureiros e todo o sindicato de oportunistas que lhe têm manchado a alma; o PSD tem que abandonar essa regra desastrosa de nos presentear provincianos ambiciosos, néscios com mestrado e também mestres no jogo da bisca política, e o PCP algum dia terá de compreender que não pode continuar como espécie de seita religiosa, género da dos adventistas do sétimo dia, uma vez que os do resto não passam de uns brincalhões, alguns por acaso perversos como nos piores versos dos corridinhos de Moncarapacho. O Algarve ganha se os partidos nos apresentarem candidatos a… Deputados Algarvios – inteligentes do Algarve, serenos do Algarve, coerentes do Algarve e honestos do Algarve. Sobretudo honestos, sérios e eticamente reconhecidos no Algarve.

Carlos Albino

quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

SMS 85. Golpe de asa

23 Dezembro 2004

Prenda muito simples. Falta a este Algarve, gente com golpe de asa. É claro que falo dos partidos, das respectivas lideranças e dos círculos que têm o poder nas mãos por força do voto. E o não se possuir golpe de asa, é falha que não se disfarça com megalomanias e muito menos com uns artigozitos nos jornais ou com entrevistas saloias e cheias de chavões para os netinhos se recordarem da grande figura que foi o avô que muito tempo será o pai do pai. O golpe de asa supõe a capacidade de traçar um desígnio, uma ideia de futuro, um projecto salvador e que galvanize a alma dos Algarvios - já tenho falado disto. Os políticos infelizmente transformaram a intervenção pública numa espécie de emprego a que, para maior infelicidade, não corresponde uma profissão pelo que «vivem» e «sobrevivem» da política e se não fosse a política nem a Caixa Geral dos Depósitos os admitiria como paquetes. O povo sente isto e não disfarça a desmobilização, o desânimo e a descrença porque já teve tempo para perceber o jogo de interesses que se esconde atrás dos que nos palanques da política se apresentam como imprescindíveis. Pois neste Natal de 2004, bem gostaria que no sapatinho dos Algarvios fosse colocada uma prenda muito simples - o golpe de asa que é a coisa que mais nos falta.

Carlos Albino

quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

SMS 84. Uma Avenida Metropolitana para todo o Algarve…

16 Dezembro 2004.

Boa ideia, a que ouvi de Horácio Neves, o editor e director da Brasilturis (para quem não sabe, a maior publicação de turismo do Brasil). Estávamos a evocar José Barão e eis que ele salta com a proposta de se transformar a Estrada 125 que atravessa a Província Algarvia, numa avenida – precisamente a Avenida Metropolitana do Algarve. Na verdade, em muitos pontos, a 125 e derivados (os apêndices da 125 vão de 1 a 9) já não é mais nem menos do que ruas de comércio, trabalho e residência, movimentadas ruas às quais é crime chamar estrada. A ideia de Horácio Neves vem a matar e julgo que é uma daquelas ideias galvanizadoras, um projecto integrador de que o Algarve precisa como de pão para a boca e pelo qual vale a pena terçar armas. Os Municípios envolvidos – 12 dos 16 que integram a Área Metropolitana – se quiserem, podem concretizar a ideia não porque essa avenida venha a ser a maior da Europa mas porque retiraria o Algarve do beco onde possivelmente já está ou para onde caminha se não houver uma ideia salvadora. A transformação da 125 em Avenida pode ser um daqueles desígnios muito mais significativos do que D. Afonso III ter conquistado castelos aos mouros… Portanto, Macário Correia deve anotar isto na agenda. Deixemo-nos disso que caiu em folclorada do «Não às Portagens» e tratemos é desta boa ideia que, por tão boa, é a melhor resposta ao ministro António Mexia e ao senhor que se segue que não deve ser muito diferente do que o antecedeu. Está nas nossas mãos.

Carlos Albino

quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

SMS 83. Aceita-se propostas

9 Dezembro 2004

Como tenho, felizmente, muitos amigos – apenas não consigo fazer amizade com escrápulas além de nada me custar perder amizades antigas quando o oportunismo e a corrupção sujam as mãos e a alma desses poucos sujeitos – gostaria, por este Natal, de fazer ofertas a nada menos nada mais que 1600 desses amigos. E que ofertas? Precisamente um vivenda clandestina a cada um. Exactamente – uma vivenda clandestina para que não gaste um cêntimo e, além disso, localizada no cordão dunar da Ria Formosa. Outro local não serve para a dignidade da oferta e se a vivenda não for clandestina já sei que nenhum dos 1600 prezados e estimados me agradece. E porque, após ter percorrido a Ria Formosa, não encontrei uma única vivenda clandestina, recorro à colaboração pública para adoçar o Natal dos meus amigos. Assim, se alguém seja quem for, me indicar uma vivenda clandestina nessa área protegida onde foi construído o Aeroporto Internacional como exemplo e modelo de política ambiental, por favor digam-me. Preciso de 1600 vivendas clandestinas e quanto ao aeroporto, mesmo que seja para oferta, não aceito. O impacte de cada avião na aterragem sobre aquele sapal, causa mais prejuízo do que 1600 casas clandestinas... Esta é outra história.

Carlos Albino

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

SMS 82. Até Cavaco Silva!

2 dezembro 2004

Inesperadamente ou – quem sabe! – por conveniência do seu calendário político pessoal, Cavaco Silva acabou de pôr o dedo na ferida da vida nacional. A ferida é já uma chaga cujas pústulas podem ser observadas em todos os cantos do País, não sendo o Algarve excepção. Na política, o debate que apenas episodicamente teve nível, degradou-se e está nas mãos de uns quantos foliões. Na justiça, a lei é manipulada como um catavento. Na saúde, ó o que se sabe. Nas Universidades, brinca-se aos mestrados e aos doutoramentos. Na cultura, é a desfaçatez pimba. Por aí fora. Não há ditadura em Portugal, mas há uma democracia cheia de títeres, uns grandes outros pequenos, mas títeres que fazem alastrar a chaga. A negociata e a caça ao subsídio está atrás de tudo. Cavaco Silva foi inesperadamente corajoso, frontal e sem meias palavras. Foi algarvio.

Carlos Albino